quarta-feira, 14 de março de 2018

Devido a envenenamento de espião Londres expulsa 23 diplomatas russos


O Reino Unido expulsa 23 diplomatas russos como retaliação pelo envenenamento do ex-espião russo Serguei Skripal em Inglaterra, caso a que a Rússia nega que esteja ligada. Porém, a Primeira-Ministra britânica, ao anunciar hoje, dia 14, a medida, considerou a Rússia “culpada” neste incidente.
É a maior medida do género tomada por Londres nos últimos 30 anos, mas os 23 diplomatas russos foram considerados “agentes de informação não declarados”.
O ex-espião Serguei Skripal, de 66 anos, e a filha Yulia, de 33 anos, foram encontrados inconscientes a 4 de março, num banco num centro comercial em Salisbury, no sul de Inglaterra.
No dia 7, o chefe da polícia antiterrorista britânica, Mark Rowley, revelou que o ex-agente duplo russo e a filha tinham sido vítimas dum ataque deliberado com um agente neurotóxico, um componente químico que ataca o sistema nervoso e que pode ser fatal.
O russo refugiou-se no Reino Unido depois de ter sido libertado em 2010 numa troca de espiões, após ter estado vários anos detido por ter revelado segredos aos serviços secretos britânicos. Com efeito,  o espião vendeu vários segredos do regime moscovita ao MI6, incluindo a identidade de outros espiões russos que operavam em território europeu.
No passado dia 12, a Primeira-Ministra britânica, Theresa May, afirmou ser “muito provável que a Rússia seja responsável” pelo envenenamento do ex-espião e da filha, justificando que a substância utilizada é “de qualidade militar” desenvolvida pela Rússia.
Na mesma intervenção, a Primeira-Ministra do Reino Unido deu a Moscovo um prazo, até à 24 horas do dia 13, para fornecer explicações à Organização para a Proibição de Armas Químicas. Moscovo negou responsabilidades e pediu ao Governo britânico a abertura de um “inquérito conjunto” sobre o caso.
Moscovo não cumpriu com o prazo previsto para cooperar nas investigações do envenenamento do ex-espião russo, que estava marcado para a 00 horas desta quarta-feira, o que levou ao anúncio de medidas excecionais para a Rússia por parte de May. E o Governo britânico não acedeu à sugestão russa de avançar para um inquérito conjunto.
Em declaração pública sobre o acontecimento, que nos últimos dias gerou grande tensão nas relações diplomáticas entre os dois países, a Chefe do Governo de Sua Majestade anunciou hoje, dia 14, ainda nova legislação anti-espionagem e de proteção contra atividades hostis, mais controlo na entrada de cidadãos russos no país e ainda o cancelamento de encontros de alto nível, como acentua o jornal The Guardian, bem como o boicote diplomático e real ao Campeonato Mundial de futebol. Neste sentido, a Primeira-Ministra, que frisou poderem vir a existir outras medidas, que não serão anunciadas, referiu que a retaliação inclui o pedido à família real britânica para não comparecer no Campeonato do Mundo de Futebol que se realiza na Rússia este verão. Membros do governo e representantes diplomáticos britânicos também não comparecerão naquele evento desportivo.
Esta expulsão dos 23 diplomatas – a Rússia conta com 59 diplomatas acreditados no Reino Unido – é, como se disse, a maior em 30 anos naquele país. Os diplomatas terão uma semana para abandonar o Reino Unido, como especificou May, que defendeu que a Rússia expressou “desdém” pelo desejo do Reino Unido de obter explicações sobre este caso. Mais: segundo a Primeira-Ministra, as ações da Rússia “representam um uso ilegal da força”.
Theresa May garantiu, perante a Câmara dos Comuns (câmara baixa do Parlamento), que o Reino Unido queria uma relação melhor com a Rússia e declarou ser “trágico” que o Presidente russo, Vladimir Putin, tenha agido deste modo. E assegurou que o Reino Unido não está sozinho nesta questão, contando com o apoio dos aliados.
Esta manhã, no Parlamento, a Chefe do Governo não teve dúvidas:
Não há outro caminho que não concluir que a Rússia é culpa do crime de homicídio na forma tentada contra Sergei e Yulia Skripa – e por atentarem contra a vida de outros cidadãos britânicos. […] Este não é apenas um ato contra Sergei e Iulia Skripal e contra o Reino Unido mas também uma afronta à proibição da utilização de armas químicas. […] Têm uma semana para sair.”.
