segunda-feira, 28 de fevereiro de 2022

Prémio Zayed, exemplo e impulso para a unidade e a paz

 

Numa videomensagem para a entrega da edição de 2022 do prémio para a fraternidade humana, o Sumo Pontífice agradeceu aos vencedores, os soberanos da Jordânia – o Rei Abduallah II, e à Rainha Rania – e a Fokal (Fundação para o Conhecimento e a Liberdade) do Haiti pelo compromisso com os refugiados e a convivência, salientando que são necessárias paixão e criatividade para restituir ao país a perspetiva de um futuro melhor.

A edição do Prémio Zayed para a Fraternidade Humana, de 2022, constitui “um passo adiante no nosso caminho comum de fraternidade” e um “estímulo para continuar o compromisso em favor da unidade e da paz mundial”. Este é o significado que o Papa atribui ao referido com que foram contemplados os susoditos vencedores.

Na predita videomensagem gravada antes do início da guerra na Ucrânia e divulgada neste dia 28, o Bispo de Roma agradeceu ao Xeique Mohamed bin Zayed Al Nahyan, príncipe herdeiro de Abu Dhabi, por promover o conteúdo do Documento sobre a Fraternidade Humana e apoiar o Alto Comité para a Fraternidade Humana, que promoveu o prémio em memória do Xeique Zayed bin Sultan al Nahyan, fundador dos Emirados Árabes Unidos, em 1971, para “reconhecer e premiar os esforços de indivíduos e instituições comprometidos com o progresso da humanidade e a promoção da convivência pacífica”.

O prémio é, no dizer do Papa, uma forma “de apoiar e agradecer a todos aqueles que trabalham pela justiça, solidariedade e fraternidade”, propostas pelo documento, assinado em Abu Dhabi, em 4 de fevereiro de 2019, e fundamentais para restabelecer “os valores do amor, os valores que derivam do amor, da tolerância e da fraternidade”. E é um exemplo que pode “encorajar outros a promoverem iniciativas que favoreçam a coexistência pacífica e sejam um sinal de colaboração fecunda entre pessoas de diferentes religiões a serviço de toda a humanidade”.

Dirigindo-se aos vencedores do Prémio Zayed 2022, Francisco evocou o compromisso do casal real da Jordânia “em acolher um grande número de refugiados e em promover os valores da convivência, do diálogo entre as diferentes tradições religiosas, na luta contra a discriminação e em prol da emancipação dos jovens e das mulheres” e considerou a Jordânia um modelo de tolerância e convivência e o prémio como um reconhecimento “também a todo o povo jordaniano, que com determinação e coragem, apesar das muitas dificuldades, segue o caminho da paz, da moderação e da rejeição da violência”.

E, ao congratular-se com a Fokal, o Pontífice recordou que o povo do Haiti está presente no seu coração e nas suas orações e agradeceu à fundadora da Fokal Michèle Pierre-Louis pelo seu compromisso ao serviço do bem comum e da defesa dos direitos humanos, em particular da educação e formação das novas gerações. Na verdade, como acentuou, “há necessidade de paixão e criatividade para restituir ao Haiti a perspetiva concreta dum futuro melhor, já que “o povo haitiano sofreu muito por causa dos muitos desastres naturais, problemas sociais e emergências humanitárias”. Por isso, exortou a que “rezemos pelo Haiti: um povo bom, um povo benévolo, um povo religioso que está sofrendo muito”.

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Após a recitação do Angelus com a multidão presente na Praça de São Pedro no dia 27, novo apelo pela Ucrânia se ergueu pela voz do Papa: “Calem-se as armas. Quem faz a guerra esquece a humanidade!”.

Com efeito, segundo o Pontífice, “as pessoas simples desejam a paz, mas pagam na própria pele pelas loucuras da guerra” pelo que “são necessários corredores humanitários para aqueles que buscam refúgio”. E, recordando os conflitos na Síria, Etiópia e Iémen, o Papa enfatiza: “Deus está com os construtores de paz, não com aqueles que usam a violência”.

É a voz do Bispo de Roma “uma voz contra o barulho dos mísseis, que o crepitar das armas não enfraquece” e “uma voz sobre uma grande praça, mas acima de tudo sobre as consciências”. É voz não é ouvida pelos que estão a provocar o derramamento de sangue e a transformar um pedaço da Europa num campo de batalha, mas que não recua:

Nestes dias, ficamos abalados por algo trágico: a guerra. Muitas vezes rezamos para que este caminho não fosse percorrido. E não paramos de falar; pelo contrário, suplicamos a Deus com mais intensidade.”.

Esta mensagem do Papa no pós-Angelus constitui um estribilho comum a todos os últimos apelos. A guerra da Rússia com a Ucrânia torna mais urgente a convocação, para Quarta-feira de Cinzas, do Dia de oração e jejum para que a paz retorne onde pessoas indefesas buscam refúgio ou morrem, onde “as mães estão em fuga com os seus filhos...”. Por isso, o propósito-convite de Francisco é rezarmos “para sentirmos que somos todos irmãos e irmãs e para implorarmos a Deus o fim da guerra”. Depois, considerando que a verdadeira vítima da guerra é o povo, o Santo Padre explicita a lógica da guerra nos termos seguintes:

Quem faz a guerra esquece a humanidade. Não parte do povo, não olha para a vida concreta das pessoas, mas coloca diante de tudo interesses de parte e de poder. Baseia-se na lógica diabólica e perversa das armas, que é a mais distante da vontade de Deus. E distancia-se das pessoas comuns, que desejam a paz; e que em cada conflito – pessoas comuns – são as verdadeiras vítimas, que pagam as loucuras da guerra com a própria pele.”.

E olhando a guerra em pedaços ou os pedaços de guerras que não devem ser esquecidos, sublinha a urgência de abrir “corredores humanitários” para os idosos, as crianças, as pessoas que procuram refúgio, pois são irmãos e irmãs “que devem ser acolhidos”. E mais uma vez a voz se move sobre o mundo das guerras “em pedaços” e exorta reiteradamente de coração dilacerado:

Calem-se as armas! Deus está com os construtores de paz, não com aqueles que usam a violência.

E, citando a Constituição italiana, concluiu:

Aqueles que amam a paz repudiam a guerra como instrumento de ofensa à liberdade de outros povos e como meio de resolver disputas…”.

Nisto, bandeiras ucranianas na Praça São Pedro balançaram em sinal de agradecimento ao Papa. E Francisco saudou os ucranianos em seu idioma: “Хвала Ісусу Христу” (Louvado seja Jesus Cristo).

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No passado dia 25, Francisco, num gesto inédito, foi pessoalmente à Embaixada da Federação Russa junto da Santa Sé na via della Conciliazione, deslocando-se num carro utilitário e falou com o embaixador solicitando que junto do Governo russo interceda pelo fim da guerra.

Este é um dos pontos que o Cardeal Pietro Parolin, Secretário de Estado da Santa Sé foca na entrevista a quatro jornalistas italianos sobre o momento presente de guerra na Europa, de que dá conta o Vatican News. 

