sábado, 31 de março de 2018

Selaram a pedra do sepulcro e confiaram-no à vigilância dos guardas


Este dia de sábado é considerado dia litúrgico, mas recomenda-se a recitação das horas do Ofício divino e a meditação do silêncio.
Esta meditação do silêncio pode incidir sobre vários pontos relacionados com palavras e gestos de Cristo, com o simbolismo do sepulcro e com a situação da Mãe de Jesus.
O Padre César Augusto dos Santos SJ diz-nos, lá do Vaticano, que “hoje fazemos experiência do vazio”. Com efeito, o Senhor cumpriu a sua missão redimindo-nos através da sua paixão e cruz, através da sua entrega obediente até a morte, sendo entregue ao coração da terra.
O Evangelho de Marcos refere:
Ao cair da tarde, visto ser a Preparação, isto é, véspera do sábado, José de Arimateia, respeitável membro do Conselho que também esperava o Reino de Deus, foi corajosamente procurar Pilatos e pediu-lhe o corpo de Jesus. Pilatos espantou-se por Ele já estar morto e, mandando chamar o centurião, perguntou-lhe se já tinha morrido há muito. Informado pelo centurião, Pilatos ordenou que o corpo fosse entregue a José. Este, depois de comprar um lençol, desceu o corpo da cruz e envolveu-o nele. Em seguida, depositou-o num sepulcro cavado na rocha e rolou uma pedra sobre a entrada do sepulcro. Maria de Magdala e Maria, mãe de José, observavam onde o depositaram.” (Mc 15,42-47).
O evangelista regista todos os atos do piedoso ofício da sepultura, mas, abstendo-se de qualquer descrição, como era seu jeito, insinua que o sepultamento teve de ser feito à pressa. Porém, o material utilizado era de boa qualidade – um lençol branco de linho ou síndone, como prescrito pelo ritualismo judaico. E também o sepulcro onde Jesus foi sepultado, que não era dele, era de pessoa de haveres, talvez de José de Arimateia, que esperava o Reino de Deus: escavado na rocha, compreendia um átrio, um pequeno corredor e a cela mortuária com um ou dois bancos de pedra e um nicho para depósito do cadáver. A entrada do átrio era fechada por uma pedra redonda que se rolava num plano inclinado.
A referência à postura das mulheres que observavam de olhar fixo no sepulcro pode sugerir a preparação da narração da descoberta do túmulo vazio e do anúncio da ressurreição.
Mateus refere um episódio meio burlesco:
No dia seguinte, que era o dia a seguir ao da Preparação, os sumos-sacerdotes e os fariseus reuniram-se com Pilatos e disseram-lhe: ‘Senhor, lembrámo-nos de que aquele impostor disse, ainda em vida: Três dias depois hei de ressuscitar. Por isso, ordena que o sepulcro seja guardado até ao terceiro dia, não venham os discípulos roubá-lo e dizer ao povo: Ressuscitou dos mortos. E seria a última impostura pior do que a primeira.’. Pilatos respondeu-lhes: ‘Tendes guardas. Ide e guardai-o como entenderdes.’. E eles foram pôr o sepulcro em segurança, selando a pedra e confiando-o à vigilância dos guardas.” (Mt 27,62-66).
Quer dizer: o morto ainda incomodava – podia fugir ou os discípulos que fugiram podiam vir arredar a pedra e roubar o cadáver e bradar a ressurreição. Selaram o sepulcro, rolaram em definitivo a pedra e puseram soldados de guarda. Como sabemos, foram precauções inúteis.
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Face a estes factos, o Padre César Santos anota que, “tal como Maria, com o coração em luto, a Igreja aguarda esperançosa que a promessa de Cristo se cumpra, que ele surja, que ele ressuscite”, pois a ausência não se limita à experiência do vazio, mas apela ao aprofundamento da presença desejada. Assim, na manhã do sábado pré-pascal, “a saudade está presente”, mas é “uma saudade cheia de paz e de esperança”.
E nada impede que recordemos os sábados santos da nossa vida, as experiências de vazio após sofrimentos e perdas e que reflitamos sobre eles. E o orientador desta reflexão Interpela-nos:   
Como vivenciamos os mistérios dolorosos quando irrompem em nossa existência? Permitimos que a luz da fé na certeza da vitória da Vida ilumine a nossa mente e aqueça o nosso coração? Preenchemos esse vazio abrindo as portas do nosso coração a Jesus, Palavra de Vida, de Eternidade? Ou fragilizamo-nos mais ainda, permitindo que a escuridão da morte nos envolva?”.
E, em jeito de resposta, assegura que “Jesus é Vida” e que “Nossa Senhora, a verdadeira discípula, na manhã de sábado permaneceu, apesar da dor, do luto, esperançosa”, pois “Ela acreditou nas palavras de seu Filho e não permitiu que o sofrimento pela perda dissesse a última palavra, mas que a palavra definitiva fosse a promessa de seu Filho, a própria Palavra, que disse que iria ressuscitar, que Ele era o Caminho, a Verdade, a Vida”.
Neste dia, poderemos enveredar pelo exercício da Via Matris meditando as sete dores de Maria, designadamente a profecia de Simeão, a fuga para o Egito, a perda do menino no Templo, o encontro de Jesus a caminho do Gólgota, a contemplação da crucifixão e morte de Jesus, a descida de Cristo da cruz e a sua reclinação no regaço da Mãe e a desolação do sepultamento.   
Porém, na noite da Vigília Pascal, celebramos a Vitória da Vida, a ressurreição de Jesus, o encontro do Filho ressuscitado com a Mãe, a qual deixará de ser a Senhora das Dores, para ser a Senhora da Glória e a Senhora da Alegria.
Contudo, nós que vamos perdendo entes queridos, não aplicamos literalmente a eles e anos esse encontro pascal nesta vida terrena. Por isso, se a fé nos leva à celebração jubilosa da ressurreição de Jesus, temos de fazer o esforço da esperança, nem sempre fácil, da espera por eles no encontro final dos ressuscitados, crentes de que Cristo é o primeiro dos ressuscitados – as primícias.
Nestes termos, a nossa vida deverá ser um permanente Sábado Santo, não com vazio, mas pleno de fé, de esperança na certeza da vitória da Vida e de que também teremos o reencontro que Maria teve, que será para sempre. E, quanto mais nos deixarmos envolver pela Palavra de Vida, que é Jesus, mais nos aproximaremos da estupefação surpreendente da manhã da ressurreição e da alegre tarde das aparições do Ressuscitado. De modo mais intenso essa divina palavra nos iluminará e aquecerá.
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Mas o sábado pré-pascal é o dia em que o nosso Pastor, fonte de águas vivas e por cuja morte ficamos provisoriamente apartados dele e na qual o sol se obscureceu, prendeu aquele que mantinha preso o primeiro homem. Hoje o nosso Salvador destruiu as prisões do inferno e esmagou o poder do demónio, quebrou as portas e as cadeias da morte. Chorado como se chora o filho único, porque morreu inocente, Ele livra-nos das portas do abismo e garante-nos:
Eu estive morto, mas agora vivo para sempre e tenho comigo as chaves da morte e do abismo” (Ap 1,18).
