terça-feira, 14 de novembro de 2017

Cáritas cria grupo de trabalho para definir plano de ação em emergências

Reuniu, nos dias passados dias 11 e 12 de novembro de 2017, em Fátima, no Hotel Consolata, o Conselho Geral da Cáritas Portuguesa. Estiveram representadas 17 Cáritas Diocesanas, das vinte que o constituem.
O Conselho iniciou os trabalhos recordando a pessoa de Dom António Francisco dos Santos, realçando a sua cativante afabilidade e o seu espírito de proximidade, tendo os participantes lamentado não ter tido a oportunidade de dar continuidade ao trabalho que estava ainda a começar como Presidente da Comissão Episcopal da Pastoral Social e Mobilidade Humana.
Foi saudada e apreciada, de forma particular, a ação das Cáritas diocesanas que, nos últimos meses, têm estado envolvidas no auxílio às vítimas dos incêndios florestais e às pessoas que se veem em graves dificuldades mercê da seca extrema e até severa que perpassa a maior parte do território do Continente.
Em fim de mandato, o Presidente da Cáritas Portuguesa recordou o caminho percorrido nos últimos anos evidenciado em alguns dos resultados alcançados, concretamente, na elaboração do Plano Estratégico, trabalhado de forma participada pelas Cáritas diocesanas, e o caminho feito para a construção de um relatório anual da ação da Cáritas em Portugal.
O Conselho saudou as reconduções ou nomeações das direções das Cáritas do Algarve, de Beja, do Porto e de Vila Real e agradeceu o trabalho realizado, dedicação e empenho das respetivas direções cessantes. Manifestou o seu apreço pela recente nomeação de Dom José Traquina para Bispo da Diocese Santarém. E formulou ainda o seu agradecimento a Dom Manuel Pelino, atual Administrador diocesano e Bispo Emérito da Diocese escalabitana.
Foram apresentados e aprovados o Programa de Atividades da Cáritas Portuguesa que terá como tema galvanizador “Cuidar da Casa Comum”, e o Orçamento Previsional para 2018.
A propósito do próximo Sínodo dos Bispos dedicado ao tema “Os jovens, a fé e o discernimento vocacional”, o Conselho formulou o desejo de que, na sua preparação se tenha em conta a dimensão vocacional do serviço organizado em torno do bem comum, através da prática da justiça e da caridade em nome das comunidades cristãs que integram.
Sendo as situações de emergência uma das atividades específicas da Cáritas, procedeu-se a uma reflexão, com a colaboração do especialista Duarte Caldeira, sobre a forma de atuação em situação de catástrofes. As experiências vividas, recentemente, no âmbito dos incêndios florestais foram partilhadas pelos representantes das Cáritas das regiões afetadas. A necessidade de desenvolver um plano de ação em emergências assente em quatro pilares – Planeamento, Organização, Coordenação e Avaliação – levou a que se constituísse um grupo de trabalho com a participação de 6 Cáritas Diocesanas, tendo saído reforçada a necessidade de integrar no dito plano de ação de emergências a resposta de apoio psicológico e espiritual adaptada às circunstâncias da população e aos dramas vividos.  
Fez-se a análise da dinâmica de concretização da campanha “10 Milhões de Estrelas – Um Gesto pela Paz”, que decorre, este ano, em parceria com CNE (Corpo Nacional de Escutas) e que terá início no dia 19 de novembro, Dia Mundial dos Pobres. Os resultados desta campanha destinam-se a apoiar a ação social que será desenvolvida localmente, em 65 por cento e, excecionalmente este ano, a verba que anualmente é destinada a apoiar um projeto internacional será aplicada no apoio às vítimas dos incêndios.
Foi apresentada a maquete do novo site da rede nacional Cáritas que deverá ser disponibilizado ao público no início do ano de 2018.
O Conselho mostrou uma significativa motivação para dinamizar a campanha internacional “Partilhar a Viagem”, integrando-se, no reforço de dois ideais do Papa Francisco desta forma, na campanha internacional que durante os próximos dois anos propõem ao mundo, a pedido do Pontífice, que se promova a “cultura do encontro” com vista ao despertar da consciência social para a importância do acolhimento a migrantes e refugiados.
Dando continuidade ao processo de melhoria dos procedimentos da Cáritas Portuguesa, no âmbito do programa “Prioridade às Crianças”, integrado nos mecanismos de gestão da Caritas Internationalis, está a ser desenvolvida uma política de proteção de crianças que tem como objetivo contribuir de forma eficiente para a promoção de uma cultura que não se restringe à atuação das Instituições e da família, mas a toda a sociedade.
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Obviamente que o móbil fundamental de sessão do Conselho Geral era a parte estatutária e o orçamento para o próximo ano. As outras matérias abordadas prendem-se com elementos circunstanciais. Não obstante e na sequência da reflexão feita com a ajuda do especialista mencionado acima, o Conselho Geral decidiu criar “um grupo de trabalho interno” para definir um plano de ação e “intervenção em situações de emergência”, onde se incluem incêndios, sismos e cheias, como referiu oportunamente à Lusa o Presidente da Cáritas, Eugénio Fonseca. O plano, como adiantou o Presidente, será aplicado pela Cáritas Portuguesa, em articulação com as restantes Cáritas e as instituições de proteção civil. O objetivo é que “fique clarificado o lugar [que a Cáritas] deve ocupar neste tipo de intervenção”, pois “queremos apostar forte na prevenção”. O grupo de trabalho, que deverá apresentar medidas “dentro de quatro a seis meses”, “não vai tratar apenas de incêndios, mas também de cheias e sismos”.