Segundo o purpurado, a propagação do conflito ucraniano para o resto da Europa seria uma “catástrofe gigantesca”. Foi o que ele disse ao “Il Corriere della Sera”, “La Repubblica”, “La Stampa” e “Il Messaggero”, desejando que se evite qualquer escalada militar, que se detenham as bombas e se abram as negociações, para as quais “nunca é tarde demais”. E Parolin assegurou que a Santa Sé está “pronta para facilitar as negociações entre a Rússia e a Ucrânia”.

Quanto à possibilidade de o conflito se alargar, envolvendo diretamente outros países europeus face ao envio de armamentos para a Ucrânia, o Secretário de Estado não se contém:

Nem me atrevo a pensar isso. Seria uma catástrofe de proporções gigantescas, ainda que, infelizmente, não seja uma eventualidade a ser totalmente descartada. Vi que as situações que precederam e provocaram a II Guerra Mundial foram evocadas em algumas das declarações dos últimos dias. São referências que fazem estremecer.”.

Para evitar tal perigo, Parolin entende que “devemos evitar qualquer escalada, deter os confrontos e negociar” e que “o eventual retorno a ‘uma nova guerra fria com dois blocos opostos’ também é um cenário perturbador”, indo contra a cultura de fraternidade que Francisco propõe como “único caminho para construir um mundo justo, solidário e pacífico”.

Da possibilidade de uma negociação e um possível papel da Santa Sé, o Cardeal disse:

Estou convicto de que sempre há espaço para negociação. Nunca é tarde demais! A única forma racional e construtiva de resolver as diferenças é através do diálogo, como o Papa Francisco não se cansa de repetir. A Santa Sé, que nos últimos anos tem acompanhado de forma constante, discreta e com grande atenção os acontecimentos na Ucrânia, oferecendo a sua disponibilidade para facilitar o diálogo com a Rússia, está sempre pronta a ajudar as partes a retomar este caminho.”.

Sobre a inédita e surpreendente visita do Papa à sede diplomática da Federação Russa, Parolin aproveitou a ocasião para renovar o convite urgente que o Santo Padre fez a fazerem cessar os combates e voltarem às negociações, observando que “o ataque militar deve ser interrompido imediatamente, pois já estamos testemunhando as suas consequências trágicas”. E recordou as palavras do Beato Pio XII a 24 de agosto de 1939, antes da eclosão da II Guerra Mundial:

Que os homens voltem a se entender. Que voltem a negociar. Ao tratar com boa vontade e com respeito pelos direitos recíprocos, descobrirão que as negociações sinceras e eficazes nunca são excluídas de um sucesso honroso.”.

O Secretário de Estado Vaticano evocou também as divergências entre as Igrejas:

Na história da Igreja, infelizmente, nunca faltaram particularismos que levaram a muitas divisões dolorosas, como São Paulo testemunha na origem do cristianismo, exortando a superá-los. Nesse sentido, vemos sinais encorajadores nos apelos dos Chefes das Igrejas Ortodoxas, que se mostram disponíveis a deixarem de lado a memória das feridas recíprocas e trabalhar pela paz. (…) Concordam em manifestar grande preocupação com a situação e em afirmar que, além de qualquer outra consideração, os valores da paz e da vida humana são o que realmente importa para as Igrejas, que podem desempenhar um papel fundamental para evitar um maior agravamento da situação.”.

E, voltando ao conflito, declarou que “precisamos nos comunicar e ouvir mutuamente para conhecer e entender as razões dos outros”, pois, deixando de comunicar e ouvir com sinceridade, “olhamos para o outro com desconfiança e acabamos a trocar acusações recíprocas”. E frisou:

Os acontecimentos dos últimos meses não fizeram nada além de alimentar a surdez recíproca, levando a um conflito aberto. As aspirações de cada país e a sua legitimidade devem ser objeto duma reflexão comum, num contexto mais amplo e, sobretudo, levando em conta as escolhas dos cidadãos e no respeito pelo direito internacional. A história não deixa de oferecer exemplos que confirmam que isso é possível.”.

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A referência de Parolin a religiões sugere-me a releitura do artigo “A Virgem de Vladimir e o risco duma guerra”, do ucraniano Vitaly Venislavskyy, publicado no “7 Margens” a 20 de fevereiro (de que se respigam alguns dados), que fala do putativo elemento religioso na presente guerra, embora o conceito de guerra santa esteja muito distante, pelo que “já não se fazem guerras em torno de ícones religiosos e da própria confissão religiosa de sociedades” na Europa. Não obstante, aponta que, para lá do conflito armado existente no leste da Ucrânia e o risco de então de invasão russa, há outro conflito: o da concorrência entre a Igreja Ortodoxa Russa e a Ucraniana.

A Igreja Ortodoxa Ucraniana, em 2019, tornou-se autocéfala pelo Thomos (“Decreto”) patriarcal, do Patriarca Ecuménico de Constantinopla, Bartolomeu I. Porém, segundo os cânones ortodoxos, a autocefalia duma Igreja Ortodoxa, para ser completa, deve ser reconhecida por todas as outras. E a Igreja Ortodoxa Ucraniana não foi reconhecida pelo Patriarcado de Moscovo, que mantém a adesão dalgumas das principais paróquias da Ucrânia e uma comunidade aderente numerosa, não sendo, ainda assim, superior à da Igreja Ortodoxa Ucraniana. Ora, para a Rússia, com um poder político baseado em valores conservadores e religiosos onde a ligação entre a Igreja e o Estado é vincada, uma Igreja autocéfala na Ucrânia, país de que Moscovo precisa como aliado e alinhado com as suas conceções, é um perigo; e, para a Ucrânia, representa a oportunidade de reforçar a sua luta constante para a autodeterminação da sua nação.

Assim, por trás de motivações políticas na situação, há fatores culturais e religiosos, que remetem para um evento histórico ocorrido em meados do século XII: o sequestro do Teótoco de Vladimir (ou Nossa Senhora de Vladimir), que estava exposto em Kyiv (Kiev). Então, a Europa de Leste era dominada pelo poderoso império Rus (ou Ruteniano), que se estendia do Mar Báltico ao Mar Negro e servia de comunicação entre os povos nórdicos e a poderosa capital bizantina. Era a aliança de ducados sob a hegemonia do grão-ducado de Kyiv, cujo titular era eleito de entre os vários duques por uma assembleia (Vitche), não havendo o direito de sucessão, o que levava a que os momentos de escolha do novo grão-duque originassem muitos confrontos e guerras intestinas.

Em 1149, o grão-ducado de Kyiv foi tomado por Jorge I de Kyiv, conhecido por Jorge Longímano (Iuri Dolgorukii) que ocupou o lugar de grão-duque até 1150 e, depois, desde 1155 até 1157, ano da sua morte e em que é eleito para novo grão-duque Izaslav III, que fica no poder até 1169, quando o filho de Jorge Longímano, André I de Vladimir, conhecido por André de Bogoliubovo, duque de Vladimir-Susdália, ducado muito longínquo (colónia do Império Ruteniano) ataca Kyiv, destrói grande parte da cidade e sequestra o Teótoco de Vyshgorod  (Nossa Senhora da Cidade Alta de Kyiv) para Vladimir, capital do Ducado de André I, onde passa a ser denominado e mundialmente conhecido como o Teótoco de Vladimir. “Teótoco”, do grego, significa “Portadora de Deus” ou “Mãe de Deus” e este ícone é, segundo as crenças cristãs ortodoxas, o primeiro ícone da História, desenhado pelo evangelista Lucas numa placa retirada das mesas a que Nossa Senhora e Jesus se sentavam. Por volta de 450, o ícone foi de Jerusalém para Constantinopla e, por volta de 1156, o Patriarca de Constantinopla, Lucas Crisoberges, enviou-o ao grão-duque Jorge Longímano.

