Depois de toda a especulação em volta da matéria, o Ministro
das Finanças português candidatou-se à presidência do Eurogrupo, o grupo
informal dos ministros das Finanças da Zona Euro. A notícia foi confirmada
hoje, dia 30, pelo gabinete do Primeiro-Ministro, António Costa. Se vencer a
votação da próxima segunda-feira, dia 4 de dezembro, o Ministro das Finanças
português sucederá a Jeroen Dijsselbloem. A este respeito, pode ler-se na nota
enviada pelo Governo às redações:
“O
Governo português apresentou esta manhã a candidatura do Ministro das Finanças,
Mário Centeno, à presidência do Eurogrupo. A eleição terá lugar na próxima
reunião do Eurogrupo, agendada para segunda-feira, dia 4 de dezembro.”.
Os
candidatos tinham até às 11 horas, hora de Lisboa, o limite temporal para
entrarem na corrida. Esta quinta-feira, Mário Centeno foi dado como
favorito pelo Financial Times. O jornal britânico assinalou que os
líderes europeus preferem Mário Centeno ao seu principal concorrente, o
italiano Padoan, devido à insegurança decorrente das eleições legislativas que
se aproximam em Itália.
O Ministro português reúne já
vários apoios.
Segundo o Financial
Times, Angela
Merkel e Emmanuel Macron reuniram-se, no dia 29, com os primeiros-ministros de
Portugal e de Itália, para decidirem quem deveria avançar: se Centeno, se o
ministro italiano, Pier Carlo Padoan. A escolha nessa reunião restrita terá
recaído no ministro português.
A
imprensa italiana avança que Itália irá apoiar Centeno e também Luis de
Guindos, Ministro das Finanças espanhol, já assumiu o apoio ao ministro
português, apesar das diferenças partidárias – PP vs PS.
***
Para
lá de Mário Centeno, sabe-se que a Ministra letã das Finanças, Dana
Reizniece-Ozola, também já apresentou a candidatura à presidência do Eurogrupo.
As reações
não se fizeram esperar. O eurodeputado Carlos Zorrinho deixou claro no seu
Twitter que Centeno é “um excelente candidato”, juntando esta frase à partilha
de uma notícia.
Por seu turno, Maria Manuel
Leitão Marques, Ministra da Presidência, disse: “Ficámos muito contentes com a candidatura, mas ficaremos mais contentes
se ele vier a ser eleito”. Afirmando que os membros do Executivo de Costa
estão “contentes” e “satisfeitos” com a candidatura de Centeno ao Eurogrupo
visto que “reconhece o mérito do nosso ministro das Finanças”, a governante sublinhou que se Mário Centeno
for eleito, tal função “não é incompatível com as funções atuais”. Contudo, não
se apressou a fazer previsões.
Assunção Cristas diz que um português no cargo é prestigiante para
Portugal, mas pode não ser efetivamente útil.
Já o jornalista e comentador Daniel Oliveira sustenta que a
eventual eleição de Mário Centeno é deveras prejudicial para o país. Comparando
esta candidatura com a de Durão Barroso para a presidência da Comissão Europeia
em 2004, o crítico estabelece a semelhança entre este momento e aquele, sendo
ambos de crise das instituições europeias. Assim, escolhe-se líder fraco para
poder fazer o jogo dos grandes. Porém, a situação de agora é pior, visto que o
presidente do Eurogrupo acumula com o desempenho de Ministro das Finanças de Portugal,
o que não lhe dá margem de manobra para negociar com a Europa. Pode até vir a
ser mais pasta que o Papa na postura internacional do Euro.
A
lista final de candidatos ao cargo de presidente do Eurogrupo só será divulgada
no dia 1 de dezembro, mas crê-se que Centeno terá pelo menos a concorrência dos
seus homólogos da Letónia e da Eslováquia.
Contactada pela Lusa, a assessoria de imprensa do presidente do
Eurogrupo escusou-se a revelar quantos candidatos estão na corrida à
sucessão de Jeroen Dijsselbloem, apontando que a lista definitiva será
publicada na sexta-feira de manhã, tal como já indicara o ainda presidente do
fórum de ministros das Finanças da zona euro por ocasião do lançamento das
candidaturas, em meados de novembro.
