quinta-feira, 30 de novembro de 2017

As cores litúrgicas dos paramentos

Preâmbulo
As cores usadas durante as celebrações litúrgicas representam o tempo litúrgico e as caraterísticas específicas da respetiva celebração. São, essencialmente quatro as cores que marcam, durante todo o ano, os diversos momentos vividos pela Igreja. Estas cores e mais algumas utilizáveis em circunstâncias adiante especificadas foram fixadas em Roma há séculos, mais precisamente no século XII, contra a comum preferência inicial pela cor branca, e, em seguida, os cristãos do mundo inteiro aderiram ao estilo da diversificação das cores.
Em termos históricos, Cristo e os apóstolos utilizavam as vestes de forma, cores e adereços comuns aos demais cidadãos. Quando a Igreja se estabeleceu no Império, a cor era vivenciada a partir do imperador romano. Se ele saía para uma guerra, ia de vermelho. Se ia para um casamento, de dourado. Então, a Igreja cristianizou a cor como um símbolo, e esse símbolo ajuda a celebrar tal como sucede com os sons das palavras e das músicas, as flores e as velas (as flores representam tudo o que temos de terno, belo e fecundo; e as velas o produto do trabalho e a fonte de alimentação da luz, que haurimos de Cristo).
Mas há também um fundamento natural e social das cores para o uso litúrgico. A imensa variedade de cores que povoam a natureza ou que nós próprios conseguimos criar e redefinir, dando-lhes novas acentuações e tonalidades, possui a maravilhosa e esfuziante capacidade de simbolizar realidades e sentimentos humanos. Usamo-las, por vezes, em sentido convencional e prático (as cores do semáforo: verde amarelo, vermelho ou amarelo intermitente; a bandeirinha para fazer parar ou avançar o comboio ou assinalar falta no jogo), outras vezes como símbolo de uma nação (as cores da bandeira nacional), de uma entidade religiosa (as cores da bandeira do Vaticano, pano de fundo para imagens de mistérios de Cristo ou da Virgem, Anjos e Santos), de um organismo internacional (as cores da bandeira da UE) ou menos prosaicamente de uma associação desportiva ou cultural, duma escola, duma unidade militar ou dum partido político, etc. 
O simbolismo que se atribui às cores varia de cultura para cultura. No mundo ocidental de raiz europeia e cristã, tal como noutras culturas influenciadas por esta civilização, algumas cores exprimem alegria, pureza e festa, como a cor branca. Outras, como a cor vermelha, indicam o perigo do fogo ou a intensidade do amor, ao passo que a cor verde se converteu no símbolo da ecologia: a natureza defendida na sua pureza, sem contaminação. Por isso, não é de estranhar que também no campo religioso as várias cores tenham sentido simbólico. 
Por isso, percebemos em cada cor uma distinção diferente, um significado, uma alegria ou outro sentimento, que nos ajuda a entrar em contacto com o mistério da revelação de Cristo para nós.
Assim, através das cores, a liturgia sagrada da  Igreja apresenta uma específica linguagem simbólica  muito expressiva. Cada uma das cores representa um momento celebrado pela Igreja, seja alguma festa ou solenidade. As diferentes cores das vestes litúrgicas visam manifestar externamente o caráter dos mistérios celebrados e também a consciência de uma vida cristã que progride com o desenrolar do ano litúrgico.
O ano litúrgico começa com a cor roxa, a cor que assinala o início de tudo. É o tempo do Advento. As outras cores são: a vermelha, verde, branca. Pode usar-se a rosa em dois domingos (o 3.º do Advento e o 4.º da Quaresma) e a preta nas celebrações dos defuntos em alternativa à roxa, onde a paramentaria preta está em uso arreigado e o material está em bom estado. Também no Advento, em alternativa à cor roxa, pode usar-se a violácea.
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Que objetos litúrgicos podem ser atingidos pelas cores?
