quinta-feira, 30 de novembro de 2017

Foi a sepultar o dono de um grande empório empresarial

Muitas pessoas do mundo empresarial e político foram despedir-se à igreja de Cristo Rei, no Porto, de Belmiro de Azevedo, que se finou ontem, dia 29 de novembro, aos 79 anos de idade.
Assim passa a glória do mundo, dirão as pessoas realistas; deixou um grande legado, dizem os admiradores; não foi tanto assim, dirão os detratores.
As preocupações, as intuições e a multifacetada obra empresarial, cultural e social do finado são conhecidas da grande maioria dos portugueses que tenha opinião.
Pessoalmente, gostei dos comentários desapaixonados que tentaram ler a biografia do homem segundo os parâmetros da contenção e da justiça apreciativa. Louvá-lo como empresário, grande empregador e de obra multifacetada – desde a indústria transformadora, à engenharia financeira e das comunicações até às preocupações culturais e sociais – é de inteira justiça. Espera-se que o grupo Sonae não venha a desdizer da intuição e dos esforços do seu patriarca empresarial.
Porém, esquecer que a relação com os sues trabalhadores não terá sido a melhor em termos do conforto, da equidade de tratamento e da valorização salarial não é realista, embora a culpa possa não ser da pessoa do empresário, mas porventura do estado-maior que o circundava e adulava, sobretudo em termos da inevitabilidade ou do determinismo fatalista que impende sobre os trabalhadores e sobre os pobres.
Obviamente que o mecenatismo cultural e a própria beneficência social, para lá dos efeitos benéficos sobre quem vêm recaindo, configuram também uma desresponsabilização fiscal, assim como a deslocação da sede do grupo para um dos países do Norte da Europa.
Por isso, não gostei dos comentários de Marcelo Rebelo de Sousa, totalmente encomiásticos e a incorporar afirmações que escondem o que acabei de enunciar ou os de Lobo Xavier, quando diz que até se sentia com vergonha de junto dele ter a noção da superioridade de conforto material. Não era preciso tanto! Se calhar nem Belmiro queria ou esperava esse tipo de loas.
Porém, Carvalho da Silva disse o que era preciso: um grande empresário, de grande visão e um dos grandes empregadores, bem como a sua capacidade de argumentação e de luta aguerrida, mas apontou a pequenez no âmbito das remunerações salariais. Acho que era preciso dizer isto tudo, para não passarmos do homem ao mito. Admiro o homem e recuso o mito.
No entanto, admirei uma suposta citação do empresário na 1.ª página do JN de hoje “Nunca estive zangado com a vida”. Presumo que tenha vivido com essa sensação e o tenha dito com sinceridade. Não obstante, se é verdade o que disse, não se compreende que tenha dito tão mal da política e dos políticos – não valendo dizer que só não gostava daqueles que dizem uma coisa e fazem outra, pois isso também acontece nas empresas: dizemos facilmente e queremos uma coisa, com sinceridade ou sem ela, e fazemos outra – ou que tenha cortado relações com A ou B por causa da derrota em certas tentativas de negócio sem êxito.   
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Como diz o Eco, são muitos os êxitos do empresário, tendo um percurso empreendedor de sucesso como poucos, mas também colecionou alguns insucessos, que é justo não olvidar.
Um dos empresários portugueses mais bem-sucedidos tem, apesar de tudo, um currículo negocial não imune ao insucesso. Desde a má experiência no Brasil ao falhanço da OPA (oferta pública de aquisição) sobre a PT, passando pelo corte de relações com o antigo ministro da Economia Carlos Tavares, o antigo presidente da Sonae colecionou um conjunto de “flops” que até redundaram num engordamento da sua carteira empresarial e pessoal.
Belmiro de Azevedo apresentou, a 6 de fevereiro de 2006, uma oferta de 11,8 mil milhões de euros para comprar a PT (Portugal Telecom) em 2007. Mas tal não chegou para convencer os acionistas, entre os quais estava o Estado (através da golden share). Perante o inêxito, confidenciou que chegaria a viver tempo suficiente para perceber as razões que levaram a OPA ao falhanço. E de algum modo topou as respostas às suas dúvidas.
Apercebendo-se de que teria de acenar com mais dinheiro para chamar a atenção de mais acionistas, um ano depois, engrossou a oferta com mais 700 milhões de euros.
Porém, o que seria o maior negócio de sempre em Portugal acabou por não chegar a ser. Mesmo assim, a magnitude da operação requereu operações diplomáticas junto do Governo. Lembrou o empresário, pouco tempo depois de a OPA da Sonaecom ter falhado em definitivo com o chumbo numa assembleia geral da PT, realizada em março de 2007:
Foi a única vez que, com o meu filho Paulo, e pela dimensão do projeto, decidi ir falar com o Primeiro-Ministro, por uma razão simples: era uma OPA hostil e um dos acionistas era o Estado, com uma golden share. Se o Governo nos tivesse dito nessa altura que não, que seria contra a venda da PT, nós não teríamos lançado a operação. [Sócrates] ficou muito espantado e elogiou imenso a ousadia da Sonae. Por isso, avançámos”.
