Antes do GTIN (Global Trade
Item Number), que deu origem ao código
de barras, os produtos eram identificados sobretudo manualmente. Assim, a gestão de stocks, de entradas e saídas, no ponto de
venda, em armazém, ao longo de toda a cadeia de valor, fazia-se com fluxos
revistos à unidade, de modo manual, quase só com recurso a intervenção humana,
com tudo o que isso significava, à data, em termos de trabalho, agilidade,
rigor, margem de erro…
Porém, os
anos 50 e 60 abrem uma era de inovações tecnológicas desenvolvidas na II Guerra
Mundial e nos primórdios da Guerra Fria para fins geopolíticos e
geoestratégicos, e adaptadas para fins civis, socioeconómicos, contribuindo
para o desenvolvimento das sociedades em recuperação. Por exemplo, é
apresentado o protótipo dum leitor de ondas de luz, o laser (Light
Amplification by Stimulated Emission of Radiation) que alavancou o processo de leitura dos códigos de
barras. Na verdade, o início do crescimento económico e a recuperação das
economias evidenciaram a necessidade dum substancial aumento da eficiência das
cadeias de valor. A assunção de tal necessidade norteou a concertação dos
principais operadores (produtores e retalhistas) quanto ao standard, o identificador-chave, que esteve
na base do processo. Assim, em 1968, a Grocery Manufacturers of America e a
National Association of Food Chains reuniram para discutir a criação dum código
de produto, com potencial para servir toda a indústria e que origina, em 1971,
a adoção do GTIN e, em 1973, o código de barras que o integra.
O GTIN faz
50 anos e, embora o nome não seja reconhecido à primeira, é a ele que se deve o
código de barras. É uma sequência numérica que identifica, de forma única, cada
produto, sendo a matriz para as barras que se encontramos em todo o tipo de
artigos à venda. Atualmente, o GTIN é lido mais de 6 mil milhões de vezes por
dia, estando registado em 100 milhões de produtos. Segundo a GS1 Portugal,
empresa responsável pelo código de barras no mercado nacional, é um dos
identificadores mais confiáveis do Mundo – razão por que é utilizado por dois
milhões de empresas. E, cinco décadas apos a sua criação, o GTIN serve de base
para outros códigos mais modernos, que tiram partido da evolução da tecnologia.
É o caso do QR code (sigla do inglês Quick
Response, “resposta rápida” ), bidimensional, que oferece mais informações além do preço: basta ler este
código para saber, por exemplo, se um alimento é orgânico ou qual o seu impacto
ambiental. Isto se a empresa que desenvolve o produto quiser disponibilizar
dados adicionais aos clientes.
A este
respeito, João de Castro Guimarães, diretor executivo da GS1 Portugal, diz que
está em mudança (mudou decisivamente com a pandemia) “a constatação
dos benefícios da disponibilização de informação de produto, rastreável e
fiável, assente em dados de qualidade e disponível em plataformas a que os
vários elos da cadeia de valor têm acesso”. E, em entrevista à Marketeer,
adianta que estão a ser desenvolvidas e implementadas em Portugal soluções neste
âmbito e qual o principal entrave ao progresso (a efetiva transição digital, transversal
a toda a sociedade) e faz um
balanço dos 50 anos do GTIN e da sua importância para a atividade económica.
GTIN e código de barras não são propriamente a mesma coisa. O GTIN é a origem do código de barras que conhecemos atualidade
e que está na génese da distribuição moderna; o código de barras, impresso
em qualquer produto, de qualquer categoria, legível nos scanners de qualquer
ponto de venda, integra, necessariamente, um GTIN. No código de barras, o GTIN é
apenas uma sequência numérica de 13 ou 8 dígitos (para produtos de pequenas
dimensões) que as barras verticais (quase
sempre a preto e branco)
representam. O GTIN identifica um produto de forma única e universal através
dessa sequência numérica e em qualquer ponto da cadeia de abastecimento – do
produtor ao consumidor, garantindo a rastreabilidade do processo de produção e
distribuição.
O código de
barras, na sua forma mais conhecida, com um GTIN com 13 dígitos (esta fórmula
denomina-se European Article Number-13 ou EAN-13), originou um sistema de identificação (único e inequívoco) capaz de responder às necessidades e especificidades
de todos os elementos da cadeia de valor. É esse sistema que a GS1 Portugal
representa desde 1985, em Portugal, e que tem permitido a produtores,
distribuidores e retalhistas aumentar a eficiência do seu negócio.