O destaque vai para os paramentos do sacerdote e dos diáconos na Missa. Assim, vemos a mudança de cor na casula e na estola do sacerdote que preside à celebração eucarística ou à ação litúrgica da tarde em Sexta-feira Santa, bem como na estola dos concelebrantes e dos diáconos (a destes a tiracolo). Há estolas de duas cores (era comum utilizar-se a face roxa da estola para a 1.ª parte do batismo e para a confissão e a face branca para a segunda parte do batismo e para a distribuição da Comunhão fora da missa). Veem-se as cores nas dalmáticas dos diáconos como se viam nas tunicelas dos subdiáconos (em muitas igrejas só havia dalmáticas). Também o manípulo, quando era utilizado, mudava de cor consoante a casula. As cores diversificavam-se no véu do cálice, na face da bolsa dos corporais (havia-as com quatro cores, uma por cada face), no frontal do altar, no véu que pode cobria porta do sacrário, na capa (designada por “capa magna”, “capa de asperges” ou simplesmente “pluvial”), no véu de ombros ou umeral, no pálio processional e nalgumas cruzes processionais.
Há ainda quem as exprima no cíngulo.
De resto, amito, alva, sobrepeliz e roquete são de cor branca.

Os significados das cores
São atribuíveis às cores em liturgia os seguintes significados:
O branco simboliza a luz, a alegria, a ressurreição, a vitória, a inocência, a pureza, a purificação, a alegria e a glória.
As cores dourada e prateada, alternativas ao branco, podem ser usadas nos dias festivos, em sua substituição, assim como a cor azul, que pode ser usada nalgumas festas e solenidades da Santíssima Virgem Maria, como se verá.
O vermelho simboliza o sangue, o fogo do amor, do Espírito Santo, da caridade ou do martírio. Simboliza sobretudo o sangue de Cristo e dos sues mártires
O verde, a cor base dos vegetais, simboliza a esperança e a vida. Está ligado ao crescimento.
O roxo simboliza a penitência, a contrição, a serenidade, a sobriedade, a temperança e a esperança contra as adversidades.
Quanto ao tempo do Advento, há uma tendência a se usar o violeta ou violáceo, em vez do roxo, para diferenciá-lo do tempo quaresmal (penitência) e acentuar a dimensão de alegre expectativa da vinda do Senhor.
O preto simboliza a tristeza, a dor, a luto. Significa o choro da Igreja diante da morte de Nosso Senhor Jesus Cristo e dos seus fiéis.
Hoje é pouco usado na liturgia, substituído pelo roxo nas celebrações dos defuntos e pelo vermelho em Sexta-feira Santa.
O rosa simboliza a alegria dentro de um tempo destinado à penitência.
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Utilização das cores na liturgia na História
Nos primeiros séculos, a liturgia cristã foi muito despojada em todos os aspetos, para não imitar a liturgia judaica nem os cultos pagãos, cujos cerimoniais eram espetaculares, e para não expor demasiado a Igreja às perseguições que acompanharam a sua implantação no vasto mundo romano. Quanto maior fosse a simplicidade e o despojamento em todos os aspetos da vida da Igreja e da liturgia, menos dava nas vistas. No respeitante às cores das vestes, não havia mais distinções do que cores mais alegres para as celebrações festivas e cores sombrias para os dias de penitência. 
A cor branca é a única que aparece referenciada nos ritos batismais, como a cor própria dos neófitos: “Nas águas do baptismo fostes revestidos com vestes brancas” (Antologia Litúrgica, n. 1502); “Para a Igreja é uma alegria espiritual ver perto de si a sua família vestida de branco” (id, n. 2027); “As vestes brancas, através das quais se grava na nossa memória, como se fosse uma palavra visível, o gérmen de luz presente na vossa vida nova, mudai-as, sim, mas sem mudar o que elas simbolizam: o resplendor da luz da fé e da verdade” (id, n. 3984). 
No século V, os bispos celebravam revestidos de vestes de linho, ou seja, de cor branca: Quando fazes estes votos e este pacto, então aproxima-se o pontífice, que não usa a veste habitual, nem sequer está revestido com as vestes que ordinariamente traz sobre si, mas é envolvido por uma veste de linho delicada e esplendorosa” (Antologia Litúrgica, n. 2841). 
As primeiras e escassas notícias seguras sobre algumas cores litúrgicas para lá da branca, são do século VIII. No século XII, na obra do Papa Inocêncio III, De sacro altaris mysterio, I, n. 64, fala-se já de 4 cores, cuja escolha era feita por razões simbólicas: branca, vermelha, preta e verde. Foram essas as cores fixadas pelo Missal de São Pio V (1570), acrescentadas da cor roxa. 