Está a cumprir-se o sinal de Jonas, o único dado àquela geração má e adúltera: “Assim como Jonas esteve três dias e três noites no ventre da baleia, também o Filho do Homem estará três noites no seio da terra” (Mt 12,40). Cumpre-se o desafio de Jesus aos judeus: “Destruí este templo, e em três dias Eu o levantarei! […] Ele falava do templo que é o seu corpo.” (Jo 2,19.21).
Por outro lado, o sepulcro do Senhor é um santuário, um relicário em que se guarda temporariamente o divino corpo, mas donde Ele saltará para a oferta da salvação à morada dos mortos, se levanta redivivo para que os apóstolos e as santas mulheres O vejam, acreditem Nele e sejam testemunhas e missionários do Reino de Deus.
É um santuário terreno que funciona como antecâmara do santuário celeste, o coração do Pai. O túmulo vazio é a relíquia do amanhã. Por isso, é adequada a recitação do Salmo 24 no Ofício de Leitura deste dia:
Quem poderá subir à montanha do SENHOR e apresentar-se no seu santuário?
O que tem as mãos inocentes e o coração limpo.
Ó portas, levantai os vossos umbrais! Alteai-vos, pórticos eternos, que vai entrar o rei glorioso.
Quem é esse rei glorioso? É o SENHOR, poderoso herói, o SENHOR, herói na batalha.
Ó portas, levantai os vossos umbrais! Alteai-vos, pórticos eternos, que vai entrar o rei glorioso.
Quem é Ele, esse rei glorioso? É o Senhor do universo! É Ele o rei glorioso. (Sl 24 [23,3-4.7-10]).
O Rei glorioso desceu à terra e sobe ao Céu, deixando-nos em missão e canto de louvor.
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A Igreja Católica celebra, nas últimas horas deste Sábado Santo e nas primeiras de Domingo de Páscoa, o principal e mais antigo momento do ano litúrgico, a Vigília Pascal, assinalando a ressurreição de Jesus. É uma celebração mais longa do que habitual, em que são proclamadas mais passagens da Bíblia do que as três habitualmente lidas aos domingos, continuando com uma celebração batismal e a comunhão.
A vigília começa com o ritual do fogo e da luz, que evoca a ressurreição de Jesus; o círio pascal é abençoado, antes de o presidente da celebração inscrever a primeira e a última letra do alfabeto grego (alfa e ómega) e inserir 5 grãos de incenso, em memória das 5 chagas da crucifixão de Cristo. A inscrição das letras e do ano no círio são acompanhadas pela recitação da fórmula em latim ‘Christus heri et hodie, Principium et Finis, Alpha et Omega. Ipsius sunt tempora et sæcula. Ipsi gloria et imperium per universa æternitatis sæcula’ (Cristo ontem e hoje, princípio e fim, alfa e ómega. Dele são os tempos e os séculos. A Ele a glória e o poder por todos os séculos, eternamente).
O ‘aleluia’, suprimido na Quaresma, reaparece agora em vários momentos da missa como sinal de alegria.
A celebração articula-se em quatro partes: a liturgia da luz ou “lucernário”; a liturgia da Palavra; a liturgia batismal; a liturgia eucarística. A liturgia da luz consiste na bênção do fogo, na preparação do círio e na proclamação do precónio pascal. A liturgia da Palavra propõe sete leituras do Antigo Testamento, que recordam “as maravilhas de Deus na história da salvação” e duas do Novo Testamento: o anúncio da Ressurreição segundo os três Evangelhos sinóticos (Marcos, Mateus e Lucas) e a leitura apostólica sobre o Batismo cristão. A liturgia batismal é parte integrante da celebração, pelo que, mesmo quando não há qualquer Batismo, se faz a bênção da fonte batismal e a renovação das promessas. Do programa ritual consta, ainda, o canto da ladainha dos santos, a bênção da água, a aspersão de toda a assembleia com a água benta e a oração universal. A Liturgia Eucarística decorre como noutras celebrações.
Nos primeiros séculos, as Igrejas do Oriente celebravam a Páscoa como os judeus, no dia 14 do mês de Nisan, ao passo que as do Ocidente a celebravam sempre ao domingo. O Concílio de Niceia, no ano 325, apresentou prescrições sobre o prazo dentro do qual se pode celebrar a Páscoa, conforme os cálculos astronómicos (primeiro domingo depois da lua cheia que se segue ao equinócio da primavera): de 22 de março a 25 de abril. Em 1951, o Papa Pio XII mandou celebrar a Vigília Pascal de novo como nas origens, isto é, na noite do Sábado Santo para o Domingo da Páscoa; a reforma do Concílio Vaticano II  confirmou esta disposição.
2018.03.31 – Louro de Carvalho

Com Jesus, ir contra a corrente


Na pregação de Sexta-feira Santa, na solene celebração da Paixão do Senhor, presidida pelo Papa Francisco, Frei Raniero Cantalamessa exortou os jovens à ousadia, sustentando que “a direção oposta não é um lugar, mas uma pessoa: Jesus”.
O tema da homilia proferida pelo pregador da Casa Pontifícia foi “Quem vê, dá testemunho”, tirado dos versículos do Evangelho de João: “Aquele que viu estas coisas é que dá testemunho delas e o seu testemunho é verdadeiro. E ele bem sabe que diz a verdade, para vós crerdes também.” (Jo 19,35).
Na verdade, todos os discípulos abandonaram o Mestre após a prisão de Jesus no Horto das Oliveiras. Porém, o discípulo amado estava no Calvário no momento da imolação do Filho de Deus. Presenciou tudo: a crucifixão, o levantamento da cruz, o repartimento das vestes e o sorteio da túnica. E, sobretudo, partilhou a lúcida e comovente cena testamentária do Senhor:
Junto à cruz de Jesus estavam, de pé, sua mãe e a irmã da sua mãe, Maria, a mulher de Clopas, e Maria Madalena. Então, Jesus, ao ver ali ao pé a sua mãe e o discípulo que Ele amava, disse à mãe: ‘Mulher, eis o teu filho!’. Depois, disse ao discípulo: ‘Eis a tua mãe!’. E, desde aquela hora, o discípulo acolheu-a como sua.” (Jo 19,25-27).  
Aquele instante foi o da constituição da maternidade universal de Maria pela via do discipulado, discipulado que herda do Mestre o que Ele tem de melhor, a Mãe, tal como herdou o mistério do pão e do vinho, feitos Corpo e Sangue de Cristo. E a Mãe, a primeira discípula, que fora a grande educadora para e pela ternura, solicitude e autonomia, torna-se a Mãe dos discípulos e inspira a ação materna da Igreja que vai nascer do lado aberto do Crucificado.
Depois disso, Jesus, sabendo que tudo se consumara, para se cumprir totalmente a Escritura, disse: “Tenho sede!”. E, ensopando no vinagre, que estava ali numa vasilha cheia, uma esponja fixada num ramo de hissopo, chegaram-lha à boca. Ao tomar o vinagre, Jesus disse: ‘Tudo está consumado’. E, inclinando a cabeça, entregou o espírito.
Tinha sede física, mas também a sede de almas que aceitassem a salvação oferecida na cruz, contra a maldade, a iniquidade e a indiferença. E sentiu que a sua obra tinha chegado ao fim. Deu-se a sua glorificação e foi glorificado o Pai. Agora era preciso contemplá-Lo na cruz e tirar consequências, aprendendo e testemunhando.  