O responsável pela Cáritas assegurou que nestas medidas está incluído um “plano de formação básica para todos aqueles que o pretendam” frequentar, pois, como sublinhou, “queremos estar preparados para a próxima época de incêndios”. E recordou que, desde que lidera a Cáritas, praticamente todos os anos o país é assolado por fogos, sendo que, este ano, se “tratou de uma situação muito especial”, onde morreram mais de 100 pessoas em Portugal. A este respeito, pôs o dedo na chaga ao exigir controlo, fiscalização e limpeza das florestas. Disse o Presidente:
Temos um tempo até ao verão para criar condições para prevenir aquilo que pode ser perfeitamente atenuado. É preciso controlo, fiscalização e limpeza das florestas, o que deve ser acompanhado de “luta contra a desertificação.”.
No âmbito do reforço, que saiu do encontro, da necessidade de integrar no plano de ação de emergências a resposta de apoio psicológico e espiritual consentânea com as circunstâncias da população e com os dramas vividos, Eugénio Fonseca, relativamente aos incêndios deste ano, questionou o que acontecerá às pessoas depois de lhes serem entregues as casas reconstruídas. E, perguntando “quem as vai ajudar a conviver com esta tragédia” e defendendo a necessidade de apoio psicológico, já que as pessoas vão ter de lidar com as “recordações”, disse:
Gostaríamos de ter psicólogos e preparar pessoas da vizinhança, que podem ser o farmacêutico, o dono da mercearia ou a Igreja, para perceberem quando é que surgem esses momentos de nostalgia e, desse modo, ajudar a evitar doenças como a depressão ou psicossomáticas”.
No entendimento do responsável pela instituição, “não se pode entregar a chave [às pessoas] e pensar que tudo está concluído”.
E Eugénio Fonseca alertou para o facto de, apesar de Portugal estar numa “situação económica bem diferente da que atravessou nos últimos anos”, é preciso ter cautelas. Mais: referindo haver a “sensação de que muita gente está a trabalhar com magros salários e a pagar os seus empréstimos”, questionou:
Os postos de trabalho que estão a ser criados são estáveis? Os salários são suficientes?
Além disso, apesar da situação económica um pouco mais favorável, “temos de estar atentos para que este otimismo não nos leve para a sedução de um mercado que não olha a meios” para que as pessoas gastem mais do que podem. E concluiu:
Há que dar sustentabilidade a esta ténue situação favorável do país, é bom ter a consciência de que a crise ainda não passou, já que há desempregados de longa duração, com pouco mais de 30 anos, com uma vida pela frente”.
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A Cáritas continua no terreno junto das populações mais afetadas pelos incêndios que, entre junho e outubro, provocaram mais de 100 mortos, deixaram centenas de casas e empresas destruídas e arrasaram 442 mil hectares de floresta. Em declarações à agência Ecclesia, o Presidente reconhece que o processo de apoio “está a ser lento relativamente à ansiedade em que as pessoas se encontram” e ao sofrimento “indescritível” por que passaram. Assim, realça:
É mais que justo que as pessoas estejam nesta inquietude de quererem ver reconstruída a casa que, sem culpa própria, lhes foi roubada pelos fogos”.
Aquele responsável destaca sobretudo a preocupação com as pessoas que perderam entes queridos para as chamas e que têm que ser devidamente acompanhadas. E, recordando a importância de um trabalho de vizinhança, Eugénio Fonseca interpela-nos:
Depois da casa entregue, mobilada, eu quero saber quem é que vai fazer companhia a essas pessoas, algumas muito idosas, que já não têm fotografias para ver dos seus antepassados, arderam… Que já não têm recordações à mão. Quem vai estar com essas pessoas para as confortar?”.
E exorta:
Eu gostava muito que os vizinhos se preparassem e se pudessem aproximar e ser esse conforto nas horas de maior solidão, de recordações mais difíceis”.
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Embora a Cáritas tenha de estar presente e ativa em todas as emergências, ela é muito mais do que a interventora em emergências. Tem a missão de instrumento da Igreja, na área geográfica país (e a Cáritas diocesana na área geográfica da diocese), para promover e defender a dignidade humana à imagem de Jesus Cristo. É sua visão ser uma referência nacional diocesana pela qualidade e capacidade de ser pioneira nos serviços que presta à comunidade de forma próxima, reflexiva e sustentável. A sua missão assenta nos seguintes valores essenciais:
- Humanização, desenvolvendo, na defesa/promoção da dignidade humana, uma intervenção centrada na pessoa e na comunidade, salvaguardando os seus “direitos, liberdades e garantias”; profissionalismo, pautando-se eticamente, no trabalho que desenvolve, pelo rigor técnico, competência e consistência; compromisso , levando a cabo a sua missão com determinação, persistência, empreendedorismo, disponibilidade, entrega, entreajuda e lealdade; transparência, projetando a sua intervenção a partir da leitura da realidade, de modo que esta possa ser sinal visível da sua visão; caridade, vinculando a sua ação à dimensão do amor ao próximo, na assistência, promoção, desenvolvimento e transformação de estruturas, pelos profissionais e voluntários; universalidade, acolhendo todas as pessoas independentemente da nacionalidade, etnia, religião ou proveniência social e olhando para todas as problemáticas como provocação à sua ação; e criatividade, fazendo face às múltiplas problemáticas existentes e emergentes, procurando inovar as respostas com flexibilidade e transdisciplinaridade.

2017.11.14 – Louro de Carvalho

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