Traçada a rota do ícone, que está na Galeria de Tretyakov, em Moscovo, é de explicar a relevância que tem para a Rússia e para a Ucrânia. Antes de atacar e destruir Kyiv, em 1162, André de Bogoliubovo enviou uma embaixada a Constantinopla, capital bizantina, para obter o direito de criar a sua própria sé metropolitana independente em Vladimir, com Teodoro como metropolita, o que lhe foi negado. Após ter atacado Kyiv, André não permaneceu na cidade, mas proclamou-se grão-duque e retornou a Vladimir, querendo torná-la a capital do Império Ruteniano e levar o metropolita de Kyiv a ter de ir para Vladimir, fazendo da cidade o centro religioso do cristianismo ortodoxo Ruteniano.

É questionável o elo consequencial dum acontecimento do século XII, num país que já só existe na memória e em relatos literários, com o risco da escalada duma nova guerra global. E esta situação não o explica, mas o que vem à discussão é o momento chave em que se formularam as pretensões políticas duma sociedade (a russa) face ao pensamento político de outra (a ucraniana). Todavia, este impacto não se vê apenas na construção política duma sociedade, mas também na formulação das estratégias de expansão que tem na Ucrânia a Igreja Ortodoxa Russa, a qual, ao invés da sua própria retórica, nasceu no século XVIII, quando Pedro I da Rússia venceu a guerra contra o Império Otomano e obrigou o sultão a pressionar o Patriarca de Constantinopla a emitir o Thomos, pelo qual ela obteve a autocefalia. Porém, assume a sua formulação com o Batismo da Ruténia, em 988, pelo grão-duque de Kyiv, Volodymyr, o Grande. E Moscovo procura a retórica civilizacional contínua no espaço e no tempo duma sociedade russa moderna com as raízes numa sociedade cita, do período pré-Clássico (no século VIII a.C.), que passa pelo período Ruteniano, se formula na Rússia Imperial, se confirma na URSS e renasce na Federação Russa.

Porém, é de questionar se a interpretação, consequências e impacto deste facto permite concluir que as nossas crenças serão fortes o suficiente para nos fazerem conflituar com outros homens em nome da busca da verdade absoluta. Assim, o motivo religioso que Putin invocou é descabido.

2022.02.28 – Louro de Carvalho

domingo, 27 de fevereiro de 2022

Padre Mário de Oliveira morreu aos 84 anos

 

O Padre Mário de Oliveira, mais conhecido por Padre Mário da Lixa, por ter sido pároco de Macieira da Lixa (concelho de Felgueiras), faleceu aos 84 anos de idade, no passado dia 24 de fevereiro no Centro Hospitalar do Tâmega e Sousa (Penafiel), onde se encontrava internado em consequência dum acidente de viação que sofrera no dia 27 de janeiro em Macieira da Lixa.

Nascido em Lourosa, concelho de Santa Maria da Feira, distrito de Aveiro, a 8 de março de 1937, era um presbítero católico, jornalista e escritor, embora cedo se tivesse desvinculado do status quo da Igreja Católica, o que levou o Bispo do Porto, em 1973, a não lhe entregar qualquer serviço pastoral na diocese em que estava incardinado.

A notícia do óbito foi dada pela Associação Cultural e Recreativa “As Formigas de Macieira”, de que foi mentor, na sua página do Facebook. O comunicado difundido pela Lusa referia:

Apesar das recentes melhoras, o pai do ‘Barracão de Cultura’ decidiu tornar-se luz e evoluiu para um nível cósmico mais elevado. Embora tristes alegremo-nos por termos convivido com o grande Mário Pais de Oliveira.”.

Foi ordenado padre em 1962, tendo sido depois coadjutor na Paróquia das Antas, no Porto, professor de Religião e Moral no Liceu Alexandre Herculano e no Liceu Normal Dom Manuel II. (depois, Liceu de Rodrigues de Freitas e atualmente Escola Secundária Rodrigues de Freitas). Depois, foi enviado para a Guiné-Bissau como capelão das tropas portuguesas, começando aí a manifestar oposição à guerra, pois confrontou-se ali com os dramas pessoais dos soldados e com a ocupação colonial. Foi, dizia, “pregar o Evangelho da Paz aos que lá faziam a Guerra Colonial”. Ao fim de 4 meses foi expulso das fileiras. Esta postura levou-o detenção pela PIDE por duas vezes e a julgamento no Tribunal Plenário do Porto (da ditadura salazarista-caetanista), acusado de subversão. Na Igreja, isso, depois de ter paroquiado Macieira da Lixa após o regresso do Ultramar, levou-o a deixar de ter trabalho pastoral atribuído pelos sucessivos bispos do Porto, mas, ao invés do que diziam alguns, nunca foi suspenso, embora não tivesse qualquer nomeação oficial.

A 1 de fevereiro, no período em que esteve hospitalizado, Dom Manuel Linda, fez-lhe uma visita de cortesia, tendo declarado que o sacerdote se emocionara com a visita, como também deixou claro que a Diocese nada tem contra o Padre Mário, mas que não fazia sentido pô-lo a exercer um múnus em cujo conteúdo não acreditava.  

Quando foi levado a tribunal, começou por ter apoio de vastos setores progressistas, mas o Bispo Dom António Ferreira Gomes, que depôs em sua defesa, acabou por lhe retirar, em março de 1973, a paróquia, em face das suas posições menos ortodoxas. E o padre manteve sempre ligação a meios progressistas da Igreja Católica, mas, já ao tempo, assumindo postura ecuménica, ainda que alguns destes meios se situem nas franjas desta Igreja e nem sempre sejam reconhecidos.

Destaca-se, além dum apostolado de base, a sua atividade como jornalista e autor de livros. Como jornalista, trabalhou no jornal “República”, a que se seguiram os jornais “Página Um”, “Aqui” e “Correio do Minho”, mas foi como diretor do jornal “Fraternizar” que se destacou nos últimos anos, um jornal que assegurava quase sozinho; e, como produtor de livros para divulgar as suas ideias, opções, estilo e formas de ajuda às pessoas, conhecem-se-lhe mais de 20 obras, de que se destacam: Chicote no Templo (Afrontamento, 1973)Mas à Africa, Senhores, Por que lhes Dais Tantas Dores (Campo das Letras, 1997)Fátima Nunca Mais (Campo das Letras, 1999); “Nem Adão e Eva, Nem Pecado Original (Campo das Letras, 2000)Que Fazer com esta Igreja (Campo das Letras, 2001)Em Memória Delas. Livro de mulheres (Campo das Letras, 2002)E Deus disse: do que eu gosto é de política, não de religião(Campo das Letras, 2002)Com Farpas. Mas com Ternura (Ausência, 2003)Ouvistes o Que Foi Dito aos Antigos. Eu, Porém, Digo-vos (Campo das Letras, 2004)Canto(s) nas Margens (Ausência, 2005); “O Outro Evangelho Segundo Jesus Cristo(Campo das Letras, 2005); e “Quando a Fé Move Montanhas(Editora Magnólia, 2008).

