domingo, 31 de dezembro de 2017

Quero um ano de 2018

Que não traga:
- Mais casos de políticos que usufruam de benefícios pessoais de empresas com cujos negócios podem ter de interferir em razão do cargo que ocupam – caso da Galp e outras.
- Casos de contratos por força dos quais o Estado fica fragilizado em caso de situação problemática, mercê da promiscuidade entre o público e o privado – tipo PPP, Swap, Siresp.  
- Mais casos de legionella em hospitais públicos ou privados ou em quaisquer câmaras de refrigeração, bem como outras doenças letais.
- Incêndios florestais – sobretudo com perda de vidas humanas e de animais – provocados por mão humana, pelo capricho da natureza ou pela negligência das pessoas, serviços e empresas, bem como incêndios em habitações ou unidades comerciais e industriais.
- Mortes na estrada por acidente de viação, nos campos por acidentes com máquinas agrícolas, ou nas fábricas por acidentes com máquinas industriais e em casa ou em oficinas de pirotecnia por explosão.
- Assaltos a residências, a pessoas nas ruas, a carrinhas de valores, a empresas, a serviços de associações e do Estado.
- Casos de violência doméstica, crime passional e crime organizado.
- Violação, abuso sexual de menores e pedofilia.
- Afirmações insultuosas inseridas em declarações políticas ou em sentenças e acórdãos judiciais.
- Furto de material de guerra ou de paióis das forças armadas ou dos armazéns policiais.
- Situações como as que ocorreram com a “Raríssimas” ou aquela em que os partidos surpreenderam a opinião pública legislando em proveito próprio sem a devida contenção e a exigível transparência.
- Fraudes com prejuízos para o Estado, empresas, famílias e pessoas.
- “Planos de reestruturação” de empresas e serviços cuja concretização se limita a colocar na rua pessoal, a encerrar lojas, agências ou balcões e a aumentar tarifas e comissões.  
- Eternização de processos judiciais com a suspeição de que a justiça não funciona, fazendo sofrer as vítimas ou desrespeitando os direitos dos arguidos.
- Manutenção de criminosos à solta, com o perigo para a defesa e segurança dos cidadãos e dos bens.
- Investimento dos 200 milhões da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa na Caixa Económica Montepio Geral.
- Mediocridade na escola e no sistema educativo.
- Insuficiência no sistema nacional de saúde e aproveitamento da saúde para negócio.
- Problemas laborais tidos como insolúveis, emprego precário e baixos salários.
- Incómodo às pessoas e às famílias da parte dos Call Centers.
- Guerra Estados Unidos – Coreia do Norte.  
- Prossecução dos projetos Trump.
- Manutenção da situação na Ucrânia.
- Braço de ferro entre a Catalunha e Madrid.
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Mas que traga:
- Crescimento da economia nacional com reflexo na vida das pessoas, na saúde das empresas e na vitalidade do Estado.
- Criação de mais e melhor emprego – com estabilidade, salário condigno, perspetiva de carreira e articulação da vida profissional com a vida pessoal e familiar.
- Diminuição significativa da dívida pública.
- Maior entendimento e interação na União Europeia.
- Sanidade e pujança da vida política, associativa e desportiva.
- Êxito na organização do Eurofestival.
- Êxito para Mário Centeno na coordenação do Eurogrupo.
- Êxito para António Guterres na resolução das grandes questões internacionais e na reforma das Nações Unidas.
- Seriedade na vida parlamentar e judiciária e na ação governativa.
- Saúde e honestidade no desporto, crescimento na atividade cultural e no desenvolvimento artístico.
- Harmonização das relações intergeracionais.
- Reforço da garantia da defesa e segurança das pessoas e bens, através da boa organização da proteção civil, do empenho das forças de segurança e da disponibilidade das forças armadas.
- Melhoria na vida escolar e no sistema educativo de modo que as crianças, adolescentes e jovens usufruam de verdadeira educação integral.
- Melhoria do sistema de saúde de modo que se reduzam as listas de espera para consulta, exames e intervenção cirúrgica – na perspetiva do serviço, que não do negócio.
- Coerência da vida com os valores éticos e religiosos, contra a vivência de fachada.
- Reconhecimento do valor das religiões para o diálogo social e para a promoção da luta pelas grandes causas.
- Êxito para os Sínodo dos Bispos sobre o tema “Os jovens, a fé e o discernimento vocacional”.
- Respeito pela opinião de cada um e pelo direito à livre expressão, reunião e associação – contra o uniformismo de ação e o pensamento único.
- Promoção da vida humana em todas as circunstâncias.
- Verdadeiro e aprofundado debate sobre todas as questões ditas fraturantes.
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Enfim, a todos os colegas, amigos e amigas desejo um novo ano com muita vida, muita saúde, muita satisfação pessoal, familiar, profissional e social. E que Santa Maria Mãe de Deus, sob cuja égide a Igreja Católica coloca o início do ano, acompanhe todos os nossos passos ao encontro de Cristo presente nos irmãos.
E não esqueçamos que ainda é Natal, que não pode ser em vão!

