domingo, 31 de maio de 2020

Da experiência do confinamento à transformação em Igreja em saída


Na celebração da Missa da Solenidade do Pentecostes a que presidiu no Altar do Recinto de Oração do Santuário de Fátima com uns milhares de peregrinos, o Cardeal Dom António Marto, depois de frisar a alegria e emoção por se reencontrar com os peregrinos, incluindo os mais pequenitos, apontou a coincidência, talvez providencial, da retoma das celebrações em regime coletivo com a Solenidade do Pentecostes.
Não fomos nós quem inventou o confinamento. Com efeito, os apóstolos fizeram essa dolorosa experiência no Cenáculo após a morte de Jesus, desolados pela “perda” do Mestre, pelo “fracasso” do projeto em que estavam empenhados, pelo medo – o medo dos judeus ou o medo de si próprios – e esquecidos do discurso testamentário de Jesus subsequente à Última Ceia. E, na tarde do dia da Ressurreição, o Senhor quer provocar o desconfinamento e chamá-los à missão no Espírito Santo (cf Jo 20,19-23). O Ressuscitado, portador de vida nova, que nem as portas fechadas do lugar de confinamento travaram, coloca-Se de pé no meio deles, saúda-os desejando-lhes a paz, mostra-lhes as mãos e o lado, sinais que identificam o Ressuscitado com o Crucificado, e vincula-os à missão messiânica, que eles hão de concretizar no estilo de Jesus: Assim como o Pai me enviou (apéstalken: perfeito de apostéllô), assim Eu vos envio (pémpô: presente).
Os discípulos dissiparam o medo e ficaram cheios de alegria ao verem (idóntes: particío do aoristo segundo de horáô) o Senhor. Esta visão dos Onze é como a do discípulo amado face ao sepulcro vazio: viu e começou a acreditar (Jo 20,8). O sopro sobre eles é o sopro criador (emphysáô) pelo Espírito com vista ao perdão, que dá a vida nova, sopro paralelo ao sopro ou alento criador de Génesis 2,7. E a fé implica a missão: a Igreja tem de caminhar, falar, cuidar e testemunhar.
Mas esta tentativa de desconfinamento não resultou. Tomé não estava com eles e garantiu não acreditar se não visse e tocasse os sítios das chagas. Ora, como disse o Bispo de Leiria-Fátima, a fé é dom e atitude pessoal e interior, mas realiza-se, exprime-se e cresce na comunidade, pois “não se é cristão sozinho”. E Jesus, que não quer deixar ninguém para trás, reapareceu oito dias depois (Jo 20,26-29) e desafiou Tomé a meter o dedo nos lugares dos cravos e a mão no lado aberto instando a que não fosse incrédulo, mas fiel. E Tomé proferiu a exclamação orante mais profunda e mais sintética de latria que alguma vez se ouviu: “Meu Senhor e meu Deus”.
E fez-se o desconfinamento contido. Os discípulos começaram a ocupar-se de algumas das atividades de subsistência, tomaram refeições com Jesus, protagonizaram a pesca milagrosa e, recebido o mandato de irem por todo o mundo a fazer discípulos em todas as nações a partir dos corações, presenciaram a Ascensão de Jesus ao Céu. Porém, seguiu-se um novo confinamento (cf At 1,12 – 2,1). Porém, este já não é dominado pelo medo, mas desenvolve-se na busca orante da força do Alto: estavam em oração com Maria, Mãe de Jesus, outras mulheres e outros discípulos e reconstituíram o grupo dos Doze com a eleição de Matias. Não obstante, não havia meio de o grupo, efetivamente pequeno e pusilânime, se lançar à obra, que urgia.   
Assim, como refere o Livro dos Atos dos Apóstolos (At 2,1-11), no dia de Pentecostes, estando todos reunidos no mesmo lugar, veio de súbito, do céu, um ruído como de ventania impetuosa, que encheu toda a casa . Fizeram-se-lhes ver línguas como de fogo, que se dividiram e “sentou-se” (é o verbo kathízô) uma sobre cada um. Todos ficaram cheios do Espírito Santo e começaram a falar outras línguas, como o Espírito lhes dava o dom de se exprimirem. Estavam em Jerusalém homens piedosos, provindos de todas as nações. Tendo “visto” este som, a multidão convergiu e ficou perplexa, porque ouvia cada um na própria língua o que eles falavam. E, maravilhados, diziam: “Não são galileus todos estes que estão a falar? E como é, então, que nós ouvimos, cada um na nossa própria língua em que nascemos?”.
Estão os apóstolos num único local e num único tempo. O tempo é o 50.º dia da Páscoa; o local reparte-se por duas unidades: a casa, confinante; e a cidade, aberta ao mundo. O verbo grego  gínomai, marca o acontecimento do aparecimento súbito do vento forte e o da perplexidade e maravilha da multidão. Como era hábito, estavam acantonados no Cenáculo, mas, varridos e recriados pelo vento do Espírito, que não se deixa controlar, veem os fantasmas de sótão que ainda os tolhem queimados pelo fogo purificador. E o Espírito, como novo Mestre, pousando sobre cada um de nós, como o fez com aqueles doze, guia a nossa vida desde dentro impulsionando-nos à ação no exterior, fazendo cessar os muros das incompreensões, divisões, invejas, ciúmes, ódios e indiferenças e fazendo nascer um mundo novo de plena comunhão e comunicação, pois todos nos entendemos tão bem como se se tratasse da nossa língua materna. Não é o vernáculo, mas é a linguagem da confiança, intimidade, ternura, amor e zelo.
Enfim, se a Igreja foi prometida em resposta à confissão da fé petrina (cf Mt 16,13-19), nasceu do lado aberto de Jesus na Cruz (Jo 19,31-37) e foi confirmada em diálogo com Pedro na sua tríplice confissão de amor ao Ressuscitado, com o Pentecostes saiu do confinamento da casa das portas fechadas e abriu-se ao mundo. O grupo, de pusilânime e tímido, passou a corajoso e atrevido, ousando arriscar a própria vida, e começou a crescer. “Os que aceitaram a sua palavra (a de Pedro) receberam o Batismo e, naquele dia, juntaram-se a eles cerca de três mil homens” (At 2,41).   
E o Cardeal Marto disse que esta Solenidade nos lembra que “o Senhor Ressuscitado nos envia o Espírito Santo que, com a sua força nos dá um novo alento, uma nova esperança e um novo ânimo para enfrentarmos este novo tempo”, longe “de uma fé rotineira, sem entusiasmo e tantas vezes vivida como se fosse um fardo que nos esmaga”. Propôs que, tal como os apóstolos, que viveram uma experiência de confinamento no Cenáculo, com medo e incerteza sobre o que iria acontecer e foram surpreendidos com a vinda do Espírito Santo, também nós devemos abrir “as nossas janelas, escancarar as mentes e os corações fechados”. E relevou a ação do Espírito Santo na construção duma Igreja “em saída, que anuncia a boa nova do Evangelho a vários povos e culturas, que abate barreiras e muros e cria a fraternidade. Eis “a imagem da Igreja mãe, acolhedora”, que vai “ao encontro das periferias” e “não fecha a porta na cara de ninguém”.
O prelado diocesano, que deu as boas vindas aos peregrinos que marcaram presença em Fátima, neste domingo de celebrações com a presença de fiéis, depois de mais de dois meses de “longo confinamento” e com missas apenas transmitidas pelos órgãos de comunicação social e digital, disse que “a nossa fé é interior, mas também tem uma dimensão visível, de encontro, face a face e de comunhão interpessoal”, pelo que “a retoma comunitária da fé e da Eucaristia é um momento tão esperado de alegria”. E, no final, evocou os doentes e as vítimas diretas e indiretas da Covid-19.
O Pentecostes postula, com máscara ou sem máscara (Espero que não se torne uma peça litúrgica com significado teológico e jurídico como sucedeu com a mitra e o báculo!), a conversão das mentalidades, dos corações e das atitudes: a metanoia que parte do interior modificado segundo o coração de Deus para o coração do mundo a transformar segundo os parâmetros do Reino de Deus.
2020.05.30 – Louro de Carvalho