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Ao verem que Jesus já estava morto, os soldados não lhe quebraram as pernas, mas um deles abriu-lhe o peito com uma lança do qual saiu, imediatamente, sangue e água. Quem viu este facto deu testemunho, – que é digno de fé, pois ele sabe que diz a verdade – a fim de que vós creiais.” (Jo 19,33-35).
Partindo desta citação do 4.º Evangelho, Cantalamessa afirmou que “ninguém jamais será capaz de nos convencer de que este testemunho solene não corresponde à verdade histórica”. O autor, São João, o discípulo a quem Jesus amava, estava no Calvário, aos pés da cruz, junto com a Mãe Maria. Eles foram testemunhas oculares e auditivas do facto!
Ele “viu” e “descreveu”, não apenas o que acontecia à vista de todos, mas o que se vê sob a luz do Espírito Santo e dos eventos pascais, dando sentido ao que havia visto. Naquele momento, era a imolação do verdadeiro Cordeiro de Deus, o pleno cumprimento da Páscoa antiga e, sobretudo a inauguração da nova Páscoa, a Páscoa prometida, que dá novo sentido à Páscoa antiga. Na verdade, Cristo na cruz era o novo Templo de Deus, de cujo peito jorra a água da vida. Ele é o início da nova criação! Assim, João entendeu o profundo significado das últimas palavras de Jesus: “Tudo está consumado”.
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São João Crisóstomo ensina o valor do sangue e da água que jorrou do lado aberto de Cristo. O valor deste sangue avalia-se também pela fonte e a fonte de que brotou é a cruz. Começou a brotar da cruz, mas a sua fonte manancial é o lado do Senhor. E, se a água que brotou do lado do Senhor é símbolo do Batismo, que Jesus nos mereceu na cruz e que nós assumimos sacramentalmente na ablução batismal, o sangue é símbolo da Eucaristia que celebramos em sacrifício do Senhor e nos alimenta em comunhão.
O soldado trespassou o lado, abriu uma brecha na parede do templo santo e nós achámos um grande tesouro e alegramo-nos encontrarmos riquezas admiráveis. Assim sucedeu com este Cordeiro da nova Aliança. Os judeus mataram-no e nós recebemos “o fruto do sacrifício”.
Esta água e este sangue simbolizam o Batismo e a Eucaristia. Foi destes sacramentos que nasceu a Igreja, pelo banho de regeneração e pela renovação do Espírito Santo, isto é, pelo sacramento do Batismo e pela Eucaristia que brotaram do lado de Cristo. Foi do lado de Cristo, portanto, que se formou a Igreja, como foi do lado de Adão que Eva foi formada. Por isso, a Escritura, falando do primeiro homem, usa a expressão “carne da minha carne, osso dos meus ossos”, que Paulo refere, aludindo ao lado de Cristo. Ora, assim como Deus, do lado de Adão formou a mulher, assim Cristo, do seu lado, nos deu a água e o sangue para formar a Igreja. E, como Deus abriu o lado de Adão enquanto ele dormia, assim Cristo nos deu a água e o sangue durante o sono da sua morte. É a união e complementaridade dos dois elementos do género humano e é a união e complementaridade do consórcio divino-humano Cristo-Igreja.
(cf Ofício de Leitura, Sexta-feira Santa in: http://www.liturgia.pt/lh/pdf/042TriPas6f.pdf )
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Depois, o pregador Cantalemessa interrogou-se sobre os inúmeros significados que se leem cruz de Cristo: Porquê a grande presença do Crucifixo em nossas igrejas, altares e em todos os lugares frequentados pelos cristãos? E respondeu com uma chave de leitura deste mistério: “Deus revela o seu poder na fraqueza, a sua sabedoria na loucura, a sua riqueza na pobreza”.
Esta chave de leitura permite perceber o sentido da Cruz, na qual Deus se revela em sua realidade mais íntima e verdadeira, pois Deus é “ágape”, amor oblativo; somente na cruz se entende a magnanimidade da autodoação de Deus.
Além disso, é conveniente anotar que Jesus morreu com 33 anos de idade, um jovem. E também o discípulo amado presente no Calvário era um jovem, o mais novo dos doze apóstolos. Por isso e neste sentido, o Frei Capuchinho recordou o próximo Sínodo dos Bispos sobre os Jovens. A Igreja quer colocá-los no centro da sua preocupação pastoral. A presença no Calvário do discípulo que Jesus amava representa uma mensagem especial. João seguiu Jesus quando era muito jovem. Este encontro pessoal e existencial foi sua verdadeira paixão! O mistério pascal da morte e ressurreição de Jesus, a sua Pessoa, representam o núcleo do pensamento do evangelista.
João era, certamente, um dos dois discípulos do Batista que, apareceu no início da vida pública de Jesus; o outro era André, irmão de Pedro. E perguntaram-lhe: “Mestre, onde moras?”. E Jesus respondeu: “Vinde e vede!”. Então, “desde aquela tarde, foram e ficaram com ele” (cf Jo 1,38-39).
Ora, neste Sínodo sobre a Juventude, disse Frei Cantalamessa, deveremos descobrir “o que Cristo espera dos jovens” e “o que eles podem dar à Igreja e à sociedade”. Mas o mais importante é levar os jovens a saber o que Jesus tem para lhes dar. João descobriu-o, ao ficar com Ele: “Jesus é vida em abundância! Jesus é alegria plena!”. Logo, encontrar-se pessoalmente com Cristo é possível também hoje, porque ele ressuscitou; ele é uma pessoa viva, não uma personagem dramaticamente confecionada e caraterizada.
João também deixou a sua mensagem aos jovens, na sua primeira Carta:
Jovens, eu vos escrevi, porque vós sois fortes e a Palavra de Deus permanece em vós. Não ameis o mundo nem as coisas do mundo. Se alguém ama o mundo, o amor do Pai não está nele.” (1Jo 2,14.15).
Devemos estar no mundo – disse o Pregador da Casa Pontifícia – principalmente entre os pobres, os últimos, no mundo do sofrimento, da marginalização e do egoísmo, sem, porém, a ele pertencermos.
Exatamente porque não pertencemos ao mundo, porque esta não é a nossa pátria – a nossa pátria definitiva é o Céu –, teremos de ir contra a corrente.
Assim, na conclusão da sua pregação, nesta Sexta-feira da Paixão, o capuchinho deixou um convite aos jovens cristãos:
Sede como aqueles que vão à direção oposta! Atrevei-vos a ir contra a corrente! A direção oposta não é um lugar, mas uma pessoa: é Jesus, nosso amigo e redentor!”.
Mas foi-lhes confiada também uma tarefa especial: “Salvar o amor humano”. Com efeito, na cruz, Deus revelou-Se como Ágape, o Amor que se doa. Por isso, não devemos renunciar às alegrias do amor, mas ter a capacidade de se doar ao próximo: “Há mais alegria em dar do que em receber” (At 20,35), diz São Paulo.
Porém, é preciso preparar-se para a doação total de si, seja através do matrimónio seja da vida consagrada, começando com a doação do próprio tempo, do sorriso, da própria juventude em família, na paróquia, no voluntariado.