2017.12.31 – Louro de Carvalho

Os pais são guardiões da vida dos filhos, não seus proprietários

É a primeira lição que o Papa Francisco recolhe da festa da Sagrada Família que hoje se celebra enquadrada no tempo do Natal.
Disse o Pontífice, aquando da recitação do Angelus com os fiéis reunidos na Praça de São Pedro, que a perícopa do Evangelho (Lc 2,22-40) hoje proclamada nos convida a refletir na experiência vivida por Maria, José e Jesus: “crescem em conjunto como família no amor recíproco e na confiança em Deus”. E é esta confiança em Deus e a sua fidelidade à Lei de Deus, herdada de Moisés, que provoca o cumprimento do rito da oferta do filho Jesus a Deus feita por Maria e José: “levaram o menino a Jerusalém para o apresentarem ao Senhor, como prescrevia a lei de Moisés” (cf Lc 2,22).
E Francisco entende que “os pais de Jesus vão ao templo para mostrarem que o filho pertence a Deus e que eles são custódios da sua vida e não proprietários”. E esta reflexão faz extrapolar para o estatuto das demais famílias: “todos os pais são guardiões da vida dos filhos e não proprietários; e devem ajudá-los a crescer e a amadurecer”. Com efeito, os pais dos filhos primogénitos em Israel, sendo abastados pagavam 5 ciclos e sendo pobres, ofereciam em sacrifício “duas rolas ou duas pombas” em sinal de consagração ao Senhor e como resgate para poderem exercer a guarda. Os progenitores de Jesus, apesar de serem da descendência de David, pertenciam ao grupo dos pobres.
Ora, uma das etapas do crescimento que os pais devem ajudar é a ida ao templo “para atestar que o filho pertence a Deus”. E, a partir do gesto conjunto de Maria e de José, Francisco infere:
Este gesto sublinha que somente Deus é o Senhor da história individual e familiar; tudo nos vem d’Ele. Cada família é chamada a reconhecer tal primado, custodiando e educando os filhos para abrirem-se a Deus que é a fonte da própria vida.”.
É à luz destes pressupostos que o Pontífice enquadra a presença do velho Simeão e da profetiza Ana no templo naquele momento. Simeão vem ali inspirado pelo Espírito Santo, que lhe revelara que havia de contemplar o Messias de Israel, e, tomando o menino nos braços, bendisse a Deus com satisfação, dizendo:
Agora, Senhor, segundo a tua palavra, deixarás ir em paz o teu servo, porque meus olhos viram a Salvação que ofereceste a todos os povos, Luz para se revelar às nações e glória de Israel, teu povo.
Na sua ancianidade, abençoou aqueles pais, que ficaram admirados com tudo aquilo ouviram; e, na sua perspicácia juvenil, advertiu Maria:
Este menino está aqui para queda e ressurgimento de muitos em Israel e para ser sinal de contradição; uma espada trespassará a tua alma. Assim hão de revelar-se os pensamentos de muitos corações.”.
E Ana, que não se afastava do templo, participando no culto noite e dia, com jejuns e orações, apareceu nessa mesma ocasião, pondo-se a louvar a Deus e a falar do menino a todos os que esperavam a redenção de Jerusalém.
O Papa sustenta que passa por esta entrega confiante e amorosa a Deus “o segredo da juventude interior testemunhado por um par de anciãos, Simeão e Ana”. E infere:
Estas palavras proféticas [de Simeão] revelam que Jesus veio para fazer cair as falsas imagens que nós fazemos de Deus e também de nós mesmos; para ‘contradizer’ as seguranças mundanas sobre as quais pretendemos apoiar-nos; para fazer-nos ressurgir para um caminho humano e cristão autêntico verdadeiro, alicerçado nos valores do Evangelho”.
E também o Pontífice profetizou numa linha de esperança:
Não há situação familiar que esteja previamente fechada a este caminho novo de renascimento e de ressurreição. Cada vez que as famílias, mesmo aquelas feridas e marcadas pela fragilidade, fracassos e dificuldades, voltam à fonte da experiência cristã, abrem-se novos caminhos e possibilidades impensadas.”.
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Francisco retomou a passagem deste Evangelho que narra o retorno da Sagrada Família à Galileia, mais precisamente à sua cidade de Nazaré, para falar sobre a importância do crescimento dos filhos. Anotando que “o menino crescia e robustecia-se, enchendo-se de sabedoria, e a graça de Deus estava com Ele”, o Bispo de Roma, afirmou:
Uma grande alegria da família é o crescimento dos filhos, todos sabemos disso. Eles são destinados a crescer e fortificar-se, a adquirir experiência e acolher a graça de Deus, precisamente como aconteceu com Jesus. Ele é realmente um de nós: o Filho de Deus se fez criança, aceita crescer, fortalecer-se, é cheio de sabedoria e a graça de Deus está com Ele.”.
Maria e José têm esta alegria de ver tudo isto em seu filho – observou – frisando que “esta é a missão para a qual é orientada a família”:
Criar condições favoráveis para o crescimento harmónico e pleno dos filhos, para que possam viver uma vida boa, digna de Deus e construtiva para o mundo.
E foram estes os votos que Sua Santidade dirigiu hoje, dia da Sagrada família, a todas as famílias, acompanhados com a invocação a Maria, Rainha das Famílias”, ao concluir a sua reflexão que precedeu a oração do Angelus.
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Depois da recitação do Angelus, o Papa exprimiu a sua proximidade junto dos irmãos coptas ortodoxos do Egito, atingidos há dois dias por dois atentados, um numa igreja e outro num estabelecimento comercial, nas periferias do Cairo; e pediu ao Senhor que acolha os defuntos, cure os feridos, conforte os familiares e toda a comunidade e converta os corações dos violentos.
Dirigiu uma saudação especial às famílias ali presentes e àquelas que participaram naquela oração a partir de casa, pedindo à Sagrada Família que as abençoe e guie no seu caminhar.
Saudou os romanos e os peregrinos, em particular os grupos paroquiais, as associações e os jovens. Pediu que não se esquecessem de, neste dia, dar graças a Deus pelo ano que agora finda e pelos bens que cada um recebeu. Se, de facto, o ano transcorrido trouxe provações e dificuldades, também trouxe ajuda para as superar e muitas coisas boas, que é justo agradecer ao Senhor.
Hoje – proclamou o Pontífice – é dia de ação de graças!