sábado, 30 de maio de 2020

No desenho do plano económico é de separar o patamar político do técnico


Como refere o Expresso deste dia 30 de maio, o Primeiro-Ministro convidou, há duas semanas, um gestor, independente do PS, para preparar um programa de recuperação económica para o país. Trata-se do engenheiro de minas António Costa Silva, nunca antes metido na política qua tali, muito menos na área da governação.
O, há muitos anos, presidente executivo da Partex, a empresa petrolífera que, durante décadas, foi a principal financiadora da Fundação Gulbenkian, tornou-se uma espécie de “paraministro”. Com efeito, o Primeiro-Ministro explicou a todos os membros do Executivo que o engenheiro reuniria com cada um deles para se definirem os programas que estão previstos ou programados “que devem cair, ficar ou nascer”.
Politicamente a missão é muito sensível e espinhosa, pois o conselheiro ad hoc não integra o Governo, embora já tenha acompanhado António Costa em reuniões com empresários e já tenha iniciado as reuniões com cada um dos ministros, na ótica do condicionamento da governação dos próximos tempos. A ronda começou com Matos Fernandes, Ministro do Ambiente, para garantir que o seu currículo e a posição de gestor duma petrolífera não são incompatíveis com a agenda de combate às alterações climáticas. E Costa Silva prepara-se para, daqui a algum tempo, falar em nome do Governo com os partidos da oposição e com os parceiros sociais a fim de partilhar e colher ideias.
Pensam alguns que uma personalidade independente terá maior e mais forte peso na construção de consensos. E, quando a missão estiver em ponto de rebuçado, o negociador entregará ao Chefe do Governo o que será “uma visão da nova economia do país”, a implementar encerrada que for a crise desencadeada pela Covid-19, e que será a base do Orçamento do Estado para 2021, com reflexos marcantes nos anos seguintes.
Assim, Costa Silva vai escolher setores e programas prioritários, escolhas que António Costa enviará a Bruxelas para que Portugal tenha acesso ao novo fundo europeu. Porém, o país não pode ficar-se com uma resposta de curto, deverá, ao invés, direcionar os apoios para os setores, ideias e projetos conducentes a uma reestruturação modernizadora em articulação com a prioridade identificada agora pela UE: “tornar o espaço económico único mais autónomo face a outras economias, tecnologicamente avançado, baseado em energias limpas”. Por isso, há que ver quais os nossos “game changers” na economia, na área social, na administração pública.
Não é a primeira vez que António Costa designa um não governante para negociações de peso. Tal sucedeu, por exemplo, com a negociação da reversão parcial da privatização da TAP ou com a negociação aquando da greve dos motoristas de transporte de matérias perigosas. É, porém, a primeira vez que o faz em relação a matéria de política de interesse crucial para o país com incidência na relação entre partidos e entre parceiros sociais.
Também, como refere o Expresso, o Primeiro-Ministro não é o único a tomar uma decisão deste jaez. Na verdade, esta semana, Emmanuel Macron, em França, pediu isso a um grupo de economistas liderado pelo ex-economista-chefe do FMI, Olivier Blanchard, e o Nobel Jean Tirole. De facto, o Chefe do Governo sabe que só com propostas concretas e em sintonia com as prioridades definidas por Bruxelas, se poderá aceder, a partir de janeiro de 2021, aos mais de €26 mil milhões do novo Fundo de Recuperação da UE, a que Portugal tem direito para obviar à crise e empreender a reestruturação da economia.
É verdade que António Costa já pegou num independente para o aproximar da área da governação. Foi buscar Centeno ao Banco de Portugal para ajudar o PS a fazer o seu programa económico e, depois, fê-lo Ministro das Finanças; e chamou Siza Vieira, em dezembro 2015, para chefiar a estrutura de missão para a capitalização de empresas, passando a Ministro da Economia em 2018 e sendo agora o número dois do executivo. Porém, no primeiro caso, ainda se estava numa fase pré-eleitoral; e, no segundo, estava em causa só um setor.
Será Costa Silva o sucessor de Centeno, que deixará o Governo depois do Orçamento suplementar e no termo da presidência do Eurogrupo, em meados de julho? Ou, como a sua área não são as finanças públicas, sucederá a Siza Vieira não Economia, rumando para este para a pasta das Finanças?
António Costa escolheu este engenheiro para a suprarreferida missão, impressionado com o modo como ele abordou a temática em causa numa entrevista televisiva de há cerca de duas semanas. Segundo o Primeiro-Ministro e como escreve o Expresso, a experiência de gestor da Partex, cuja perspetiva geoestratégica da economia mundial o guiou numa carreira de sucesso, deu-lhe “uma perspetiva de como o país deve posicionar-se na nova globalização, com mais autonomia estratégica, valorização de recursos e reindustrialização”. Por outro lado, com o Governo superocupado na resposta às exigências diárias da crise, António Costa quis escolher uma personalidade exterior ao Executivo, capaz de pensar o país a longo prazo e coordenar todo o trabalho prospetivo. E, estando fora do Governo, não tem um interesse político a defender.
Antes do verão o trabalho preliminar estará quase fechado, mas dependente da negociação final da resposta europeia, que virá a condicionar o financiamento e as áreas estratégicas a seguir.
Apesar de, na semana passada, já a trabalhar para o Governo, ter deixado algumas pistas em artigo no “Público” e o Chefe do Governo ter agora na mesa um primeiro esboço, o engenheiro diz que o trabalho, que desempenha pro bono, vai demorar meses e garante que apenas cumpre um “dever cívico” (di-lo tendo em conta que a líder do BE vê regime de incompatibilidades no desempenho destas funções) e que as ideias de vir a integrar o Governo são “especulações sem fundamento”.
Quanto ao programa que está a delinear (já tem um esboço de algumas dezenas de páginas na mesa do Primeiro-Ministro), o gestor explicou ao jornal ECO online alguns dos objetivos estratégicos: transportes ferroviários; infraestruturas portuárias; gestão de recursos de água; competências digitais das pequenas e médias empresas; reforço do investimento no sistema nacional de saúde (em equipamentos e recursos humanos); reconversão industrial; recursos endógenos; coesão territorial ou transição energética. Pretende-se “uma visão integrada de tudo isto”, sendo muito importante “a proteção social das pessoas e das empresas”, bem como a necessidade de “haver um pacto com o Estado para capitalizar as empresas, para não deixar que entrem em coma”. Porém, o programa precisa de perceber que margem financeira há da UE. Só com o novo fundo europeu aprovado isso será possível. Mas o gestor acrescenta que pretende encontrar uma estratégia de prestação de contas que permita “evitar que se cometam os mesmos erros que no passado”.
Além de ter sido convidado por António Costa para preparar com os atuais ministros do Executivo um plano de recuperação para a economia, Costa e Silva pode querer travar outros cenários – não se sabe quais – estando no seu horizonte sair da Partex, mas só no próximo ano.
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Entretanto, Bloco de Esquerda (BE) e CDS-PP rejeitam negociar com “paraministro”. De facto, Catarina Martins, coordenadora do BE, comentando a manchete do Expresso, segundo a qual o gestor petrolífero está a assumir aquele papel, que o partido só negoceia com membros do Governo e, rejeitando a existência de “paraministros”, declarou:
O senhor Primeiro-Ministro é aconselhado por quem acha que pode fazer esse trabalho, é livre de o escolher. O Bloco de Esquerda, naturalmente, negoceia com membros do Governo, como fez até agora e como mandam, aliás, as regras da boa transparência da nossa democracia. (…) A figura de paraministro não pode existir.”.
Depois, observou:
As pessoas que têm competência para tomar decisões em Portugal, que estão sujeitas não só a um regime de incompatibilidades e impedimentos estritos como de transparência sobre os seus rendimentos são membros do Governo: ministros e secretários de Estado”.
Interpelada sobre a hipótese de Costa Silva vir a suceder ao atual Ministro das Finanças, Catarina Martins apenas disse que essa é uma decisão que compete ao Primeiro-Ministro.
De igual forma, o CDS-PP conta discutir o plano de recuperação económica do país com “Costa e Siza”, numa referência ao Primeiro-Ministro e Ministro da Economia, “e não com Costa Silva”, referindo-se ao engenheiro gestor. E esclarece o partido, em comunicado:
O Primeiro-Ministro pode escolher com quem é que os seus ministros se aconselham, mas em matéria de governação do país, o CDS deve falar com o Governo e não com quem o Governo fala”.
Os democratas-cristãos recordam que, há três meses, sugerira, ao Governo a criação dum gabinete de crise “para relançar social e economicamente o país, que integrasse representantes de vários setores fundamentais e todos os partidos com assento parlamentar”. E apontam que, “apesar de tardiamente, vale sempre a pena recuperar esta boa ideia”.
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Não preciso de ser do BE ou do CDS para discordar, em parte, do Primeiro-Ministro. Concordo que tenha escolhido esta personalidade para discutir com os ministros o plano de relançamento da economia, se viu nela o perfil técnico para o efeito. Porém, entendo que a negociação com os partidos com assento parlamentar e com os parceiros sociais – que tem uma feição política em termos da preparação para opções de políticas públicas mais adequadas à conjuntura e a uma prospetiva sustentável de futuro – deve ser liderada por um membro do Governo, de preferência um dos ministros de Estado, podendo, ou não, estar acompanhado pelo assessor. Sempre me criou confusão que um chefe de órgão executivo ponha um técnico a dialogar com os membros dum órgão deliberativo ou com parte interessada numa parceria, sobretudo se toma partido.
Enfim, cabe aos técnicos a discussão técnica como aos cientistas a discussão científica; e cabe aos políticos, obviamente estribados nos pareceres técnicos e científicos, preparar e tomar as decisões políticas consequentes e, em caso de dúvida ou de divergência, arriscar a opção menos gravosa, tendo em vista a minimização dos perigos públicos e a otimização do bem-estar social.    
2020.05.30 – Louro de Carvalho