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Cores litúrgicas na atualidade
As cores litúrgicas na Igreja Católica Apostólica Romana são reguladas pelo n.º. 346 da IGMR (Instrução Geral do Missal Romano), 3.ª edição típica, promulgada em março de 2002 com a nova edição do Missal Romano. A IGMR estipula que seja sempre observado o uso tradicional, mas a Conferência Episcopal pode determinar e propor à Santa Sé adaptações que correspondam às necessidades e ao caráter de cada povo.
As cores aprovadas pela IGMR, segundo o uso tradicional, e seus respetivos tempos de uso, ao longo do ano litúrgico, são: o branco, o vermelho, o verde, o roxo e, eventualmente, o preto e o rosa. O uso de diversas cores na liturgia da Igreja surgiu, como se viu, dos significados místicos atribuídos a cada uma delas. As cores não previstas diretamente na IGMR, como o dourado, o prateado e o azul serão referidas mais adiante.
O branco – a cor mais festiva da Igreja – é usado nos Ofícios e Missas da Páscoa e Tempo Pascal e do Tempo do Natal do Senhor – domingo e dias feriais –, bem como nas suas solenidades, festas e memórias, exceto as da Paixão (domingo de Ramos ou da Paixão e Sexta-Feira Santa); nas solenidades, festas e memórias da Bem-aventurada Virgem Maria, dos Santos Anjos, dos Santos não Mártires, na festa de Todos os Santos (1 de novembro), na Natividade de São João Batista (24 de junho), na festa de São João Evangelista (27 de dezembro), da Cátedra de São Pedro (22 de fevereiro), da Dedicação das Igrejas e da Conversão de São Paulo (25 de janeiro). Simboliza a luz, a pureza e a glória.
O vermelho é usado no Domingo de Ramos ou da Paixão e na Sexta-feira Santa; no domingo de Pentecostes, nas celebrações da Paixão do Senhor (e da Exaltação da Santa Cruz), nas solenidades e festas dos Apóstolos e Evangelistas (com exceção de São João), e nas celebrações dos Santos Mártires. Simboliza as línguas de fogo em Pentecostes e o sangue derramado por Cristo (o Mártir do Gólgota) e pelos mártires, além de indicar a caridade inflamante.
O verde – o paramento mais comum, que abrange a maior parte do calendário litúrgico e nos mostra a esperança, o que nós estamos sempre esperando, algo novo, algo interessante – usa-se nos Ofícios e Missas do Tempo Comum (domingos e dias feriais). Simboliza a cor das plantas e árvores, prenunciando a esperança da vida eterna.
O roxo usado no Tempo do Advento e no Tempo Quaresmal.
O Roxo no Advento: o roxo no advento não significa penitência, mas recolhimento, purificação da vida pela justiça e pela verdade, preparando os caminhos do Senhor. Vem acompanhado do sentido de um recolhimento que alimenta uma esperança.
O Roxo na Quaresma: aqui o roxo se refere a profunda interiorização num tempo forte de penitência e conversão, de jejum e oração. É também a espera por um grande acontecimento, que nos convoca a uma preparação adequada.
O preto pode ser usado, onde for o costume, nas Missas e Ofícios pelos mortos. Denota um símbolo de luto, significando a tristeza da morte e a escuridão do sepulcro (chegou a usar-se em Sexta-feira Santa). Ao contrário do que pensam muitos clérigos e leigos, a cor preta não foi abolida nem pela IGMR anterior (que acompanhava o Missal de S.S. Papa Paulo VI) nem pelo atual. Segue como opção para a missa pelos mortos, onde for costume utilizá-la. Em Portugal e no Brasil, contudo, o uso do preto nas celebrações pelos fiéis defuntos foi, na prática, abolido, havendo sido substituído pelo uso do roxo, uso este facultado pela própria IGMR. Isto não constitui óbice, contudo, para que um clérigo venha a utilizar paramentos negros.
O rosa, variação mais clara do roxo, representa uma quebra na austeridade do Advento e da Quaresma, simbolizando uma alegria contida, podendo ser usada nos domingos Gaudete (III do Advento) e Lætare (IV da Quaresma), ocasiões em que também poderá ser utilizado o roxo.
O dourado pode substituir todas as outras cores, menos o preto.
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Cores não previstas na IGMR
Encontram-se com frequência em uso cores não previstas diretamente na IGMR, sobretudo. cores para dias festivos.
