Reuniu,
nos dias passados dias 11 e 12 de novembro de 2017, em Fátima, no Hotel
Consolata, o Conselho Geral da Cáritas Portuguesa. Estiveram representadas 17
Cáritas Diocesanas, das vinte que o constituem.
O
Conselho iniciou os trabalhos recordando a pessoa de Dom António Francisco dos
Santos, realçando a sua cativante afabilidade e o seu espírito de proximidade,
tendo os participantes lamentado não ter tido a oportunidade de dar
continuidade ao trabalho que estava ainda a começar como Presidente da Comissão Episcopal da Pastoral Social e
Mobilidade Humana.
Foi
saudada e apreciada, de forma particular, a ação das Cáritas diocesanas que,
nos últimos meses, têm estado envolvidas no auxílio às vítimas dos incêndios
florestais e às pessoas que se veem em graves dificuldades mercê da seca
extrema e até severa que perpassa a maior parte do território do Continente.
Em fim
de mandato, o Presidente da Cáritas Portuguesa recordou o caminho percorrido
nos últimos anos evidenciado em alguns dos resultados alcançados,
concretamente, na elaboração do Plano Estratégico, trabalhado de forma
participada pelas Cáritas diocesanas, e o caminho feito para a construção de um
relatório anual da ação da Cáritas em Portugal.
O Conselho
saudou as reconduções ou nomeações das direções das Cáritas do Algarve, de Beja,
do Porto e de Vila Real e agradeceu o trabalho realizado, dedicação e empenho
das respetivas direções cessantes. Manifestou o seu apreço pela recente
nomeação de Dom José Traquina para Bispo da Diocese Santarém. E formulou ainda o
seu agradecimento a Dom Manuel Pelino, atual Administrador diocesano e Bispo
Emérito da Diocese escalabitana.
Foram
apresentados e aprovados o Programa de Atividades da Cáritas Portuguesa que
terá como tema galvanizador “Cuidar da
Casa Comum”, e o Orçamento Previsional para 2018.
A
propósito do próximo Sínodo dos Bispos dedicado ao tema “Os jovens, a fé e o discernimento vocacional”, o Conselho formulou
o desejo de que, na sua preparação se tenha em conta a dimensão vocacional do
serviço organizado em torno do bem comum, através da prática da justiça e da
caridade em nome das comunidades cristãs que integram.
Sendo as
situações de emergência uma das atividades específicas da Cáritas, procedeu-se
a uma reflexão, com a colaboração do especialista Duarte Caldeira, sobre a
forma de atuação em situação de catástrofes. As experiências vividas,
recentemente, no âmbito dos incêndios florestais foram partilhadas pelos
representantes das Cáritas das regiões afetadas. A necessidade de desenvolver
um plano de ação em emergências assente em quatro pilares – Planeamento, Organização, Coordenação e Avaliação
– levou a que se constituísse um grupo de trabalho com a participação de 6
Cáritas Diocesanas, tendo saído reforçada a necessidade de integrar no dito plano
de ação de emergências a resposta de apoio psicológico e espiritual adaptada às
circunstâncias da população e aos dramas vividos.
Fez-se a
análise da dinâmica de concretização da campanha “10 Milhões de Estrelas – Um Gesto pela Paz”, que decorre, este ano,
em parceria com CNE (Corpo Nacional de Escutas) e que terá início no dia 19 de
novembro, Dia Mundial dos Pobres. Os
resultados desta campanha destinam-se a apoiar a ação social que será desenvolvida
localmente, em 65 por cento e, excecionalmente este ano, a verba que anualmente
é destinada a apoiar um projeto internacional será aplicada no apoio às vítimas
dos incêndios.
Foi
apresentada a maquete do novo site da
rede nacional Cáritas que deverá ser disponibilizado ao público no início do
ano de 2018.
O
Conselho mostrou uma significativa motivação para dinamizar a campanha
internacional “Partilhar a Viagem”,
integrando-se, no reforço de dois ideais do Papa Francisco desta forma, na
campanha internacional que durante os próximos dois anos propõem ao mundo, a
pedido do Pontífice, que se promova a “cultura
do encontro” com vista ao despertar da consciência social para a
importância do acolhimento a migrantes e refugiados.
Dando
continuidade ao processo de melhoria dos procedimentos da Cáritas Portuguesa,
no âmbito do programa “Prioridade às
Crianças”, integrado nos mecanismos de gestão da Caritas
Internationalis, está a ser desenvolvida uma política de
proteção de crianças que tem como objetivo contribuir de forma eficiente para a
promoção de uma cultura que não se restringe à atuação das Instituições e da
família, mas a toda a sociedade.
***
Obviamente que
o móbil fundamental de sessão do Conselho Geral era a parte estatutária e o
orçamento para o próximo ano. As outras matérias abordadas prendem-se com
elementos circunstanciais. Não obstante e na sequência da reflexão feita com a
ajuda do especialista mencionado acima, o Conselho Geral decidiu criar “um
grupo de trabalho interno” para definir um plano de ação e “intervenção em situações
de emergência”, onde se incluem incêndios, sismos e cheias, como referiu oportunamente
à Lusa o Presidente da Cáritas,
Eugénio Fonseca. O plano, como adiantou o Presidente, será aplicado pela
Cáritas Portuguesa, em articulação com as restantes Cáritas e as instituições
de proteção civil. O objetivo é que “fique clarificado o lugar [que a Cáritas] deve ocupar neste tipo de
intervenção”, pois “queremos apostar forte na prevenção”. O grupo de trabalho,
que deverá apresentar medidas “dentro de quatro a seis meses”, “não vai tratar
apenas de incêndios, mas também de cheias e sismos”.