sexta-feira, 29 de maio de 2020

Após o teste à fé azado pelo confinamento, volta a celebração coletiva


Desde o dia 14 de março, têm estado suspensas as celebrações litúrgicas e paralitúrgicas com a participação física e coletiva do povo, embora, pela natureza das coisas as celebrações litúrgicas sejam sempre comunitárias e públicas. Entretanto, este fim de semana, a marcar a Solenidade do Pentecostes, estão de volta com a participação física de povo, observado um conjunto de normas estabelecidas pela CEP (Conferência Episcopal Portuguesa) em articulação com a DGS (Direção-Geral da Saúde), que sustenta a manutenção do distanciamento social. 
Por seu turno, cada diocese publicou orientações específicas, mas que não deixam de replicar as normas gerais, como a obrigatoriedade do uso de máscara, tal como como a higiene de mãos antes de entrar no espaço litúrgico e a possibilidade de utilização de espaços ao ar livre ou da distribuição da possibilidade do cumprimento do preceito pelos diversos dias da semana, sobretudo para as pessoas que integrem grupos de risco.
A esta problemática se refere Dom José Cordeiro, Bispo da Diocese de Bragança-Miranda e presidente da Comissão Episcopal da Liturgia e Espiritualidade, em entrevista à Renascença e à Ecclesia, publicada neste dia 29 de maio.
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O entrevistado considera a retoma como “o grito e o canto do Aleluia em tempo de Pentecostes, na conclusão destes 50 dias da Páscoa” a par dos sentimentos de confiança e serenidade, sendo que, mesmo na implementação das orientações da CEP e das dioceses, as palavras vão no sentido “do bom senso, da fé, da coerência com outras atitudes outros gestos, outros habitats deste tempo em que vivemos”.
Pensa que as condicionantes veiculadas por tais orientações não descaraterizam a celebração, pois a Liturgia “é obra em ato” e “há de ser o momento da celebração desse mesmo Mistério, de uma maneira séria, bela, simples”, mesmo em regime de “exceção” temporária, que se espera breve. E, citando São João Bosco, diz que, para sermos “bons cristãos e honestos cidadãos”, precisamos de ter em conta “a nossa saúde e a dos outros, a saúde pública, o bem comum”.
Questionado sobre a não coincidência do regresso das celebrações coletivas com a 1.ª fase do desconfinamento, a 3 de maio, sustenta:
Era bom que acontecesse durante o tempo pascal e felizmente isso acontece, ainda que nos dois últimos dias, para se celebrar dignamente e com a solenidade possível a Páscoa, porque muitos dos nossos irmãos e irmãs não tiveram essa possibilidade – outros, se calhar já em razão da participação em exéquias, outros momentos mais confinados, puderam fazê-lo – tiveram de acompanhar através dos meios de comunicação social, mas sem aquela presença efetiva e afetiva.”.
Assente que todos queríamos que acontecesse mais cedo e revela que as orientações da CEP “estavam prontas e foram aprovadas no dia 8 de maio”, mas as circunstâncias do contexto impõem prudência e segurança e era de “começar, como corpo, conjuntamente”. E opina que, se não se pode sofrer “com alegria”, que se sofra “com paciência”, explicando:
Isto também conta para que nós nos sintamos ainda mais verdadeiramente membros de um corpo, que tem Cristo como cabeça. Isto não é uma questão de ritos, é uma questão decisiva, vital, não é exclusiva, como vimos neste tempo – em que encontramos outras formas de oração familiar, pessoal, comunitária –, mas nós não vivemos sem a Liturgia, o mesmo é dizer: não podemos viver sem a Eucaristia. Porque, sem ela, não existe Igreja.”.
Sobre o modo como antevê o que se passará nos primeiros dias deste desconfinamento celebrativo, atém-se ao que prevê para a sua diocese. Tendo celebrado a Missa Crismal (própria da manhã de Quinta-feira Santa) no dia 22 de maio e conversando com o seu presbitério, houve partilha de “preocupações, incertezas”, mas emergiu a esperança de que tudo “acontecerá com calma, serenidade, porque as pessoas têm uma grande consciência da gravidade da situação que estamos a viver”, em parte provocada por “uma psicologia do medo, que foi em crescendo”. E, sabendo que as orientações estão a ser implementadas nas igrejas”, há “todas as razões para celebrar com a melhor dignidade possível, com a solenidade possível, a plenitude da Páscoa que acontece no Pentecostes”, bem como “o encerramento do mês de maio, que para nós é tão significativo, o mês da Mãe”. Neste caso, diz o prelado, terá de haver mais cautela nas possíveis manifestações de rua, dialogando com “as autoridades civis, de segurança, sanitárias, para que não se facilite, não se corram riscos, mas que não se deixe de celebrar por medo ao medo”.
Quanto às pessoas que não possam ter acesso porque se lotou a capacidade do espaço litúrgico, fala apenas da sua diocese, embora os bispos venham a ter possibilidade de partilhar na CEP. Assim, está tudo preparado para a multiplicação do maior número possível de Missas. Nas aldeias não há dificuldade; no atinente a cidades e vilas, pensa-se nas “celebrações ao ar livre, com as medidas necessárias, porque a celebração é um ato gratuito”, pois não se pode dizer a alguém que não tem lugar; e descarta a distribuição dos crentes pelas missas da semana.  
No respeitante à comunhão e ser obrigatoriamente recebida na mão e com todos os cuidados prescritos nas normas, refere que as 79 orientações da CEP “são uma espécie linhas-guia” e “devem ser aplicadas em cada diocese”, sendo que o responsável é o bispo, o primeiro liturgo da diocese. Sendo exceção à regra, “não devemos tomá-las demasiadamente à letra, a não ser aquelas que falam de perigos à saúde dos outros”. E afirma perentoriamente:
Quanto à questão da Comunhão, o importante é que ela exista, a Comunhão com Cristo, não é a questão da forma e do modo de a fazer”.
Sendo a indicação da CEP de que a comunhão é para ser na mão, nem por isso, “se alguém aparecer – porque há algumas pessoas que insistem, pela sua formação – terá de haver maiores cuidados”, “mas ninguém deixará de receber a Comunhão”. E adverte:
