É o grande sonho do novo Bispo da Diocese de Viana do
Castelo, Dom João Pimentel Lavrador, que partilhou com os presentes, no
passado dia 27 de novembro, aquando da sua tomada de posse como prelado
diocesano, sonhos, preocupações e prioridades, dizendo que a Igreja tem que “se
empenhar decididamente” na construção de uma “humanidade nova”.
No encontro, organizado pela diocese do Alto Minho, no
Centro Pastoral Paulo VI, o seu novo Bispo, na presença do Núncio Apostólico, Dom
Ivo Scapolo, do até então Administrador Diocesano, Monsenhor Sebastião Ferreira
Pires, e do Colégio dos Consultores, afirmou que “há uma humanidade nova, há
uma sociedade nova, há uma civilização nova a construir”, é aqui que é preciso atuar
e são “todos necessários”, tendo a Igreja aqui presente e atuante que “se
empenhar decididamente”.
Em conferência de imprensa, pelas 12 horas, Dom João
Lavrador frisou:
“Um momento muito significativo para mim, sem dúvida, mas significativo
para todos nós, estamos aqui para querer construir uma humanidade nova”.
Aos jornalistas, que prolongam a voz da Igreja a quem
“só” a pode ouvir pela comunicação social, salientou que chegou a esta nova
diocese “com confiança, com entusiasmo” e com a experiência que foi acumulando.
“Escutar,
dialogar e discernir” são verbos que significam as ações que o prelado enunciou
ao iniciar o serviço pastoral naquela diocese minhota no Alto Minho.
No âmbito da escuta está o “desejo de querer conhecer
até ao limite”, do que for possível, a realidade do “mais intimo e da riqueza”
que aquele povo tem para oferecer, pelo que, entre as preocupações que
partilhou, a principal “é fazer que todos participem”, que todos possam “dar a
sua opinião, a sua sugestão”. Sobre o diálogo recordou que o Concílio Vaticano
II ensina que a Igreja “está no mundo para dialogar com este mundo”. E, no
quadro do discernimento, vincou a importância de discernir “num tempo com
alguma perplexidade, às vezes, muito baralhado”, mas com “desejo de valores”. E
acrescentou:
“É preciso discernir o que é bom, o que interessa, aquilo que pode
defender a dignidade humana, o que temos de valorizar como verdadeiro valor no
meio do mundo”.
O novo Bispo, provindo da Diocese de Angra, Açores garantiu
a “ânsia de aprender”, de se oferecer, “o sonho de trazer tudo o que a Igreja
hoje é” e, como bispo do Concílio Vaticano II, “não pode ser teórico”, mas
“real, muito prático, e muito atento às pessoas”. E o novo responsável pela
diocese que abarca o Minho, o Lima, o Neiva e o Âncora, revelando o sonho de
ter “comunidades vivas e atuantes”, porfiou:
“Gostaria de estar muito atento e procurar fazer sobressair na minha
existência e atuação aquilo que é a alma deste povo do Alto Minho”.
O Bispo manifestou-se preocupado com o “grau de
marginalidade” no mundo e alertou para os “gritos terríveis” dos refugiados e,
em Portugal, para a pobreza, para as pessoas em situação de sem-abrigo, e para
quem trabalha, mas sem “o necessário para o sustento da família”.
Referiu que a pandemia Covid-19 “criou” novas
situações de pobreza e potenciou as situações que já existiam, referindo que há
“interesses do mundo” que “não olham à condição da pessoa”. E, sublinhando que “a
solidariedade pedida a partir do vírus podia ser aproveitada para livremente,
conscientemente, humanamente, desenvolver uma maior equidade, uma maior
solidariedade, fraternidade”, adiantou que “aumentou a procura de ajuda” na
Cáritas Diocesana, e partilhou “apreço” pelo rendimento de inserção social. Por
outro lado, os jovens, a quem é necessário “dar a formação para estarem
conscientes da sua juventude, do mundo atual e do que a Igreja lhe pede”, e a
família também são uma prioridade do Bispo que alertou para “uma mentalidade”
que projeta para uma “sociedade envelhecida”.
