Aproxima-se
o Natal e, em tempo litúrgico de preparação para as grandes solenidades, que é
conhecido como Advento, já se multiplicam as árvores de Natal.
A árvore
é símbolo de vida pujante, sustentada e sustentável. É forte, é atraente, é
benéfica para a vida, é proteção, abrigo, suporte; permite a respiração e a
produção de clorofila; e dá flores que geram os frutos. A árvore embeleza e
alimenta. É sinal de esperança pela
verdura das folhas, de beleza pela abundância e, muitas vezes, variedade das
cores floridas e de vida pelo valor e sabor dos frutos, mesmo que eventualmente
seja amargo.
Civilizações
antigas que habitaram os continentes europeu e asiático, no III milénio
antes de Cristo, consideravam as árvores como um símbolo divino. Cultivam-nas e
realizavam festivais em torno e em favor delas. Essas crenças ligavam as
árvores a entidades mitológicas e a sua projeção vertical, desde as raízes
fincadas no solo até à liberdade do espaço, marcava a simbólica aliança entre o
pai Céu e a mãe Terra.
Os
povos pagãos da região do Báltico, nas vésperas do solstício de
inverno, cortavam pinheiros, que levavam para os lares e enfeitavam
de forma muito semelhante à que se faz nos dias de hoje. A tradição passou aos
povos Germânicos, que já colocavam presentes para as crianças sob
o carvalho sagrado de Odin.
No início do
século VIII, o monge beneditino São Bonifácio tentou acabar com essa
crença pagã que havia na Turíngia, para onde fora enviado como missionário.
A golpe de machado cortou um pinheiro sagrado, que os locais adoravam no alto
de um monte, e, como teve notório insucesso na erradicação da crença, decidiu
associar o formato cónico de silhueta triangular do pinheiro à Santíssima
Trindade e suas folhas resistentes e perenes à eternidade de Jesus.
Nascia assim ali a proto-história da Árvore de Natal.
Porém, a
primeira árvore de Natal foi decorada em Riga, na Letónia, em 1510. E
acredita-se que esta tradição se arreigou em 1530, na Alemanha, com Martinho
Lutero. Diz-se que, certa noite, enquanto caminhava pela floresta, Lutero ficou
deveras impressionado com a beleza dos pinheiros cobertos de neve. As estrelas
do céu ajudaram a compor a imagem que Lutero reproduziu com galhos de árvore em
sua casa. Além das miniaturas de estrelas, utilizou algodão e outros enfeites,
como velas acesas, para mostrar aos seus familiares a bela cena que havia
presenciado na floresta. Mas há outras versões, segundo as quais a moderna
árvore de Natal teria realmente surgido na Alemanha entre o século
XVI e o XVIII, não se referindo exatamente em que cidade ela tenha surgido. No
século XIX a prática foi levada para outros países europeus e para os Estados
Unidos. Apenas no século XX essa tradição chegou à América Latina.
E a árvore de Natal é uma das mais
populares tradições associadas à celebração do Natal. É
normalmente uma árvore conífera de folhas perenes se silhueta
triangular (um pinheiro bravo ou
manso) ou uma árvore artificial. A moda das árvores artificiais resultou da
preocupação ecológica de preservação das árvores em função da sanidade do meio
ambiente. Porém, a monda das árvores enquanto são pequenas não deixa de ser
benéfica para a robustez das demais e o clareiramento florestal só dificulta o
surto incendiário. Além disso, se o pinheiro não se corta no Natal, arde no
estio. Em consonância com a tradição, enfeita-se a árvore com bolas coloridas
e outros adornos natalinos, como a estrela, o algodão a sugerir a neve e o sino
de Natal. De facto, o Natal deve ser anunciado com sons do Alto presentes na
Terra.
