sábado, 27 de novembro de 2021

Uma peregrinação às fontes da fraternidade, ancestralidade e humanidade

 

É assim que Francisco define a sua próxima viagem apostólica internacional a Chipre e à Grécia de 2 a 6 de dezembro. Em videomensagem difundida no horizonte da sua 35.ª viagem apostólica, saúda todos os habitantes daquelas “magníficas terras” – “todos, todos, não apenas aos católicos” – e lança um forte apelo em prol da integração dos migrantes, para que o Mediterrâneo não seja mais “um grande cemitério”.

É de registar que esta será a 35.ª viagem apostólica internacional do Pontífice, a terceira neste 2021, após a histórica visita ao Iraque em março e a peregrinação a Budapeste e Eslováquia em setembro passado. Em particular, Francisco será o segundo Papa a visitar Chipre e a Grécia: de facto, Bento XVI havia visitado a ilha do Mediterrâneo Oriental em 2010, enquanto São João Paulo II havia feito uma etapa no país helénico em 2001.

O Papa faz mesmo questão de comunicar “a alegria” de visitar estas “magníficas terras, abençoadas pela história, pela cultura e pelo Evangelho”, nas pegadas de “grandes missionários”, como “os apóstolos Paulo e Barnabé”. Com efeito, voltando às origens, a Igreja descobrirá a alegria do Evangelho.

A primeira grande fonte que poderá saciar a sede do Pontífice é a da fraternidade, “tão preciosa”, especialmente no contexto do caminho sinodal. E, a este respeito, considera:

Há ‘uma graça sinodal’, uma fraternidade apostólica que tanto desejo e com muito respeito: é a expectativa de visitar as queridas Beatitudes Chrysostomos e Ieronymos, Chefes das Igrejas Ortodoxas locais. Como um irmão na fé, terei a graça de ser recebido por vós e de vos encontrar em nome do Senhor da Paz.”.

E o abraço fraterno abarcará também “as irmãs e irmãos católicos” que se reúnem, nessas terras, em “pequenos rebanhos” amados pelo Senhor. A eles e a elas, o Papa levará “com carinho o encorajamento de toda a Igreja católica”.

A segunda fonte selecionada pelo Pontífice é a ancestralidade: “a antiga fonte da Europa”. Na verdade, Chipre representa “um ramo da Terra Santa no continente”, enquanto “a Grécia é a pátria da cultura clássica”. Portanto, na ótica de Francisco, a Europa “não pode prescindir do Mediterrâneo, mar que viu a difusão do Evangelho e o incremento de grandes civilizações”. Por consequência, diz o Papa, “o mare nostrum’, que liga tantas terras, convida a navegar juntos, a não nos dividir, indo cada um sozinho, especialmente neste período em que a luta contra a pandemia ainda exige muito empenho e a crise climática se avoluma”. De facto, prossegue, “o mar, que abraça muitos povos, com seus portos abertos, lembra-nos que as fontes de convivência estão no acolhimento recíproco”. Daí o forte apelo a não esquecermos os migrantes e refugiados:

Pensando naqueles que, nos últimos anos e ainda hoje, fogem das guerras e da pobreza, que chegam às costas do continente e em outros lugares, e não encontram hospitalidade, mas hostilidade e são até mesmo instrumentalizados. Eles são nossos irmãos e irmãs. Quantos perderam suas vidas no mar! Hoje, o ‘Nosso Mar’, o Mediterrâneo, é um grande cemitério.”.

A terceira fonte será, então, a da humanidade: será concretamente representada pela etapa em Mytilene – Lesbos, aonde o Papa irá na manhã de 5 de dezembro, para se encontrar com os refugiados, tal como fez há cinco anos. Neste âmbito, o seu propósito é como segue:

Peregrino na fonte da humanidade, irei novamente a Lesbos, na convicção de que as fontes do viver em comum só florescerão novamente na fraternidade e na integração: juntos. Não há outro caminho. E com esta ‘ilusão’ vou até vós.”.

Por fim, o Santo Padre invoca a bênção do Senhor para todos os habitantes de Chipre e da Grécia, levando no coração a suas “expectativas, preocupações e esperanças”.

***

Cinco dias, nove discursos, duas homilias e um Angelus: eis são alguns dos números que marcam a viagem apostólica. A primeira etapa será em Chipre; e a segunda, na Grécia.

Segundo o programa anunciado pela Sala de Imprensa do Vaticano, Francisco, que partirá de Roma às 11 horas de 2 de dezembro, após um voo de cerca de 4 horas, terá a receção oficial no Aeroporto Internacional de Larnaca, em Nicósia, e uma tarde cheia de compromissos.

O primeiro discurso está marcado para as 16 horas no encontro com sacerdotes, religiosos, diáconos, catequistas, associações e movimentos eclesiais de Chipre, na Catedral Maronita de Nossa Senhora das Graças. Daí o Papa irá ao Palácio Presidencial para a cerimónia de boas-vindas às 17,15 horas e, logo depois, para o “Salão Cerimonial” para o encontro com as Autoridades, a Sociedade Civil e o Corpo Diplomático, para quem fará o seu segundo discurso.

O dia seguinte abrirá, às 8,30 horas, com a visita de cortesia a Sua Beatitude Chrysostomos II, Arcebispo ortodoxo de Chipre, no Palácio do Arcebispo; e, às 9 horas, haverá o encontro com o Santo Sínodo na Catedral Ortodoxa de Nicósia, onde Francisco fará um discurso. A primeira homilia do Papa será proferida na missa das 10 horas, também em Nicósia, no “GSP Stadium”. À tarde, haverá um único compromisso a partir das 16 horas: oração ecuménica com migrantes na igreja paroquial da Santa Cruz em Nicósia, onde o Santo Padre fará um discurso.

