domingo, 24 de dezembro de 2017

O Deus que Se fez um de nós veio por Maria

A poucos instantes do Natal – cuja Vigília será celebrada na Basílica de São Pedro e em muitos templos do mundo – o Papa comentou a narração de Lucas (Lc 1,26-38) em que o anjo saúda Maria como a Cheia de Graça, lhe pede alegria, e não temor, e lhe anuncia que vai conceber, por graça do Espírito Santo, o Filho do Altíssimo, o Santo de Deus.
Francisco, analisando a resposta de Maria, frisa que Ela “não se exalta diante da perspetiva de se tornar a mãe do Messias”, mas disponibilizou-se como serva do Senhor a crer na Sua Palavra e a ser-lhe obediente.
Direcionando o discurso para os fiéis que participaram da oração do Angelus, na Praça São Pedro, o Papa sublinhou que, “para acolher o projeto de Deus, como fez Maria, é preciso humildade e generosidade, a mesma atitude de seu Filho quando veio ao mundo”.
A resposta de Maria, depois de o anjo a esclarecer sobre a sua dúvida existencial (“Como pode ser isso, se eu não conheço varão?”), compendia-se numa “frase breve, que não fala de glória, de privilégio, mas somente de disponibilidade e serviço”. Maria, em vez de se exaltar, como seria humanamente entendível, “diante da perspetiva de se tornar a mãe do Messias”, permanece exemplarmente “modesta e expressa a sua adesão ao projeto do Senhor”. Não se vangloriando, mantém a postura de humildade e modéstia, “como sempre”. 
Como ressaltou o Papa, “este comportamento faz-nos entender que Maria é realmente humilde e não tenta mostrar-se; reconhece que é pequena diante de Deus e feliz por ser assim”. Todavia, é de registar que da “sua resposta depende a realização do projeto de Deus”. E Ela sabe-o e, por isso, diz “SIM” com prontidão.
“Maria – no dizer do Papa – revela-se a colaboradora perfeita do projeto de Deus” e, com o Magnificat, proclama que Deus exaltou  os humildes e que a sua misericórdia se manifesta de geração em geração. Por isso, nós cantaremos eternamente com o salmista as misericórdias do Senhor (Sl 89); e, como diz Francisco, “admiramos a nossa Mãe pela sua resposta ao chamamento e à missão de Deus” e pedimos-Lhe que nos ajude a cada um de nós “a acolher o projeto de Deus em nossas vidas com sincera humildade e corajosa generosidade”.
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Por seu turno, o padre passionista Laureano Alves, na Missa do IV domingo do Advento, comentando, o “sim” e a disponibilidade de Maria, dizia que o “sim” é do instante, mas a disponibilidade é de toda a vida. Por isso, quem abre a porta da celebração do Natal tem de estar, como Maria, sempre disponível para Deus e para os irmãos. E, frisando que o Natal é a festa universal, salientou que não temos o direito de celebrar o Natal com tranquilidade enquanto as pessoas fogem da fome e da guerra e, em vez do acolhimento, encontram a marginalização por parte dos povos ou a morte nas águas mediterrânicas; não temos o direito de celebrar o Natal sem peso na consciência com os pobres na rua, os idosos abandonados, os explorados ignorados e os descartados reduzidos à insignificância ou os desalojados pelas tempestades, como está a suceder nas Filipinas.
Mas o Natal tem de ser celebrado, o Natal do Senhor veio para ficar. Então, celebramos o Natal, mas com o propósito da preocupação pelos outros, com a abertura à partilha, fazendo todos os esforços para que todos tenham Natal com um lugar à mesa, e não perdidos na rua do frio e da intempérie, no banco do jardim, nas esquinas das casas ou dos muros ou debaixo das pontes. E quem está no leito da sua habitação, na cama do hospital ou na cela da casa de reclusão que tenha o conforto do acompanhamento a cortesia duma visita amiga.
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Vem aí a noite de Natal. E o cântico seguinte evoca a felicidade de termos Deus connosco, o Deus que nasce pobre e com as necessidades dos homens – dependência, fome, sede, frio e nudez. Mas é o Deus de amor e de coração amável, o Deus da Paz que Se faz irmão para nos salvar. É o Deus que os anjos cantam e anunciam e que os pastores se apressam a adorar. É o Deus encarnado que vai a caminho da cruz da redenção.

Noite feliz, noite feliz!
O Senhor, Deus de Amor!
Pobrezinho nasceu em Belém
Eis na lapa Jesus nosso bem
Dorme em paz ó Jesus.

Noite feliz, noite feliz!
Ó Jesus, Deus de Luz
Quão amável é teu coração
Que quiseste nascer nosso irmão
E a nós todos salvar.

Noite feliz, noite feliz
Eis que no ar vêm cantar
Aos pastores os anjos dos Céus
Anunciando a chegada de Deus
De Jesus Salvador.

Deus Fez-Se um de nós, habita entre nós, não quer estar refugiado no baluarte do templo ou no armário da sacristia, mas habitar na nossa tenda como companheiro; quer habitar no nosso coração acolhedor, quer saltar no cruzamento da vida da comunidade. É efetivamente o Deus connosco e não o Deus distante.
Não é o Deus que se compraz em vigiar-nos, mas o Deus próximo, amigo, companheiro, confraternizador, enfim, o Deus que nos interessa e que Se interessa por nós a ponto de dar a vida por nós para nos fazer um com Ele. É um tesouro que nos veio por Maria.
Ei-Lo que vem. Ei-Lo que chegou e está entre nós!
É o Natal do Senhor para ser o Natal do homem, mas não pode ser o Natal do homem sem ser o Natal do Senhor!
Por isso, cantaremos:

Ergue os teus olhos, a luz surgiu: hoje nasceu o nosso Deus.
Dias de paz amanheceram: Hoje nasceu o nosso Deus.

A terra foi dividida com justiça
e cada mão recebeu o pão igual.
– Eis o sinal do nosso Deus. Eis o sinal do nosso Deus.

Hoje caíram as grades das prisões
e não ouvimos os gritos das torturas.
– Eis o sinal do nosso Deus. Eis o sinal do nosso Deus.

A voz do povo foi livre na cidade;
em cada homem o homem s’ encontrou.
– Eis o sinal do nosso Deus. Eis o sinal do nosso Deus.
(Letra e melodia de Ferreira dos Santos)


2017.12.24 – Louro de Carvalho

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