E acusou o antigo Primeiro-Ministro de ter dado ordens à CGD (Caixa Geral de Depósitos) para votar contra a milionária proposta da Sonae. Dizia o empresário:
Perguntei a cinco antigos presidentes da CGD quem mandava em situações como aquela e todos me disseram o mesmo: a independência da administração é total, exceto relativamente à EDP, Galp e PT. Não tenho, pois, dúvidas de que o voto contra da Caixa, na Assembleia Geral que chumbou a OPA, foi ditado pelo Governo. Todos os sabem. E estou convencido de que ainda vou ter vida suficiente para saber exatamente como tudo se passou nos bastidores.”.
Foi a partir daqui que o Público arrancou com a celeuma da licenciatura de Sócrates, cujo dossiê já estava preparado há dois anos, como chegou a revelar o então diretor do jornal, só que ainda não tinha sido encontrado o tempo próprio para a publicação.
De alguma forma, o tempo deu-lhe razão. Em 2015, os investigadores do Ministério Público iniciaram a investigação o falhanço desta OPA. Este ano, quando foi conhecida a acusação da Operação Marquês, soube-se que Sócrates é suspeito de ter recebido, de Ricardo Salgado, seis milhões de euros para travar a OPA à PT. Vamos ver se a acusação tem consistência e se prova.
Carlos Tavares travou a compra da Portucel em 2002. Este foi outro dos grandes confrontos de Belmiro com o poder político. O Governo pretendia privatizar a papeleira Portucel, onde detinha uma posição de 56%. Entre os interessados estava a Sonae, o segundo maior acionista da papeleira portuguesa com 25% do capital. Belmiro queria ter o controlo absoluto, ter o poder de decidir o futuro da empresa que trabalhava num setor que a Sonae bem conhecia. Mas essa não era a intenção do Ministro da Economia, Carlos Tavares, que definiu através do modelo de privatização que a Portucel “não deverá ser dominada por um único acionista”, tendo os acionistas que habituar-se a partilhar o poder.
A postura ministerial foi encarada pelo empresário como uma clara orientação política numa privatização que deveria seguir as regras do mercado ou que, pelo menos, favorecesse um grupo português. Por isso, o então presidente da Sonae cortou relações com Carlos Tavares, acusando-o de revelar frustração por nunca ter gerido uma empresa. Numa entrevista ao Semanário Económico publicada na altura, Belmiro declarava:
O Governo poderia fazer o que é normal, que é proteger um grupo português (…). Houvesse uma grande empresa portuguesa para privatizar que fosse para portugueses.”.
Fora da corrida pela Portucel, a Sonae vendeu a sua posição em 2004 por cerca de 300 milhões de euros, depois de aceitar a proposta de aquisição da Semapa, de Pedro Queiroz Pereira. Anos mais tarde, Paulo Azevedo reconhecia em declarações ao Jornal de Negócios que “felizmente não ficou mal entregue”. É a Navigator atual, uma das maiores papeleiras do mundo.
O samba no Brasil também correu mal. Poucos anos após se ter iniciado no setor do retalho e distribuição em Portugal, a Sonae tentava internacionalizar-se neste segmento. Foi no Brasil que comprou parte da CDR em 1989 e, embora tenha adquirido depois a totalidade deste grupo, a operação brasileira nunca trouxe o retorno desejado para o empreendedor.
Sendo verdade que os grandes grupos de retalho nacionais raramente singraram no Brasil, por várias vezes, o próprio Belmiro disse não recusar uma proposta pelo seu negócio de distribuição que fosse suficientemente atrativa, a qual apareceu. Através da Modelo Investimentos Brasil, o grupo português vendeu todas as lojas que detinha naquele mercado por 635 milhões de euros ao grupo americano Wal-Mart, tendo garantido não investir ali tão cedo.
Se agora se insurgia contra a compra da Media Capital pela Altice, há uns anos era a Sonae que procurava alargar os seus interesses nos conteúdos televisivos. Mais concretamente em 1998, tinha a TVI cinco anos de vida, quando Belmiro assumiu posição de destaque dentro da estação de Queluz. Em junho desse ano, a Sonae associou-se à Cisneros e à Lusomundo para ficar com a gestão daquele canal. E foi por indicação de Belmiro que José Eduardo Moniz assumiu funções como diretor-geral da estação. Mesmo assim, a aventura da Sonae na TVI acabaria por não durar muito tempo. A Media Capital de Pais do Amaral açambarcou as posições de referência daquelas três empresas e passou a deter mais de 90% do capital da TVI.
A história da OPA do BCP ao BPA é mais um capítulo em que as coisas não correram ao gosto de Belmiro de Azevedo. Em 1992, na sequência do processo de privatização do BPA (Banco Português do Atlântico), a Sonae vislumbrou a oportunidade de controlar um banco português. E, durante algum tempo, manteve tal expectativa, pois contava com aliados poderosos, entre eles grupo Mota, a Riopele, a RAR, Ilídio Pinho, a Soares da Costa, a Valongo, a Maconde, a Quintas e a Salvador Caetano. Magalhães Pinto, quadro do BPA, recorda no livro que conta os 50 anos da história da Sonae:
Quando a Sonae entra no BPA, a sua intenção era ser uma acionista de referência do maior banco português e, se possível, controlar. Estes eram os objetivos fundamentais. Ainda que fosse importante a alavanca poderosíssima que seria esse controlo para o resto dos negócios da Sonae.”.