2017.12.31 – Louro de Carvalho

sábado, 30 de dezembro de 2017

A cultura da ficha e do estudo para o teste

No dia 18 de dezembro, Sara R. Oliveira, num artigo intitulado “A cultura da ficha e o ensinar para o teste” (eu prefiro o título em epígrafe), dá conta do estudo sobre o panorama do ensino em Portugal, nomeadamente no atinente à avaliação, abordado num congresso sobre avaliação das aprendizagens e sucesso escolar, que teve lugar na Universidade do Minho, organizado por quatro investigadores do CIEC (Centro de Investigação em Estudos da Criança), Maria Assunção Flores, Maria Palmira Alves, Eusébio André Machado e Sandra Fernandes – com a participação de vários países e que encerrou com a presença do Secretário de Estado da Educação, João Costa.
Neste encontro, foi ainda lançado um livro sobre avaliação e sucesso escolar numa perspetiva internacional, que reúne contributos de diferentes países e continentes. 
Concluem os mais de 200 congressistas que “a avaliação dos alunos continua centrada nos testes e nos exames nacionais” e que “a obsessão pelos resultados, pelos rankings que ganham projeção pública, acentua a competição entre professores e entre escolas”.
Dizem os doutos participantes que a avaliação se tornou um imperativo universal, sendo que “tudo é avaliado, todos são avaliados, todos são avaliadores”. Ora, tudo depende do tipo de avaliação que se pretende e que se faz e daquilo que pretende cada um avaliar. E pergunto-me quem é que avalia o que se faz um teste ou num exame nacional. Não é certamente o aluno ou o seu encarregado de educação, a quem, em certas circunstâncias, cabe o direito de reclamação.
Num teste de escola, o professor avalia a prestação do aluno, mas já vem essa avaliação formatada por uns critérios plasmados numa matriz, que não passa, tantas vezes, de um instrumento de constrição, afastando a cultura duma avaliação holística. Mas nos exames nacionais é pior: os critérios que entalam os professores-corretores e as diretrizes verbais que intervém a torto e a direito durante o processo promovem uma avaliação em fragmentos, interessando o que o aluno escreveu, mesmo que mostre não perceber nada do que fez, ou sendo penalizado porque mostra um domínio assaz suficiente do tema, mas falhou na resposta a fragmentos. Então as questões com resposta de escolha múltipla são um exemplo do que a sorte ou as sofisticadas formas de contacto são capazes de fazer.
Muitas vezes, confunde-se, na escola, a expressão “intervenientes na avaliação” com “avaliadores”. Por exemplo, o diretor intervém na avaliação, garantindo o serviço, os materiais, o espaço e o tempo, mas não é avaliador, apesar de alguns se arrogarem episodicamente essa prerrogativa; os pais intervêm prestando informações sobre as caraterísticas dos filhos, mas não são avaliadores; e os conselhos de turma, que avaliam sobre a informação que o professor dá, entram muitas vezes em situação abusiva e condicionadora. 
É óbvio que a avaliação é “caraterizada pela complexidade, multidimensionalidade e abrangência” e que “as políticas de avaliação foram substituídas pela própria avaliação como principal política no campo da educação”. Porém, é legítimo questionar que abrangência e que multidimensionalidade podem evidenciar-se na avaliação que consiste em fichas, testes e exames. A multiplicidade e diversidade de itens não garantem a multidimensionalidade e abrangência. E a complexidade da avaliação reside basicamente no seu pendor subjetivo, que acontece, por mais critérios que se definam para conseguir objetividade. Outros tipos de complexidade são criados pelo legislador e pelo administrador.
Se efetivamente os professores deixarem de ser obrigados a promover a aprendizagem para o teste, exame e ranking (que é aqui que os pais e a opinião pública fazem juízo de valor sobre a escola), a avaliação naturalmente integrará várias componentes que abrangem vários saberes – conhecimentos, capacidades e atitudes. E a multiplicidade não é sinónimo de complexidade. Porém, quando Ministério da Educação, Editores, Pais e Centros de Estudo se unem na cultura da ficha, do teste e do exame e se comprazem na preparação dos alunos pelo formulário do teste, obviamente a avaliação nem é complexa, nem multidimensional nem abrangente. Promove-se o estudo mecânico para exame. E as disciplinas que não têm exame, mas que não querem ficar para trás na importância escolar, deixam-se arrastar pela mesma onda.
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Não é obrigatório por lei, mas em todas ou quase todas as escolas, “há testes em todos os períodos letivos, há exames nacionais em todas as escolas, divulgam-se resultados, fazem-se rankings, que têm muita atenção mediática”. Há conselhos pedagógicos que, no âmbito dos critérios de avaliação, determinam quantos testes se devem fazer por período em cada disciplina, que peso percentual devem ter na avaliação das aprendizagens, quantos se podem ou não aplicar por semana. Ora, os critérios definidos por aquele órgão de gestão pedagógica deveriam consistir na convergência equânime das propostas de cada disciplina em consonância com o respetivo programa e no âmbito da sua índole e metodologia.
Deixemo-nos de tretas e burocracias. A avaliação deveria decorrer seriamente da dinâmica das aprendizagens e fazer-se para promover a melhoria das aprendizagens. E, aqui, será importante articular programa operacionalizado pela planificação com o ritmo do aluno, mas obviamente puxando por este. E, para assegurar o pendor formativo da avaliação, deveriam utilizar-se vários tipos de instrumentos, de oralidade (mas sem crivar esta de regras e formulários), escrita, manufatura, dramatização, trabalhos de grupo, trabalhos individuais…   
Só que isto, que já esteve em prática, britaria a lógica do exame nacional e do ranking. E os alunos que hoje ambicionam uma boa nota final acham que estas práticas são um desperdício. Por outro lado, os pais e a opinião pública em geral esquecem que é dever e proveito do aluno estudar todos os dias e labutam pelo estudo de preparação para o teste ou exame. E, quanto mais fichas o explicador ou o professor lhe derem, mais bem preparados se julgam – quando o que mais importa é raciocinar, confrontar-se com novas situações, responder à novidade e ao imprevisto. Tudo se baralha quando querem que as matrizes do teste ou do exame exibam o que vai sair e como vai sair ou quando facilmente se pode faltar a aulas que não são de teste.
É óbvio: no estado atual das coisas, “comparam-se prestações, notas, escolas”. E a “ênfase na mensurabilidade e na obsessão pelos resultados origina uma acentuação da competição entre professores e entre escolas” e, tantas vezes, “uma visão redutora daquilo que conta como qualidade da educação”. Porém, com isto, não se pretende a desvalorização dos testes ou exames. Pretende, antes, olhar-se para eles “como um indicador que pode e deve ser complementado por outros elementos e fatores que constituem a essência do ato educativo”.
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Este caldo de cultura leva para a escola “a adoção de práticas curriculares e avaliativas por parte dos professores que tendem a reproduzir a avaliação externa” marcada pela uniformização. A ‘cultura da ficha’ e do ‘ensinar/aprender para o teste’, a introdução de materiais padronizados e o treino de conhecimentos são exemplos bastantes do modo como a lógica do controlo se sobrepõe à visão holística e flexível de currículo e de avaliação.
Os congressistas sustentam que avaliação e sucesso andam a par e que a avaliação regula e monitoriza desempenhos de alunos e escolas. E, depois de verificarem que, “há 10 anos, por exemplo, o Japão introduziu o teste nacional” e que “o Brasil tem uma bateria de provas de avaliação ao nível do governo federal, estadual e municipal”, reconhecem que a medição do sucesso dos sistemas educativos com base nos testes em larga escala, resultados e rankings, “tem levado, em muitos casos, à adoção de estratégias de sobrevivência e a alterações no trabalho das escolas e dos professores, entre os quais está a redução de conteúdos, o estreitamento de práticas curriculares, a cristalização do currículo e a naturalização de práticas uniformizadas e rotineiras”. 