Porque Jesus na cruz não nos deu apenas o exemplo de extrema doação por amor, mas a água e o sangue, jorrados do seu peito, chegam até nós pelos sacramentos da Igreja e pela Palavra, devemos contemplar, com fé, o Crucifixo e aprender com ele a lição da vida e a via da Ressurreição que passa pela Cruz.
Contra a corrente egoísta e ensimesmada, uma vida de doação, uma vida o bem-fazer.
2018.03.31 – Louro de Carvalho


Empresa Pública de Desenvolvimento e Gestão Florestal


Os relatórios elaborados na sequência dos incêndios florestais dos meses de junho e outubro de 2017 tinham de produzir consequências na ação do Estado a concretizar na legislação, na tomada de medidas de prevenção e de combate aos incêndios e na gestão da floresta.
Segundo algumas das conclusões do relatório da Comissão Técnica Independente sobre os fogos de outubro, a legislação produzida não está suficientemente fundamentada do ponto de vista técnico-científico. A ser verdade, ela terá de ser melhorada. E o Primeiro-Ministro, no contexto das contradições com que o dito relatório foi acolhido, prometeu lê-lo com humildade e tirar as necessárias consequências. Por seu turno, Marcelo Rebelo de Sousa já veio prometer apoio no quadro da melhoria da legislação, se for o caso. E os partidos já procederam ao debate premonitório no Parlamento, salientando-se que uns, esquecidos de que a legislação anterior não foi observada pelos governantes em exercício, agora atiram-se ao Governo pelo lado da sua suposta incompetência. E este parece esquecer-se de que, ao longo dos anos, não esteve fora da cena política, pois a governação tem-se repartido, como tem convindo, entre PS e PSD/CDS.
Por outro lado, sabe-se que não basta atacar o problema apenas do lado da prevenção e do combate aos incêndios. Mesmo que haja uma entidade unificada com a responsabilidade da prevenção e combate aos incêndios, de pouco vale se não conseguir alocar os meios suficientes e adequados à tarefa e provocar a partilha do conhecimento pelo diálogo entre a profissionalização crescente dos seus agentes e a experiência acumulada dos amadores e dos elementos sabedores das populações. A título de exemplo, recordo que há uns anos, técnicos devidamente credenciados estavam a laborar no terreno com vista ao projeto da retificação e alargamento duma estrada municipal. Chamei à atenção para o facto de estarem a lidar com um terreno muito esponjoso. Nada ligaram porque supostamente eram eles que sabiam. Todavia, estando a obra prestes a ser dada por concluída, verificaram a verdade do que lhes dissera; e houve aumento de trabalhos e de aquisição de mais materiais e também mais perda de tempo. E tudo se paga!
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Entretanto, o Governo, pela voz do Ministro da Agricultura, Capoulas Santos (que entende que a União Europeia não deve mexer na PAC), anunciou, no passado dia 28 de março, no Parlamento, a criação da “Empresa Pública de Desenvolvimento e Gestão Florestal”, que entrará em funcionamento dentro de semanas em Figueiró dos Vinhos, um dos concelhos afetados pelos incêndios de 2017.
Diz o governante que empresa a constituir, que está em fase final de organização, “tem como objetivo fundamental demonstrar como é possível gerir de forma rentável a floresta, particularmente nas zonas de minifúndio”.
A intervenção de Capoulas Santos concluiu o debate que decorreu na Assembleia da República sobre o relatório da comissão técnica independente para a análise dos incêndios de 14 a 16 de outubro do ano passado, que provocaram 49 mortes.
Em declarações aos jornalistas, o Ministro da Agricultura, Florestas e Desenvolvimento Rural explicou que o objetivo desta empresa de gestão florestal “visa demonstrar como pode ser profissionalmente gerida a floresta, como pode dar rendimento e como se pode prevenir os incêndios”.
Segundo o Ministro, esta empresa vai procurar identificar os prédios rústicos. Sublinhando que a empresa pública florestal vai entrar em funcionamento a “muito curto prazo”, sendo “uma questão de semanas”, disse que “eventualmente nas pessoas mais idosas esses prédios são objeto de arrendamento, o que garantirá um rendimento anual aos proprietários”.
Na sua intervenção no plenário da Assembleia da República, Capoulas Santos anunciou também que foi concluído “há poucos dias o pagamento integral dos apoios a 23.746 agricultores”, num montante superior a 62 milhões de euros, sendo estes fundos “exclusivamente nacionais”. O governante avançou também que “estão em pagamento, contra a apresentação dos respetivos comprovativos, outros cerca de 30 milhões”, 25 dos quais de fundos comunitários, no âmbito do “Programa de Desenvolvimento Rural 2020”, e 5,5 milhões para apoio à recuperação das vinhas ardidas, o que perfaz um apoio público superior a 92 milhões de euros.
Capoulas Santos também revelou que foram assinados, no final da semana anterior, os contratos, envolvendo autarquias e diversas organizações e empresas da fileira florestal, que permitiram a criação de 26 parques de receção e armazenamento de madeira queimada.
O relatório fora entregue à Assembleia da República no dia 20. E nele concluiu-se que falhou a capacidade de “previsão e programação” para “minimizar a extensão” do fogo na região Centro (onde ocorreram as mortes), perante as previsões meteorológicas de temperaturas elevadas e vento.
Os peritos consideram que tem de haver “flexibilidade para ter meios de previsão e combate em qualquer época do ano” e defendem a criação de uma unidade de missão para reorganizar os bombeiros.
Os incêndios destruíram total ou parcialmente cerca de 800 habitações permanentes, quase 500 empresas e extensas áreas de floresta nos distritos de Aveiro, Castelo Branco, Coimbra, Guarda, Leiria e Viseu.
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A criação de EGF fazia parte do pacote de medidas aprovadas no final do ano passado no Parlamento. E o Governo deu o primeiro passo com esta empresa pública que deverá servir de estímulo, abrindo o caminho para a criação de outras empresas do género noutras zonas do país e de iniciativa privada. Importa que a iniciativa privada surja e seja apoiada.
Capoulas Santos salientou, como antes já o fizera Eduardo Cabrita, que “o Governo analisa o segundo relatório e está disponível a acolher as suas sugestões e reclamações, quer sobre prevenção, ações ou organização dos serviços públicos”.
Recorde-se que o Ministro da Administração Interna, Eduardo Cabrita, que interveio no debate, afirmou que o combate aos incêndios florestais em 2018 vai ser reforçado com mais 240 viaturas ligeiras e pesadas.
Assim, o Ministro referiu que 140 viaturas vão para o Grupo de Intervenção de Proteção e Socorro (GIPS) e para o Serviço de Proteção da Natureza e do Ambiente (SEPNA) da GNR, 80 para os corpos de bombeiros e 20 para a Força Especial de Bombeiros (FEB).
Foi o esforço de mobilização do Governo que “permitiu, por ajuste direto, a adjudicação de 140 viaturas ligeiras e pesadas para as estruturas de combate inicial e de combate ampliado, tal como também a aquisição de 100 viaturas, quer para corporação de bombeiros, relativamente a 80 viaturas, quer para a Força Especial de Bombeiros”.
O Ministro destacou ainda medidas criadas para a próxima época de incêndios florestais, como a profissionalização nos bombeiros voluntários, e referiu que as corporações de bombeiros voluntários vão ter mais oito dezenas de equipas profissionais, o equivalente a mais 400 elementos com estatuto profissional.