O GTIN e o
código de barras permitem integrar informação sobre produtos, ou seja, dados,
num símbolo com elementos gráficos e numéricos, tendo levado, há 50 anos a uma
verdadeira revolução do retalho e das economias, a nível global. Ao assegurarem
a leitura automatizada permitem identificar produtos em ambiente logístico,
durante o transporte ou no ponto de venda, integrando a referência ao país emissor
e à empresa responsável pela comercialização do produto, identificando-o de
forma única e inequívoca.
A 31 de março
de 1971, líderes de algumas das maiores empresas produtoras internacionais,
nomeadamente, Heinz, General Mills, Kroger e Bristol Meyer, reuniram-se em Nova
Iorque e criaram a sequência numérica que transformaria irreversivelmente a
economia global, ganhando as cadeias de valor eficiência e visibilidade sem
precedentes com um potencial futuro que ainda se está a explorar e não se
esgotou.
É, pois, o
GTIN a chave de identificação na base das formas mais inovadoras de codificação
(como a
codificação bidimensional, de que são exemplo o GS1 Data Matriz e os QR codes). Além disso, o GTIN continua a salvaguardar a
verificação dos dados de produtos quando se consideram soluções de partilha de
informação fundamentais a plataformas de comércio online, estruturantes, por
exemplo, para o e-commerce. O GTIN marca a história da distribuição moderna e
da economia por ter originado o código de barras e marcará a economia mundial
nas suas expressões futuras.
Há 36 anos (26 de
novembro de 1985), foi criada
a CODIPOR (associação na génese da GS1 Portugal), que
introduziu em Portugal o sistema de codificação EAN.UCC – European Article
Numbering – Uniform Code Council (hoje o sistema GS1), o qual integra o código de barras, de cuja aplicação
resultaram transformações verdadeiramente disruptivas na cadeia de abastecimento
e logística, nos setores do retalho e bens de consumo.
A sociedade
portuguesa registava alterações profundas e aceleradas, sobretudo com a
assinatura do Tratado de Adesão de Portugal à então CEE (Comunidade
Económica Europeia), mais tarde
UE (União
Europeia). Os fundos comunitários permitiam o
investimento na construção e modernização de infraestruturas essenciais ao desenvolvimento
do país. A pari, registava-se socialmente
a explosão do consumo e da distribuição moderna, com a inserção do Sistema de
Codificação EAN.UCC. Esta disponibilização do código de barras e do sistema
subjacente representou uma revolução na produção e distribuição, levando à adoção
de meios de controlo e funcionalidades que, de outra forma, sem este sistema,
não seriam possíveis.
Em
princípio, todos os tipos de produtos podem conter um código de barras e um
GTIN, que será ajustado à dimensão e categoria do produto. Aliás, foi esta
capacidade de adaptação que deu origem à codificação bidimensional aplicada a
medicamentos e dispositivos médicos, por exemplo, com o GS1 Data Matrix, em
espaços de embalagem exíguos e, se necessário, em dispositivos e unidoses de
tamanho milimétrico. É infindável o potencial desta sequência numérica. Quando
aliado à inovação tecnológica, são inimagináveis as soluções possíveis e os
benefícios em rastreabilidade e sustentabilidade. Assim, a colaboração da GS1,
a nível global, com a Aanika Biosciences resultou na possibilidade de aposição
de etiquetas biomoleculares naturais, de dimensão microscópica, virtuais e
indestrutíveis, garantindo melhor rastreabilidade ao longo de toda a cadeia de
valor dos vegetais de folha verde, frágeis e altamente perecíveis, e permitindo
a aplicação de standards GS1, de que o GTIN é exemplo.