A Rússia, que sempre negou qualquer ligação ao incidente, tinha insistido hoje que “não tem qualquer relação com o que se passou na Grã-Bretanha”. Por isso, segundo o que disse em conferência de imprensa o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, “Moscovo não admite as acusações sem provas e não verificadas e a linguagem dos ultimatos” e a Rússia “espera que o bom senso prevaleça”.
Entretanto, o Conselho de Segurança das Nações Unidas reúne-se de urgência hoje à tarde, às 19 horas a pedido do Reino Unido, para analisar o caso do envenenamento do ex-espião russo, anunciou já residência holandesa em exercício daquele órgão da ONU – o que mostra que a tensão Londres-Moscovo está ao mais alto nível. O Reino Unido e a Rússia, a par da China, Estados Unidos e França, são membros permanentes do Conselho de Segurança.
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O Ministério dos Negócios Estrangeiros russo promete resposta rápida à expulsão de 23 diplomatas russos do Reino Unido.
Para já, a Rússia acusou Londres de “ter feito a escolha da confrontação” ao impor sanções ao país, incluindo a expulsão de 23 diplomatas russos, após o envenenamento de um ex-espião russo em Inglaterra.
Um comunicado do Ministério dos Negócios Estrangeiros russo denunciou que, num momento em que Moscovo demonstrou disponibilidade para cooperar, “o Governo britânico fez a escolha da confrontação com a Rússia”, frisando que “evidentemente, as nossas medidas de resposta não se farão esperar”.
A diplomacia russa qualificou as sanções britânicas de “provocação grosseira sem precedentes”, de “medidas hostis” e de “campanha antirrussa” – um espetáculo de circo.
A Primeira-Ministra britânica anunciou a suspensão de contactos bilaterais e a expulsão de 23 diplomatas russos ao considerar Moscovo “culpado” do envenenamento do ex-espião no seu território. Numa primeira reação, a embaixada russa em Londres classificou a decisão como “hostil”, “inaceitável” e “injustificada”.
Registe-se que, afinal, Serguei Skripal e filha Yulia, que foram encontrados inconscientes no dia 04 de março, num banco num centro comercial em Salisbury, estão hospitalizados em “estado crítico, mas estável”.
A Rússia reitera a negação de qualquer a responsabilidade no ataque, que já mereceu a condenação de vários governos, incluindo o de Portugal, e de dirigentes como os presidentes norte-americano, Donald Trump, e francês, Emmanuel Macron, a chanceler alemã, Angela Merkel, e o secretário-geral da NATO, Jens Stoltenberg.
Trump considerou que este envenenamento “tem semelhanças” com um ato russo.
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De momento, não se vislumbra que tipo de resposta efetiva dará a Rússia ao Reino Unido. Porém, a Primeira-Ministra, alinhada com o Presidente dos Estados Unidos, considera o caso como uma manifestação de barbárie. A Rússia refugia-se na ignorância de elenco. E, se Moscovo não assumir, pelo menos, a possibilidade de culpa da parte de agentes seus por abuso, equívoco ou outra razão justificante, é muito capaz de responder com medidas de igual teor e proporção ou mesmo de peso maior.
Nunca é previsível o resultado duma diplomacia que deixa de ser diplomacia para ser expressão da visão supina e autista de governos circunstancialmente colocados em posições antagónicas, como que considerando ataque pessoal a manifestação de divergências. E não se pense que o Governo britânico fica imune no caso já que nem aceitou a hipótese do inquérito conjunto sugerido por Moscovo nem deu explicações públicas para não acolher tal sugestão. Poderá também ser acusado de desdém?
Vamos ver se os chefes da diplomacia dos dois países são capazes de construir acertos diplomáticos e que os aliados, ao invés de lançarem achas na fogueira, ajudem a desanuviar a tensão. Poderá o Secretário-geral da ONU dar uma mãozinha à causa? Talvez a paz requeira tudo isto.
2018.03.14 – Louro de Carvalho

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