Mas a administração do banco liderado por João Oliveira queria que fossem os quadros a mandar, como acontecia no alemão Deutsche Bank. E a perfeita distribuição do controlo do capital do BPA pelos vários acionistas permitiu tal gestão independente durante algum tempo, até que o BCP lançou uma primeira OPA em 1995, sem grandes resultados.
Tentaram blindar os estatutos do banco para evitar uma nova OPA no futuro. Administração e acionistas estavam de acordo, com exceção da Sonae, o maior acionista com 9% do BPA, que queria controlar totalmente a instituição.
Terá sido o Ministro das Finanças da altura, Eduardo Catroga, a convidar o BCP para lançar um novo ataque ao BPA. E O BCP respondeu afirmativamente deixando quase todos os acionistas aliviados. Só a Sonae ficou descontente, batalhando até ao último momento para evitar o sucesso da OPA, agindo de modo próprio, quase sem aproximação à administração do banco e, a certa altura, contando com o apoio do BPI. Belmiro só se deu por vencido quando o BPI foi informado de que o governo não autorizava a operação. Mas o BPA foi mais tarde absorvido pelo BCP/Milennium.
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É um homem emoldurado por êxitos e fracassos que vale a pena apreciar. Caso contrário, estaríamos perante o santo ou o mito. O santo venera-se; o mito não existe, a não ser para animar a alma dos povos. De resto a economia não vive de mitos e é pena se a política se alimenta deles.
E a nossa história regista uma plêiade de homens corajosos, mas que, às vezes, conheceram o fracasso e a derrota e não foram menos portugueses e menos humanos por isso.

2017.11.30 – Louro de Carvalho

Mário Centeno apresentou candidatura à presidência do Eurogrupo

Depois de toda a especulação em volta da matéria, o Ministro das Finanças português candidatou-se à presidência do Eurogrupo, o grupo informal dos ministros das Finanças da Zona Euro. A notícia foi confirmada hoje, dia 30, pelo gabinete do Primeiro-Ministro, António Costa. Se vencer a votação da próxima segunda-feira, dia 4 de dezembro, o Ministro das Finanças português sucederá a Jeroen Dijsselbloem. A este respeito, pode ler-se na nota enviada pelo Governo às redações:
O Governo português apresentou esta manhã a candidatura do Ministro das Finanças, Mário Centeno, à presidência do Eurogrupo. A eleição terá lugar na próxima reunião do Eurogrupo, agendada para segunda-feira, dia 4 de dezembro.”.
Os candidatos tinham até às 11 horas, hora de Lisboa, o limite temporal para entrarem na corrida. Esta quinta-feira, Mário Centeno foi dado como favorito pelo Financial Times. O jornal britânico assinalou que os líderes europeus preferem Mário Centeno ao seu principal concorrente, o italiano Padoan, devido à insegurança decorrente das eleições legislativas que se aproximam em Itália.
O Ministro português reúne já vários apoios. Segundo o Financial Times, Angela Merkel e Emmanuel Macron reuniram-se, no dia 29, com os primeiros-ministros de Portugal e de Itália, para decidirem quem deveria avançar: se Centeno, se o ministro italiano, Pier Carlo Padoan. A escolha nessa reunião restrita terá recaído no ministro português.
A imprensa italiana avança que Itália irá apoiar Centeno e também Luis de Guindos, Ministro das Finanças espanhol, já assumiu o apoio ao ministro português, apesar das diferenças partidárias – PP vs PS.
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Para lá de Mário Centeno, sabe-se que a Ministra letã das Finanças, Dana Reizniece-Ozola, também já apresentou a candidatura à presidência do Eurogrupo.
As reações não se fizeram esperar. O eurodeputado Carlos Zorrinho deixou claro no seu Twitter que Centeno é “um excelente candidato”, juntando esta frase à partilha de uma notícia.
Por seu turno, Maria Manuel Leitão Marques, Ministra da Presidência, disse: “Ficámos muito contentes com a candidatura, mas ficaremos mais contentes se ele vier a ser eleito”. Afirmando que os membros do Executivo de Costa estão “contentes” e “satisfeitos” com a candidatura de Centeno ao Eurogrupo visto que “reconhece o mérito do nosso ministro das Finanças”, a governante sublinhou que se Mário Centeno for eleito, tal função “não é incompatível com as funções atuais”. Contudo, não se apressou a fazer previsões.
Assunção Cristas diz que um português no cargo é prestigiante para Portugal, mas pode não ser efetivamente útil.
Já o jornalista e comentador Daniel Oliveira sustenta que a eventual eleição de Mário Centeno é deveras prejudicial para o país. Comparando esta candidatura com a de Durão Barroso para a presidência da Comissão Europeia em 2004, o crítico estabelece a semelhança entre este momento e aquele, sendo ambos de crise das instituições europeias. Assim, escolhe-se líder fraco para poder fazer o jogo dos grandes. Porém, a situação de agora é pior, visto que o presidente do Eurogrupo acumula com o desempenho de Ministro das Finanças de Portugal, o que não lhe dá margem de manobra para negociar com a Europa. Pode até vir a ser mais pasta que o Papa na postura internacional do Euro.  