Eduardo Cabrita afirmou que a Autoridade Nacional de Proteção Civil está a ser dotada com os meios adequados de apoio técnico para “garantir a estabilidade de resposta no próximo verão”.
O Ministro da Administração Interna referiu também que o Governo aproveitou o relatório da comissão técnica independente para tirar conclusões para “fazer de tudo para que o futuro seja diferente” em matéria de planeamento, combate, prevenção e respostas aos desafios estruturais.
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Tudo bem. Quanto mais e melhor o Governo fizer, melhor para o país. E as vozes críticas, devidamente fundamentadas e sustentadas, devem continuar a fazer-se ouvir para incremento e melhoria das medidas e sua implementação. Devem, no entanto, abster-se ou conter-se na crítica badalada e meramente demolidora.
Quanto a mim, penso que não basta a gestão do que temos em floresta, mas é preciso pensar o reordenamento da mancha florestal, abolindo o regime da monocultura e organizando o sistema de escoamento do combustível decorrente das operações de limpeza, que não devem ser feitas uma vez por ano, porque o matagal renasce e recresce.
O dinheiro não chega a tudo e os particulares não têm meios. Talvez haja chegado o tempo de as empresas beneficiárias das matérias-primas decorrentes da exploração florestal renunciarem a alguma margem de lucro e criarem um fundo de limpeza. Recordo que antigamente havia um regime que foi abolido: nalguns municípios, cada família dava um dia de trabalho para a freguesia ou o equivalente em dinheiro. Se isso acontecesse hoje, os municípios poderiam ser solicitados a efetuar a limpeza dos terrenos confrontantes com as vias públicas e com os aglomerados populacionais.  
Quanto ao Estado, talvez devesse colocar os seus agentes a cuidar assiduamente destas tarefas de arejamento e limpeza da sua floresta e dos seus parques e promover a punição das mãos criminosas incendiárias. Todos sabem que as há, mas, quando detetadas, vêm repousar dos trabalhos…  
2018.03.31 – Louro de Carvalho

A proximidade de Deus… a proximidade apostólica


Na homilia da Missa Crismal em Quinta-feira Santa, o Papa Francisco dirigiu-se expressamente aos “sacerdotes da diocese de Roma e doutras dioceses do mundo” e quis abordar o tema da proximidade apostólica à luz da arquetípica proximidade de Deus, considerando o privilégio com que o povo de Israel foi agraciado em razão de ter o seu Deus tão próximo de si a ponto de o Senhor atender o clamor do povo sempre que é invocado (cf Nm 4,7).
Depois, comentando o texto de Isaías, acentuou a presença do Servo de Deus – já ungido com o óleo da alegria e “enviado a anunciar a boa nova aos pobres” – no meio do povo, relevando a sua proximidade junto dos pobres, doentes, presos… a ungi-los com o óleo da alegria, sentindo-se impelido e acompanhado “ao longo do caminho” pelo Espírito que “está sobre Ele”.
Esse servo é a figura profética do Messias, Jesus, o Sacerdote eterno, que vem a ser o protótipo dos ministros do nosso Deus. Com efeito, a profecia explicita:
Vós sereis chamados ‘Sacerdotes do Senhor’ e nomeados ‘Ministros do nosso Deus’. [… ] Dar-lhes-ei fielmente a sua recompensa e farei com eles uma aliança eterna. A sua descendência será célebre entre as nações e a sua posteridade entre os povos. Todos os que os virem hão de reco­­nhecê-los como a linhagem abençoada pelo Senhor.” (Is 61,6a.8b-9).
Para lá do exemplo de proximidade de Deus ao seu povo, o Papa salienta a proximidade de Deus em relação a uma pessoa, um condutor do Povo. Poderíamos lembrar Abraão, Isaac e Jacob ou Moisés e Josué. Mas o Salmo 89 [88] – cuja 1.ª parte (vv 1-19) celebra o próprio Deus como rei do universo e de Israel, em particular, e a 2.ª celebra a aliança de Deus com a dinastia de David (2Sm7), prometendo que a manteria firme para sempre – mostra-nos como a companhia de Deus que “levou pela mão o rei David desde a sua juventude e lhe emprestou o seu braço até agora que é idoso”. Esta proximidade de Deus mantida ao longo do tempo, apesar dos pecados, toma, segundo o Bispo de Roma, “o nome de fidelidade”, ou seja, “a proximidade mantida ao longo do tempo chama-se fidelidade”. Obviamente que estamos a falar da fidelidade de Deus que permanece de geração em geração, ou seja, é eterna (vd Sl 117 [116],2). É por isso que temos de cantar eternamente a bondade e as misericórdias do Senhor (Sl 89,2).
Também Francisco nos adverte de que o Apocalipse nos aproxima do Senhor em pessoa que vem sempre (Erchomenos), “até no-Lo fazer ver, havendo aqui “a alusão ao facto de que “hão de vê-Lo até mesmo os que O trespassaram” (Jo 19,37). Esta alusão “faz-nos sentir que as chagas do Senhor ressuscitado permanecem visíveis, que Ele vem sempre ao nosso encontro, se quisermos “fazer-nos próximo” da carne de todos os que sofrem, especialmente as crianças. É a nossa função imitativa e replicativa da proximidade do Senhor.
Com efeito, participando da unção de Cristo, os discípulos constituem um povo sacerdotal, um povo messiânico, portador de todas as esperanças da humanidade. Habitando no coração dos fiéis como num templo (Lumen Gentium, 9), o Espírito Santo introduz-nos na plenitude da verdade
(Jo 16,13), distribui as graças e os ofícios e realiza a maravilhosa comunhão dos fiéis (Unitatis Redintegratio, 2.
Assim, sabemos que “Jesus Cristo, a Testemunha fiel, o Primeiro vencedor da morte e o Soberano dos reis da terra” é Aquele “que nos ama e nos purificou dos nossos pecados com o seu sangue, e fez de nós um reino de sacerdotes para Deus e seu Pai” (Ap 1,5-6).
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Porém, o Santo Padre fixa-se de modo especial na imagem central do Evangelho do dia (Lc 4,16-21), em que se contempla o Senhor com os olhos dos compatriotas, que estavam “fixos n’Ele” (Lc 4,20). Na sinagoga de Nazaré, Jesus levantou-Se para ler. Entregaram-Lhe o rolo do profeta Isaías. E leu em voz alta a passagem do enviado de Deus: “O Espírito do Senhor está sobre Mim, (…) Me ungiu e enviou...” (Is 61,1). E concluiu pela proclamação da proximidade de Deus com palavras tão provocadoras: “Cumpriu-se hoje esta passagem da Escritura, que acabais de ouvir”. Obviamente, os compatriotas não gostaram, porque Ele não leu a passagem toda, pois omitiu a parte que juntamente com a publicação do ano da Graça anunciava a vingança do nosso Deus e afirmou-se Ele o cumpridor da profecia, o Messias esperado.
Como diz o Papa, Jesus encontra a passagem e lê com maior competência que a dos escribas. E discorre conjeturando:
Poderia ter sido um escriba ou um doutor da lei, mas quis ser um ‘evangelizador’, um pregador de estrada, o ‘Mensageiro de boas novas para o seu povo, o pregador cujos pés são formosos, como diz Isaías (cf Is 52,7). O pregador faz-se vizinho.”.
