É assim que
Francisco define a sua próxima viagem apostólica internacional a Chipre e à
Grécia de 2 a 6 de dezembro. Em videomensagem difundida no horizonte da sua 35.ª
viagem apostólica, saúda todos os habitantes daquelas “magníficas terras” – “todos, todos, não apenas aos católicos”
– e lança um forte apelo em prol da integração dos migrantes, para que o
Mediterrâneo não seja mais “um grande cemitério”.
É de
registar que esta será a 35.ª viagem apostólica internacional do Pontífice, a
terceira neste 2021, após a histórica visita ao Iraque em março e a
peregrinação a Budapeste e Eslováquia em setembro passado. Em particular,
Francisco será o segundo Papa a visitar Chipre e a Grécia: de facto, Bento XVI
havia visitado a ilha do Mediterrâneo Oriental em 2010, enquanto São João Paulo
II havia feito uma etapa no país helénico em 2001.
O Papa faz mesmo
questão de comunicar “a alegria” de visitar estas “magníficas terras,
abençoadas pela história, pela cultura e pelo Evangelho”, nas pegadas de
“grandes missionários”, como “os apóstolos Paulo e Barnabé”. Com efeito,
voltando às origens, a Igreja descobrirá a alegria do Evangelho.
A primeira
grande fonte que poderá saciar a sede do Pontífice é a da fraternidade, “tão
preciosa”, especialmente no contexto do caminho sinodal. E, a este respeito,
considera:
“Há ‘uma graça sinodal’, uma
fraternidade apostólica que tanto desejo e com muito respeito: é a expectativa
de visitar as queridas Beatitudes Chrysostomos e Ieronymos, Chefes das Igrejas
Ortodoxas locais. Como um irmão na fé, terei a graça de ser recebido por vós e
de vos encontrar em nome do Senhor da Paz.”.
E o abraço
fraterno abarcará também “as irmãs e irmãos católicos” que se reúnem, nessas
terras, em “pequenos rebanhos” amados pelo Senhor. A eles e a elas, o Papa levará
“com carinho o encorajamento de toda a Igreja católica”.
A segunda
fonte selecionada pelo Pontífice é a ancestralidade: “a antiga fonte da
Europa”. Na verdade, Chipre representa “um ramo da Terra Santa no continente”,
enquanto “a Grécia é a pátria da cultura clássica”. Portanto, na ótica de Francisco,
a Europa “não pode prescindir do Mediterrâneo, mar que viu a difusão do
Evangelho e o incremento de grandes civilizações”. Por consequência, diz o
Papa, “o ‘mare nostrum’, que liga
tantas terras, convida a navegar juntos, a não nos dividir, indo cada um
sozinho, especialmente neste período em que a luta contra a pandemia ainda
exige muito empenho e a crise climática se avoluma”. De facto, prossegue, “o mar,
que abraça muitos povos, com seus portos abertos, lembra-nos que as fontes de
convivência estão no acolhimento recíproco”. Daí o forte apelo a não
esquecermos os migrantes e refugiados:
“Pensando naqueles que, nos últimos
anos e ainda hoje, fogem das guerras e da pobreza, que chegam às costas do
continente e em outros lugares, e não encontram hospitalidade, mas hostilidade
e são até mesmo instrumentalizados. Eles são nossos irmãos e irmãs. Quantos
perderam suas vidas no mar! Hoje, o ‘Nosso Mar’, o Mediterrâneo, é um grande
cemitério.”.
A terceira
fonte será, então, a da humanidade: será concretamente representada pela etapa
em Mytilene – Lesbos, aonde o Papa irá na manhã de 5 de dezembro, para se
encontrar com os refugiados, tal como fez há cinco anos. Neste âmbito, o seu
propósito é como segue:
“Peregrino na fonte da
humanidade, irei novamente a Lesbos, na convicção de que as fontes do viver em
comum só florescerão novamente na fraternidade e na integração: juntos. Não há
outro caminho. E com esta ‘ilusão’ vou até vós.”.
Por fim, o
Santo Padre invoca a bênção do Senhor para todos os habitantes de Chipre e da
Grécia, levando no coração a suas “expectativas, preocupações e esperanças”.
***
Cinco dias,
nove discursos, duas homilias e um Angelus:
eis são alguns dos números que marcam a viagem apostólica. A primeira etapa
será em Chipre; e a segunda, na Grécia.
Segundo o
programa anunciado pela Sala de Imprensa do Vaticano, Francisco, que partirá de
Roma às 11 horas de 2 de dezembro, após um voo de cerca de 4 horas, terá a
receção oficial no Aeroporto Internacional de Larnaca, em Nicósia, e uma tarde
cheia de compromissos.
O primeiro
discurso está marcado para as 16 horas no encontro com sacerdotes, religiosos,
diáconos, catequistas, associações e movimentos eclesiais de Chipre, na
Catedral Maronita de Nossa Senhora das Graças. Daí o Papa irá ao Palácio
Presidencial para a cerimónia de boas-vindas às 17,15 horas e, logo depois,
para o “Salão Cerimonial” para o encontro com as Autoridades, a Sociedade Civil
e o Corpo Diplomático, para quem fará o seu segundo discurso.
O dia
seguinte abrirá, às 8,30 horas, com a visita de cortesia a Sua Beatitude
Chrysostomos II, Arcebispo ortodoxo de Chipre, no Palácio do Arcebispo; e, às 9
horas, haverá o encontro com o Santo Sínodo na Catedral Ortodoxa de Nicósia,
onde Francisco fará um discurso. A primeira homilia do Papa será proferida na
missa das 10 horas, também em Nicósia, no “GSP Stadium”. À tarde, haverá um
único compromisso a partir das 16 horas: oração ecuménica com migrantes na
igreja paroquial da Santa Cruz em Nicósia, onde o Santo Padre fará um discurso.