A comunidade que dirigiu teve relevância no apoio à democratização da América Latina, e as atividades desenvolvidas em Portugal de solidariedade com esses povos durante os anos 70 e 80 do século passado, em que estavam submetidos a ferozes ditaduras.

Em abril de 1999, publicou o livro “Fátima nunca mais” e conseguiu 8 edições em 12 meses. Nele tenta desfazer o mito e apresenta as supostas provas que alegadamente desmentem as aparições de Fátima, referindo que a utilização de Jacinta, Francisco e Lúcia na “suposta” aparição de Nossa Senhora em Fátima, em 1917, arruinou a vida das três crianças. E acusa o clero de Ourém e a Igreja de ter abusado psicologicamente das 3 crianças, a ponto de duas terem morrido de pneumonia fracas devido aos jejuns religiosos, e de terem enfiado a sobrevivente num convento.

O Padre Mário cedo se fez notar como antifascista e por se ter oposto à guerra colonial. Apesar de colocado na situação de “sem ofício pastoral oficial”, ou seja proibido na prática de exercer o sacerdócio, não desistiu da sua fé, que praticava segundo o modo como a entendia e tentava inculcar, nem da sua vertente crítica e solidária. Homem de causas, não fugia das polémicas e tornou-se notado como uma das sonoras vozes pela descriminalização do aborto. Além disso, como já foi entredito, desenvolveu intensa ação de solidariedade internacionalista para com os povos da América Latina nos piores momentos das ditaduras que sofreram no século passado. Participou na comunidade “Grão de Trigo” que tem como objetivo viver junto do “povo marginalizado de São Pedro da Cova” e onde fundou a Associação Padre Maximino.

Foi ainda conhecido dinamizador cultural, nomeadamente na Associação Cultural e Recreativa “As Formigas da Macieira”, de Macieira da Lixa, no âmbito da qual criou o Barracão de Cultura em que esteve envolvido até ao fim da vida. Com efeito, fazendo jus ao nome que se lhe colou ao corpo, decidiu, em fevereiro de 2004, fixar de novo residência em Macieira da Lixa, onde, antes de abril de 1974, foi pároco, qualidade em que foi duas vezes preso pela PIDE e julgado no Tribunal Plenário do Porto. Porém, neste seu regresso a Macieira da Lixa, já não tinha a ver com a paróquia. Vivia sem estatuto eclesiástico, em casa alugada no lugar da Maçorra, na proximidade física de companheiras e de companheiros cristãos de base, com quem partilhava a vida, os bens e a missão de Evangelizar os pobres e os povos.

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O funeral ocorreu a 26 de fevereiro, às 16 horas, com saída do Barracão da Cultura para o cemitério da Lixa (concelho de Felgueiras), terra de que foi pároco nos anos 70 do século XX antes de as posições anticoloniais, a oposição à ditadura e o pensamento teológico o terem levado à prisão e ao tribunal. Velório e funeral decorreram conforme as disposições expressas no prólogo do seu “Novo Livro do Apocalipse ou da Revelação, do verão passado (vd 7 Margens, 25.02.2022):

Ao meu cadáver – nunca o confundais comigo que, a partir daquele Novíssimo Instante, já serei definitivamente vivente convosco – vesti-o com alguma das roupas que me vedes utilizar diariamente, e depositai-o depois na urna, uma das mais baratas que houver no mercado”.

Desejava tudo “totalmente despojado de quaisquer símbolos religiosos, como o terço, o cálice, ou a cruz (do Império romano), tudo coisas beatas e deprimentes, por isso, inumanas, pelo menos, simbolicamente”. Além deste despojamento, desejava que a urna fosse “depositada numa campa rasa, em terreno comum destinado aos Sem-jazigo, do cemitério de Macieira da Lixa. A campa devia ficar assinalada com “um pequeno retângulo em madeira, com estes dizeres e sem nenhuma data: Mário, presbítero da Igreja do Porto”. E prescrevia:

Nada de toque de sinos. Nada de anúncios pagos nos jornais. Nada de pagelas panegíricas, sempre despropositadas, nenhum clérigo/pastor de Igreja, enquanto tal, presidirá ao cortejo, rumo ao cemitério. (…) Nenhuma missa – ouvistes bem? Nenhuma missa! – deverá ser celebrada por mim. Nem durante as primeiras 24 horas, após a minha Explosão/Ressurreição, nem depois, nos dias/meses/anos subsequentes. Confio tanto em Deus, nosso Abbá Deus de vivos, e não de mortos, que sei que o seu Nome é muito mais glorificado assim do que com todo esse obsceno negócio eclesiástico das chamadas ’missas pelos mortos’, que por aí se faz nas paróquias.”.

Sublinhava o corte com práticas instaladas que julgava opostas à mensagem evangélica e estipulava que os seus parcos haveres e os futuros direitos de autor que viessem a ser pagos pela venda dos seus livros deviam por inteiro beneficiar as obras em curso nas instalações multiusos do Barracão de Cultura. E terminava com o apelo aos que com ele participavam na Associação Cultural e Recreativa As Formigas de Macieira:

Não esqueçais nunca este meu último apelo que aqui vos deixo em testamento: Amai-Vos umas às outras, uns aos outros, pelo menos tanto como eu Vos amo. Se possível, ainda mais, muito mais do que eu Vos amo.”.

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Sobre esta polémica figura de padre, é de salientar a ousadia em se opor à guerra colonial e ao colonialismo, quando as figuras da Igreja em Portugal, salvo honrosas exceções, ao arrepio das indicações da Santa Sé, e as altas patentes militares, bem como o escol político, avessos ao Movimento emancipatório dos povos, se acomodavam supinamente ao status quo do regime. Também era visto de soslaio por se interessar expressamente pelos explorados e oprimidos em Portugal e no exterior, nomeadamente na África e na América Latina (era tido como comunista).

Todavia, é de esclarecer que muitas das ideias não são tão inovadoras como se podia supor. Por exemplo, o que defende sobre o pecado original ou Adão e Eva, já era ensinado nos seminários e universidades há muito tempo. A forma truculenta e quase dogmática como o expunha é que era polémica. E, de Fátima sempre se disse não se tratar de quesito da fé católica a aparição ou a visão da Virgem. Porém, a acorrência de peregrinos a santuários deve ser eclesialmente acompanhada. Ninguém diz que a Senhora apareceu na Serra do Pilar, no Sameiro ou na Lapa, mas esses santuários são frequentados por milhares de almas que devem ser apoiadas e evangelizadas. O padre deve agir, mais em sentido de Igreja e comunidade que segundo as suas discutíveis ideias pessoais. Não se percebe a teima em afirmar-se presbítero em vez de padre. Ora, “presbítero”, no grego, significa aquele que é mais velho, o ancião; enquanto “padre”, do latim, significa pai. E o sacerdote (bispo ou padre), sem qualquer atitude paternalista ou de sobranceria anciã, deve estar em Igreja, independentemente da idade, como quem serve em modo paternal ou fraternal (os membros do dito clero regular deixa-se tratar por irmãos ou frades) e antropagógico, bem como na lógica da sabedoria eivada da experiência, fidelidade à tradição e sonho do futuro.