E Francisco tira a seguinte ilação:
Esta é a grande opção de Deus: o Senhor escolheu ser Alguém que está próximo do seu povo. Trinta anos de vida oculta! Só depois começará a pregar. É a pedagogia da encarnação, da inculturação; não só nas culturas distantes, mas também na própria paróquia, na nova cultura dos jovens...”.
A adianta que a proximidade, mais do que uma virtude particular, é “atitude que envolve a pessoa inteira, o seu modo de estabelecer laços, de estar contemporaneamente em si mesma e atenta ao outro”. Com efeito, as pessoas, ao afirmarem, dum sacerdote, que está perto da gente, salientam duas coisas: “está sempre” (ao invés do que nunca está, de quem dizem: “está muito ocupado!”); e “fala com todos” – grandes, pequenos, pobres, com os que não creem. São “padres próximos, que estão, que falam com todos…, padres de estrada”. E, este respeito, dá o exemplo de Filipe:
E um que aprendeu bem, de Jesus, a ser pregador de estrada foi Filipe. Narram os Atos dos Apóstolos que ia de terra em terra, anunciando a Boa Nova da Palavra, pregando em todas as cidades e que estas ficavam inundadas de alegria. Filipe era um daqueles que o Espírito podia ‘arrebatar’ em qualquer momento e fazê-lo sair para evangelizar, deslocando-se dum lugar para outro, alguém capaz de batizar pessoas de boa-fé, como o ministro da rainha da Etiópia, e fazê-lo ali mesmo, na estrada (cf At 8,5-8.26-40).”.
Considerando que a proximidade “é a chave da misericórdia, pois não seria misericórdia se não fizesse sempre tudo, como boa samaritana, para eliminar as distâncias”, o Bispo de Roma, assume que é ela “a chave do evangelizador, porque é uma atitude-chave no Evangelho” (o Senhor usa-a para descrever o Reino). Temos, por isso, de assumir o facto de que a proximidade é também a chave da verdade, não só da misericórdia. De facto, “a verdade não é só a definição que permite nomear situações e coisas mantendo-as à distância com conceitos e raciocínios lógicos”. A verdade “é também fidelidade” (emeth), que permite “designar as pessoas pelo próprio nome, como o Senhor as designa, antes de as classificar ou definir a sua situação”.
E o Papa alerta para a necessidade de estarmos atentos para não cairmos na tentação de fazer ídolos com algumas verdades abstratas. E justifica:
São ídolos cómodos, ao alcance da mão, que dão um certo prestígio e poder e são difíceis de reconhecer. Porque a ‘verdade-ídolo’ mimetiza-se, usa as palavras evangélicas como um vestido, mas não deixa que lhe toquem o coração. E, pior ainda, afasta as pessoas simples da proximidade sanadora da Palavra e dos Sacramentos de Jesus.”.
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Mas há o exemplo eminente de proximidade que galvaniza a devoção do Papa: Maria, a Mãe dos sacerdotes, que podemos invocar como “Nossa Senhora da Proximidade”, pois, “como uma verdadeira mãe, caminha connosco, luta connosco e aproxima-nos incessantemente do amor de Deus” (EG, 286) e “infunde sem cessar a proximidade do amor de Deus, de tal modo que ninguém se sinta excluído”. Está próxima “não só por partir com ‘prontidão’ (Ib, 288) para servir, que é uma forma de proximidade, mas também pela sua maneira de dizer as coisas”. Veja-se o caso de Caná: “a tempestividade e o tom com que Ela diz aos serventes ‘fazei o que Ele vos disser’ (Jo 2,5) farão com que estas palavras se tornem o modelo materno de toda a linguagem eclesial”. Porem, o Pontífice avisa:
Para as dizer [aquelas palavras] como Ela devemos, além de pedir a graça, saber estar onde ‘se cozinham’ as coisas importantes, aquelas que contam para cada coração, cada família, cada cultura. Só com esta proximidade – podemos dizer de cozinha – será possível discernir qual é o vinho que falta e qual é o de melhor qualidade que o Senhor quer dar.”.
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A luz do que expôs aos padres, o Papa propôs a meditação sobre três âmbitos de proximidade: o do acompanhamento espiritual, o da Confissão e o da pregação.
A proximidade no diálogo espiritual deve meditar-se tendo como pano de fundo o encontro do Senhor com a Samaritana (cf Jo 4,5-41). Ele começa por lhe ensinar a reconhecer como adorar, em Espírito e verdade; depois, delicadamente, ajuda-a a nomear o seu pecado sem a ofender; e, por fim, deixa-Se contagiar pelo seu espírito missionário e vai com ela evangelizar a povoação. Modelo de diálogo espiritual é este, o de quem “sabe trazer à luz o pecado” do interlocutor “sem ensombrar a sua oração de adoração nem pôr obstáculos à sua vocação missionária”.
A proximidade na Confissão é de meditar contemplando a passagem da adúltera (cf Jo 8,3-11), onde se vê como a proximidade é decisiva, pois as verdades de Jesus sempre aproximam e se dizem face a face a ponto de poder “fixar o outro nos olhos – como o Senhor, quando Se levanta depois de ter estado de joelhos junto da adúltera que queriam lapidar e lhe diz “também Eu não te condeno” (Jo 8,11). E pode-se dizer “doravante não tornes a pecar”, não em tom pertencente à esfera jurídica da verdade-definição, mas como frase dita na área da verdade-fiel que permita ao pecador olhar em frente e não para trás. O tom justo deste “não tornes a pecar” é o do confessor “que o diz disposto a repeti-lo setenta vezes sete” – pois acredita que o juiz único do pecado ou do pecador é Deus e só Deus – quando muito o confessor será juiz das disposições do penitente (Assim nos ensinava Mons. José Moais e Costa naqueles longínquos anos).
O âmbito da pregação leva a pensar nas pessoas que estão afastadas. E a primeira pregação de Pedro no contexto do Pentecostes (At 2,14-36.38-40) constitui um bom modelo. Pedro anuncia que a palavra é “para todos os que estão longe” (At 2,39) e prega de tal modo que o querigma “os emocionou até ao fundo dos corações” e os fez perguntar: ‘Que havemos de fazer’?” (At 2,37). E esta é a pergunta que devemos provocar e a que devemos responder em jeito materno e em dinamismo eclesial. E Francisco insiste na qualidade da homilia:
É a pedra de toque para avaliar a proximidade e a capacidade de encontro de um Pastor com o seu povo (EG. 135). Na homilia, vê-se quão próximo temos estado de Deus na oração e quão próximo estamos do nosso povo na sua vida diária.”.
A boa notícia concretiza-se com o alimento e ajuda mútuos da proximidade com Deus e da proximidade com o povo. Assim, se o Pastor se sente longe de Deus, aproxime-se do povo, que o curará das ideologias que lhe entorpeceram o fervor. Na verdade, as pessoas simples ensinam a ver Jesus doutro modo: encantam-se com o fascínio de Jesus, com a autoridade moral do seu bom exemplo, com a utilidade para a vida dos seus ensinamentos. E, se o Pastor se sente longe das pessoas, deve aproximar-se do Senhor e da sua Palavra, pois, no Evangelho, Jesus ensina o seu modo de ver as pessoas e sobretudo “quanto vale a seus olhos cada um daqueles por quem derramou o seu sangue na cruz”. Na verdade, com a proximidade com Deus, a Palavra faz-se carne e o Pastor torna-se próximo de toda a carne. Na proximidade com o povo de Deus, a sua carne dolorosa torna-se palavra no coração do Pastor, que terá de que falar com Deus, tornando-se um intercessor.