Para lá dos
sinos e das estrelas, temos como adereços da árvore: as luzes em pisca-pisca
com diversas lâmpadas, que é utilizado para decoração de casas e árvores de
Natal representando o brilho e a cintilação das estrelas, remetendo-nos
para um ambiente celestial nesta época colado ao todo terrestre; as bolas de
Natal, esferas decoradas e coloridas que simbolizam os bons frutos que o Natal
traz a cada pessoa, a cada família, a cada comunidade; os minibonecos do Pai
Natal, a recordar e a sintetizar o valor afetivo das prendas para as crianças
na esteira cristã de São Nicolau, Bispo de Mira, o anónimo presenteador das
crianças pobres da sua diocese; e a ponteiras, que podem ser estrelas ou
objetos em forma circular que ficam no ponto mais alto da árvore representando
a estrela principal, que simboliza a estrela que guiou os Magos no percurso
para Belém ao encontro do Menino Deus, Rei dos Judeus. Com efeito, Jesus é a
verdadeira estrela de David em quem o Pai colocou toda a sua complacência. É a grande
luz que brilhará como todos os anjos e santos. É justo e salutar recebê-Lo “por
entre aclamações dos montes e das colinas, por entre aplausos das árvores” (vd 2.ª antífona
de Laudes do I domingo do Advento), pois o
grande Profeta que há de vir “renovará Jerusalém” (vd 3.ª antífona
de Laudes do I domingo do Advento). A
tradição da árvore natalina é comum a católicos, protestantes e ortodoxos.
O dia de
montar as decorações natalinas varia em cada país. Enquanto nos
EUA se monta a árvore no Dia de Ação
de Graças, no Brasil o dia para a montar é o IV domingo antes do Natal, ou
seja, o primeiro do Advento. Já em Portugal a tradição diz que deve ser
montada a 8 de dezembro, dia da Imaculada Conceição. E convencionou-se que
no dia 6 de janeiro, em que se comemora o Dia de Reis, data que
assinala a chegada dos Três Reis Magos a Belém, encerrando as festas do
Natal, quando são desfeitas a árvore de Natal e demais decorações natalinas.
Porém, apesar
de toda a beleza e simbolismo da árvore, não podemos fixar-nos exclusivamente
nela, pois não ultrapassaríamos as categorias do paganismo antigo ou do
consumismo de agora: o Natal é muito mais que a árvore. Temos de pensar nas
árvores do Éden de que os primeiros pais se alimentavam e que, aliadas à
abundância da água dos rios (o Tigre e o Eufrates) que atravessavam o Jardim e alimentavam aquela verdura de ervas e plantas
e o vigor e a agilidade daqueles animais, sintetizavam o ideal de felicidade do
homem primevo. E, sobretudo, temos de nos deixar orientar pela árvore
messiânica que, pela via da pulcritude, gera abundantes frutos de salvação
disponíveis para todos quantos aceitam penetrar no mistério da encarnação do
Filho de Deus para redenção do homem. E, se queremos viver a festa permanente
da alegria, da união e da abundância, temos de aceitar o mistério de Jesus que
é a verdadeira vide (vd Jo 15,1.5), de que o
Pai é o agricultor (vd Jo 15,1), e nós os
sarmentos, não podendo nós, por conseguinte, separar-nos d`’Ele e dos irmãos. Também
por isso, Natal é pessoa inteira, família, comunidade, Igreja, alegria, festa.
Deus desceu à Terra e vive nela entre nós, connosco e dentro de nós.
***
O Natal é
também um tempo de criatividade. E esta criatividade deve tornar-se alimento do
espírito e da comunidade, em vez de se orientar exclusiva ou principalmente
para a exploração comercial reduzindo o Natal aos fluxos e refluxos comerciais e
às relações sociais assumidas como que por obrigação.
O JN de 30 de novembro pp apresenta uma
enorme variedade de árvores de Natal.