É certo que há muito de piramidal e hierárquico na Igreja, que deve ser mais circular e cintilante. Todavia, não é legítimo tratar com severidade e espírito demolidor as entidades que nos fizeram o que somos ou ignorar a história. Aliás, é temerário presumir-se na linha evangélica e como que único seguidor de Jesus Cristo, acusando todos os demais de detratores. E é difícil conceber a força duma fé pessoal que não se articule com a comunidade. E, quanto a Fátima, é injusto acusar o clero de Ourém pela sorte dos pastorinhos: a pandemia de 1918 era cega na vitimização e não havia os meios de hoje; e a ida de Lúcia para o convento não é excecional.

Contudo, se lhe faltou a ponte com a hierarquia e a força institucional, o Padre Mário foi pioneiro na posição eclesial contra a guerra, sublinhou a opção preferencial pelos pobres e insuflou na comunidade o companheirismo, a sobriedade, a renúncia e a solidariedade. E é pena não haver no país forte e alargada experiência de comunidades eclesiais de base, em que Mário fosse uma valia.  

2022.02.27 – Louro de Carvalho

O peso das sanções do mundo à Federação Russa

 

 

Países de todo o mundo estão a impor novas sanções à Rússia devido à invasão da Ucrânia. UE (União Europeia), Japão, Austrália, Nova Zelândia e Taiwan impuseram novas medidas liminares no dia 25 de fevereiro, condenando severamente a incursão militar sobre a Ucrânia.

No dia 24, EUA e Reino Unido também anunciaram novas medidas contra a Rússia, com os líderes de ambas as nações a condenarem as ações do Presidente da Rússia, Vladimir Putin.

A Rússia já está a pagar o preço pela agressão, com as ações e moeda do país a descerem a pique, após a decisão de Putin de enviar tropas para o Leste da Ucrânia. No dia 24, o índice principal da Rússia, MOEX, fechou nos 33% com o rublo em descida recorde, (desceu 7% contra o dólar americano). Recuperou no dia 25, sendo negociado nos 84,7 face ao dólar norte-americano. E a Ucrânia apela ao Ocidente que remova a Rússia da SWIFT, a rede de alta-segurança que facilita pagamentos entre 11 mil instituições financeiras em 200 países. No início da semana, a Alemanha parou a certificação do gasoduto Nord Stream 2. E Putin advertiu, no dia 24, os líderes empresariais sobre esperar mais “restrições” na economia, mas apelou a que as empresas operassem “em solidariedade” com o Governo.

A presidente da Comissão Europeia Ursula von der Leyen e o Presidente francês Emmanuel Macron anunciaram novas medidas no dia 25, prometendo infligir “máximo impacto na economia e na elite política russa”. As sanções visam atingir os setores financeiros, energéticos e de transportes, incluindo controlos na exportação e proibições nos financiamentos comerciais. E Von der Leyen disse que vão afetar agora 70% do setor bancário russo e das companhias estatais e procuram tornar “impossível que a Rússia atualize as suas refinarias petrolíferas”. E acrescentou:

Estamos também a atingir as elites russas ao conter os seus depósitos para que já não possam esconder dinheiro em paraísos fiscais na Europa”.

As sanções procuram também limitar o acesso da Rússia a tecnologias sensíveis, bem como a componentes e equipamentos aeronáuticos.

O Japão irá impor um leque de sanções dirigidas às instituições financeiras, organizações militares e pessoas singulares da Rússia, em resposta à invasão da Ucrânia, como anunciou o Primeiro-Ministro Fumio Kishida. A gama de medidas inclui o congelamento dos ativos de certos indivíduos russos e instituições financeiras, proibindo-se também as exportações para organizações militares russas. E Kishida afirmou em conferência de imprensa no dia 25:

Em resposta a esta situação, iremos reforçar as nossas medidas de sanção em estreita colaborações com o G7 e a restante comunidade internacional”.

O líder da Austrália afirmou, no dia 25, que iria “começar a impor mais sanções aos oligarcas, cujo peso económico é de importância estratégica para Moscovo, e a mais de 300 membros da Duma russa, o parlamento”. Numa conferência de imprensa, o Primeiro-Ministro Scott Morrison acrescentou que Camberra estava “também a trabalhar com os Estados Unidos para alinhar as novas sanções com indivíduos e entidades bielorrussas importantes que foram cúmplices na agressão, por isso vamos estender as sanções à Bielorrússia”. A nova ronda de medidas surgiu após a Austrália ter imposto proibições de viagem e sanções financeiras direcionadas a oito membros do Conselho de Segurança da Federação Russa.

Também a Nova Zelândia proibiu a exportação de bens para as forças militares e de segurança russas em resposta à invasão da Ucrânia. A Primeira-Ministra Jacinda Ardern prometeu cortar o comércio com a Rússia e impor proibições de viajar a funcionários russos, mas continua a apelar ao regresso do diálogo diplomático, pois, como disse, “isto é uma utilização flagrante do poderio militar e da violência, que roubará vidas inocentes e devemos opor-nos a isto”.

Taiwan, um líder global na produção de semicondutores, prometeu aderir às sanções económicas contra a Rússia, sem especificar que medidas estão a ser ponderadas. O Ministro dos Negócios Estrangeiros disse condenar fortemente a decisão da Rússia de iniciar uma guerra contra a Ucrânia, acrescentando que cria uma séria ameaça à ordem internacional, baseada em regras.

A decisão de impor sanções foi tomada “para pressionar a Rússia a parar a agressão militar contra a Ucrânia e a reiniciar o diálogo pacífico entre todas as partes interessadas, o mais depressa possível” acrescentou o ministro.

O Presidente dos EUA, Joe Biden, revelou, no dia 24, novas medidas severas contra a Rússia, afirmando que “Putin escolheu esta guerra”. As novas sanções incluem bloqueios nas exportações de tecnologia, uma peça central na abordagem de Biden que afirma que vai limitar fortemente a capacidade da Rússia de avançar nos setores militares e aeroespacial.

Washington diz que “isto inclui restrições, em toda a Rússia, a semicondutores, telecomunicações, segurança de encriptação, lasers, sensores, navegação, aviónica e tecnologias marítimas”.

A Casa Branca diz ter aplicado também sanções a bancos russos e a quem descreveu como bilionários corruptos e a suas famílias, próximas do Kremlin. Mais disse proibir 13 empresas maioritariamente detidas pelo Estado de angariarem dinheiro nos EUA, incluindo o gigante energético Gazprom e o Sberbank, a maior instituição financeira da Rússia. E prometeu sancionar duas dúzias de indivíduos e empresas da Bielorrússia, que incluem “dois proeminentes bancos estatais bielorrussos, nove empresas de defesa e sete personalidades e elites ligadas ao regime”.

O Primeiro-Ministro do Reino Unido Boris Johnson disse, no dia 24 que o seu Governo se prepara para sancionar 100 indivíduos e entidades como parte de sanções adicionais contra a Rússia.