A nova IGMR não repete, em sua edição latina, o texto do antigo n.º. 309, que estabelecia: “Em dias de maior solenidade podem ser usadas vestes litúrgicas mais nobres, mesmo que não sejam da cor do dia”. Contudo, a manutenção de tal norma subjaz à interpretação do atual n.º. 347 (antigo 310), ao estatuir que “As Missas Rituais são celebradas com a cor própria, a branca ou a festiva”. Ora, se as missas rituais podem ser celebradas facultativamente com a cor própria do dia ou com a branca ou com a festiva, compreende-se que a festiva seria precisamente aquela espécie de vestes mais nobres, ainda que não da cor do dia, como estava no antigo n.º. 309.
Um exemplo patente de uso de veste festiva na Liturgia são as cores dourada e prateada em substituição do branco, uso bastante difundido em Portugal e Brasil e pelo mundo. Outro exemplo interessante foi o uso de uma casula multicolorida por S.S. João Paulo II quando da abertura da Porta Santa no Ano Jubilar de 2000 D.C.
Contudo, deve-se estar atento ao aviso feito na Instrução Redemptoris Sacramentum pela Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos:
Esta faculdade, que também se aplica adequadamente aos ornamentos fabricados há muitos anos, a fim de conservar o património da Igreja, é impróprio estendê-las às inovações, para que assim não se percam os costumes transmitidos e o sentido de que estas normas da tradição não sofram menosprezo, pelo uso de formas e cores de acordo com a inclinação de cada um. Quando seja um dia festivo, os ornamentos sagrados de cor dourada ou prateada podem substituir os de outras cores, exceto os de cor preta.”.
Cabe também mencionar o uso litúrgico da cor azul para festas e solenidades da Santíssima Virgem Maria. O azul não é uma cor litúrgica prevista pela IGMR, mas o seu uso é largamente difundido em Portugal, Brasil e outros países. A origem de seu uso litúrgico moderno parece remontar a um privilégio papal dado a algumas dioceses espanholas e portuguesas para uso na Solenidade da Imaculada Conceição. Segundo o Pe. Polycarpus Rado,  “A cor cerúlea foi usada no medievo, sendo agora permitida apenas em algumas dioceses da Espanha na festa da Imaculada Conceição e nas missas de sábado”. O privilégio teria sido estendido aos países da América Latina de colonização espanhola, bem como às Filipinas (também ex-colónia espanhola). Em Portugal, haveria o privilégio do uso litúrgico do azul na Solenidade da Imaculada Conceição em favor das celebrações realizadas na Capela de São Miguel da Universidade de Coimbra, em razão da defesa do dogma da Imaculada Conceição por esta secular instituição académica. O privilégio também se estenderia à Áustria e à Baviera, à arquidiocese de Los Angeles, à arquidiocese de Saint Louis (EUA), aos carmelitas, aos beneditinos ingleses, ao Instituto Cristo Rei e Sacerdote e a alguns santuários marianos.
Alguns liturgistas exprobam o uso de uma cor não autorizada na Liturgia. Contudo, podem-se utilizar os seguintes argumentos na defesa de seu uso litúrgico:
- Sabendo-se que o costume também é fonte do Direito Canónico, poder-se-á argumentar que o azul para festas marianas se incorporou, por via consuetudinária, nas cores litúrgicas da Igreja.
- Se a IGMR permite que paramentos festivos de outra cor que não a do dia sejam usados em ocasiões especiais (por exemplo, o dourado e o prateado, ambos não previstos na edição latina da IGMR), como já explicado, não há razão por que impedir o azul nas solenidades e festas de Maria Santíssima.
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Ao longo do ano, nas nossas celebrações litúrgicas, usa-se sabiamente a pedagogia das cores, para “exprimir externamente de modo mais eficaz, por um lado, o carácter peculiar dos mistérios da fé que se celebram e, por outro, o sentido progressivo da vida cristã ao longo do ano litúrgico” (IGMR 345).
Assim, o Tempo Pascal e o Natal do Senhor celebramo-los de branco, a cor da alegria, da pureza e da luz. E o fazemos mesmo nas celebrações do Senhor, exceto nas da Paixão, nas da Virgem Maria, dos Anjos e dos Santos não mártires, como participantes na Páscoa de Cristo, e nas solenidades de Todos os Santos e de São João Baptista, nas festas de São João Evangelista, da Cadeira de São Pedro e da Conversão de S. Paulo (cf IGMR 346 a). 