Todos têm acesso à Comunhão e isso exigirá um maior esforço. Agora, nós temos de ser corresponsáveis, cada um tem de tomar isto muito a sério, se calhar nunca se apelou tanto à responsabilidade de cada um como agora. Não é uma questão de alteração, não muda em nada a substância e esperamos que não se criem outros ritos, nem se criem outras formas nestas celebrações, porque alguns querem ir muito para além do que está indicado; outros querem ficar muito aquém. Tem de se criar uma harmonia e, sobretudo, o tal bom senso humano e pastoral.”.
Interpelado sobre uma possível quebra da independência da Igreja, presente na articulação com as autoridades, nomeadamente tendo em conta os cartazes da DGS, esclarece:
Desde o início da pandemia (…), dissemos que estávamos na inteira colaboração recíproca com as autoridades civis, sanitárias (…). Não há aqui nenhuma interferência de nada nem de ninguém, os cartazes são meramente indicativos, porque depois cada um, nas suas dioceses e nas suas paróquias (…), faz a adaptação, com os logótipos, por exemplo. Está aqui em causa um diálogo para um bem maior.”.
O bem maior de que fala é a luta “pelo bem comum, pela dignidade integral da pessoa humana” e “que ninguém se contagie no âmbito de uma celebração litúrgica comunitária”, mas “que as celebrações sejam contagiantes de luz, de verdade, de paz”.
Compreendendo o desgaste e a perspetiva de querer recomeçar mais cedo, salienta que “vamos começar de novo”, o que “exige de todos uma atitude de conversão”, e, caso a caso, “resolvem-se os problemas, mas tinha de haver estas linhas-guia”.
Em relação à Solenidade do Corpo de Deus, à celebração dos santos populares com muitas manifestações de rua, aponta a necessidade de vigilância de “uns com os outros, no verdadeiro e autêntico sentido de cuidar uns dos outros”. Importa apelar à criatividade e não querer fazer as festas e procissões, as expressões da piedade popular, “mas sem deixar de as fazer”. Por isso, o prelado bragançano pensa no diálogo “com autoridades civis e forças de segurança” em nome da “coesão social” e da “coesão territorial”, pois, “com segurança, com dignidade, com a solenidade possível”, tais manifestações podem e até devem ser feitas. E justifica:
Vivemos de símbolos e sabemos que, ao longo da história, o medo criou deuses. Se nós perdemos a nossa identidade, mesmo em tempo de tempestade, e não confiamos naquele que está no meio de nós, que está de igual modo com todos, se Ele estiver no meio, se isto for por causa da nossa adesão, pela vida em Cristo, há de celebrar-se com a dignidade e a solenidade possível, em coerência com outras coisas da vida quotidiana que já estão a acontecer.”.
À objeção de que a CEP mantém suspensas as peregrinações, procissões, festas, romarias, responde com o segmento textual que ela plasmou: até novas orientações”.
Tais orientações serão definidas localmente ou pela CEP, não se podendo seguir “a lógica do não”, mas a de “um sim responsável, criativo, de vida”. Por exemplo, na Catedral de Bragança, haverá procissão do Corpo e Deus, “mas internamente”; e, na aldeia eucarística, que originou um Instituto de Vida Consagrada com o carisma da Eucaristia, há modo de a fazer, “saindo por exemplo só o pálio com a custódia, transportada com as luvas e as máscaras; e as outras pessoas, terminada a Eucaristia, vão para as suas casas, participando desde as janelas e portas”.
E faz um esclarecimento muito oportuno:
É bom dizer que as celebrações que foram realizadas, todas, foram um ato da comunidade, porque não há celebrações privadas, a Liturgia é sempre um ato da comunidade, porque é sempre uma obra de Cristo e da Igreja, no seu todo, não é só daqueles que têm aquele privilégio ou aquela graça de terem celebrado em pequenos grupos (…). É também uma oportunidade única de formação litúrgica, de educação no verdadeiro sentido da nossa pertença e da participação nesta Boa Notícia, que é Cristo, e não querermos ficar de fora.”.
Quanto aos casamentos, sem dirimir a questão se o adiamento tem uma razão de fé ou social, frisa que as orientações da CEP se referem aos sacramentos e sacramentais, sendo o adiamento motivado pelo contexto da pandemia, não fazendo sentido se ela passar em breve. Assim se compreende que algumas pessoas tenham mantido a celebração do Batismo e do Matrimónio, pois “não deveremos nunca embarcar numa ansiedade ou no pânico, que depois nos limita e nos torna reféns de não sei bem o quê, desses tais outros deuses que podemos estar a criar”.
Tendo o Batismo, a Primeira Comunhão e o Matrimónio passado a ser atos sociais, é difícil saber o que é o mais importante para as pessoas, “se a celebração da fé ou o ato social”, mas “temos de colocar estas questões no sentido mais profundo da vida”.
E o Bispo, vincando que “todos os sacramentos e sacramentais podem ser celebrados, seguindo estas linhas-guia, salvaguardando a saúde pública, o bem comum, a dignidade da pessoa humana”, acredita que o tempo de pandemia “foi um grande teste à nossa fé” e é normal que as reações à suspensão das celebrações tenham sido diversas, segundo a sensibilidade das pessoas, mas, em geral, compreendeu-se que “estamos todos no mesmo barco”. Tendo-se optado pela salvação de todos, “os caminhos da prudência, do especial cuidado de todos e de cada um, sobretudo dos mais frágeis, daqueles que estão mais em risco” deverão continuar a nortear a nossa ação, sendo que todos queríamos que o regresso das celebrações ocorresse mais cedo. Mas a fé é o risco maior da vida e é importante para nós celebrá-la condigna e serenamente. E, nestes tempos, houve “tantas coisas belas na Igreja”, pelo que Erri De Luca aconselha a todos: “Sê obsessivamente grato”. É a gratidão pelos dons da vida e da fé e por tudo o que de belo se realiza em nós e entre nós.
E o Bispo faz votos por que a pandemia seja contagiante do que a Liturgia celebra, Cristo.
2020.05.29 – Louro de Carvalho