A lista final de candidatos ao cargo de presidente do Eurogrupo só será divulgada no dia 1 de dezembro, mas crê-se que Centeno terá pelo menos a concorrência dos seus homólogos da Letónia e da Eslováquia.
Contactada pela Lusa, a assessoria de imprensa do presidente do Eurogrupo escusou-se a revelar quantos candidatos estão na corrida à sucessão de Jeroen Dijsselbloem, apontando que a lista definitiva será publicada na sexta-feira de manhã, tal como já indicara o ainda presidente do fórum de ministros das Finanças da zona euro por ocasião do lançamento das candidaturas, em meados de novembro.
O Primeiro-Ministro salientou que a candidatura portuguesa à presidência do Eurogrupo procura estabelecer consensos e “reunir todos” à volta dos desafios que a moeda única europeia enfrenta e das reformas de que precisa. Disse Costa que efetivamente “a nossa lógica é de ajudar a contribuir para o consenso, reunir todos”. Foi uma afirmação proferida perante os jornalistas, à margem da cimeira entre a União Europeia e a União Africana, que termina hoje em Abidjan, na Costa do Marfim, precisando:
A Zona Euro sofreu muitas divisões nos últimos anos, entre famílias políticas e de diferentes regiões, e precisamos de uma Europa mais unida e mais forte, e estamos numa posição privilegiada de contribuir para isso”.
E acrescentou o Primeiro-Ministro:
Nos contactos prévios que estabelecemos confirmámos que os governos das mais diversas famílias políticas e zonas geográficas da Europa reconhecem na candidatura portuguesa as condições adequadas”.
Depois, salientou:
Julgamos que reunimos um bom lote de apoios e boas condições para apresentar uma postura construtiva para fazer as reformas necessárias na zona euro, completar a união económica e monetária, e que também ajude a ultrapassar as divisões que tivemos no passado e que agora, nesta fase de mudança e construção do futuro da Europa, possamos também dar esse contributo”.
Questionado sobre o grau de probabilidade da vitória de Mário Centeno na votação do próximo dia 4 de dezembro, António Costa gracejou dizendo que “prognósticos só se fazem depois da votação”, mas mostrou “confiança nesta candidatura” e a “certeza de que é boa para o conjunto da Europa e da zona euro”.
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Como se disse, Mário Centeno é o favorito para se tornar presidente do Eurogrupo, segundo escreve hoje o Financial Times. O Ministro das Finanças português é favorecido pelos líderes europeus, segundo diplomatas que falaram ao jornal, já que o seu principal concorrente à esquerda, o italiano Pier Carlo Padoan, pode estar de saída nas eleições que se avizinham em 2018 em Itália.
Na cimeira europeia na Costa do Marfim, escreve o Financial Times, os líderes europeus reuniram-se para debater os seus favoritos para o Eurogrupo, já que,  de acordo com os termos definidos pelas autoridades europeias, o prazo para a submissão de candidaturas terminou hoje às 11 horas.
Já se sabia que o Eurogrupo favoreceria um candidato de esquerda para a sua liderança, devido a um equilíbrio que, por acordo tácito, deve haver entre forças de esquerda e direita nas posições de liderança dos diferentes braços europeus.
A lista oficial dos candidatos será publicada, como foi dito, amanhã, e os ministros das Finanças dos países europeus farão uma eleição por voto secreto para escolher quem vai substituir o atual presidente, o holandês Jeroen Dijsselbloem, na próxima reunião, que decorrerá em Bruxelas, no próximo dia 4.
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A eventual escolha de Centeno é uma espécie de pescadinha com o rabo na boca. Portugal precisa de ter uma personalidade forte para negociar metas e esperas com o Eurogrupo, com a Comissão Europeia e com o BCE. O ter um português a presidir a uma instância internacional pode ser prestigiante. Ora, o prestígio não é despiciendo nas relações internacionais. Todavia, não é do prestígio que vive o país. E, se Mário Centeno desempenhar um papel a descontento de Portugal, Costa não tem como o contrariar ou o fazer mudar de rumo. O Eurogrupo não é um departamento do Governo de Portugal, nem vejo como Costa o venha a demitir do cargo de Ministro das Finanças ou que o venha a contrariar de forma eficaz.
Se posso duvidar de que a gestão portuguesa da Comissão Europeia tenha sido nefasta para Portugal, tenho de reconhecer que está por demonstrar que ela tenha sido benéfica.
Quanto a Centeno, há que esperar para ver. Primeiro, será mesmo eleito? Segundo, que fará com a eleição?
Que, sem se pôr em bicos de pés – atitude de que ninguém gosta – saiba ler bem a realidade do país e a realidade da Europa!

2017.11.30 – Louro de Carvalho 

As cores litúrgicas dos paramentos

Preâmbulo
As cores usadas durante as celebrações litúrgicas representam o tempo litúrgico e as caraterísticas específicas da respetiva celebração. São, essencialmente quatro as cores que marcam, durante todo o ano, os diversos momentos vividos pela Igreja. Estas cores e mais algumas utilizáveis em circunstâncias adiante especificadas foram fixadas em Roma há séculos, mais precisamente no século XII, contra a comum preferência inicial pela cor branca, e, em seguida, os cristãos do mundo inteiro aderiram ao estilo da diversificação das cores.