O responsável
pela Cáritas assegurou que nestas medidas está incluído um “plano de formação
básica para todos aqueles que o pretendam” frequentar, pois, como sublinhou, “queremos
estar preparados para a próxima época de incêndios”. E recordou que, desde que
lidera a Cáritas, praticamente todos os anos o país é assolado por fogos, sendo
que, este ano, se “tratou de uma situação muito especial”, onde morreram mais
de 100 pessoas em Portugal. A este respeito, pôs o dedo na chaga ao exigir controlo, fiscalização e limpeza das
florestas. Disse o Presidente:
“Temos
um tempo até ao verão para criar condições para prevenir aquilo que pode ser
perfeitamente atenuado. É preciso controlo, fiscalização e limpeza das
florestas, o que deve ser acompanhado de “luta contra a desertificação.”.
No âmbito do reforço, que
saiu do encontro, da necessidade de integrar no plano de ação de emergências a
resposta de apoio psicológico e espiritual consentânea com as circunstâncias da
população e com os dramas vividos, Eugénio Fonseca, relativamente aos incêndios
deste ano, questionou o que acontecerá às pessoas depois de lhes serem
entregues as casas reconstruídas. E, perguntando “quem as vai ajudar a conviver com esta tragédia” e defendendo a
necessidade de apoio psicológico, já que as pessoas vão ter de lidar com as
“recordações”, disse:
“Gostaríamos
de ter psicólogos e preparar pessoas da vizinhança, que podem ser o farmacêutico,
o dono da mercearia ou a Igreja, para perceberem quando é que surgem esses
momentos de nostalgia e, desse modo, ajudar a evitar doenças como a depressão
ou psicossomáticas”.
No entendimento do responsável
pela instituição, “não se pode entregar a chave [às pessoas] e pensar que tudo está concluído”.
E Eugénio Fonseca alertou para
o facto de, apesar de Portugal estar numa “situação económica bem diferente da
que atravessou nos últimos anos”, é preciso ter cautelas. Mais: referindo haver
a “sensação de que muita gente está a trabalhar com magros salários e a pagar
os seus empréstimos”, questionou:
“Os postos de trabalho que estão a ser
criados são estáveis? Os salários são suficientes?”
Além disso, apesar da
situação económica um pouco mais favorável, “temos de estar atentos para que
este otimismo não nos leve para a sedução de um mercado que não olha a meios”
para que as pessoas gastem mais do que podem. E concluiu:
“Há que dar sustentabilidade a esta ténue situação favorável do país, é
bom ter a consciência de que a crise ainda não passou, já que há desempregados
de longa duração, com pouco mais de 30 anos, com uma vida pela frente”.
***
A Cáritas continua no terreno junto das
populações mais afetadas pelos incêndios que, entre junho e outubro, provocaram
mais de 100 mortos, deixaram centenas de casas e empresas destruídas e
arrasaram 442 mil hectares de floresta. Em declarações à agência Ecclesia, o Presidente reconhece que o
processo de apoio “está a ser lento relativamente à ansiedade em que as pessoas
se encontram” e ao sofrimento “indescritível” por que passaram. Assim, realça:
“É mais que justo que as
pessoas estejam nesta inquietude de quererem ver reconstruída a casa que, sem
culpa própria, lhes foi roubada pelos fogos”.
Aquele
responsável destaca sobretudo a preocupação com as pessoas que perderam entes
queridos para as chamas e que têm que ser devidamente acompanhadas. E, recordando
a importância de um trabalho de vizinhança, Eugénio Fonseca interpela-nos:
“Depois da casa entregue, mobilada, eu quero
saber quem é que vai fazer companhia a essas pessoas, algumas muito idosas, que
já não têm fotografias para ver dos seus antepassados, arderam… Que já não têm
recordações à mão. Quem vai estar com essas pessoas para as confortar?”.
E exorta:
“Eu gostava muito que os
vizinhos se preparassem e se pudessem aproximar e ser esse conforto nas horas
de maior solidão, de recordações mais difíceis”.
***
Embora a
Cáritas tenha de estar presente e ativa em todas as emergências, ela é muito
mais do que a interventora em emergências. Tem a missão de instrumento
da Igreja, na área geográfica país (e a Cáritas diocesana na área
geográfica da diocese), para
promover e defender a dignidade humana à imagem de Jesus Cristo. É sua visão ser uma
referência nacional diocesana pela qualidade e capacidade de ser pioneira nos
serviços que presta à comunidade de forma próxima, reflexiva e sustentável. A
sua missão assenta nos seguintes valores essenciais:
- Humanização, desenvolvendo, na defesa/promoção da dignidade
humana, uma intervenção centrada na pessoa e na comunidade, salvaguardando os seus
“direitos, liberdades e garantias”; profissionalismo,
pautando-se eticamente, no trabalho que desenvolve, pelo rigor técnico,
competência e consistência; compromisso ,
levando a cabo a sua missão com determinação, persistência, empreendedorismo,
disponibilidade, entrega, entreajuda e lealdade; transparência, projetando a sua intervenção a partir da leitura
da realidade, de modo que esta possa ser sinal visível da sua visão;
caridade, vinculando
a sua ação à dimensão do amor ao próximo, na assistência, promoção,
desenvolvimento e transformação de estruturas, pelos profissionais e
voluntários; universalidade, acolhendo todas as pessoas
independentemente da nacionalidade, etnia, religião ou proveniência social e
olhando para todas as problemáticas como provocação à sua ação; e criatividade, fazendo
face às múltiplas problemáticas existentes e emergentes, procurando inovar as
respostas com flexibilidade e transdisciplinaridade.
2017.11.14
– Louro de Carvalho
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