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Para melhorar os indicadores de qualidade dos sistemas educativos e elevar os resultados dos alunos em testes internacionais, os governos introduziram mudanças na avaliação das aprendizagens que se pautam por diferentes modelos e que permitem questionar distintos modos de almejar o sucesso escolar. Porém, questiona-se se esse é sucesso artificial ou real e em que medida o sucesso se traduz na melhoria da qualidade do ensino e das aprendizagens na escola.
É certo que a avaliação assumiu lugar de destaque nas políticas educativas e curriculares e tem impacto nas práticas de ensino-aprendizagem. Mas há perguntas em torno do tema:
Que papel têm os testes e exames nacionais na avaliação e aprendizagem? Que conceções de avaliação e de aprendizagem subjazem às políticas de avaliação das aprendizagens? Que dizem os quadros normativos da avaliação? De que modo os sistemas de avaliação informam os sistemas educativos, sobretudo no atinente ao desenvolvimento do currículo e à melhoria das aprendizagens?”.
No rescaldo do congresso internacional, os investigadores sustentam:
A sinalização das transformações atuais da avaliação das aprendizagens permite também a recolha de informação sobre um dos pontos mais críticos das políticas educativas, das mudanças nas escolas e das profundas tensões que professores e alunos vivem diariamente nas salas de aula. É fundamental conhecer as políticas de avaliação das aprendizagens dos alunos e perceber as tendências e os desafios do panorama internacional e também do nosso país.”. 
Todavia a questão de fundo é: Dá-se mais importância à avaliação da aprendizagem do que à avaliação para aprendizagem e à avaliação como aprendizagem?
Entende-se como paradigmático o caso da Finlândia. A este respeito, uma especialista deste país partilhou experiências no encontro. O seu sistema de avaliação “é orientado por uma lógica formativa”, sendo que “a avaliação para a aprendizagem surge alinhada com um modelo de currículo mais flexível, com métodos de avaliação diversificados e versáteis, associada a uma autonomia curricular e pedagógica dos professores”. Diz ela:
Os princípios e as práticas de avaliação no Ensino Básico no contexto finlandês assentam, assim, na promoção da aprendizagem dos alunos e no seu desenvolvimento contínuo assim como na busca da equidade educativa”. 
De resto, à exceção da Finlândia, o que “surge claramente no panorama internacional” é “a centralidade dos resultados escolares dos alunos com base em testes e exames nacionais”. É a evidência da “lógica da mensurabilidade” e da “dimensão normativa da avaliação” que está bem presente, por exemplo, no contexto brasileiro, com toda a panóplia de provas, mas também no contexto japonês, luxemburguês, suíço e belga.
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Regista-se, em consequência, a forte tensão entre a avaliação interna e a avaliação externa. Dum lado, o argumento de criar instrumentos de avaliação em larga escala que permitam a comparação e a competição – a Croácia é um caso exemplar nesse aspeto; do outro, a necessidade de uma avaliação interna centrada no aluno, reguladora e formativa. A este propósito, os investigadores salientam a mimetização e a tensão:
Das avaliações externas, como sucede com o PISA, tem resultado um efeito de mimetização que se traduz no incremento e até na obsessão da avaliação externa nas escolas. O que tem acontecido com este processo de ‘globalização’ da avaliação das aprendizagens é uma profunda reconfiguração das lógicas e práticas de avaliação interna. […] As avaliações externas, tal como estão implementadas, tendem a agudizar as próprias tensões relacionadas com a autonomia das escolas, especialmente no domínio do currículo.”.
E os congressistas não esquecem o panorama português, quando asseguram:
Em Portugal, a avaliação interna é consensual em vários aspetos, nomeadamente na lógica da aprendizagem dos alunos como objeto de avaliação, na conceção alargada relativamente aos intervenientes no processo, na avaliação global feita no final de cada período, no caráter excecional da retenção, e ainda nas três modalidades, ou seja, diagnóstica, formativa e sumativa. Na avaliação externa, tem havido várias mudanças ao longo do tempo: provas globais, provas de aferição, exames nacionais realizados nos anos terminais de ciclo. As mudanças têm exigido adaptações de alunos, escolas, professores. Os defensores da avaliação externa realçam a importância de dar atenção aos conhecimentos adquiridos pelos alunos em determinadas disciplinas consideradas nucleares, e que as provas externas podem assumir um caráter formativo.”.
Ora, do meu ponto de vista, é cada vez menos verdade o que os ilustres dizem sobre a saúde da avaliação interna. Ela está minada pela lógica da valorização do teste. É o referente obrigatório do encarregado de educação e de muitos professores que precisam de sobreviver. Aliás, estão em contradição com o que mais acima disseram da influência da avaliação externa na interna.
E como podem as provas externas assumir caráter formativo fora da lógica da uniformização, para a qual trabalham as escolas, as editoras e os centros de estudos, que, em vez da explicação, fazemos os trabalhos do aluno que os dá como seus sem, tantas vezes, saber o que lhe fizeram.
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O congresso discutiu ainda outro ponto relevante: as mudanças na área da avaliação das aprendizagens não têm sido acompanhadas de uma reconfiguração do trabalho docente, da formação inicial e do desenvolvimento profissional”. Por conseguinte, “as práticas de avaliação são ainda marcadas, a nível internacional, por um modelo de organização da escola assente no trabalho individual, no isolamento disciplinar e no currículo fragmentado”. Por isso, é preciso introduzir várias mudanças nas escolas para a criação de outras dinâmicas de trabalho.
É certo que a formação inicial e contínua é um pilar relevante para a transformação da avaliação das aprendizagens. Porém, em países como o português, o corpo docente é relativamente envelhecido (É verdade!), com formação inicial em matéria de avaliação incipiente e socialização profissional “muito marcada por lógicas de trabalho individualista” (injustas estas acusações).
Assim, os congressistas entendem que, na formação de professores, há aspetos a ter em conta como a criação de espaços de ressocialização do trabalho de docente, enfatizando a necessidade de experimentar formas alternativas de avaliação, por um lado, e criando condições para um suporte colaborativo da avaliação das aprendizagens dos alunos, por outro. E dizem:
Neste âmbito, será seguramente fundamental um trabalho coletivo no sentido de uma consolidação científica do processo de avaliação, designadamente no que se refere à construção, aplicação e uso dos instrumentos de avaliação”.
Mais foi dito:
Em termos de investigação no nosso país, ainda há poucos estudos no domínio da avaliação das aprendizagens focados no que se faz na sala de aula. Verifica-se que as práticas oscilam entre a avaliação sumativa e a avaliação formativa, ou seja, avaliação com sentido de medida e classificação e a avaliação com sentido de negociação, monitorização e construção. E, além disso, existe um turbilhão legislativo em relação à avaliação externa que tem gerado ‘entropia’ nas dinâmicas escolares.”.
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O Congresso o diz, nem sempre com acerto. Será que ME e escolas o assumirão como convém?