O
Primeiro-Ministro salientou que a candidatura portuguesa à presidência do
Eurogrupo procura estabelecer consensos e “reunir todos” à volta dos desafios
que a moeda única europeia enfrenta e das reformas de que precisa. Disse Costa
que efetivamente “a nossa lógica é de
ajudar a contribuir para o consenso, reunir todos”. Foi uma afirmação
proferida perante os jornalistas, à margem da cimeira entre a União Europeia e
a União Africana, que termina hoje em Abidjan, na Costa do Marfim, precisando:
“A Zona Euro sofreu muitas divisões nos
últimos anos, entre famílias políticas e de diferentes regiões, e precisamos de
uma Europa mais unida e mais forte, e estamos numa posição privilegiada de
contribuir para isso”.
E acrescentou o Primeiro-Ministro:
“Nos contactos prévios que estabelecemos
confirmámos que os governos das mais diversas famílias políticas e zonas
geográficas da Europa reconhecem na candidatura portuguesa as condições
adequadas”.
Depois, salientou:
“Julgamos que reunimos um bom lote de apoios
e boas condições para apresentar uma postura construtiva para fazer as reformas
necessárias na zona euro, completar a união económica e monetária, e que também
ajude a ultrapassar as divisões que tivemos no passado e que agora, nesta fase
de mudança e construção do futuro da Europa, possamos também dar esse contributo”.
Questionado sobre o grau de probabilidade da vitória de Mário
Centeno na votação do próximo dia 4 de dezembro, António Costa gracejou dizendo
que “prognósticos só se fazem depois da votação”, mas mostrou “confiança nesta
candidatura” e a “certeza de que é boa para o conjunto da Europa e da zona
euro”.
***
Como se
disse, Mário Centeno é o favorito para se tornar presidente do Eurogrupo, segundo
escreve hoje o Financial Times. O
Ministro das Finanças português é favorecido pelos líderes europeus, segundo
diplomatas que falaram ao jornal, já que o seu principal concorrente à
esquerda, o italiano Pier Carlo Padoan, pode estar de saída nas eleições que se
avizinham em 2018 em Itália.
Na cimeira europeia na Costa do Marfim, escreve
o Financial Times, os líderes europeus reuniram-se para
debater os seus favoritos para o Eurogrupo, já que, de acordo com os
termos definidos pelas autoridades europeias, o prazo para a submissão de candidaturas terminou hoje às 11 horas.
Já se
sabia que o Eurogrupo favoreceria um candidato de esquerda para a sua
liderança, devido a um equilíbrio que, por acordo tácito, deve haver entre
forças de esquerda e direita nas posições de liderança dos diferentes braços
europeus.
A
lista oficial dos candidatos será publicada, como foi dito, amanhã, e os
ministros das Finanças dos países europeus farão uma eleição por voto secreto
para escolher quem vai substituir o atual presidente, o holandês Jeroen
Dijsselbloem, na próxima reunião, que decorrerá em Bruxelas, no próximo dia 4.
***
A eventual
escolha de Centeno é uma espécie de pescadinha com o rabo na boca. Portugal precisa
de ter uma personalidade forte para negociar metas e esperas com o Eurogrupo,
com a Comissão Europeia e com o BCE. O ter um português a presidir a uma
instância internacional pode ser prestigiante. Ora, o prestígio não é
despiciendo nas relações internacionais. Todavia, não é do prestígio que vive o
país. E, se Mário Centeno desempenhar um papel a descontento de Portugal, Costa
não tem como o contrariar ou o fazer mudar de rumo. O Eurogrupo não é um departamento
do Governo de Portugal, nem vejo como Costa o venha a demitir do cargo de
Ministro das Finanças ou que o venha a contrariar de forma eficaz.
Se posso
duvidar de que a gestão portuguesa da Comissão Europeia tenha sido nefasta para
Portugal, tenho de reconhecer que está por demonstrar que ela tenha sido benéfica.
Quanto
a Centeno, há que esperar para ver. Primeiro, será mesmo eleito? Segundo, que
fará com a eleição?
Que,
sem se pôr em bicos de pés – atitude de que ninguém gosta – saiba ler bem a
realidade do país e a realidade da Europa!
2017.11.30 – Louro de
Carvalho
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