Entretanto, o sistema está a evoluir para novos tipos de códigos. Já foi
dito que mudou com a pandemia a
constatação dos benefícios da disponibilização de informação de produto,
rastreável e fiável, em dados de qualidade, e disponível em plataformas a que
os vários elos da cadeia de valor têm acesso. O GTIN e, em geral, a codificação
são condições fundamentais para essa disponibilização e à evolução para novas codificações
como a codificação bidimensional mas também a codificação com recurso a
suportes biomoleculares ou outros. Por outro lado, o GTIN é o bastião último e
o garante de sistemas de partilha de dados em blockchain (um tipo de Base de Dados Distribuída que guarda um registro
de transações permanente e à prova de violação), como o agora em curso, em parceria com a Deloitte (parceira no
desenho do conceito), com dois
distribuidores (Jerónimo Martins e Sonae), 4
produtores dos setores alimentar e de bebidas (Gelpeixe, Unilever, CentralCer e
Delta Cafés), um
operador logístico (Grupo Luís Simões) e um parceiro tecnológico (TE-Food). Com estes
parceiros está a testar-se uma solução de identificação que permita a rastreabilidade
de produtos, desde a produção da matéria-prima, passando pela transformação e
distribuição, até à entrada em loja, cumprindo os mais rigorosos critérios de
segurança e confidencialidade. O projeto servirá de prova de conceito que se
espera evoluir para uma solução de mercado, oferecendo às empresas
participantes resposta válida e segura de identificação e rastreabilidade de
produtos na sua cadeia de abastecimento, culminando com o ambiente de
loja. Esta amplitude, prevendo a integração da rastreabilidade em loja,
constitui um elemento extremamente diferenciador. Além disso, o reconhecimento
da importância da codificação e do respetivo potencial evoluiu para a procura
de soluções de verificação da qualidade desses dados, que a codificação, cada
vez mais robusta, interconectada e acessível, permite. É exemplo disso a
solução Verified by GS1.
A GS1
Portugal dispõe duma plataforma certificada por entidade independente
internacional, que permite registar e partilhar os dados que integram o
“bilhete de identidade do produto”, um conceito adotado pela GS1 para facilitar
a respetiva comunicação e que designa um conjunto de até sete atributos que
consubstanciam a respetiva identidade: GTIN, marca, descrição, URL de acesso a
imagem do produto, categoria, peso líquido e país de venda. Tal certificação
garante que, sob autorização dos brand owners, os dados sejam integrados numa plataforma
global e harmonizada, que lhes dá visibilidade internacional e que podem ter
verificados a sua identidade e a validade dos atributos registados com a
Verified by GS1. A GS1 Portugal foi convidada a ser uma das 19 organizações-membro
da GS1 participantes da 2.ª vaga de implementação do Verified by GS1, em 2020,
com benefícios a nível da eficiência dos negócios e garantia de qualidade e
capacidade de rastreabilidade ao longo de toda a cadeia de valor.
A
codificação bidimensional (como os QR Codes e o GS1 Data Matrix), no atinente aos standards GS1, tem um muito elevado
potencial de agregação de informação (diferenciada em tipologia e volume). E as empresas portuguesas, como as demais empresas,
a nível internacional, reconhecem cada vez mais a importância da
disponibilização e acesso a informação que, por vezes, exige suportes mais
abrangentes, de que estes são exemplo. E há circunstâncias em que é necessária
tal adoção, como é o caso dos medicamentos e dispositivos médicos, em que legislação
europeia, transposta para o nosso ordenamento jurídico, a impõe. No referente
aos restantes setores, é claro um crescente reconhecimento dos benefícios dessa
codificação pela quantidade e complexidade de dados de produto que permite
disponibilizar num espaço relativamente reduzido.
Por sua vez, o consumidor está cada vez mais recetivo. O estudo “A
resposta da Cadeia de Valor às exigências do Consumidor” divulgado por Ana
Paula Barbosa (Retail Services director da Nielsen Portugal), revela que a pandemia teve muito impacto no
comportamento do consumidor, sendo os seus principais fatores o revenge
spending, a crise económica, a continuidade do teletrabalho e a experiência em
e-commerce. Agora, a manutenção dessas tendências em contexto de novo normal
dependerá “da experiência e nível de satisfação dos consumidores no momento de
compra”, sendo fundamentais a afirmação do propósito das marcas, a componente
ética e o acesso a evidências (informação, dados…) que o confirmem. Por certo, a codificação bidimensional, como suporte de tais
narrativas, corresponderá às expectativas do consumidor.
Finalmente, a expansão dos QR codes requer a efetiva transição digital, transversal a toda a sociedade. E os
consumidores estão preparados, quer do ponto de vista da apetência, pelo
interesse, curiosidade no acesso a informação, quer do ponto de vista dos
recursos, pelo acesso generalizado a equipamentos móveis com acesso a dados. Só
importa acelerar a transição digital das empresas, que registou com a crise
pandémica uma aceleração sem precedentes, tirar partido do momento e avançar.
2021.11.26 - Louro de Carvalho
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