Consoante o
setor de atividade é replicado de muitos modos o pinheiro de Natal, exibindo os
produtos de forma criativa. Todos os anos as associações ecológicas apelam a
que não se cortem árvores, mas se reciclem materiais. Ora, para conseguir fazer
uma grande e bela árvore natalina, é importante armazenar matérias-primas: CD, sapatos
de ballet, caricas, rolos de papel de cozinha ou higiénico, garrafas incluindo
tampas, rolhas de cortiça, frutos, bacalhaus, folhas, pinhas, cápsulas de café,
livros, etc. Tudo o que é de uso diário na alimentação, na bebida, na
satisfação de outras necessidades, no gosto, no resguardo, na produção de
conforto e no fomento da beleza é utilizável para celebrar o Natal enquanto celebração
de Deus que se humilha em prol do homem e do Homem que se exalta graças à
benevolência divina para sua felicidade e glória de Deus – que são coincidentes.
Também a árvore de Natal pode constituir uma boa forma
de afirmação duma comunidade. A este respeito, dá-se um exemplo. Segundo o JN de 13 de novembro pp, Em 2016, a
Cincork e a Junta de Freguesia de Santa Maria de Lamas, no concelho de Santa
Maria da Feira, anunciaram para esse ano a construção da maior árvore de Natal
do Mundo em rolhas de cortiça. Com oito metros de altura e vinte e sete mil
rolhas recicladas, a construção colocada na Rua da Ribeirinha recolhia o
galardão de destaque, até agora.
Este ano, um grupo de 15 pessoas trabalhou todos os
dias, em horário noturno, na freguesia de São Paio de Oleiros para bater este
recorde. Desde o dia 3 de outubro, os amigos reuniam-se depois de cada dia de
trabalho para darem cor e forma a mais um pedaço da maior árvore de Natal em
rolhas de cortiça, que assenta numa base com cerca de 6 metros de raio e foi inaugurada
a 2 de dezembro, ficando exposta no Arraial até 31 de dezembro. João Lima,
membro da Comissão da Comissão de Festas de São Paio de Oleiros, sustentava
para o JN:
“Esta vai ser a maior árvore de rolhas de
cortiça do Mundo. Neste momento, a maior árvore de Natal de cortiça do Mundo
tem oito metros de altura, e foi elaborada com cerca de 27 mil rolhas. A árvore
que estamos a construir terá à volta de 20 metros, e estamos a prever utilizar cento
e vinte mil rolhas. Começámos a trabalhar neste projeto no dia 3 de outubro,
todos os dias, em horário pós-laboral, já que cada um de nós tem uma ocupação
profissional fora disto, mas todos os dias nos juntamos, à noite, para
construirmos mais um pedacinho da árvore”.
O incêndio de 2016, que pôs fim ao presépio da Cavalinho,
levou os oleirenses a alimentar a vontade de voltar a trazer um marco natalício
à freguesia. O mesmo João Lima dizia:
“A ideia para a elaboração desta árvore surge
há precisamente 3 a4 anos, quando organizei a última festa de S. Paio de
Oleiros, em 2014. Inicialmente tinham planeado fazer esta árvore e colocá-la no
presépio da Cavalinho. Entretanto, o presépio acabou por desaparecer por causa
do incêndio, e pensámos então em colocá-la aqui no arraial, visto ser o centro
da freguesia. Como tínhamos o presépio da Cavalinho, que era o maior presépio
do Mundo, quisemos também ter alguma projeção a esse nível. Acaba por surgir
quase como uma alternativa ao próprio presépio, embora inicialmente a ideia fosse
ser parte integrante dele”.
Há ainda um presépio, também ele
em cortiça, comes e bebes, espetáculos de rua. Tudo para que São Paio de
Oleiros seja um ponto de encontro durante a quadra do Natal.
***
É certo que
uma comunidade não pode fazer tudo em grande. Porém, é imperioso que os
cristãos não se fiquem pela árvore. Importa que partam ao encontro do presépio para
contemplarem a grandeza de Deus feita pequenez do homem. E, adorando, colham as
devidas lições pessoais, familiares e comunitárias pensando naqueles que são
pobres à força, não tendo sequer a capacidade e a oportunidade de fazer opção
pela pobreza evangélica, pois a miséria os esmaga com a conivência dos que
deviam ser testemunhas e pregoeiros do Natal!
2017.12.03 –
Louro de Carvalho
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