Usamos o vermelho no Domingo de Ramos, na Sexta-Feira Santa, dia em que celebramos o protótipo dos Mártires, no Domingo do Pentecostes, o dia do Espírito, que é fogo e amor, nas celebrações da Paixão do Senhor, nas solenidades e festas natalícias dos Apóstolos e Evangelistas e nas celebrações dos Santos Mártires, que pedem o vermelho, porque participaram na morte de Cristo como suas testemunhas (cf IGMR 346 b). 
A cor verde, símbolo da vida e da esperança, é aquela que se usa mais vezes durante o ano, nos domingos e dias feriais do Tempo Comum (cf. IGMR 346 c). 
Usa-se a cor roxa, símbolo da dor e da penitência, no Tempo do Advento e da Quaresma, podendo também usar-se nas Missas de defuntos em vez do negro (cf IGMR 346 d). 
A cor preta, símbolo do luto na cultura europeia (mas não nas culturas orientais e africanas), pode usar-se, onde for costume, nas Missas de defuntos (cf IGMR 346 e).
 No III Domingo do Advento e no IV Domingo da Quaresma pode celebrar-se a Missa com vestes cor-de-rosa, alívio do roxo (cf IGMR 346 f). 
“Nos dias mais solenes podem usar-se paramentos festivos ou mais nobres, ainda que não sejam da cor do dia” (IGMR 346 g). É o caso dos chamados paramentos de tecido de ouro, desde que se trate de ouro verdadeiro e não de uma imitação feita com seda amarela. 
Permanece aberta a porta para a adaptação às diversas culturas, porque se trata, não só de uma certa estética simbólica, mas de ajudar, também através desta pedagogia da cor, a que os cristãos entrem mais facilmente no mistério que celebram. Por isso, “As Conferências Episcopais podem, no que respeita às cores litúrgicas, determinar e propor à Sé Apostólica as adaptações que entenderem mais conformes com as necessidades e a mentalidade dos povos” (IGMR 346 g). 
Em Portugal, Espanha e países da América latina podem usar-se paramentos de cor azul em certas festas de Nossa Senhora, nomeadamente na Solenidade de Nossa Senhora da Conceição. 
Assim, no santuário de Vila Viçosa, utilizam-se paramentos azuis na solenidade da Imaculada Conceição (8 de dezembro), na solenidade da Assunção de Nossa Senhora ao Céu (15 de agosto), e nas memórias de Santa Maria no Sábado (sábados do Tempo Comum em que não há memória obrigatória). Este costume vem da tradição oral. O uso ali de paramento azul é um privilégio concedido por Roma, mas não se conhece o documento em que isso conste. Existem ali alguns jogos de paramentos, mas nenhum é antigo, sendo os mais antigos e ricos os brancos.
Quanto ao uso de paramentos azuis noutras paróquias de Portugal, é de referir que numa paramentaria de Fátima se vendem paramentos de cor azul, o que será sinal de que os procuram.
Santo Agostinho dizia aos neófitos a quem falava das vestes brancas que receberam no batismo:
Filhinhos, o mais importante é que não vos mancheis com a sujidade dos maus costumes, para que, naquele dia, não vos encontreis nus e possais passar sem dificuldade do resplendor da fé ao resplendor da realidade. Quando, ao sair destas grades, que punham à parte a vossa infância espiritual vos misturardes com o povo, o que vai acontecer solenemente neste dia, uni-vos aos bons e lembrai-vos de que as más companhias corrompem os bons costumes: sede sóbrios, sede justos, e não continueis a pecar.” (Antologia Litúrgica, n. 3984). 
Santo Agostinho ia sempre direito ao essencial, mesmo sem deixar de falar no acidental. O nosso problema, cada vez mais comum, é que andamos todos à procura do acidental e periférico e abandonamos o essencial. As cores das vestes litúrgicas têm a sua importância hoje; já tiveram muito mais ontem; mas começaram por ter pouca. Uma coisa, porém, foi sempre, ainda é e continuará a ser amanhã, depois de amanhã e até ao fim dos tempos: a urgência da santidade que não tem cor mas fica bem com todas as cores. “Sede santos em todo o vosso proceder, conforme diz a Escritura: Sede santos, porque Eu sou santo” (1 Pe 1,15-16).
Na verdade, a santidade é a cor preferida por Deus. 

2017.11.29 – Louro de Carvalho

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