Num discurso ao Parlamento, Johnson disse que o objetivo era “excluir os bancos russos do sistema financeiro do Reino Unido”. No seguimento das sanções a cinco bancos russos, no dia 22, será imposto no banco estatal russo VTB um congelamento de bens, acrescentou. O Estado russo e as empresas privadas serão proibidos de angariar fundos no Reino Unido. Adicionalmente, 100 indivíduos e entidades terão os seus bens congelados, afirmou Johnson, acrescentando que isso inclui “todos os maiores fabricantes que apoiam a máquina de guerra de Putin”. E Johnson acrescentou que “todas as opções estão em aberto” no que diz respeito a proibir o acesso da Rússia à SWIFT. O Reino Unido irá banir a transportadora nacional da Rússia, Aeroflot, e aplicar sanções à Bielorrússia “pelo seu papel no assalto à Ucrânia”. Doravante, a Grã-Bretanha espera aprovar legislação “no início da próxima semana” para proibir a exportação de certas tecnologias para a Rússia, particularmente em setores que incluem a eletrónica, telecomunicações e aerospacial. E Johnson, perante o Parlamento, delineou os planos para estabelecer uma nova célula especializada na Agência Nacional para o Crime “para inspecionar sanções, evasão e bens russos ilegais escondidos no Reino Unido”.

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A declaração de guerra de Putin à Ucrânia trouxe de novo o debate sobre a expulsão da Rússia do SWIFT, uma das sanções mais discutidas ao mais alto nível de momento. Um banqueiro descreveu-a como a “bomba atómica” das medidas que podiam ser aplicadas a Moscovo, pois isolaria a economia russa do sistema financeiro internacional, causando sérios danos ao Governo e às empresas. João Leão revelou que os ministros das Finanças da UE pediram ao BCE (Banco Central Europeu) e à Comissão Europeia que estudasse esta medida, a arma nuclear financeira.

SWIFT significa Society for Worldwide Interbank Financial Telecommunication ou, em português, a Sociedade de Telecomunicações Financeiras Interbancárias Mundiais. Não é propriamente um sistema de pagamentos, mas uma plataforma de troca de mensagens eficaz e segura que permite aos bancos enviar dinheiro de forma rápida e segura, mesmo entre fronteiras.

É uma sociedade cooperativa internacional (detida pelos bancos) com sede em Bruxelas, enquadrada pelas leis da Bélgica e da UE. Fundada em 1973, substituiu a rede Telex e outros meios de comunicação financeira tornados obsoletos. Conta com cerca de 11 mil bancos, instituições financeiras e outras companhias em mais de 200 países, ligados entre si através do sistema. Cada um deles tem um terminal SWIFT, um computador para comunicar com os outros bancos (a contraparte) da rede e o seu próprio código SWIFT (BIC). Cada transação registada na rede apresenta os detalhes da operação (v.g: ordens de pagamento, transferências bancárias, operações de trade finance e de troca de moeda, entre outras operações), incluindo a parte e a contraparte que estão devidamente identificadas pelo código SWIFT, criando um ambiente de maior confiança e de segurança.

Neste mundo globalizado, o SWIFT tornou-se uma infraestrutura vital às economias, dando suporte a biliões de dólares em fluxos de comércio e de negócios realizados por instituições em todo o mundo por dia. Não é por isso uma surpresa que EUA e UE acenem com esta ameaça sempre que querem mostrar uma posição de força em relação à Rússia.

Removendo a Rússia do SWIFT, os bancos e empresas do país seriam duramente afetados pois a sua capacidade de participar no comércio internacional e de levantar fundos fora do país seria colocada em causa. De acordo com Johannes Borgen, o SWIFT integra 291 membros russos, que representam 1,5% dos fluxos e são o 6.º maior país em termos de mensagens enviadas através da plataforma. Este investidor que acompanha de perto o setor financeiro estima que isso equivale a 800 mil milhões de dólares em transações por ano que seriam atingidos por esta sanção. Por exemplo, as empresas de energia russas teriam muito mais dificuldades nas suas vendas de petróleo ou gás natural para o exterior, nomeadamente para a Europa.

Contudo, a economia russa não ficaria totalmente isolada, pois as instituições poderiam continuar a realizar operações internacionais, mas através de sistemas mais antiquados como o fax e e-mail, o que tornaria todo o processo mais lento e oneroso. Além disso, como lembra Johannes Borgen, seria preciso convencer os bancos ocidentais a usar estes sistemas também.

Não há consenso em torno da aplicação desta medida. O Presidente dos EUA, questionado sobre a razão por que os aliados não avançaram imediatamente com esta sanção, enquanto as tropas russas iam diretamente para Kiev para tomar controlo da capital ucraniana, disse: 

É sempre uma opção. Mas neste momento não é a posição que o resto da Europa deseja tomar.”.

Porém, o Ministro dos Negócios Estrangeiros da Ucrânia, Dmytro Kuleba, fez um apelo internacional para remover a Rússia do SWIFT, tal como o fizeram Estónia, Letónia e Lituânia.

Embora a entidade destaque a sua neutralidade, pois foi constituída para “o benefício coletivo da sua comunidade de mais de 11.000 instituições em 200 países”, também frisa que “qualquer decisão de impor sanções a países ou entidades individuais cabe exclusivamente aos órgãos governamentais competentes e aos legisladores aplicáveis”. Foi o que sucedeu em 2012, quando expulsou bancos iranianos sancionados pela UE – muitos foram religadas ao sistema em 2016, depois do levantamento das sanções. Mas a questão é mais sensível, pelo que a Rússia representa económica e energeticamente para a Europa (não representa o Irão), o que explica as reticências de alguns países, designadamente a Alemanha. A isto, o chanceler alemão, Olaf Scholz disse:

É muito importante que concordemos com as medidas que foram preparadas – e guardemos tudo o resto para uma situação em que possa ser necessário ir além disso”.

A Rússia é o 5.º maior parceiro comercial da UE, representando 4,8% do total do comércio internacional com o mundo em 2020. As trocas comerciais entre os dois blocos atingiram os 174,3 mil milhões de euros. Os Estados-membros vendem sobretudo máquinas e equipamentos de transporte, produtos químicos e produtos manufaturados aos russos; e compram muito gás natural e petróleo aos russos. A Rússia é a origem de 26% das importações de petróleo da UE e 40% das importações de gás da UE. Os efeitos da guerra já se estão a fazer sentir nos preços energéticos e bloquear o SWIFT aos russos poderia tornar tudo isso mais caro e difícil. Além disso, é possível que a Rússia encontre formas de contornar a proibição do SWIFT: o banco central russo desenvolveu o seu próprio sistema SFPS (System for Transfer of Financial Messages), integrando sobretudo bancos russos e do bloco CIS.

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Christine Lagarde, expressando a solidariedade do conselho do BCE com o povo ucraniano “num momento sombrio para a Europa”, assegurou, a 25 de fevereiro, que o este banco central está preparado para todas as medidas que forem necessárias para a estabilidade dos preços e financeira da Zona Euro face ao impacto da guerra na Ucrânia.