Assim, segundo o Papa, o sacerdote vizinho caminha no meio do povo com a proximidade e ternura de bom pastor e, em seu jeito pastoral, ora vai à frente, ora no meio, ora atrás. E as pessoas veem-no com apreço e sentem por ele aquele algo de especial que só sentem na presença de Jesus. Por isso, a proximidade não é algo adicional, mas nela “se decide se queremos tornar Jesus presente na vida da humanidade” ou se “O deixamos no plano das ideias, encerrado em belas letras, quando muito encarnado nalgum bom hábito que pouco a pouco se torna rotina”.
Por tudo isto, o Santo Padre exorta os sacerdotes de todo o mundo a pedirem a Nossa Senhora da Proximidade a aproximação entre eles próprios e que, na hora de dizerem ao povo “fazei o que Ele vos disser”, os unifique no tom, para que, na diversidade de opiniões, se torne presente a proximidade materna daquela que com o seu ‘sim’ os aproximou de Jesus para sempre. Com efeito, a sua proximidade, tal como sobressaiu em todos os passos da vida de Jesus menino, também foi relevante no percurso da via crucis e no topo do Calvário, onde não só continuou mãe do Mestre como ganhou o estatuto de mãe dos discípulos. E com este mister se associou à reunião orante dos apóstolos no cenáculo à espera do Pentecostes.
Na verdade, o sacerdócio instituído em Quinta-feira Santa, com e em função do banquete eucarístico de comunhão e sacrifício do Calvário tem Mãe muito pronta, próxima e solícita; e com Ela deve aprender o exercício da solicitude, da prontidão, da proximidade, do acolhimento. É a maternidade da Igreja em ação, reflexão, apostolado!
2018.03.30 – Louro de Carvalho

sexta-feira, 30 de março de 2018

Jesus e a consciência da solidão humana


Quando entrou pomposamente em Jerusalém, Jesus sabia que ia ser glorificado. Porém, esta glorificação que estava nos escaninhos do desígnio divino é uma glorificação que humanamente constitui loucura ou escândalo. Com efeito, depois de Judas abandonar a mesa da Ceia, à ordem do Mestre, “Faz o que tens a fazer” (cf Jo 13,27.31), Jesus disse para os que ficaram:
Agora é que se revela a glória do Filho do Homem e assim se revela nele a glória de Deus. E, se Deus revela nele a sua glória, também o próprio Deus revelará a glória do Filho do Homem, e há de revelá-la muito em breve.” (Jo 13,31-32).
O Mestre, que as multidões seguiam, que gostavam muito das suas encantadoras palavras, testemunhavam os seus prodígios, que até o haviam querido fazer rei e que acabaram por bradar pela sua crucifixão, ficará sozinho e marcado pela traição, negação, fuga, escárnio, cobardia e indiferença. E Ele tinha plena consciência disso.
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Primeiro, vem o conhecimento da traição: uma venda a dinheiro. E o sinal que Judas daria para eles conhecerem Jesus era um beijo (cf Mc 14,44).
Quando o Iscariotes, um dos Doze, foi ter com os sumos sacerdotes para lhes entregar Jesus, eles ouviram-no com satisfação e prometeram dar-lhe dinheiro. E Judas espreitava ocasião favorável para O entregar (Mc 14,10-11). Estes dois versículos ligam-se aos vv 1 e 2, que referem: “Faltavam dois dias para a Páscoa e os Ázimos; os sumos sacerdotes e os doutores da Lei procuravam maneira de capturar Jesus à traição e de o matar, mas diziam: ‘Durante a festa não, para que o povo não se revolte’.” (Mc 14,1-2).
Ora, Jesus, bom conhecedor dos corações, bem sabia quem era Judas, o elemento do colégio apostólico que era ambicioso e ladrão, como refere João (cf Jo 12,6), e possuído de Satanás, como refere Lucas (cf Lc 22,3) e João (cf Jo 13,27). Por isso, anunciou a traição durante a própria Ceia e fê-lo sem rodeios: “um de vós há de entregar-me, um que come comigo” (Mc 14,18; cf Lc 22,21). E, perante as dúvidas sobre quem seria, esclareceu: “É um dos Doze, aquele que mete comigo a mão no prato” (Mc 14,20). Mateus até refere que Judas perguntou se seria ele próprio ao que o Mestre respondeu: “Tu o disseste” (cf Mt 26,25).
Por seu turno, João informa que à pergunta do discípulo amado sobre quem seria, respondeu: “É aquele a quem Eu der o bocado de pão ensopado. E molhando o bocado de pão, deu-o a Judas, filho de Simão Iscariotes. E, logo após o bocado, entrou nele Satanás.” (cf Jo 13,25-27).
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Passando ao conhecimento do abandono e da negação, Marcos assinala que, “após o canto dos salmos, saíram para o Monte das Oliveiras”, pois, como conclusão da Ceia Pascal, recitava-se ou cantava-se a segunda parte do Hallel (que abrange os salmos 115 a 118, sendo que os salmos 113 e 114 constituíam a primeira parte). Depois, Jesus profetizou: “Todos ides abandonar-me, pois está escrito: Ferirei o pastor e as ovelhas hão de dispersar-se. Mas, depois de Eu ressuscitar, hei de preceder-vos a caminho da Galileia.”. Porém, Simão Pedro garantiu que, mesmo que todos venham a abandonar o Mestre, ele não o abandonaria. E com Pedro todos afirmavam a mesma coisa. Todavia, Jesus voltou-se para Pedro e disse: ‘Em verdade te digo, que hoje, esta noite, antes de o galo cantar duas vezes, tu me terás negado três vezes’. E Pedro insistia com mais ardor: ‘Mesmo que tenha de morrer contigo, não te negarei’.” (cf Mc 14,26-31; Mt 26,30-35).
Não será despiciendo rever o que escrevem Lucas e João.
Lucas relata assim o anúncio da negação de Pedro:
E o Senhor disse: ‘Simão, Simão, olha que Satanás pediu para vos joeirar como trigo. Mas Eu roguei por ti, para que a tua fé não desapareça. E tu, uma vez convertido, fortalece os teus irmãos.’. Mas ele respondeu-lhe: ‘Senhor, estou pronto a ir contigo até para a prisão e para a morte’. Jesus disse-lhe: ‘Eu te digo, Pedro: o galo não cantará hoje sem que, por três vezes, tenhas negado conhecer-me’.” (Lc 22,31-34).
E João refere:
Disse-lhe Simão Pedro: ‘Senhor, para onde vais?’. Jesus respondeu-lhe: ‘Para onde Eu vou, tu não me podes seguir por agora; hás de seguir-me mais tarde’. Disse-lhe Pedro: ‘Senhor, porque não posso seguir-te agora? Eu daria a vida por ti!’. Replicou Jesus: ‘Darias a vida por mim? Em verdade, em verdade te digo: não cantará o galo, antes de me teres negado três vezes’!” (Jo 13,36-38).