A etapa em Chipre terminará na manhã de 4 de dezembro. Pouco depois das 9 horas, será a partida do Aeroporto Internacional de Larnaca em direção a Atenas, onde está prevista a chegada do Papa para às 11,10 horas. No Aeroporto Internacional, terá lugar a cerimónia oficial de boas-vindas e, depois, a receção no Palácio Presidencial a partir das 12 horas. Após a visita de cortesia ao Presidente da República no Gabinete Privado, às 12,30 horas, será o encontro com o Primeiro-Ministro e, a seguir, o encontro com as Autoridades, a Sociedade Civil e o Corpo Diplomático, com discurso do Pontífice.

À tarde, em Atenas, a partir das 16 horas, ocorrerá uma série de encontros religiosos. Primeiro, a visita de cortesia a Sua Beatitude Ieronymos II, Arcebispo de Atenas e Toda a Grécia, no Arcebispado Ortodoxo da Grécia, depois o encontro com as respetivas comitivas na Sala do Trono do Arcebispado, onde o Papa fará um discurso. Às 17,15 horas, o Papa irá para a Catedral de São Dionísio em Atenas para o encontro e o discurso dirigido aos bispos, sacerdotes, religiosos, seminaristas e catequistas. O dia do Papa terminará às 18,45 horas, na Nunciatura Apostólica, onde está previsto um encontro com membros da Companhia de Jesus.

No dia 6, pela manhã, o Papa irá de avião de Atenas para Mytilene – Lesbos onde chegará pelas 10,10 horas para visitar ao “Centro de Acolhimento e Identificação” para o encontro e seu discurso para os refugiados acolhidos no local. No final, estará de volta a Atenas. Em Atenas, às 16,45 horas, presidirá à celebração eucarística no “Megaron Concert Hall”, após o que retornará à nunciatura onde, às 19horas, receberá a visita de cortesia de Sua Beatitude Ieronymus II.

O último dia na Grécia, 6 de dezembro, será marcado por dois compromissos principais antes da cerimónia de despedida. Às 8,15 horas, Francisco receberá a visita do Presidente do Parlamento na Nunciatura e, às 9,45 horas, irá à Escola São Dionísio das Irmãs Ursulinas em Maroussi para o caloroso encontro com os jovens aos quais fará o último discurso programado para a viagem. E, às 11,15 horas, a transferência para o Aeroporto Internacional de Atenas para a cerimónia de despedida e partida para Roma, estando a chegada programada para as 12,35 horas.

Enfim, um programa recheadíssimo para um Pontífice mais que octogenário!

A uma semana da viagem de Francisco a Chipre e à Grécia, o Cardeal Kurt Koch, presidente do Pontifício Conselho para a Promoção da Unidade dos Cristãos destaca o alto valor ecuménico da visita que Francisco levará a dois países de maioria ortodoxa.

Importante impulso ecuménico, significativo momento de diálogo e encontro, chamada à atenção da comunidade internacional para manter os seus corações e consciências abertos face à tragédia dos refugiados e migrantes – tudo isto será pertinente na visita que o Papa realizará de 2 a 6 de dezembro próximo a Chipre e à Grécia, com importantes encontros em Nicósia, Atenas e Ilha de Lesbos, etapas que marcarão a oportunidade de estreitar as relações entre as Igrejas Católica e Greco-Ortodoxa, como confirma o Cardeal Kurt Koch.

Na verdade, o Santo Padre deseja visitar novamente dois países onde a maioria da população professa a fé da Igreja Ortodoxa – sinal muito positivo para aprofundar e fortalecer o diálogo e as relações entre a Igreja Católica e a Igreja Ortodoxa.

Entre os desafios do diálogo entre a Igreja Católica e a Igreja Greco-Ortodoxa, com um olhar particular para a Igreja na Grécia, o purpurado faz ressaltar o diálogo da caridade e o diálogo da verdade. O primeiro visa aprofundar as relações de amizade entre as Igrejas, ao passo que o diálogo da verdade implica o trabalho teológico para superar todos os obstáculos recebidos do passado. As Igrejas Ortodoxas decidiram iniciar o diálogo teológico não a nível bilateral, com as várias Igrejas Ortodoxas, mas a nível multilateral. Há, pois, uma Comissão internacional mista, com 14 diferentes Igrejas Ortodoxas autocéfalas. E é com elas que se realiza esse diálogo. E a viagem do Santo Padre será um grande passo para aprofundar o diálogo da caridade.

Em relação à Igreja Ortodoxa local de Chipre, há boas relações. O arcebispo Crisóstomo II tem um coração aberto ao ecumenismo e será um bem aprofundar esta relação entre a Igreja de Roma, com o Papa como Pontífice de toda a Igreja Católica, e a Igreja Ortodoxa de Chipre.

Sendo mais uma vez premente o tema dos migrantes, haverá também uma oração ecuménica em Chipre. Na verdade, também ali o Santo Padre deseja chamar a atenção para a situação dos migrantes e refugiados e quer celebrar uma oração ecuménica com os migrantes, ao passo que, na Grécia, quer visitar novamente a ilha de Lesbos-Mytilene, para dar um claro sinal de que a ajuda aos migrantes e refugiados é um grande desafio ecuménico, que também precisa de uma colaboração comum.

Na verdade, migrantes, refugiados e diálogo ecuménico são pontos prementes no Pontificado de Francisco. Pela oração persistente e pela esperança cooperante, aguardam-se resultados!

2021.11.27 – Louro de Carvalho

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