Lagarde diz que a instituição “está a acompanhar de perto a evolução da situação” e que vai realizar “uma avaliação abrangente das perspetivas económicas, incluindo já estes últimos desenvolvimentos, e que constituirá a base da sua reunião de política de 10 de março”, data da próxima reunião de política monetária. Com efeito, o desenrolar do conflito no Leste da Europa, após a incursão militar russa na Ucrânia, os preços da energia dispararam, com o Brent a subir para mais de 100 dólares por barril e o gás natural a disparar para mais de 100 dólares por MWh. E, dos preços de outras matérias-primas, desde metais (o alumínio atingiu máximos históricos) a bens agrícolas (Ucrânia e Rússia são dos maiores produtores mundiais de cereais), subiram significativamente. É uma escalada que terá impacto generalizado nos preços ao consumidor, num momento em que a taxa de inflação regista valores históricos na região, e deverá atrasar a retoma da economia após a crise pandémica gerando uma dilema na instituição de Frankfurt no atinente ao rumo e ritmo dos juros e estímulos dos próximos meses. Para já, segundo Lagarde, o BCE garante “condições de liquidez suaves e acesso dos cidadãos ao dinheiro” e implementará “todas as sanções que foram decididas pela UE e pelos Governos europeus.

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Entretanto, a UE já tem a concordância da Alemanha para expulsar a Rússia do SWIFT. Porém, a posição do BCE poderá minimizar as consequências para a zona do euro, mas não evitará as dificuldades de abastecimento, a subida de preços e outras constrições. E, se a Rússia entrar em estrita economia de guerra, criará mais dificuldades a terceiros e sobreviverá com os seus sistemas e subsistemas, mesmo à custa de sacrifícios do povo.

2022.02.27 – Louro de Carvalho

sábado, 26 de fevereiro de 2022

A propósito dos “documentos Marega”

 

A Sala de Imprensa da Santa Sé informou, neste dia 26, os jornalistas credenciados de que, na terça-feira, 1 de março de 2022 , às 11,30 horas, na Sala de Imprensa da Santa Sé, terá lugar a apresentação da “História da Evangelização do Japão. Os ‘documentos Marega’ da Biblioteca Apostólica do Vaticano”, ficando, após algumas breves apresentações, à disposição da imprensa para entrevistas: o Cardeal José Tolentino de Mendonça, Bibliotecário e Arquivista da SRC; Dom Cesare Pasini, Prefeito da Biblioteca Apostólica do Vaticano; Dr. Delio Vania Proverbio, investigador que descobriu os “documentos Marega”; Dra. Angela Nuñez Gaitán, Chefe do Laboratório de Restauração; e Prof. Silvio Vita, Universidade de Estudos Estrangeiros de Kyoto.

Em relação aos “documentos Marega”, é de recordar que o Cardeal Raffaele Farina, antigo responsável pela Biblioteca e Arquivo Secreto do Vaticano – a quem o Governo japonês agraciou com a Ordem do Sol Nascente, classe Estrela de Ouro e Prata, uma das mais importantes condecorações do país, pela sua contribuição para a amizade entre o Japão e o Vaticano – deu um relevante contributo para a reorganização dos documentos históricos do período Edo, incluindo os relacionados com a proibição do cristianismo na antiga província de Bungo, recolhidos pelo missionário italiano Mário Marega. Trata-se de cerca de 10 mil documentos que descrevem a presença e a perseguição à comunidade católica do Japão, cobrindo os séculos XVII a XIX, que o religioso levou para o Vaticano na década de 1940, permanecendo intocados até 2010, quando foram redescobertos pelo investigador Delio Proverbio.

A Biblioteca Apostólica do Vaticano assinou em 2014 um contrato de 6 anos com 4 instituições históricas japoneses para traduzir e catalogar os textos, redigidos em frágil papel de arroz.

O primeiro documento, de 1719, menciona a chegada do cristianismo ao Japão em 1549, através de missionários jesuítas. Um dos relatos regista a visita de 4 nobres japoneses a Roma, em 1585, para assistir à eleição do Papa Sisto V, atestando a importância que o cristianismo adquiriu no país. Outros documentos referem-se à perseguição da nova comunidade e descrevem ao detalhe o martírio de 26 cristãos de Nagasaki, culminando com a proibição do cristianismo em 1612.

Os textos, que constituem a maior coleção de documentos do género, revelam que as autoridades japonesas forçaram o desaparecimento do cristianismo, confiando aos budistas a tarefa de registar e documentar quando um cristão renunciava à sua fé ou morria. E provam que o arquivo civil de Bungo recebeu relatórios oficiais do ritual “fumi-e”, no qual os cristãos eram forçados a pisar um crucifixo ou imagens de Jesus e Maria para provar que tinham renunciado à fé, tal como é mostrado no filme “Silêncio”, do realizador Martin Scorsese.

Espera a comunidade interessada nos temas históricos e o público em geral este grande contributo para a história da missionação a juntar a tantos mais, de que se destacam, entre outros: Abe Toshihiko, Japan's Hidden Face. [S.l.]: Bainbridgebooks/Trans-Atlantic Publications, 1998; Carlos Alfredo Martínez Rodríguez, Alessandro Valignano (1536-1606) e a missionação do Japão Um projeto de inculturação, dissertação final, 1.º Ciclo, UCP-Porto, 2019; Charles R. Boxer, The Christian Century in Japan 1549-1650, University of California Press, 1967; João Paulo A. Oliveira e Costa, “O Cristianismo no Japão e o Episcopado de D. Luís Cerqueira”, tese de doutoramento, em História dos Descobrimentos e da Expansão Portuguesa, na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade de Lisboa, 1998; Michael Cooper,  Rodrigues the Interpreter= An Early Jesuit in Japan and China. [S.l.]: Weatherhill, Nova Iorque, em 1974; e Valdemar Coutinho, O Fim da Presença portuguesa no Japão, Lisboa, Sociedade Histórica da Independência de Portugal, 1999.

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Os católicos japoneses realizaram uma das maiores façanhas da história da salvação: resistir por 250 anos à campanha de aniquilação, sem nenhum sacerdote, transmitindo fielmente a fé ao longo duma dúzia de gerações, em total isolamento – uma das mais extraordinárias e mais desconhecidas demonstrações de fidelidade de todos os tempos. Isso é trágico, não só porque a história da Igreja Católica no Japão é importante por direito, mas sobretudo pelo que ela tem a ensinar sobre a esperança.

O cristianismo (que durante séculos foi exclusivamente católico) foi levado ao litoral japonês por São Francisco Xavier por volta da metade do século XVI. Após algumas tentativas e erros, ao longo das 5 décadas seguintes, centenas de milhares de japoneses converteram-se à fé. E o catolicismo começou ali a prosperar e florescer, com a cidade portuária de Nagasaki a tornar-se um próspero centro para católicos. No entanto, essa era de ouro só foi possível porque o Japão passava por uma enorme guerra civil que durava já um século: o Período Sengoku. Senhores da guerra, os daimiôs, estavam muito ocupados em lutas intestinas para se preocuparem com ameaças externas. A chegada dos portugueses levou a muitos deles riqueza e armas de fogo. Foram tolerados os europeus mercê do afluxo de riquezas e armamentos de ponta que traziam consigo. E aonde quer que fossem, levavam o catolicismo, de tal sorte que as comunidades cristãs começaram a brotar em todas as partes das ilhas japonesas.