Enquanto em Lucas é Jesus quem toma a iniciativa da conversa, em João é Pedro quem inicia o discurso com uma pergunta. Seja como for, o relato dos quatro evangelistas revela o caráter resoluto e destemido de Pedro e a resposta amarga de Jesus entre a predição do abandono para cumprimento das escrituras e a negação de Pedro, fruto da timidez e da cobardia, algo parecida com a de Pilatos. Pilatos, sabendo da inocência do Justo (Jo 18,39) e que fora entregue por inveja (Mc 15,10), mandou-o flagelar, cobrir com um manto de púrpura e apresentá-lo como o rei quase desnudo e, depois, entregá-lo para a crucifixão, lavando as mãos dessa clara responsabilidade (cf Jo 19,1-5; Mt 27,24).
Na predição das negações de Pedro narrada por todos os evangelistas, Marcos é o que mostra menor benevolência para com Pedro retratando-lhe ao vivo a psicologia e o poder arrebatador em relação aos demais.
Não obstante, São João Crisóstomo comenta que naquela posição resoluta de Pedro não há temeridade nem mentira, mas fé e amor ardente da parte do apóstolo para com o seu Senhor e Salvador. À face desta sinceridade petrina, embora com um défice de humildade, Jesus não quer que os discípulos se iludam: vai haver abandono e dispersão, vai acontecer a tripla negação de Pedro – e deixou como sinal de confirmação do facto consumado o duplo cantar do galo –; e o Mestre vai ser contado entre os malfeitores, como refere Lucas (cf Lc 22,37). Porém, é no âmbito destas predições a primeira vez que Jesus marca um encontro para depois da Ressurreição, embora a tenha anunciado com a sua morte por várias vezes: “Mas, depois de Eu ressuscitar, hei de preceder-vos a caminho da Galileia” (Mc 14,28).
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E aconteceu a solidão do Mestre na agonia, pois os discípulos adormeceram (Mc 14,37-40); a traição deu-se com o beijo de Judas (Mc 14,43-4) e todos fugiram: Então, os discípulos, deixando-o, fugiram todos. Um certo jovem, que o seguia envolto apenas num lençol, foi preso; mas ele, deixando o lençol, fugiu nu.” (Mc 14,50-51). Pedro, que acompanhava de perto os acontecimentos no tribunal judaico, quando interpelado, negou o seu Mestre a ponto de dizer desconhecer tal homem, praguejar e jurar (cf Mc 14,66-71). Porém, quando o galo cantou pela segunda vez, lembrou-se da predição do Mestre e Senhor e desatou a chorar (cf Mc 14,72). 
Marcos, relatando o episódio da negação, regista muitos pormenores relativos à caraterização psicológica das personagens e apresenta uma narrativa genuinamente natural. Pedro nem dá conta de que é reconhecido pelo sotaque galileu. E curiosamente nunca menciona o nome de Jesus. Mesmo quando faz a negação formal do Mestre, refere-se-lhe como “esse homem de quem falais”.
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Tal como no pretório O escarneceram e insultaram, no alto da cruz, surge o insulto, o escárnio e o desafio a que desça da cruz para que os outros acreditem:
Os que passavam injuriavam-no e, abanando a cabeça, diziam: ‘Olha o que destrói o templo e o reconstrói em três dias! Salva-te a ti mesmo, descendo da cruz!’. Também os sumos sacerdotes e os doutores da Lei troçavam dele entre si: ‘Salvou os outros, mas não pode salvar-se a si mesmo! O Messias, o Rei de Israel! Desça agora da cruz para nós vermos e acreditarmos!’. Até os que estavam crucificados com Ele o injuriavam.” (Mc 15,29-32).
E Jesus sentiu, naquele instante, o abandono marcado pela escuridão da terra e aparentemente o abandono do próprio Pai. É o que pode revelar o grito em aramaico hebraizante: Eloí, Eloí, lemá sabachtáni?, que quer dizer: “Meu Deus, meu Deus, porque me abandonaste?”. Porém, como supuseram alguns dos circunstantes, nem estava a ser abandonado por Deus nem estava a chamar por Elias nem esperava que Elias o viesse salvar.
O chamamento por Elias é um equívoco de sabor brincalhão e sarcástico. Elias, além de ser esperado como o precursor do Messias (missão desempenhada por João Batista), era popularmente considerado como socorro dos atribulados.
As palavras que Jesus proferiu pelas três horas da tarde de sexta-feira, constituem apenas o início do salmo 22. Porém, como o entendiam os judeus piedosos, devem ser entendidas no contexto do salmo todo. Como ainda hoje, quando enunciamos em voz alta Pai-Nosso ou Avé-Maria, dizemos em silêncio a oração inteira, os judeus, quando proferiam o início dum salmo, assumiam-no na íntegra. Ora, no Calvário, o Messias não profere um grito de desesperado nem daquele que foi condenado por Deus, mas o grito do Justo que se declara seguro da intervenção divina, apesar da própria fraqueza, e que finalmente triunfará dos seus inimigos. Além disso, como refere o final do salmo, este momento tem um significado messiânico. Assim, Jesus quis proclamar ao povo judeu a sua messianidade. Com efeito, podem ler-se os segmentos messiânicos do Salmo 22 (vv 27-32):
Os pobres comerão e serão saciados; louvarão o SENHOR, os que o procuram. ‘Vivam para sempre os vossos corações’. Hão de lembrar-se do SENHOR e voltar-se para Ele todos os confins da terra; hão de prostrar-se diante dele todos os povos e nações, porque ao SENHOR pertence a realeza. Ele domina sobre todas as nações. Diante dele hão de prostrar-se todos os grandes da terra; diante dele hão de inclinar-se todos os que descem ao pó e assim deixam de viver. Uma nova geração o servirá e narrará aos vindouros as maravilhas do Senhor. Ao povo que vai nascer dará a conhecer a sua justiça, contará o que Ele fez.”.
Para todos os efeitos o grito de Jesus registado por Mateus e Marcos equivale ao ato de confiança registado por Lucas, “Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito” (Lc 23,46) e o “Tudo está consumado” (Jo 19,30), registado por João.  Na verdade, cumpriu o discurso do Getsémani:
Abbá, Pai, tudo te é possível; afasta de mim este cálice! Mas não se faça o que Eu quero, e sim o que Tu queres.” (Mc 14,36).
Cumpriu-se o que escreveu João: “Desci do Céu não para fazer a minha vontade, mas a vontade daquele que me enviou” (Jo 6,38).
Finalmente, com o Senhor abandonado por quase todos, menos pelas mulheres e pelo discípulo amado que recebeu a Mãe de Jesus em testamento e ela o acolhe como filho discípulo por vontade do filho mestre, solidariza-se o véu do Templo rasgando-se de alto a baixo. E acolhe-o a Natureza, a criação; e do túmulo se levantará redivivo para alegria dos discípulos e motivo para a missionação pelo mundo inteiro.
A consciência da solidão e a sua aceitação provisória geram o dinamismo da comunidade, da Igreja, da família intensa, global – referenciada a Jesus Cristo em prol da humanidade sedenta.
2018.03.30 – Louro de Carvalho