Em termos históricos, Cristo e os apóstolos utilizavam as vestes de forma, cores e adereços comuns aos demais cidadãos. Quando a Igreja se estabeleceu no Império, a cor era vivenciada a partir do imperador romano. Se ele saía para uma guerra, ia de vermelho. Se ia para um casamento, de dourado. Então, a Igreja cristianizou a cor como um símbolo, e esse símbolo ajuda a celebrar tal como sucede com os sons das palavras e das músicas, as flores e as velas (as flores representam tudo o que temos de terno, belo e fecundo; e as velas o produto do trabalho e a fonte de alimentação da luz, que haurimos de Cristo).
Mas há também um fundamento natural e social das cores para o uso litúrgico. A imensa variedade de cores que povoam a natureza ou que nós próprios conseguimos criar e redefinir, dando-lhes novas acentuações e tonalidades, possui a maravilhosa e esfuziante capacidade de simbolizar realidades e sentimentos humanos. Usamo-las, por vezes, em sentido convencional e prático (as cores do semáforo: verde amarelo, vermelho ou amarelo intermitente; a bandeirinha para fazer parar ou avançar o comboio ou assinalar falta no jogo), outras vezes como símbolo de uma nação (as cores da bandeira nacional), de uma entidade religiosa (as cores da bandeira do Vaticano, pano de fundo para imagens de mistérios de Cristo ou da Virgem, Anjos e Santos), de um organismo internacional (as cores da bandeira da UE) ou menos prosaicamente de uma associação desportiva ou cultural, duma escola, duma unidade militar ou dum partido político, etc. 
O simbolismo que se atribui às cores varia de cultura para cultura. No mundo ocidental de raiz europeia e cristã, tal como noutras culturas influenciadas por esta civilização, algumas cores exprimem alegria, pureza e festa, como a cor branca. Outras, como a cor vermelha, indicam o perigo do fogo ou a intensidade do amor, ao passo que a cor verde se converteu no símbolo da ecologia: a natureza defendida na sua pureza, sem contaminação. Por isso, não é de estranhar que também no campo religioso as várias cores tenham sentido simbólico. 
Por isso, percebemos em cada cor uma distinção diferente, um significado, uma alegria ou outro sentimento, que nos ajuda a entrar em contacto com o mistério da revelação de Cristo para nós.
Assim, através das cores, a liturgia sagrada da  Igreja apresenta uma específica linguagem simbólica  muito expressiva. Cada uma das cores representa um momento celebrado pela Igreja, seja alguma festa ou solenidade. As diferentes cores das vestes litúrgicas visam manifestar externamente o caráter dos mistérios celebrados e também a consciência de uma vida cristã que progride com o desenrolar do ano litúrgico.
O ano litúrgico começa com a cor roxa, a cor que assinala o início de tudo. É o tempo do Advento. As outras cores são: a vermelha, verde, branca. Pode usar-se a rosa em dois domingos (o 3.º do Advento e o 4.º da Quaresma) e a preta nas celebrações dos defuntos em alternativa à roxa, onde a paramentaria preta está em uso arreigado e o material está em bom estado. Também no Advento, em alternativa à cor roxa, pode usar-se a violácea.
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Que objetos litúrgicos podem ser atingidos pelas cores?
O destaque vai para os paramentos do sacerdote e dos diáconos na Missa. Assim, vemos a mudança de cor na casula e na estola do sacerdote que preside à celebração eucarística ou à ação litúrgica da tarde em Sexta-feira Santa, bem como na estola dos concelebrantes e dos diáconos (a destes a tiracolo). Há estolas de duas cores (era comum utilizar-se a face roxa da estola para a 1.ª parte do batismo e para a confissão e a face branca para a segunda parte do batismo e para a distribuição da Comunhão fora da missa). Veem-se as cores nas dalmáticas dos diáconos como se viam nas tunicelas dos subdiáconos (em muitas igrejas só havia dalmáticas). Também o manípulo, quando era utilizado, mudava de cor consoante a casula. As cores diversificavam-se no véu do cálice, na face da bolsa dos corporais (havia-as com quatro cores, uma por cada face), no frontal do altar, no véu que pode cobria porta do sacrário, na capa (designada por “capa magna”, “capa de asperges” ou simplesmente “pluvial”), no véu de ombros ou umeral, no pálio processional e nalgumas cruzes processionais.
Há ainda quem as exprima no cíngulo.
De resto, amito, alva, sobrepeliz e roquete são de cor branca.

Os significados das cores
São atribuíveis às cores em liturgia os seguintes significados:
O branco simboliza a luz, a alegria, a ressurreição, a vitória, a inocência, a pureza, a purificação, a alegria e a glória.
As cores dourada e prateada, alternativas ao branco, podem ser usadas nos dias festivos, em sua substituição, assim como a cor azul, que pode ser usada nalgumas festas e solenidades da Santíssima Virgem Maria, como se verá.
O vermelho simboliza o sangue, o fogo do amor, do Espírito Santo, da caridade ou do martírio. Simboliza sobretudo o sangue de Cristo e dos sues mártires
O verde, a cor base dos vegetais, simboliza a esperança e a vida. Está ligado ao crescimento.
O roxo simboliza a penitência, a contrição, a serenidade, a sobriedade, a temperança e a esperança contra as adversidades.