2017.12.30 – Louro de Carvalho

A Solenidade do Natal de 2017 no Santuário de Fátima

O espírito da celebração do Natal no Santuário de Fátima, que parecia eu estar a olvidar (ainda estamos na Oitava do Natal), pode sintetizar-se no apelo do Reitor, o Padre Carlos Cabecinhas, na missa das 11 horas do da 25 na Basílica da Santíssima Trindade: “Alegremo-nos, façamos a festa, mas não percamos o essencial”.
À assembleia de peregrinos, o Padre Cabecinhas apresentou Jesus como a “Palavra de Deus Pai, Palavra que que nos ilumina e nos conduz à vida plena”, explicando que “aqui reside a Sua identidade, a Sua missão e o dom que significa para cada homem e mulher”. E salientou a ideia de que, “num mundo tão cheio de palavras, como é o nosso, Jesus vem como a Palavra definitiva de Deus”.
Depois, explicitou o dinamismo inerente ao Deus-Menino e à nossa relação com Ele:
O Deus-Menino é a Palavra capaz de dar sentido às nossas vidas, capaz de atingir a profundidade da nossa existência e dos nossos problemas. No Natal, Deus fala-nos pelo Seu próprio Filho. A grande questão é se nós nos dispomos a escutá-Lo, nos dispomos a acolher Jesus, Palavra de Deus.”.
Alertando para um problema que “dois mil anos depois” continua a ser “o verdadeiro drama do Natal: não termos lugar para Cristo, não O acolhermos”, afirmou:
Corremos sempre o risco de nos ocuparmos tanto da preparação da festa do Natal, que deixamos de ter espaço para o mais importante: acolher Jesus que vem como Palavra, Luz e Vida”.
E reconheceu que há com isto o risco de “ou por estarmos demasiado distraídos de Deus, ou por não querermos que Ele venha incomodar as nossas rotinas e opções, também nós não termos espaço para o Deus Menino”.
Nesta celebração, em que se fez anunciar um grupo de peregrinos da Costa do Marfim, o Padre Carlos Cabecinhas considerou o “silêncio para O acolher fundamental”, uma vez que “a palavra só pode ressoar e fazer-se ouvir onde encontra silêncio recetivo”. A este respeito, considerou:
Por isso, o silêncio é também caraterístico da narração e celebração do Natal. Não um silêncio vazio, mas o silêncio contemplativo, o silêncio de quem escuta. Se Jesus Menino é o Verbo, a Palavra de Deus que se faz carne, então é fundamental fazer silêncio para O escutar. A palavra só no silêncio se pode acolher.”.
Desta forma, pôde inferir as consequências do Natal, que é desafio e convite:
O Natal é desafio a fazer calar tantos ruídos que nos cercam: é desafio a fazer calar as vozes do nosso egoísmo, que nos centram em nós e nos nossos problemas e nos impedem de acolher os outros; é convite a fazer calar as vozes da nossa autossuficiência, que nos impede de nos reconhecermos frágeis e débeis, necessitados de Deus e da Sua força; é convite a fazer calar o ruído em que nos envolvemos para nos distrairmos da vontade de Deus, tantas vezes misteriosa; é desafio a fazermos calar as vozes do comodismo”.
Em suma, disse: “O grande desafio do Natal é não perdermos o essencial. Alegremo-nos, façamos a festa mas não percamos o essencial”.
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Já na Missa Noite de Natal, pelas 23 horas do dia 24, o Reitor, classificou esta noite como noite de “alegria”, de “luz” e  de “paz”, lembrando a alegria resultante do nascimento do Salvador:
Esta noite de Natal é uma noite especial, marcada pela alegria de nos sabermos amados por Deus, pela irrupção da luz de Deus, que vem iluminar-nos, e pela paz, que o Deus-Menino nos vem trazer”.
Com efeito, “no nascimento de Jesus, em Belém, experimentamos a imensa ternura com que Deus nos ama”, explicou o Padre Cabecinhas lembrando a “simplicidade” do relato de São Lucas, no Evangelho e falando da “contemplação dos presépios, que nele se inspiram, e na qual transparece a imensa ternura e o amor desmedido de Deus para connosco”. E mostrou aos peregrinos presentes como Deus “Se faz próximo, vem ao nosso encontro e nos mostra o seu amor sem medida”.
Depois, abordou o mistério do Natal pela temática da luz, recordando a “luz” consequente do nascimento do “Salvador”.
Considerando que “todos nós fazemos a experiência das trevas, não apenas físicas, da falta de luz que nos impede de ver, mas sobretudo existenciais, quando não vemos o sentido da nossa vida, quando não vemos saída para os nossos problemas, dificuldades e dúvidas”, o Padre celebrante afirmou que “Jesus vem precisamente como luz, capaz de nos iluminar, de nos mostrar os caminhos que devemos trilhar”.
E, tendo em conta que “o Natal é festa de luz, aliás manifesta nas iluminações natalícias, sinal festivo e de alegria”, frisou que “no Menino do Presépio encontramos essa luz que nos reconcilia connosco próprios, que nos conduz a Deus, que nos mostra o caminho da felicidade”.
Por fim, o Padre Cabecinhas memorou a “paz” decorrente do nascimento do Salvador, dizendo:
Pelo seu nascimento, Deus concede-nos a paz como dom. A paz sintetiza todos os dons de Deus e cria em nós serenidade, concórdia, união, harmonia com Deus, com os outros e connosco próprios”.
O Reitor explicou que “o Natal é festa da paz, da harmonia com os outros” e que “esta paz tem tanto de dom como de tarefa”. Oram sendo “também missão que nos é confiada, torna-se claro que “de nós depende construir a paz e difundi-la à nossa volta”.
E, convocando a “profunda gratidão a Deus, que nos ama tanto, a ponto de nos cumular de tais dons”, declarou:
No Menino do Presépio, Deus identifica-Se com os ‘pequenos’, os deserdados, os refugiados, os pobres, os doentes ou os que estão sós. Acolher a paz como dom e assumi-la como tarefa implica, da nossa parte, a atenção concreta aos outros, a solidariedade, a partilha, o amor concreto, a ajuda desinteressada aos que mais precisam”.
É assim o Natal, festa de Deus feito Palavra para nós, nossa alegria, nossa luz e nossa paz – a escutar e acolher num ambiente de silêncio eloquente!
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Mas o Natal do Santuário, em coerência com a doutrina pregada na celebração da Eucaristia, quis também ser momento e festa de partilha.
Assim, os ofertórios das Missas de Natal no Santuário de Fátima, dos dias 24 e 25, revertem a favor das vítimas dos incêndios. A recolha de donativos decorreu nos “momentos da osculação do Menino Jesus”, no final das cerimónias ligadas à celebração do nascimento de Cristo. 
É certo que as celebrações principais ocorreram na Basílica da Santíssima Trindade. Assim, a ‘Missa do Galo’, na noite de 24 de dezembro, teve início às 23 horas, na Basílica da Santíssima Trindade. E, no dia 25, houve celebração da Missa às 9 horas, 11 horas, 15 horas  e 16,30 horas na Basílica da Santíssima Trindade; às 7,30 horas e 18,30 horas na Basílica de Nossa Senhora do Rosário de Fátima; e às 12,30 horas na Capelinha das Aparições.