quinta-feira, 28 de maio de 2020

Plano de Recuperação da Europa, uma boa pedrada no charco


A comunicação social destacou, no dia 27 de maio, o facto de a Comissão Europeia da UE (União Europeia) ter apresentado, na sessão plenária extraordinária do Parlamento Europeu (PE), a proposta revista para o Quadro Financeiro Plurianual (QFP) 2021-2027 e para o Plano de Recuperação da Europa, na sequência da crise originada pela pandemia da Covid-19.
A Delegação Socialista Portuguesa no PE emitiu um comunicado a saudar a proposta que aponta para a resposta europeia, solidária e coordenada a esta crise. E destaca três pontos: desde logo, “o princípio da mutualização da dívida” indo a Comissão aos mercados de capitais, “sendo as garantias asseguradas pelo Orçamento da UE, sem impacto nas dívidas públicas dos Estados-membros”; “a repartição de valores pelos Estados-membros, com critérios bem definidos”, a fazer maioritariamente “através de subvenções e não de empréstimos, o que exige um aumento dos recursos próprios”; e “a criação de um Fundo de Recuperação no valor de 750 mil milhões de euros, adicional ao Quadro Financeiro Plurianual da União Europeia (QFP) 2021-2027, cujos montantes estarão disponíveis a curto prazo” para a política de coesão e apoio à solvência das empresas, na linha do que o PE tem vindo a pedir.
Assim, a proposta parece “uma boa base de trabalho para negociação, mas há ainda um caminho a percorrer”, pelo que os eurodeputados esperam que o Conselho Europeu (CE) chegue a acordo político o mais rapidamente possível, sendo que o PE, pronto para encetar as negociações, competindo-lhe a última palavra sobre o acordo, só dará o seu consentimento a um bom acordo. E os eurodeputados dizem vir a fazer tudo para que o acordo final constitua “a resposta europeia necessária capaz de minorar o impacto negativo desta crise na vida das pessoas, nas economias e nos Estados”. E, se o Orçamento Plurianual 2021-2027 não for aprovado em devido tempo, garantem que “o PE continua a pedir à Comissão que apresente um Plano de Contingência para assegurar a continuidade do financiamento aos beneficiários dos programas europeus”, pois não seria aceitável que houvesse um hiato entre o fim do atual QFP e o início do próximo, quando “os países tanto precisam de uma efetiva resposta europeia à crise”.
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A COMECE (Comissão das Conferências Episcopais da União Europeia), como refere a agência Ecclesia, considera que a recuperação da Europa deve acontecer “através da justiça ecológica, social e contributiva” e avalia positivamente o plano de 750 mil milhões de euros da Comissão Europeia para enfrentar a crise. Escreve, neste dia 28, a Comissão de Assuntos Sociais da COMECE:
Apelamos a um rápido acordo entre os Estados membros e o Parlamento Europeu sobre o plano de recuperação e o próximo quadro financeiro plurianual (QFP). Embora a discussão deva ser dirigida ao bem comum e guiada por um espírito de solidariedade, a UE deve procurar um acordo que ajude a Europa a recuperar-se através da justiça ecológica, social e contributiva.”.
Isto quer dizer que os episcopados católicos dos 27 países comunitários consideram que esta proposta dum plano económico de 750 mil milhões de euros, o Plano de Recuperação para enfrentar a crise causada pela pandemia do novo coronavírus, “estabelece uma perspetiva clara para uma Europa que procura crescer unida”. E os Bispos explicam:
Um acordo rápido sobre um ambicioso plano de recuperação seria um sinal visível que a UE e seus Estados membros voltaram ao caminho da solidariedade. Complementaria as muitas iniciativas imediatas da UE em resposta à crise, incluindo o primeiro pacote de resgate, as súbitas reações do Banco Central Europeu e os roteiros conjuntos para a recuperação e o levantamento das medidas de contenção da Covid-19.”.
Concordando com um plano de recuperação que “coloque a questão da justiça no seu centro”, os Bispos apelam à UE a que renove o espírito de solidariedade. Com efeito, a pandemia de Covid-19 e as suas consequências atingiram a UE inesperada e brutalmente, de modo que o surto “expôs a vulnerabilidade a crises de saúde pública” e a fragilidade e fraquezas de a UE agir em tempos de crise”. E a COMECE assinala que o “fracasso em demonstrar solidariedade”, o encerramento unilateral das fronteiras e as ações autocentradas dos Estados-Membros em março “causaram deceção entre muitos cidadãos em relação ao projeto Europeu”. Porém, incentiva:
Vamos encontrar uma nova esperança para a Europa numa recuperação conjunta que expressa o nosso renovado espírito de solidariedade e nossa ambição de trabalhar por um futuro justo”.
Na análise do plano económico para a recuperação da Europa, a Comissão de Assuntos Sociais da COMECE recorda as palavras do Papa, na Bênção Urbi et Orbi no dia de Páscoa, 12 de abril:
Neste momento, em que a unidade é muito necessária entre nós, entre as nações, rezemos hoje pela Europa para que consiga criar esta unidade fraterna sonhada pelos pais fundadores da União Europeia”.
No seu documento, a COMECE frisa que o projeto comunitário nasceu há muito tempo como resposta à tragédia humana causada pela II Guerra Mundial, que inspirou os pais fundadores a criar o que se tornou a UE, que tem agora, nas palavras do Bispo Antoine Hérouard, presidente da Comissão Social da COMECE, “a oportunidade de dar um passo importante para reafirmar sua solidariedade e expressá-la de maneira direcionada”. Com efeito, “um plano ambicioso de reconstrução será um sinal visível de que a UE e seus Estados-membros estão no caminho da solidariedade novamente”. E um fundo de reconstrução que permita à Comissão da UE arrecadar fundos para os Estados-membros carentes também seria importante para muitos cidadãos da UE que se sentiram dececionados com as medidas egocêntricas adotadas por alguns países no início da pandemia. Um plano desse tipo também atenderia ao apelo do Papa por “mais evidências de solidariedade, inclusive recorrendo a soluções inovadoras”.
Por fim, a COMECE insta a UE e as autoridades nacionais a moldarem a discussão sobre o plano de reconstrução para o bem comum visando “recuperação compartilhada que expresse ambição com um renovado espírito de solidariedade por um justo trabalho futuro”.
Já a 20 de abril, a COMECE exortava todos os Estados-membros a mostrarem generosidade, oferecendo asilo aos refugiados que se encontram nas ilhas gregas, para minimizar o risco de infeção pelo novo coronavírus nos campos, que estão sobrelotados. A este respeito, perguntava Jean-Claude Hollerich, Arcebispo do Luxemburgo e presidente daquele organismo:
Nós estamos nas nossas casas, com medo. Penso nos mais vulneráveis: como se sentirão aqueles que estão nos campos de refugiados, aqueles que não têm nada, nem sequer medicamentos para a gripe sazonal?”.
Considerando as consequências letais dum foco contagioso de Covid-19 teria num campo de refugiados, a COMECE, a Cáritas Europa e o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos sublinhavam num comunicado divulgado a 16 de abril que reiteravam “a necessidade de realocar os requerentes de asilo das ilhas gregas, porque a situação ali é particularmente dramática: cerca de 20 mil pessoas estão no campo de Moria, na ilha de Lesbos, cujas instalações foram preparadas para acolher apenas três mil”. Sendo então o Luxemburgo e a Alemanha os únicos países a receber parte destes migrantes (tendo acolhido, respetivamente, 12 e 50 menores não acompanhados), Jean-Claude Hollerich insistia que os restantes países deveriam ser mais solidários, sobretudo no quadro da pandemia, “respeitando as obrigações jurídicas internacionais dos requerentes de asilo e das suas famílias”.
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Na verdade, se a justiça ecológica impõe sério cuidado da casa comum, a justiça social implica atenção aos mais pobres e a justiça contributiva urge os deveres para com a sociedade.
2020.05.28 – Louro de Carvalho

