O Reino
Unido expulsa 23 diplomatas russos como retaliação pelo envenenamento do
ex-espião russo Serguei Skripal em Inglaterra, caso a que a Rússia nega que
esteja ligada. Porém, a Primeira-Ministra britânica, ao anunciar hoje, dia 14, a
medida, considerou a Rússia “culpada” neste incidente.
É a maior medida do género tomada por Londres nos últimos 30
anos, mas os 23 diplomatas russos foram considerados “agentes de informação não
declarados”.
O ex-espião
Serguei Skripal, de 66 anos, e a filha Yulia, de 33 anos, foram encontrados
inconscientes a 4 de março, num banco num centro comercial em Salisbury, no sul
de Inglaterra.
No dia 7, o
chefe da polícia antiterrorista britânica, Mark Rowley, revelou que o ex-agente
duplo russo e a filha tinham sido vítimas dum ataque deliberado com um agente
neurotóxico, um componente químico que ataca o sistema nervoso e que pode ser
fatal.
O russo refugiou-se no Reino Unido depois de ter sido
libertado em 2010 numa troca de espiões, após ter estado vários anos detido por
ter revelado segredos aos serviços secretos britânicos. Com efeito, o espião vendeu vários segredos do
regime moscovita ao MI6, incluindo a identidade de outros espiões russos que
operavam em território europeu.
No passado
dia 12, a Primeira-Ministra britânica, Theresa May, afirmou ser “muito provável
que a Rússia seja responsável” pelo envenenamento do ex-espião e da filha,
justificando que a substância utilizada é “de qualidade militar” desenvolvida
pela Rússia.
Na mesma
intervenção, a Primeira-Ministra do Reino Unido deu a Moscovo um prazo, até à
24 horas do dia 13, para fornecer explicações à Organização para a Proibição de
Armas Químicas. Moscovo negou responsabilidades e pediu ao Governo britânico a
abertura de um “inquérito conjunto” sobre o caso.
Moscovo não cumpriu com o prazo previsto para cooperar nas
investigações do envenenamento do ex-espião russo, que estava marcado para a 00
horas desta quarta-feira, o que levou ao anúncio de medidas excecionais para a
Rússia por parte de May. E o Governo britânico não acedeu à sugestão
russa de avançar para um inquérito conjunto.
Em
declaração pública sobre o acontecimento, que nos últimos dias gerou grande
tensão nas relações diplomáticas entre os dois países, a Chefe do Governo de
Sua Majestade anunciou hoje, dia 14, ainda nova legislação anti-espionagem e de
proteção contra atividades hostis, mais controlo na entrada de cidadãos russos
no país e ainda o cancelamento de encontros de alto nível, como acentua o
jornal The Guardian, bem como o boicote
diplomático e real ao Campeonato Mundial de futebol. Neste sentido, a
Primeira-Ministra, que frisou poderem vir a existir outras medidas, que não
serão anunciadas, referiu que a retaliação inclui o pedido à família real
britânica para não comparecer no Campeonato do Mundo de Futebol que se realiza na
Rússia este verão. Membros do governo e representantes diplomáticos britânicos
também não comparecerão naquele evento desportivo.
Esta
expulsão dos 23 diplomatas – a Rússia conta com 59 diplomatas acreditados no
Reino Unido – é, como se disse, a maior em 30 anos naquele país. Os diplomatas
terão uma semana para abandonar o Reino Unido, como especificou May, que defendeu
que a Rússia expressou “desdém” pelo desejo do Reino Unido de obter explicações
sobre este caso. Mais: segundo a Primeira-Ministra, as ações da Rússia “representam
um uso ilegal da força”.
Theresa May
garantiu, perante a Câmara dos Comuns (câmara baixa do Parlamento), que o Reino Unido queria uma relação melhor com a
Rússia e declarou ser “trágico” que o Presidente russo, Vladimir Putin, tenha
agido deste modo. E assegurou que o Reino Unido não está sozinho nesta questão,
contando com o apoio dos aliados.
Esta manhã, no Parlamento, a Chefe do Governo não teve
dúvidas:
“Não há outro caminho que não concluir que a
Rússia é culpa do crime de homicídio na forma tentada contra Sergei e Yulia
Skripa – e por atentarem contra a vida de outros cidadãos britânicos. […] Este
não é apenas um ato contra Sergei e Iulia Skripal e contra o Reino Unido mas
também uma afronta à proibição da utilização de armas químicas. […] Têm uma
semana para sair.”.