E, no âmbito da partilha da oração, pelas 17,30 horas, foram cantadas Vésperas na Basílica de Nossa Senhora do Rosário de Fátima.

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A envolver a celebração do Natal no Santuário, destacaram-se duas realizações artístico-culturais: o Concerto de Natal promovido pelo Santuário de Fátima no Centro Pastoral de Paulo VI com a Banda Sinfónica Portuguesa e  Coro Infantil da Academia de Música de Costa Cabral, no dia 17 de dezembro; e o Presépio de Paulo Neves, que integra património do Santuário de Fátima e ficou instalado na nave da Basílica de Nossa Senhora do Rosário de Fátima foi pensado e desenhado para este espaço.

No predito concerto foram interpretadas seis peças, entre as quais o tema Whatsup-whatsdown, de Jorge Salgueiro, em estreia absoluta – e tudo sob a direção do Maestro Francisco Ferreira.

A Banda Sinfónica Portuguesa é uma Associação cultural, sem fins lucrativos, apoiada pelas escolas de ensino artístico especializado da Academia de Música de Costa Cabral (Porto) e Conservatório de Música do Porto, sendo ainda financiada pela Direção-Geral das Artes.
Sediada no Porto, apresentou-se ao público, pela primeira vez, no dia 1 Janeiro de 2005 no Rivoli, Teatro Municipal do Porto, onde também gravou o seu primeiro CD, tendo entretanto recebido um importante apoio por parte da “Culturporto” e mais tarde da “Porto Lazer” na divulgação e expansão do seu projeto.
A Academia de Música de Costa Cabral (AMCC), fundada em 1995, integra a rede nacional de escolas do ensino artístico especializado da música com autonomia pedagógica e autorização definitiva de funcionamento. Tem vindo a desenvolver, ao longo dos anos, um trabalho pedagógico destacando-se diversas atividades culturais junto de várias instituições. No seio da sua oferta educativa destacam-se os cursos básicos em regime integrado (formação geral e vocacional) do 5.º ao 9.º ano e os cursos profissionais de nível secundário, a par das iniciações musicais, cursos básicos e secundários em regime supletivo e articulado.
O maestro Francisco Ferreira, diplomado em Saxofone, estudou com os prestigiados saxofonistas Daniel Deffayet, Claude Delangle, Jean-Yves Fourmeau e Vincent David. Professor de saxofone e coordenador do departamento de sopros e percussão do Conservatório de Música do Porto, acumula estas tarefas com as  funções de Diretor Pedagógico na AMCC. E é membro fundador do Quarteto de Saxofones do Porto e da Banda Sinfónica Portuguesa. Teve o mérito de desenvolver em Portugal, no Conservatório de Música do Porto, na Escola Profissional de Música de Espinho e na AMCC, uma importante classe de saxofone com imensos alunos premiados em concursos nacionais e internacionais, sendo considerado um dos principais responsáveis pela afirmação do saxofone no país.
No atinente ao Presépio é de referir:
Os peregrinos que se deslocaram ou deslocam a Fátima na época de Natal contemplam o novo Presépio de Paulo Neves, um conjunto escultórico composto por três peças, instaladas na nave da Basílica de Nossa Senhora do Rosário de Fátima, junto à entrada, do lado da Epístola.
A instalação, encomendada pelo Santuário de Fátima, recupera a Sagrada Família e, na figura de Maria, o escultor faz aparecer um coração sobre o peito materno da Virgem.
Como noutras obras do seu ‘curriculum’, trabalha a figura humana a partir da valorização da forma arcaica que a arte dos inícios do século XX veio enaltecer (a gosto de movimentos estéticos como o Cubismo), sobretudo a partir do conceito de máscara que surge esculpida a partir da sinuosidade das linhas que o tronco, como matéria-prima, dita na hora de sulcar e talhar o lenho.
O Presépio é desenvolvido em madeira de cedro esculpida e tem uma volumetria de 350x200x200cm.
Paulo Neves Nasceu em Cucujães, Oliveira de Azeméis, em 1959. Frequentou o Curso de Pintura da Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto. De 1978 a 1981 conviveu e trabalhou com diversos artistas em vários países da Europa, regressando depois à terra natal onde tem o seu ateliê. Desde 1980 já realizou cerca de 100 exposições individuais e outras tantas coletivas, sendo autor de variadas expostas em diferentes locais espalhados pelos quatro cantos do Mundo. Trabalha sempre em madeira e pedra.
Trata-se de um escultor premiado  tendo recebido, entre outros, o Prémio Águas do Minho e Lima, XIII Bienal de Cerveira; Prémio aquisição XIV Bienal de Cerveira, Fundação Eugénio de Almeida; Primeiro prémio concurso para monumento ao Magriço, promovido pela Câmara Municipal de Penedono, em 2000; Primeiro prémio concurso ‘Elementos Escultóricos e Baixos-relevos para a Revitalização da Zona Histórica de Viseu’, promovido pela Câmara Municipal de Viseu, em 1999.
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Tudo vem decorrendo em conformidade com o espírito da prévia Mensagem de Natal do Reitor do Santuário de Fátima, com interpretação em língua gestual portuguesa, que falou de um “especialíssimo tempo de graça”. E explicitou:
Este é tempo de graça, pois a graça de Deus tem nome e rosto: o Deus-Menino do presépio. Em Jesus Cristo temos o maior dom que Deus nos pode oferecer, pois é oferta gratuita de Si, para que tenhamos vida e vida em abundância.”. 
E porfiou:
É em Jesus Cristo que temos a manifestação suprema do amor de Deus para connosco, o rosto da misericórdia de Deus”.
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Vale a pena acentuar que o Santuário Mariano não nos distrai do fundamental do mistério da fé: Jesus Cristo, portador da graça, dom do Pai a todos nós, manifestação suprema do amor e da misericórdia. E Maria apresenta-no-Lo e encaminha-nos para Ele.