Entretanto, cristalizava a oposição ao catolicismo. Na Batalha de Nagashino em 1575, mosquetes europeus foram decisivos para a derrota de Takeda Shingen e seu clã, que facilitou o surgimento eventual do clã Tokugawa, o que viria a ser catastrófico para os católicos.

Em 1600, o Período Sengoku estava a serenar e a violência esporádica contra os cristãos já havia começado três anos antes. O clã Tokugawa finalmente obteve o controlo de toda a nação e o seu líder foi transformado em xogum, comandante do exército.

Com um Japão unido, o xogunato Tokugawa começou a estar atento ao que ocorria no resto do Pacífico. Os poderes europeus apropriavam-se da riqueza material da Ásia e colonizavam de forma agressiva a China e as Filipinas. Temendo que o cristianismo fosse uma ferramenta das nações ocidentais e recordando o papel dos europeus no Período Sengoku, os japoneses começaram a reprimir os católicos. E, neste período, vem à tona a divergência entre os franciscanos e os jesuítas na avaliação da situação (vd “Silêncio”, de Shūsaku Endō, Dom Quixote, 2010).  

Por outro lado, o catolicismo também entrou em conflito com muitas sensibilidades japonesas. O conceito de inferno e a dura condenação da atividade homossexual, então muito comum no Japão, eram ofensivos para muitos japoneses. Tais caraterísticas fizeram do catolicismo alvo fácil para autoridades que desejavam classificá-las como não-japonesas. Os católicos no Japão seriam perseguidos, em parte por causa da sua rejeição da homossexualidade. O catolicismo era visto como afronta às religiões tradicionais predominantes, um ataque aos valores japoneses.

Em 1614, a perseguição tornou-se política oficial. Foram expulsos todos os missionários e clero; e todos os convertidos deveriam ser mortos. Qualquer membro do clero que ousasse permanecer era executado. E o xogunato teve êxito ao decapitar a Igreja Católica no Japão. Em poucos anos, todos os sacerdotes foram assassinados ou banidos. Os cristãos remanescentes obrigaram-se à clandestinidade. Os que eram identificados eram torturados e executados.

Entretanto, na década de 1630, o Japão começou a fechar-se ao mundo exterior, rompendo todo o contacto com nações estrangeiras. Qualquer estrangeiro que desembarcasse em solo japonês era condenado à morte; e a todo o japonês que deixasse o país era proibido retornar. Em 1644, o último jesuíta remanescente foi arrancado do seu esconderijo e morto. A partir de então, os leigos católicos no Japão ficaram totalmente sozinhos, sem sacerdotes e sem qualquer possibilidade de comunicação com Roma. Nem o império romano ou o muçulmano ou qualquer regime totalitário e policial suprimiram o cristianismo de forma tão absoluta. Para os católicos japoneses sobreviventes, tais expurgos foram apenas o começo.

Todos os que se mantinham perseverantemente fiéis à fé eram condenados à morte, logo que descobertos. As execuções realizadas pelas autoridades japonesas eram brutais o suficiente para causar desconforto no mais cruel torturador romano. Muitos métodos são demasiado repulsivos para serem narrados. Os afortunados eram crucificados, decapitados ou queimados vivos. Muitos outros tinham um fim terrível após dias de tortura.

A hediondez da morte que os mártires sofreram só era igualada pela coragem que demonstravam quando chegava a sua hora. Durante o extermínio do clero, os sacerdotes abençoavam as multidões enquanto caminhavam para a execução, prometendo que outros mestres viriam substituí-los. Ao fim e ao cabo, a promessa cumprir-se-ia. Os que eram queimados beijavam a estaca a que eram atados, gratos por serem considerados dignos de sofrer o martírio pela fé. São Paulo Miki, uma das primeiras vítimas da violência anticristã, chegou a proferir um sermão da cruz, façanha supostamente incrível se considerarmos os efeitos da crucifixão no sistema respiratório. De facto, onde abundou o pecado, superabundou a graça.

A Igreja no Japão teve de se adaptar para sobreviver. Entrou na clandestinidade e os católicos passaram a ser conhecidos como Kakure Kirishitans ou cristãos ocultos. As primeiras coisas a eliminar foram a Bíblia e outros textos, inclusive os litúrgicos. Os católicos tiveram de suprimir todas as provas físicas da sua existência. A Bíblia, os ritos litúrgicos e a própria fé tiveram de ser memorizados e transmitidos oralmente. Todas as imagens ou símbolos eram feitos de modo que parecessem artefactos budistas ou xintoístas. Esculturas de Jesus eram feitas de modo que Ele ficasse parecido com Buda e toda representação visual de Maria tinha análogo tratamento.

O culto litúrgico era camuflado. As celebrações litúrgicas, não havendo sacerdotes para celebrar a Missa, assumiam várias superficialidades budistas, mas conservavam sua essência católica.

Quando o rasto dos católicos esfriava, o Governo decidia expô-los. Exigia que os cidadãos recebessem um certificado da hierarquia budista, afirmando a sua conformidade religiosa.

Além disso, as autoridades começaram a instituir uma política chamada Fumi-eA população era obrigada a pisar imagens de Cristo e da Virgem Maria. Qualquer um que recusasse fazê-lo era torturado até renunciar à fé. Os que não se submetiam eram executados. Os católicos enfrentavam uma variedade repugnante de mortes. Eram inclusive arremessados em vulcões ativos. Mas a Igreja resistia: os que eram forçados a passar pelo Fumi-e “batizavam-no”, por assim dizer, considerando-o uma prática litúrgica que celebrava o perdão de Cristo.

Essa situação permaneceu inalterada por 250 anos. A Igreja no Japão só saiu das sombras quando o país voltou a abrir as portas para o mundo na segunda metade do século XIX.

O Padre Bernard-Thadée Petitjean foi um dos primeiros a pisar solo japonês após a reabertura das fronteiras. Quando lá chegou, em 1865, foi abordado por uma mulher que lhe perguntou se era sacerdote do Papa em Roma. Surpreendido por ela saber o que era um sacerdote e, mais ainda, o Papa, avançou. Uma vez convencida da identidade dele, a mulher apresentou-o à Igreja clandestina, uma comunidade semiatrofiada espiritualmente, mas perseverante, que em dois séculos e meio jamais havia visto um sacerdote

O sacerdote descobriu que os católicos ocultos do Japão realizaram uma das maiores façanhas da história da salvação. O rito romano do batismo e o calendário litúrgico permaneceram intactos. Quando a interdição do catolicismo foi suspensa em 1867, mais de 30 mil católicos saíram do anonimato. Hoje o Japão tem 500 mil católicos. Estes são tempos obscuros e não se veem grandes bons sinais quanto ao futuro. Porém, no Japão, os mártires e os católicos ocultos mostraram que a fé pode perdurar mesmo quando se está em minoria e em cerco cerrado.

Enfim, a história da Evangelização no Japão pode constituir verdadeira lição para os crentes e para os decisores políticos. É precisa a tolerância.

2022.02.26 – Louro de Carvalho