A Rússia,
que sempre negou qualquer ligação ao incidente, tinha insistido hoje que “não
tem qualquer relação com o que se passou na Grã-Bretanha”. Por isso, segundo o
que disse em conferência de imprensa o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, “Moscovo
não admite as acusações sem provas e não verificadas e a linguagem dos
ultimatos” e a Rússia “espera que o bom senso prevaleça”.
Entretanto, o Conselho de Segurança das Nações Unidas
reúne-se de urgência hoje à tarde, às 19 horas a pedido do Reino Unido, para
analisar o caso do envenenamento do ex-espião russo, anunciou já residência
holandesa em exercício daquele órgão da ONU – o que mostra que a tensão Londres-Moscovo
está ao mais alto nível. O Reino Unido e a Rússia, a par da China, Estados
Unidos e França, são membros permanentes do Conselho de Segurança.
***
O Ministério dos Negócios Estrangeiros russo promete resposta rápida à
expulsão de 23 diplomatas russos do Reino Unido.
Para já, a Rússia acusou Londres de “ter
feito a escolha da confrontação” ao impor sanções ao país, incluindo a expulsão
de 23 diplomatas russos, após o envenenamento de um ex-espião russo em
Inglaterra.
Um comunicado do Ministério dos
Negócios Estrangeiros russo denunciou que, num momento em que Moscovo
demonstrou disponibilidade para cooperar, “o Governo britânico fez a escolha da
confrontação com a Rússia”, frisando que “evidentemente, as nossas medidas de
resposta não se farão esperar”.
A diplomacia russa qualificou as
sanções britânicas de “provocação grosseira sem precedentes”, de “medidas
hostis” e de “campanha antirrussa” – um espetáculo de circo.
A Primeira-Ministra britânica
anunciou a suspensão de contactos bilaterais e a expulsão de 23 diplomatas
russos ao considerar Moscovo “culpado” do envenenamento do ex-espião no seu
território. Numa primeira reação, a embaixada russa em Londres classificou a
decisão como “hostil”, “inaceitável” e “injustificada”.
Registe-se
que, afinal, Serguei Skripal e filha Yulia, que foram encontrados inconscientes
no dia 04 de março, num banco num centro comercial em Salisbury, estão
hospitalizados em “estado crítico, mas estável”.
A
Rússia reitera a negação de qualquer a responsabilidade no ataque, que já
mereceu a condenação de vários governos, incluindo o de Portugal, e de
dirigentes como os presidentes norte-americano, Donald Trump, e francês,
Emmanuel Macron, a chanceler alemã, Angela Merkel, e o secretário-geral da
NATO, Jens Stoltenberg.
Trump considerou que este envenenamento “tem
semelhanças” com um ato russo.
***
De momento,
não se vislumbra que tipo de resposta efetiva dará a Rússia ao Reino Unido. Porém,
a Primeira-Ministra, alinhada com o Presidente dos Estados Unidos, considera o
caso como uma manifestação de barbárie. A Rússia refugia-se na ignorância de
elenco. E, se Moscovo não assumir, pelo menos, a possibilidade de culpa da
parte de agentes seus por abuso, equívoco ou outra razão justificante, é muito
capaz de responder com medidas de igual teor e proporção ou mesmo de peso maior.
Nunca
é previsível o resultado duma diplomacia que deixa de ser diplomacia para ser
expressão da visão supina e autista de governos circunstancialmente colocados
em posições antagónicas, como que considerando ataque pessoal a manifestação de
divergências. E não se pense que o Governo britânico fica imune no caso já que
nem aceitou a hipótese do inquérito conjunto sugerido por Moscovo nem deu explicações
públicas para não acolher tal sugestão. Poderá também ser acusado de desdém?
Vamos
ver se os chefes da diplomacia dos dois países são capazes de construir acertos
diplomáticos e que os aliados, ao invés de lançarem achas na fogueira, ajudem a
desanuviar a tensão. Poderá o Secretário-geral da ONU dar uma mãozinha à causa?
Talvez a paz requeira tudo isto.
2018.03.14 – Louro de Carvalho
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