2017.12.30 – Louro de Carvalho 

sexta-feira, 29 de dezembro de 2017

Cuidar da Casa Comum – A Igreja ao serviço da Ecologia Integral

Segundo, o que foi aprovado pela respetiva Comissão de Coordenação, em sua reunião de 13 Novembro 2017, Cuidar da Casa Comum é iniciativa duma Rede de instituições, organizações, obras, movimentos da Igreja católica e de outras igrejas cristãs, bem como pessoas a título individual, que se propõe contribuir para a prossecução dos seguintes objetivos:
- Aprofundar e difundir a encíclica Laudato Si’ sobre o cuidado da casa comum, nomeadamente no âmbito das respetivas instituições, organizações, obras e movimentos;
- Acompanhar, no espaço eclesial, as questões ecológicas de âmbito nacional e mundial, evidenciando as suas causas e consequências e equacionando-as à luz da encíclica Laudato Si’, de modo a promover a tomada de consciência coletiva acerca da sua relevância e urgência;
- Promover nas comunidades cristãs e nos respetivos espaços (paróquias, escolas, obras e movimentos) uma efetiva conversão ecológica e sugerir caminhos de atuação concreta com vista a uma ecologia integral;
- Proporcionar instrumentos de análise que permitam pensar o futuro do Planeta e da sociedade global de que somos parte;
- Aprofundar e difundir a teologia da Criação;
- Incentivar a celebração em comum do Dia da Criação.
Para tanto, a Rede Cuidar da Casa Comum promoverá a realização de sessões de esclarecimento e sensibilização, fomentará a criação de “focos de cuidado da casa comum” (grupos locais empenhados na promoção de uma ecologia integral) a quem proporcionará instrumentos de reflexão e guiões para iniciativas de conversão ecológica, bem como animará plataformas para difusão e troca das diferentes experiências.
Com idêntica finalidade, a Rede propõe-se criar e manter um sítio na net com vista a promover o pensamento da encíclica Laudato Si’, incentivar a reflexão sobre estilos de vida pessoal e coletiva, partilhar testemunhos de gestos e comportamentos de ecologia integral, fazer pontes com iniciativas relevantes que ocorram no espaço eclesial e na sociedade civil.
A Rede Cuidar da Casa Comum compagina uma plataforma aberta à participação ecuménica, animada por uma Comissão de Coordenação, apoiada por uma Comissão Executiva, uma Comissão de apoio teológico e científico e uma Comissão de informação e documentação, atuando em consonância com a Conferência Episcopal Portuguesa – Comissão Episcopal do Laicado e Família.
A Rede Cuidar da Casa Comum parte da convicção de que viver a vocação de guardiões da obra de Deus não é algo de opcional nem um aspeto secundário da experiência cristã, mas parte essencial duma existência virtuosa (Laudato Si’, n. 217)
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A rede funciona com base nos denominados focos de conversão ecológica a criar nas paróquias.
Os “focos” são pequenos grupos (entre 5 e 10 pessoas) constituídos para responder aos apelos do Papa Francisco na encíclica Laudato Si’, designadamente para fomentar uma conversão ecológica no seio da respetiva comunidade.
Têm por missão escutar o grito da nossa “Casa comum” contra o mal que lhe provocamos, identificar, na vida quotidiana, o uso irresponsável dos bens da Terra, criar no seio das respetivas comunidades pontes de diálogo com vista à construção de uma ecologia integral, tanto no plano dos comportamentos individuais com nas opções e práticas das comunidades da sua área de influência. Para isso, procurarão realizar na sua paróquia sessões de divulgação da encíclica Laudato Si’ e de sensibilização acerca das questões ecológicas, nomeadamente sobre a poluição ambiental, as alterações climáticas, a perda da biodiversidade, as desigualdades e a exclusão social, bem como promover espaços celebrativos e de oração nas comunidades a que pertencem.
Cada “foco” compromete-se a partilhar a sua experiência de reflexão e ação com os demais através da plataforma da Rede.
Cada “foco” designará um dos seus membros para o representar na Rede.
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Cuidar da Casa Comum é uma Rede que integra as seguintes entidades (indicadas por ordem alfabética): Agência Ecclesia; Associação Casa de Betânia; Associação Teilhard de Chardin; Cáritas Portuguesa; Casa Velha; Centro de Reflexão Cristã (CRC); CIRP – Confederação dos Institutos Religiosos; CNAL – Conferência Nacional do Apostolado dos Leigos; CNE – Corpo Nacional de Escutas; CNJP – Comissão Nacional Justiça e Paz; Fórum Abel Varzim; Fundação Betânia; Fundação Fé e Cooperação – FEC; Instituto das Religiosas do Sagrado Coração de Maria – IRSCM; LOC-MTC (Movimento dos Trabalhadores Cristãos); Metanoia – Movimento Católico de Profissionais; Pax Christi Portugal; Província Portuguesa da Companhia de Jesus / Fundação Gonçalo da Silveira; Província Portuguesa da Ordem Franciscana (OFM); Rádio Renascença; SNPES – Serviço Nacional da Pastoral do Ensino Superior; Vida Ascendente, Movimento Cristão de Reformados; e Zero – Associação Sistema Terrestre Sustentável.
Integram a rede a título individual as seguintes personalidades (referidas por ordem alfabética): António Martins; Armindo Vaz; Bárbara Lopes; Filipe Lopes; Francisco Ferreira; Luísa Ribeiro Ferreira; Maria de Lurdes Paixão; Maria José Melo Antunes; e Maria José Varandas.
A sua Comissão de Apoio Teológico e Científico é constituída por (referidos por ordem alfabética): António Martins; Armindo Vaz; Eduardo Duque; Francisco Ferreira; Joaquim Cerqueira Gonçalves; Luísa Schmidt; Maria José Varandas; e Sociedade de Ética Ambiental.
E constituem a sua Comissão Executiva (por ordem alfabética): Adelaide Theotónio; Elisabete Santos; Manuela Silva; Margarida Alvim; Maria José Melo Antunes; Maria Luísa França de Oliveira; Maria Luísa Ribeiro Ferreira; Rita Veiga; e Teresa Paiva Couceiro – apenas senhoras!