A etapa em
Chipre terminará na manhã de 4 de dezembro. Pouco depois das 9 horas, será a
partida do Aeroporto Internacional de Larnaca em direção a Atenas, onde está
prevista a chegada do Papa para às 11,10 horas. No Aeroporto Internacional,
terá lugar a cerimónia oficial de boas-vindas e, depois, a receção no Palácio
Presidencial a partir das 12 horas. Após a visita de cortesia ao Presidente da
República no Gabinete Privado, às 12,30 horas, será o encontro com o Primeiro-Ministro
e, a seguir, o encontro com as Autoridades, a Sociedade Civil e o Corpo
Diplomático, com discurso do Pontífice.
À tarde, em
Atenas, a partir das 16 horas, ocorrerá uma série de encontros religiosos.
Primeiro, a visita de cortesia a Sua Beatitude Ieronymos II, Arcebispo de
Atenas e Toda a Grécia, no Arcebispado Ortodoxo da Grécia, depois o encontro
com as respetivas comitivas na Sala do Trono do Arcebispado, onde o Papa fará
um discurso. Às 17,15 horas, o Papa irá para a Catedral de São Dionísio em
Atenas para o encontro e o discurso dirigido aos bispos, sacerdotes,
religiosos, seminaristas e catequistas. O dia do Papa terminará às 18,45 horas,
na Nunciatura Apostólica, onde está previsto um encontro com membros da
Companhia de Jesus.
No dia 6,
pela manhã, o Papa irá de avião de Atenas para Mytilene – Lesbos onde chegará
pelas 10,10 horas para visitar ao “Centro de Acolhimento e Identificação” para
o encontro e seu discurso para os refugiados acolhidos no local. No final, estará
de volta a Atenas. Em Atenas, às 16,45 horas, presidirá à celebração
eucarística no “Megaron Concert Hall”, após o que retornará à nunciatura onde,
às 19horas, receberá a visita de cortesia de Sua Beatitude Ieronymus II.
O último dia
na Grécia, 6 de dezembro, será marcado por dois compromissos principais antes
da cerimónia de despedida. Às 8,15 horas, Francisco receberá a visita do
Presidente do Parlamento na Nunciatura e, às 9,45 horas, irá à Escola São
Dionísio das Irmãs Ursulinas em Maroussi para o caloroso encontro com os jovens
aos quais fará o último discurso programado para a viagem. E, às 11,15 horas, a
transferência para o Aeroporto Internacional de Atenas para a cerimónia de
despedida e partida para Roma, estando a chegada programada para as 12,35 horas.
Enfim, um
programa recheadíssimo para um Pontífice mais que octogenário!
A uma semana
da viagem de Francisco a Chipre e à Grécia, o Cardeal Kurt Koch, presidente do
Pontifício Conselho para a Promoção da Unidade dos Cristãos destaca o alto
valor ecuménico da visita que Francisco levará a dois países de maioria
ortodoxa.
Importante
impulso ecuménico, significativo momento de diálogo e encontro, chamada à atenção
da comunidade internacional para manter os seus corações e consciências abertos
face à tragédia dos refugiados e migrantes – tudo isto será pertinente na
visita que o Papa realizará de 2 a 6 de dezembro próximo a Chipre e à Grécia,
com importantes encontros em Nicósia, Atenas e Ilha de Lesbos, etapas que
marcarão a oportunidade de estreitar as relações entre as Igrejas Católica e
Greco-Ortodoxa, como confirma o Cardeal Kurt Koch.
Na verdade, o Santo Padre
deseja visitar novamente dois países onde a maioria da população professa a fé
da Igreja Ortodoxa – sinal muito positivo para aprofundar e fortalecer o
diálogo e as relações entre a Igreja Católica e a Igreja Ortodoxa.
Entre os desafios do diálogo entre a Igreja Católica e a Igreja
Greco-Ortodoxa, com um olhar particular para a Igreja na Grécia, o purpurado
faz ressaltar o diálogo
da caridade e o diálogo da verdade. O primeiro visa aprofundar as relações de
amizade entre as Igrejas, ao passo que o diálogo da verdade implica o trabalho
teológico para superar todos os obstáculos recebidos do passado. As Igrejas Ortodoxas
decidiram iniciar o diálogo teológico não a nível bilateral, com as várias
Igrejas Ortodoxas, mas a nível multilateral. Há, pois, uma Comissão
internacional mista, com 14 diferentes Igrejas Ortodoxas autocéfalas. E é com
elas que se realiza esse diálogo. E a viagem do Santo Padre será um grande
passo para aprofundar o diálogo da caridade.
Em relação à Igreja Ortodoxa local de Chipre, há boas relações. O arcebispo Crisóstomo II tem um
coração aberto ao ecumenismo e será um bem aprofundar esta relação entre a
Igreja de Roma, com o Papa como Pontífice de toda a Igreja Católica, e a Igreja
Ortodoxa de Chipre.
Sendo mais uma vez premente o tema dos migrantes, haverá também uma oração
ecuménica em Chipre. Na verdade, também ali o Santo Padre deseja chamar a atenção para a situação dos migrantes e refugiados
e quer celebrar uma oração ecuménica com os migrantes, ao passo que, na Grécia,
quer visitar novamente a ilha de Lesbos-Mytilene, para dar um claro sinal de
que a ajuda aos migrantes e refugiados é um grande desafio ecuménico, que
também precisa de uma colaboração comum.
Na verdade,
migrantes, refugiados e diálogo ecuménico são pontos prementes no Pontificado
de Francisco. Pela oração persistente e pela esperança cooperante, aguardam-se
resultados!
2021.11.27 – Louro de Carvalho
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