quarta-feira, 27 de maio de 2020

O teletrabalho ajuda à solução, mas não é a solução



O ECO, reportando-se a uma entrevista de José António Vieira da Silva ao Jornal de Negócios (acesso pago), dá conta das declarações do antigo Ministro do Trabalho, da Solidariedade e da Segurança Social, ditas conservadoras, em que refere que “o teletrabalho levanta problemas muito delicados”, sendo mais fácil de controlar a forma como o trabalho é prestado e remunerado quando feito em regime presencial.
Os ditos “problemas muito delicados” têm a ver com a dificuldade de regular a duração diária do trabalho, os entraves à interação e o controlo das remunerações, pelo que o economista e antigo ministro não é partidário das “visões de que isto é uma oportunidade para passarmos de um paradigma de organização do trabalho para um outro radicalmente diferente, em que todos nós trabalhamos nesta rede de nuvem etérea em que tudo funciona no melhor dos mundos”.
Na verdade, como em tempos aduzi, a tentação para o aumento de horas de trabalho, por solicitação de chefias e clientes, é enorme; facilmente se bloqueia a interação (ou dela se abusa) e entram intrusos nalgumas redes; e não creio que os gestores de trabalho e remunerações estejam atentos às horas de trabalho que se dão a mais.
Por outro lado, se a dispensa de deslocação ao local de trabalho é facilitadora, não deixa a permanência em casa de ser ocasião de aumento de despesa pessoal em energia elétrica e consumíveis, quando não mesmo em equipamentos cuja aquisição o trabalhador suporta por desresponsabilização do empregador. 
Já não falo da experiência a que a pandemia nos obrigou com os pais a levar com o teletrabalho e o acompanhamento dos filhos na família em tempo laboral, nas aulas pela nova telescola e pela internet, sendo tantas vezes insuficiente o equipamento para todos. E já não falo da falta de acesso à internet em várias zonas do país e na necessidade de adaptação a mata-cavalos por parte de alguns profissionais em virtude da formação para o efeito.
Acresce que, em muitos casos, as relações de trabalho e a sobrecarga de tarefas se tornaram insuportáveis, a ponto de, para alguns, o confinamento ter sido difícil a todos os títulos.       
Questionado relativamente ao aumento do desemprego e ao maior risco associado às pessoas com mais idade e se a política de adiamento da idade de reforma se deve manter, Vieira da Silva é perentório a considerar um erro inverter esse caminho e a alertar que “antecipar a idade da reforma é uma solução perigosa”.
Quer-me ainda parecer que algum desemprego ocorrido no tempo do confinamento se deve à confiança de alguns empregadores no teletrabalho: mantiveram os serviços e o teleatendimento, a empresa foi sobrevivendo e os clientes, mesmo sem a acorrência aos balcões, foram sendo servidos. Assim, trabalhadores dos quadros de empresa temporariamente desnecessários foram remetidos para lay-off  e os precários, se tinham contrato, recambiados para o IEFP.
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O teletrabalho deixará de ser obrigatório no próximo mês (era obrigatório sempre que possível e com as exceções previstas), mas ainda poderá continuar. Com efeito, após a definição da segunda fase de desconfinamento em Conselho de Ministros, no passado dia 15, o Primeiro-Ministro afirmou que o teletrabalho parcial poderá ser regra até que haja uma vacina ou um tratamento contra o novo coronavírus. Por agora, o desconfinamento será parcial e acontecerá por turnos diários ou semanais. Assim, António Costa disse em conferência de imprensa subsequente à predita sessão do Conselho de Ministros:
No dia 1 de junho, tal como previsto, iremos começar a desconfinar parcialmente as pessoas que têm estado em teletrabalho obrigatório. O que não significa que seja obrigatório deixar de estar em teletrabalho. Pelo contrário, para quem se quiser manter assim e que possa ser feito. Mas gostaríamos que houvesse um desconfinamento parcial.”.
Costa diz que o teletrabalho servirá para se treinarem metodologias de trabalho “que porventura teremos de adotar ao longo do próximo ano para continuar a conviver com este vírus indesejável até termos uma vacina”. E, questionado se o trabalhador terá poder de decisão a ponto de contrariar a decisão do empregador,  clarificou que está em vigor a lei laboral, segundo a qual pode exercer a atividade em regime de teletrabalho o trabalhador da empresa ou outro admitido para o efeito, mediante a celebração de contrato para prestação subordinada de teletrabalho.
Além do fim do teletrabalho obrigatório, que se mantém para as atividades passíveis de serem realizadas a partir de casa, em junho reabrirão as lojas de cidadão e toda a atividade comercial, independentemente da dimensão, tal como os jardins de infância, creches, estabelecimentos de educação pré-escolar, centros de ATL, cinemas, teatros, salas de espetáculo e auditórios.
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De acordo com a 4.ª edição do Observatório OIT/Covid, os jovens são os mais afetados pela pandemia e o aumento considerável e rápido do desemprego jovem, verificado desde fevereiro, atinge mais as mulheres que os homens.  A pandemia vem causando triplo choque nos jovens: destrói o emprego; perturba os estudos e a formação; e põe grandes obstáculos a quem procura entrar no mercado de trabalho ou mudar de emprego. Cerca de 267 milhões de jovens nem trabalham, nem estudam nem frequentam qualquer tipo de formação.  
O relatório, vincando que o desemprego jovem já era mais elevado que o de qualquer outro grupo (13,6% em 2019), defende a necessidade de políticas urgentes, de grande envergadura e direcionadas a apoiar os jovens, incluindo programas de garantia de emprego e/ou formação nos países desenvolvidos, e programas e garantias de emprego intensivo nas economias de baixo e médio rendimentos. E, analisando as medidas de criação de ambiente seguro para o regresso ao trabalho, conclui que testes rigorosos e rastreio das infeções por coronavírus estão fortemente relacionados com menor perturbação do mercado de trabalho e com menores perturbações sociais que as outras das medidas de confinamento. De facto, em países com forte capacidade de realização de testes e rastreabilidade, a diminuição média do horário de trabalho é reduzida em 50% porque os testes minoram “o recurso a medidas rigorosas de confinamento, promovem a confiança do público, incentivando o consumo e apoiando o emprego, e ajudam a minimizar as perturbações de funcionamento no local de trabalho”. O custo dos testes é um fator a considerar, mas a relação custo-benefício “é altamente favorável”.
Em comparação com o 4.º trimestre de 2019, foram perdidas 4,8% das horas de trabalho durante o 1.º trimestre de 2020, o equivalente a cerca de 135 milhões de empregos a tempo completo. E o número estimado de perda postos de trabalho no 2.º trimestre continua nos 305 milhões. Um em cada cinco jovens deixou de trabalhar desde o início da pandemia; e os que mantiveram o emprego viram o seu horário de trabalho reduzido em 23%. Por isso, o observatório reiterou o apelo à criação de medidas imediatas e urgentes de apoio aos trabalhadores e às empresas para estímulo da economia e do emprego.
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Tendo em conta os alertas de Vieira da Silva, bem como a necessidade, apontada por António Costa, de estarmos preparados para surtos sanitários de igual ou semelhante dimensão e de acautelar o aumento do desemprego, é importante manter o teletrabalho como complementar da prestação do trabalho em regime presencial. Para tanto, os empregadores devem dispor de equipamentos suficientes e atualizados e cuidar da formação dos profissionais nesta matéria; o Estado deve garantir o acesso à internet em todo o território; e a ACT deve inventar formas de controlo das condições em que se desenvolve o teletrabalho.
Em suma, o teletrabalho é solução complementar do trabalho presencial e pode eventualmente ser uma solução substitutiva temporária, mas nunca a solução.
2020.05.27 – Louro de Carvalho