Quanto ao tempo do Advento, há uma tendência a se usar o violeta ou violáceo, em vez do roxo, para diferenciá-lo do tempo quaresmal (penitência) e acentuar a dimensão de alegre expectativa da vinda do Senhor.
O preto simboliza a tristeza, a dor, a luto. Significa o choro da Igreja diante da morte de Nosso Senhor Jesus Cristo e dos seus fiéis.
Hoje é pouco usado na liturgia, substituído pelo roxo nas celebrações dos defuntos e pelo vermelho em Sexta-feira Santa.
O rosa simboliza a alegria dentro de um tempo destinado à penitência.
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Utilização das cores na liturgia na História
Nos primeiros séculos, a liturgia cristã foi muito despojada em todos os aspetos, para não imitar a liturgia judaica nem os cultos pagãos, cujos cerimoniais eram espetaculares, e para não expor demasiado a Igreja às perseguições que acompanharam a sua implantação no vasto mundo romano. Quanto maior fosse a simplicidade e o despojamento em todos os aspetos da vida da Igreja e da liturgia, menos dava nas vistas. No respeitante às cores das vestes, não havia mais distinções do que cores mais alegres para as celebrações festivas e cores sombrias para os dias de penitência. 
A cor branca é a única que aparece referenciada nos ritos batismais, como a cor própria dos neófitos: “Nas águas do baptismo fostes revestidos com vestes brancas” (Antologia Litúrgica, n. 1502); “Para a Igreja é uma alegria espiritual ver perto de si a sua família vestida de branco” (id, n. 2027); “As vestes brancas, através das quais se grava na nossa memória, como se fosse uma palavra visível, o gérmen de luz presente na vossa vida nova, mudai-as, sim, mas sem mudar o que elas simbolizam: o resplendor da luz da fé e da verdade” (id, n. 3984). 
No século V, os bispos celebravam revestidos de vestes de linho, ou seja, de cor branca: Quando fazes estes votos e este pacto, então aproxima-se o pontífice, que não usa a veste habitual, nem sequer está revestido com as vestes que ordinariamente traz sobre si, mas é envolvido por uma veste de linho delicada e esplendorosa” (Antologia Litúrgica, n. 2841). 
As primeiras e escassas notícias seguras sobre algumas cores litúrgicas para lá da branca, são do século VIII. No século XII, na obra do Papa Inocêncio III, De sacro altaris mysterio, I, n. 64, fala-se já de 4 cores, cuja escolha era feita por razões simbólicas: branca, vermelha, preta e verde. Foram essas as cores fixadas pelo Missal de São Pio V (1570), acrescentadas da cor roxa. 
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Cores litúrgicas na atualidade
As cores litúrgicas na Igreja Católica Apostólica Romana são reguladas pelo n.º. 346 da IGMR (Instrução Geral do Missal Romano), 3.ª edição típica, promulgada em março de 2002 com a nova edição do Missal Romano. A IGMR estipula que seja sempre observado o uso tradicional, mas a Conferência Episcopal pode determinar e propor à Santa Sé adaptações que correspondam às necessidades e ao caráter de cada povo.
As cores aprovadas pela IGMR, segundo o uso tradicional, e seus respetivos tempos de uso, ao longo do ano litúrgico, são: o branco, o vermelho, o verde, o roxo e, eventualmente, o preto e o rosa. O uso de diversas cores na liturgia da Igreja surgiu, como se viu, dos significados místicos atribuídos a cada uma delas. As cores não previstas diretamente na IGMR, como o dourado, o prateado e o azul serão referidas mais adiante.
O branco – a cor mais festiva da Igreja – é usado nos Ofícios e Missas da Páscoa e Tempo Pascal e do Tempo do Natal do Senhor – domingo e dias feriais –, bem como nas suas solenidades, festas e memórias, exceto as da Paixão (domingo de Ramos ou da Paixão e Sexta-Feira Santa); nas solenidades, festas e memórias da Bem-aventurada Virgem Maria, dos Santos Anjos, dos Santos não Mártires, na festa de Todos os Santos (1 de novembro), na Natividade de São João Batista (24 de junho), na festa de São João Evangelista (27 de dezembro), da Cátedra de São Pedro (22 de fevereiro), da Dedicação das Igrejas e da Conversão de São Paulo (25 de janeiro). Simboliza a luz, a pureza e a glória.
O vermelho é usado no Domingo de Ramos ou da Paixão e na Sexta-feira Santa; no domingo de Pentecostes, nas celebrações da Paixão do Senhor (e da Exaltação da Santa Cruz), nas solenidades e festas dos Apóstolos e Evangelistas (com exceção de São João), e nas celebrações dos Santos Mártires. Simboliza as línguas de fogo em Pentecostes e o sangue derramado por Cristo (o Mártir do Gólgota) e pelos mártires, além de indicar a caridade inflamante.
O verde – o paramento mais comum, que abrange a maior parte do calendário litúrgico e nos mostra a esperança, o que nós estamos sempre esperando, algo novo, algo interessante – usa-se nos Ofícios e Missas do Tempo Comum (domingos e dias feriais). Simboliza a cor das plantas e árvores, prenunciando a esperança da vida eterna.
O roxo usado no Tempo do Advento e no Tempo Quaresmal.