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No domingo, dia 28, pelas 15,30 horas, decorreu a
Eucaristia da entrada solene do novo bispo, na Sé de Viana do Castelo, com a
presença de autoridades civis, eclesiásticas e militares.
Dom João Lavrador começou a homilia a “convidar à
alegria”, porque a Igreja é de alegria “ou então não cativa”, nomeadamente os
jovens, que têm uma linguagem própria e a “Igreja tem este desafio”.
O novo Bispo, defendendo “uma nova etapa de
evangelização”, sublinhou que a “alegria contagia” e possui “uma transcendente
maneira de se comunicar”.
Mais referiu que a “missão evangelizadora da Igreja”,
que toca a cada batizado, “exige a formação cristã capaz de capacitar os
cristãos para a sua vivência comunitária alicerçada na celebração da Eucaristia
e, a partir dela, saber estabelecer um diálogo sereno, convicto e frutuoso com
o mundo atual”. E sublinhou:
“Numa atitude ecuménica e interconfessional, queremos caminhar em
conjunto”.
O responsável católico indicou que a evangelização
coloca a Igreja “ao serviço da pessoa e da sociedade cujo palco é o mundo
concreto em que se vive” e, neste contexto, é o “mundo familiar, profissional,
associativo, de serviço publico, cultural e político a exigir de todos os
cristãos, pessoal e de forma associada, a presença renovadora do Evangelho”.
O venerando prelado sustentou que urge mudar os
“paradigmas económicos, que só se corrigirão se colocarem a pessoa humana no
centro das decisões e cujos projetos partam da primazia a dar aos pobres e
excluídos”. Em relação aos excluídos e marginalizados que sentem a “dignidade
amordaçada”, destacou que devem gritar, com o intuito de despertar a
consciência “tantas vezes adormecida”. E, em termos gerais, apelou:
“Ensinai-nos os caminhos que nos levam a ser uma única humanidade,
fraterna, despojada e aberta para a partilha”.
Dom João Lavrador, realçando que a Igreja
presente no mundo “terá de se empenhar na verdadeira ecologia ou ecologia
integral”, explicitou:
“A sua preocupação com a criação, partilhada
com diversos sectores da sociedade, deve levar o cunho próprio que advém de uma
autêntica teologia da criação e que se traduz em comportamentos de ascese, de
austeridade, de defesa de recursos e de simplicidade”.
O também presidente da Comissão Episcopal da Cultura,
dos Bens Culturais e das Comunicações Sociais dirigiu uma palavra aos jovens
que estão a caminhar rumo à Jornada Mundial da Juventude 2023, em Lisboa, que
considerou o “presente” da sociedade e da Igreja, não só o seu futuro. E
exortou:
“Convido-vos a integrardes as comunidades cristãs e a dar-lhes a força e
o vigor, a renovação e a alegria que brotam do vosso entusiasmo e dinamismo”.
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O Bispo da diocese do Alto Minho é o sucessor de Dom
Anacleto de Oliveira, que faleceu vítima de um acidente de viação, em setembro
de 2020.
Dom João Evangelista Pimentel Lavrador nasceu a 18 de
fevereiro de 1956, em Seixo, concelho de Mira, Diocese de Coimbra, e entrou, em
1967, no Seminário de Buarcos.
Em 1972 transitou para o
Seminário Maior de Coimbra, completando os estudos liceais em 1974, prestando
provas de exame no Liceu Dom Duarte, em Coimbra. Entre 1974 e 1980 frequentou o
Instituto Superior de Estudos Teológicos (ISET), terminando o curso de Teologia
em 1980. Após a ordenação sacerdotal em Coimbra, a 14 de junho de 1981, foi
colocado como vice-pároco na paróquia de Pombal onde se dedicou especialmente à
Pastoral Juvenil. Nesse período, lecionou nas Escolas Preparatória e Secundária
de Pombal a disciplina de Educação Moral e Religiosa Católica (EMRC).