terça-feira, 26 de maio de 2020

Pelo 25.º aniversário da publicação da Carta Encíclica “Ut unum sint”


Passou, a 25 de maio, o 25.º aniversário da publicação da Carta Encíclica “Ut unum sint”, de São João Paulo II. Em 1995, era dia da Solenidade da Ascensão do Senhor.
Para assinalar a efeméride, Francisco dirigiu uma carta ao cardeal Kurt Koch, presidente do Pontifício Conselho para a Promoção da Unidade dos Cristãos, em que exprime o sentimento de gratidão ao seu venerável predecessor e sublinha a ideia-força do compromisso pela magna questão da Unidade, rogada por Cristo ao Pai no discurso testamentário subsequente à Ultima Ceia em que instituiu a Eucaristia e estabeleceu o mandato do amor fraterno em serviço recíproco, afetivo e efetivo – no quadro íntimo da paixão que ia sofrer propter nos homines.  
O Santo Padre lembra, na carta, o contexto epocal: com o olhar voltado para o horizonte do Jubileu do Ano 2000 (comemoração da Encarnação do Filho de Deus, que Se fez homem para salvar o homem), o Papa Woijtyla queria que a Igreja mantivesse bem presente e viva a oração do seu Mestre e Senhor: “Que todos sejam um”. Assim, vem com a Encíclica confirmar, de modo irreversível, o empenho ecuménico da Igreja Católica, colocando-o sob o signo do Espírito Santo, artífice da unidade na diversidade, princípio da unidade da Igreja.
Porém, como refere o Vatican News, a encíclica da Unidade reitera que “a legítima diversidade não se opõe de forma alguma à unidade da Igreja, antes lhe aumenta o decoro contribuindo significativamente para o cumprimento da sua missão”  (n. 50).
E o Papa Francisco, embora compreenda a “impaciência” de quem pensa que poderia e deveria ser feito mais, dá graças ao Senhor pela via que nos levou a “percorrer como cristãos na busca da plena comunhão” e exorta à fé e ao reconhecimento porque “muitos passos foram feitos nestas décadas para curar feridas seculares e milenárias”. Com efeito, o Pontífice, dirigindo o seu pensamento também aos Irmãos que estão à frente das diversas Igrejas e comunidade cristãs e a todos os cristãos de todas as tradições, “que são os nossos companheiros de viagem”, frisa que são visíveis os progressos no maior conhecimento e estima recíprocos, no avanço no diálogo teológico e caritativo, e em várias formas de colaboração no diálogo da vida, no plano pastoral e cultural.
Agradecendo a quem trabalha e trabalhou no Dicastério dedicado ao ecumenismo, o Papa Bergoglio anunciou duas iniciativas: um Vademecum ecuménico para os Bispos, a publicar no 2.º semestre “como encorajamento e guia no exercício da suas responsabilidades ecuménicas”; e o lançamento da revista Acta Œcumenica, como subsídio para quem trabalha a serviço da unidade. Depois, fazendo memória da via percorrida, recorda a importância de perscrutar o horizonte, perguntando-se ‘Quanta est nobis via?(n. 77), “quanta estrada nos resta por fazer?”. E, concluindo que a unidade não é principalmente o resultado da nossa ação, mas dom do Espírito Santo (não acontecerá como um milagre, mas caminhando juntos), exorta:
Invoquemos confiantes, portanto, o Espírito, para que guie os nossos passos e cada um sinta, com renovado vigor, o apelo a trabalhar pela causa ecuménica. Ele inspire novos gestos proféticos e reforce a caridade fraterna entre todos os discípulos de Cristo, ‘para que o mundo creia’ (Jo 17,21) e se multiplique o louvor ao Pai que está nos Céus.”.
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Constituindo um apelo apaixonado aos cristãos para que respondam à oração de Jesus pela unidade de todos, a Encíclica ajuda-nos a olhar para a realidade das comunidades cristãs de hoje com um renovado compromisso ecuménico. Com 25 anos sobre a sua publicação, mantém íntegra a sua frescura e impacto profético. Voltada para o futuro aponta a meta, que parece longínqua. Na verdade, o Papa polaco sente fortemente este ardente desejo do Senhor, fá-lo seu; e o ecumenismo torna-se uma das prioridades do Pontificado, pois a divisão dos cristãos é o escândalo que afeta a obra de Jesus, porque a fé em Cristo postula necessariamente a unidade, posto que a fé, enquanto ato de obediência amplia os horizontes do coração e da mente.
Porém, como anota Sergio Centofanti, publicado pelo “Jornal da Madeira”, no dia 25, é o Papa da unidade que sofre a grande dor do cisma: alguns irmãos não entendem este impulso para o futuro”. Trata-se do cisma de Marcel Lefebvre, que em 1988 consumou a separação de Roma.
Os tradicionalistas acusavam o Papa e o Vaticano II de “falso ecumenismo”, que, destruindo a verdadeira fé e introduzindo “uma conceção protestante da Missa e dos Sacramentos, leva “a Igreja à ruína e os católicos à apostasia”, sendo que a Providência confiara a Lefebvre a missão de se opor à Roma modernista, para que, voltando a ser a Roma católica, reencontre a sua Tradição bimilenária.
Tendo Lefebvre morrido em 1991, os sucessores atacaram a Encíclica por alegadamente levar ao relativismo dogmático (e já o conter) – posição baseada em “noção incompleta e contraditória da Tradição”, como afirmara Wojtyla na Carta Apostólica “Ecclesia Dei”, pois não considera a Tradição viva e em crescimento transmitida de geração em geração nem compreende que a Tradição não pode separar-se da comunhão com o Papa e com os pastores de todo o mundo.
O documento pontifício, olhando corajosamente o futuro, indica o diálogo como prioridade e passo necessário para descobrir a riqueza dos outros, vê os passos dados para a unidade com as diversas Igrejas e Comunidades cristãs, vincando a mútua abolição das excomunhões entre Roma e Constantinopla e as Declarações Cristológicas comuns com as Igrejas do Oriente, e ressalva que, tal como foi dito acima, “a diversidade legítima não se opõe de forma alguma à unidade”. Na verdade, “polémicas e controvérsias intolerantes” transformaram em “afirmações incompatíveis” dois pontos de vista de escrutínio da mesma realidade. Porém, está aberto um caminho que ajuda “a descobrir a insondável riqueza da verdade” e a presença de elementos de santificação “para além das fronteiras visíveis da Igreja Católica”.