O Roxo no Advento: o roxo no advento não significa penitência, mas recolhimento, purificação da vida pela justiça e pela verdade, preparando os caminhos do Senhor. Vem acompanhado do sentido de um recolhimento que alimenta uma esperança.
O Roxo na Quaresma: aqui o roxo se refere a profunda interiorização num tempo forte de penitência e conversão, de jejum e oração. É também a espera por um grande acontecimento, que nos convoca a uma preparação adequada.
O preto pode ser usado, onde for o costume, nas Missas e Ofícios pelos mortos. Denota um símbolo de luto, significando a tristeza da morte e a escuridão do sepulcro (chegou a usar-se em Sexta-feira Santa). Ao contrário do que pensam muitos clérigos e leigos, a cor preta não foi abolida nem pela IGMR anterior (que acompanhava o Missal de S.S. Papa Paulo VI) nem pelo atual. Segue como opção para a missa pelos mortos, onde for costume utilizá-la. Em Portugal e no Brasil, contudo, o uso do preto nas celebrações pelos fiéis defuntos foi, na prática, abolido, havendo sido substituído pelo uso do roxo, uso este facultado pela própria IGMR. Isto não constitui óbice, contudo, para que um clérigo venha a utilizar paramentos negros.
O rosa, variação mais clara do roxo, representa uma quebra na austeridade do Advento e da Quaresma, simbolizando uma alegria contida, podendo ser usada nos domingos Gaudete (III do Advento) e Lætare (IV da Quaresma), ocasiões em que também poderá ser utilizado o roxo.
O dourado pode substituir todas as outras cores, menos o preto.
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Cores não previstas na IGMR
Encontram-se com frequência em uso cores não previstas diretamente na IGMR, sobretudo. cores para dias festivos.
A nova IGMR não repete, em sua edição latina, o texto do antigo n.º. 309, que estabelecia: “Em dias de maior solenidade podem ser usadas vestes litúrgicas mais nobres, mesmo que não sejam da cor do dia”. Contudo, a manutenção de tal norma subjaz à interpretação do atual n.º. 347 (antigo 310), ao estatuir que “As Missas Rituais são celebradas com a cor própria, a branca ou a festiva”. Ora, se as missas rituais podem ser celebradas facultativamente com a cor própria do dia ou com a branca ou com a festiva, compreende-se que a festiva seria precisamente aquela espécie de vestes mais nobres, ainda que não da cor do dia, como estava no antigo n.º. 309.
Um exemplo patente de uso de veste festiva na Liturgia são as cores dourada e prateada em substituição do branco, uso bastante difundido em Portugal e Brasil e pelo mundo. Outro exemplo interessante foi o uso de uma casula multicolorida por S.S. João Paulo II quando da abertura da Porta Santa no Ano Jubilar de 2000 D.C.
Contudo, deve-se estar atento ao aviso feito na Instrução Redemptoris Sacramentum pela Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos:
Esta faculdade, que também se aplica adequadamente aos ornamentos fabricados há muitos anos, a fim de conservar o património da Igreja, é impróprio estendê-las às inovações, para que assim não se percam os costumes transmitidos e o sentido de que estas normas da tradição não sofram menosprezo, pelo uso de formas e cores de acordo com a inclinação de cada um. Quando seja um dia festivo, os ornamentos sagrados de cor dourada ou prateada podem substituir os de outras cores, exceto os de cor preta.”.
Cabe também mencionar o uso litúrgico da cor azul para festas e solenidades da Santíssima Virgem Maria. O azul não é uma cor litúrgica prevista pela IGMR, mas o seu uso é largamente difundido em Portugal, Brasil e outros países. A origem de seu uso litúrgico moderno parece remontar a um privilégio papal dado a algumas dioceses espanholas e portuguesas para uso na Solenidade da Imaculada Conceição. Segundo o Pe. Polycarpus Rado,  “A cor cerúlea foi usada no medievo, sendo agora permitida apenas em algumas dioceses da Espanha na festa da Imaculada Conceição e nas missas de sábado”. O privilégio teria sido estendido aos países da América Latina de colonização espanhola, bem como às Filipinas (também ex-colónia espanhola). Em Portugal, haveria o privilégio do uso litúrgico do azul na Solenidade da Imaculada Conceição em favor das celebrações realizadas na Capela de São Miguel da Universidade de Coimbra, em razão da defesa do dogma da Imaculada Conceição por esta secular instituição académica. O privilégio também se estenderia à Áustria e à Baviera, à arquidiocese de Los Angeles, à arquidiocese de Saint Louis (EUA), aos carmelitas, aos beneditinos ingleses, ao Instituto Cristo Rei e Sacerdote e a alguns santuários marianos.
Alguns liturgistas exprobam o uso de uma cor não autorizada na Liturgia. Contudo, podem-se utilizar os seguintes argumentos na defesa de seu uso litúrgico:
- Sabendo-se que o costume também é fonte do Direito Canónico, poder-se-á argumentar que o azul para festas marianas se incorporou, por via consuetudinária, nas cores litúrgicas da Igreja.
- Se a IGMR permite que paramentos festivos de outra cor que não a do dia sejam usados em ocasiões especiais (por exemplo, o dourado e o prateado, ambos não previstos na edição latina da IGMR), como já explicado, não há razão por que impedir o azul nas solenidades e festas de Maria Santíssima.