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Como é óbvio, a documentação-base é a encíclica Laudato Si’. Já a 1 de julho de 2015, Manuela silva publicava no site da Casa Betânia, uma das componentes da Rede, o seguinte texto:
“Não haverá uma nova relação com a natureza sem um ser humano novo. (Papa Francisco, in Laudato Si, n.118).
“A recente encíclica do Papa Francisco sobre a responsabilidade de todos os habitantes do Planeta pelo cuidado da Terra, a nossa casa comum, veio reacender o debate em torno de questões fundamentais de sustentabilidade do equilíbrio ecológico, desde o aquecimento global, às ameaças que pesam sobre a redução da biodiversidade, a acumulação dos lixos, as múltiplas causas de poluição do ar, dos rios e dos mares, a contaminação dos solos, a desflorestação de vastos territórios, a questão energética.
“Cresce a convicção de que a Humanidade está a viver numa situação potencialmente catastrófica, pela qual é responsável, já que tal resulta das tecnologias em uso, das bases em que assenta a economia, do modo de organização das sociedades, dos estilos de vida, caraterizados pela avidez consumista de uns e a extrema pobreza de outros e do descaso de todos pelo cuidado com o Planeta e pelo bem comum.
“A atual crise ecológica não é dissociável da crise social que se manifesta nas manchas de extrema pobreza à escala mundial e na abissal desigualdade de oportunidades de acesso ao conhecimento e aos bens materiais, situações estas que, por sua vez, decorrem de uma economia assente na avidez do lucro e na centralidade do dinheiro, em vez de se alicerçar em objetivos de qualidade de vida das pessoas e de prossecução do bem comum.
“Faltam certamente grandes reformas de regulação do sistema económico e financeiro (a nível dos países e regiões, como também a nível supranacional) para fazer face às disfuncionalidades, correntes e crescentes, da mundialização, que introduzam e imponham novas racionalidades capazes de integrar os direitos de todos os humanos e demais seres vivos que habitam no Planeta, sem esquecer a salvaguarda dos recursos necessários às gerações futuras.
“Há mais de 50 anos que se vem alertando para esta necessidade; contudo, os esforços que, até agora, foram desenvolvidos, não têm produzido os efeitos desejados. O resultado é o que conhecemos e lembra os versos de Sophia de Mello Breyner: vemos, ouvimos e lemos, não podemos ignorar
“Para enfrentar a gravíssima crise ecológica com que estamos confrontados, há que ter a coragem de a reconhecer nas suas múltiplas e imbricadas facetas e ter a ousadia de querer superar as suas causas mais profundas: as raízes antropológicas, espirituais e filosóficas que lhe subjazem.
“Como bem lembra o Papa Francisco: 
Não haverá uma nova relação com a natureza sem um ser humano novo (n.118) e sem uma nova cultura que integre um olhar diferente, um pensamento, uma política, um programa educativo, um estilo de vida e uma espiritualidade que oponham resistência ao paradigma tecnocrático (n.111).
“A construção do ser humano novo é, desde logo, tarefa indeclinável de cada pessoa e pertence, intrinsecamente, ao foro da sua responsabilidade, devendo, no entanto, ser incentivada e apoiada pelas instâncias que, nas sociedades, desempenham um papel particular de educação e de transmissão de conhecimento, de valores e de princípios éticos.
“Quando afirmamos que todos somos responsáveis pelo futuro da Terra em que habitamos, estamos a querer dizer que, em primeiro lugar, se exige de cada um e de cada uma de nós a devida profundidade e abrangência do nosso olhar, com o que isso comporta de atenção e discernimento permanentes sobre a realidade em que vivemos.
“Requer-se, também, a conversão permanente do coração, no sentido da sua abertura a uma comunhão universal inclusiva que gere e alimente atitudes e comportamentos de fraternidade e solidariedade com os mais vulneráveis, de compaixão para com todas as criaturas, de respeito pelos bens da terra de que verdadeiramente não somos donos mas tão só utilizadores e cuidadores. Precisamos de uma conversão do coração que tenha impacto nos nossos quotidianos, no nosso estilo de vida, no nosso agir no plano familiar, económico, cívico e político.
“Porque as raízes mais fundas da crise ecológica em que estamos mergulhados são de natureza antropológica, cultural e espiritual, é urgente que se abram novas frentes de diálogo que rompam as fronteiras mais imediatistas dos interesses políticos, ideológicos ou do poder financeiro e permitam impor novas racionalidades assentes na prossecução da sustentabilidade ambiental e no bem comum.
“Para que tal diálogo seja possível e frutuoso, há que promover a nossa capacidade para ultrapassar uma visão egótica do interesse pessoal e o desenvolvimento de uma consciência de si como parte de um todo, capaz de reconhecer os limites da tendência para a avidez e a posse desmesurada dos bens materiais, com o contraponto de um correspondente sentido de responsabilização pelo bem das outras criaturas e do cuidado pela casa comum.
“O tempo de férias de que possamos dispor nas próximas semanas é ocasião oportuna para privilegiarmos tempos de silêncio e de contemplação onde nos deixemos interrogar sobre a qualidade da nossa relação com os outros, com a natureza, com o nosso eu profundo e com Deus. A leitura meditada da encíclica Laudato Si será um excelente guia para alcançarmos uma nova Humanidade.”.
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Não há, pois, como arregaçar as mangas e operacionalizar a ideia do cuidado assíduo com o Planeta numa linha ecoeconómica e na fidelidade ao desígnio da criação e do destino universal dos bens que o Planeta produz – tarefa coletiva –, para a ninguém faltar o que lhe é necessário para viver condignamente e a Natureza reconhecer a ternura que o homem tenha por ela.

2017.12-29 – Louro de Carvalho