E o Papa Wojtyla advertia que não se trata de “modificar o depósito da fé” e “mudar o sentido dos dogmas”, mas que “a expressão da verdade pode ser multiforme”, pois “a doutrina deve ser apresentada de modo compreensível para aqueles a quem o próprio Deus a destina”, qualquer cultura a que pertençam, evitando qualquer forma de “particularismo exclusivismo étnico ou preconceito racial”, como “qualquer sobranceria nacionalista”.
A Encíclica indica a necessidade de “o modo e o método de enunciar a fé católica” não serem “obstáculo ao diálogo com os irmãos”, embora haja “hierarquia nas verdades da doutrina católica”. Segundo São João Paulo II, a Igreja é chamada por Cristo a contínua reforma”, que “pode exigir revisões de declarações e atitudes”, e o “diálogo não se articula exclusivamente em torno da doutrina”, mas envolve “a pessoa toda”, porque “é também um diálogo de amor”, pois é do amor que “nasce o desejo de unidade”, e é um caminho que exige “trabalho paciente e corajoso”, não se podendo impor “outras obrigações além das indispensáveis”.
Não obstante, como observa o Papa polaco, no ecumenismo, a primazia pertence à oração comum em convergência para o essencial. Com efeito, os cristãos, orando juntos, descobrem que o que nos une é muito mais forte do que aquilo que nos divide, sendo que a renovação litúrgica realizada na Igreja Católica e noutras Comunidades eclesiais gerou convergências sobre o essencial e, juntos, cada vez nos voltamos mais para o Pai num só coração, de modo que, às vezes, parece estar perto a selagem desta comunhão real, embora ainda não plena. E, a par deste diálogo orante, a Encíclica aponta a crescente colaboração dos cristãos pertencentes a várias confissões no compromisso com “a liberdade, a justiça, a paz, o futuro do mundo”, já que “a voz comum dos cristãos tem mais impacto que uma voz isolada” para “fazer triunfar o respeito pelos direitos e necessidades de todos”, em especial os pobres, humilhados e indefesos. Não se trata, como frisa Wojtyla, de mera ação humanitária, mas de responder à palavra de Jesus lida no cap. 25 do Evangelho de Mateus: “Tive fome e me destes de comer…”.
São João Paulo II propõe uma mudança de linguagem e de atitudes de modo a evitar o estilo oposicionista, agressivo e antagónico, a visão derrotista que vê tudo negativo, o fechamento não evangélico na condenação dos outros e o desprezo resultante duma “presunção insalubre”. Ao invés, há que envidar todos os esforços, com a ajuda de Deus, para demolir muros de divisão e desconfiança, ultrapassar obstáculos e preconceitos, eliminando termos que ferem e escolhendo a rota da humildade, mansidão e generosidade fraternas – sem falar mais de hereges ou inimigos da fé, mas de “outros cristãos”, “outros batizados”. Tal reconversão lexical espelha significativa evolução das mentalidades e a via de conversão que postula o arrependimento mútuo pelos erros cometidos, que levou Woijtyla a pedir perdão pelas faltas dos membros da Igreja.
Entretanto, há que assentir que a unidade plena tem em Pedro o ponto visível de referência, pelo que São João Paulo II apela às Comunidades cristãs a que encontrem uma forma de exercício do primado petrino que, “sem renunciar de forma alguma ao que é essencial da sua missão, se abra a uma situação nova”, como “um serviço de amor reconhecido por uns e por outros”.
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Em suma, a “Ut unum sint” sintetiza, de modo peculiar a caminhada da Igreja nos 2000 anos da sua história, com uma luz que aponta o caminho a seguir na mesma direção dos que nos precederam e mostra a índole viva da Tradição em crescimento, que tem, segundo a “Dei Verbum”, origem nos Apóstolos e progride na Igreja com a assistência do Espírito Santo, sendo graças ao Espírito que a inteligência da fé cresce rumo à “unidade na diversidade”. E São João Paulo II afirma, citando São Cipriano de Cartago, que os irmãos, neste caminho, devem aprender a reconciliar-se com o altar, porque “Deus não aceita o sacrifício dos que estão em desacordo” e, ao invés, o maior sacrifício a oferecer a Deus é a paz e harmonia fraternas, o povo reunido na unidade do Pai, do Filho e do Espírito Santo”.   
Segundo Arturo Mari (cf L'Osservatore Romano, de 25 de maio), 25 anos depois, a encíclica sobre o empenho ecuménico continua a ser preciosa fonte para a compreensão da vocação ecuménica da Igreja e pretexto para uma reflexão sobre o papel de São João Paulo II no desenvolvimento do caminho ecuménico. Da leitura dos seus textos, mais que das interpretações que se vêm fazendo, fruto da apreciação dum gesto ou palavra fora do contexto, colhe-se quanto para si foi prioritário “o compromisso quotidiano para a construção da unidade visível da Igreja”.
Propondo “empenho, construção, unidade, alimentados por uma conversão do coração da parte de todos os cristãos”, retomou um tema recuperado pelo Vaticano II (e querido da Aula conciliar que lhe dedicou sobretudo o Decreto “Unitatis Redintegratio” e a Declaração “Nostra Aetate”), da descoberta de “uma relação privilegiada com o povo judaico, na profunda distinção entre caminho ecuménico e diálogo inter-religioso, na descoberta da própria identidade enquanto premissa irrenunciável e fundamental para viver a unidade na diversidade”.
2020.05.26 – Louro de Carvalho