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Ao longo do ano, nas nossas celebrações litúrgicas, usa-se sabiamente a pedagogia das cores, para “exprimir externamente de modo mais eficaz, por um lado, o carácter peculiar dos mistérios da fé que se celebram e, por outro, o sentido progressivo da vida cristã ao longo do ano litúrgico” (IGMR 345).
Assim, o Tempo Pascal e o Natal do Senhor celebramo-los de branco, a cor da alegria, da pureza e da luz. E o fazemos mesmo nas celebrações do Senhor, exceto nas da Paixão, nas da Virgem Maria, dos Anjos e dos Santos não mártires, como participantes na Páscoa de Cristo, e nas solenidades de Todos os Santos e de São João Baptista, nas festas de São João Evangelista, da Cadeira de São Pedro e da Conversão de S. Paulo (cf IGMR 346 a). 
Usamos o vermelho no Domingo de Ramos, na Sexta-Feira Santa, dia em que celebramos o protótipo dos Mártires, no Domingo do Pentecostes, o dia do Espírito, que é fogo e amor, nas celebrações da Paixão do Senhor, nas solenidades e festas natalícias dos Apóstolos e Evangelistas e nas celebrações dos Santos Mártires, que pedem o vermelho, porque participaram na morte de Cristo como suas testemunhas (cf IGMR 346 b). 
A cor verde, símbolo da vida e da esperança, é aquela que se usa mais vezes durante o ano, nos domingos e dias feriais do Tempo Comum (cf. IGMR 346 c). 
Usa-se a cor roxa, símbolo da dor e da penitência, no Tempo do Advento e da Quaresma, podendo também usar-se nas Missas de defuntos em vez do negro (cf IGMR 346 d). 
A cor preta, símbolo do luto na cultura europeia (mas não nas culturas orientais e africanas), pode usar-se, onde for costume, nas Missas de defuntos (cf IGMR 346 e).
 No III Domingo do Advento e no IV Domingo da Quaresma pode celebrar-se a Missa com vestes cor-de-rosa, alívio do roxo (cf IGMR 346 f). 
“Nos dias mais solenes podem usar-se paramentos festivos ou mais nobres, ainda que não sejam da cor do dia” (IGMR 346 g). É o caso dos chamados paramentos de tecido de ouro, desde que se trate de ouro verdadeiro e não de uma imitação feita com seda amarela. 
Permanece aberta a porta para a adaptação às diversas culturas, porque se trata, não só de uma certa estética simbólica, mas de ajudar, também através desta pedagogia da cor, a que os cristãos entrem mais facilmente no mistério que celebram. Por isso, “As Conferências Episcopais podem, no que respeita às cores litúrgicas, determinar e propor à Sé Apostólica as adaptações que entenderem mais conformes com as necessidades e a mentalidade dos povos” (IGMR 346 g). 
Em Portugal, Espanha e países da América latina podem usar-se paramentos de cor azul em certas festas de Nossa Senhora, nomeadamente na Solenidade de Nossa Senhora da Conceição. 
Assim, no santuário de Vila Viçosa, utilizam-se paramentos azuis na solenidade da Imaculada Conceição (8 de dezembro), na solenidade da Assunção de Nossa Senhora ao Céu (15 de agosto), e nas memórias de Santa Maria no Sábado (sábados do Tempo Comum em que não há memória obrigatória). Este costume vem da tradição oral. O uso ali de paramento azul é um privilégio concedido por Roma, mas não se conhece o documento em que isso conste. Existem ali alguns jogos de paramentos, mas nenhum é antigo, sendo os mais antigos e ricos os brancos.
Quanto ao uso de paramentos azuis noutras paróquias de Portugal, é de referir que numa paramentaria de Fátima se vendem paramentos de cor azul, o que será sinal de que os procuram.
Santo Agostinho dizia aos neófitos a quem falava das vestes brancas que receberam no batismo:
Filhinhos, o mais importante é que não vos mancheis com a sujidade dos maus costumes, para que, naquele dia, não vos encontreis nus e possais passar sem dificuldade do resplendor da fé ao resplendor da realidade. Quando, ao sair destas grades, que punham à parte a vossa infância espiritual vos misturardes com o povo, o que vai acontecer solenemente neste dia, uni-vos aos bons e lembrai-vos de que as más companhias corrompem os bons costumes: sede sóbrios, sede justos, e não continueis a pecar.” (Antologia Litúrgica, n. 3984). 
Santo Agostinho ia sempre direito ao essencial, mesmo sem deixar de falar no acidental. O nosso problema, cada vez mais comum, é que andamos todos à procura do acidental e periférico e abandonamos o essencial. As cores das vestes litúrgicas têm a sua importância hoje; já tiveram muito mais ontem; mas começaram por ter pouca. Uma coisa, porém, foi sempre, ainda é e continuará a ser amanhã, depois de amanhã e até ao fim dos tempos: a urgência da santidade que não tem cor mas fica bem com todas as cores. “Sede santos em todo o vosso proceder, conforme diz a Escritura: Sede santos, porque Eu sou santo” (1 Pe 1,15-16).
Na verdade, a santidade é a cor preferida por Deus. 

2017.11.29 – Louro de Carvalho