Em 1986, passou a integrar o
Conselho Presbiteral sendo escolhido para secretário e, entre 1988 e 1990,
frequentou a Universidade Pontifícia de Salamanca, terminando a sua
licenciatura canónica na área da Teologia Dogmática com a apresentação da
Dissertação “O Laicado no Magistério dos
Bispos Portugueses, a partir do Vaticano II”. Em 1991 fez o curriculum
escolar para o Doutoramento, cujo grau descrito em 1993, modificou e defendeu o
“Pensamento Teológico de Dom Miguel da
Annunciação – Bispo de Coimbra (1741-1779) e renovador da Diocese”. Em 24
de setembro de 1991, foi nomeado Reitor do Seminário de Coimbra e, a 21 de setembro
de 1997, passa a exercer o cargo de Pró-Vigário Geral da Diocese e é designado
membro do Conselho Episcopal e seu Secretário.
Em 19 de outubro de 1998, é
nomeado Diretor do Instituto Universitário de Justiça e Paz e coordenador da
Pastoral Universitária de Coimbra. Em 11 de agosto de 1999, é nomeado Cónego do
Cabido da Catedral e Capelão do Carmelo de Coimbra. Entretanto, a Conferência
Episcopal Portuguesa designa-o Secretário da Comissão Episcopal da Cultura, das
Bens Culturais e das Comunicações Sociais.
Em 7 de maio de 2008 é nomeado
Bispo Titular de Luperciana e Auxiliar do Porto. Em 29 de setembro de 2015 é
nomeado Bispo Coadjutor de Angra, passando a titular a 25 de março de 2016. Desde
2017, é Presidente da Comissão Episcopal da Cultura, dos Bens Culturais e das
Comunicações Sociais. Foi nomeado Bispo de Viana do Castelo a 21 de setembro de
2021, Festa litúrgica de São Mateus.
Uma entrevista ao Bispo de Viana do Castelo, nomeado
pelo Papa Francisco a 21 de setembro, foi o destaque do Programa ECCLESIA do
domingo, dia 28, pelas 6 horas, na Antena 1.
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Deste Bispo é proverbial a invetiva da Irmã Lúcia, quando
o sacerdote era capelão do Carmelo de Coimbra, de que não era por falar muito
alto que iria converter as pessoas, sem que se especifique se, na ótica da
freira que está a caminho dos altares, o capelão tinha dificuldade em escutar
ou se era muito ativo e palavroso.
Devo dizer que, tendo-me cabido, por indigitação da respetiva
professora de EMRC, dirigir umas palavras a Dom João Lavrador em nome dos
professores presentes, aquando da sua visita à Escola Secundária de Santa Maria
da Feira, na sua qualidade de Bispo auxiliar do Porto e no âmbito da sua Visita
Pastoral à cidade e paróquia de Santa Maria da Feira, fiquei surpreendido com a
agilidade, capacidade de diálogo e firmeza com os jovens, que o interpelavam,
com os professores, que o acolheram de forma cordata e simpática. De igual modo,
apreciei a sua demora e conversa com os professores no Open Space, onde permaneciam
muitos professores em trabalhos nos grupos disciplinares e dos departamentos curriculares,
apesar das instâncias do reverendo pároco em razão do tempo que deslizava sem
que se desse conta.
E, em sentido eclesial e social, o meu gosto é que o seu trabalho pastoral
seja coroado de êxito: que a língua não lhe doa e fale, o silêncio seja
eloquente, a ação seja profícua e a liderança seja mobilizadora por e para uma Igreja
em marcha sinodal e a diocese seja exemplar.
2021.11.30 – Louro de Carvalho