domingo, 17 de dezembro de 2017

Um Natal de Anjos, de Luz e de Cantares

Nesta quadra natalícia, tenho a obrigação e o gosto de desejar a todos os meus amigos e amigas um Bom Natal, um Natal Feliz, um Natal Santo e um Natal que seja prenúncio de um Novo Ano próspero e de realização pessoal, familiar, profissional e social.
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- Faço, assim, votos para que o Natal seja de Anjos, que dissipem o temor, que vivam e anunciem a alegria grande do Nascimento de Jesus, o Messias Senhor, e sejam pregoeiros da Glória de Deus e da Paz na Terra.
Porém, não estou à espera dos anjos da Bíblia e do património coletivo, mas espero que esses anjos do Natal sejam as pessoas de hoje que acreditam no Senhor e na Sua Palavra, O adoram e O servem – tanto na Eucaristia como na pessoa dos que têm fome e sede, dos que não têm que vestir, do que estão sem-abrigo, sem teto, terra e trabalho, dos que são peregrinos, migrantes ou refugiados, do que são vítimas do roubo da dignidade, da soberba de alguns, da exploração, do espezinhamento, do descarte, e dos que estão no limiar da pobreza e nas condições de vida privada da decência.  
Não estou à espera dos anjos a que o imaginário popular colocou umas asas para voarem pelos ares indo a todos os lugares, mas espero que as pessoas que vivem, falam, trabalham e andam se sirvam de todos os meios ao seu alcance para testemunharem o mistério do Natal de Jesus, que, sendo Deus, não se valeu dessa condição, mas baixou à Terra para que nós, feitos deste pó terreno e deste húmus perecível, nos tornássemos mais altos como filhos do Pai celeste, do Pai das misericórdias. Espero que, enquanto testemunhas desta humildade divina e humana sejam profetas de Deus falando em seu nome àqueles que precisam de ouvir esta mensagem.
Enfim, espero que estes anjos da modernidade sejam testemunhas do presépio, profetas de Deus, pregoeiros da sua Palavra, mensageiros da sua vontade e apóstolos do seu Cristo, que nasceu pobre, abandonado e rejeitado, porque para si não havia lugar na cidade, e que veio a consumar a sua obra morrendo na cruz e pedindo ao Pai que perdoasse aos algozes porque não sabiam o que estavam a fazer. É de pedir que, para isto, estejam no trabalho, no desporto e lazer, na família e na sociedade, mesmo na política, e andem – a pé, a cavalo, de carro, de autocarro, de comboio, de navio ou de avião – por terra, mar e ar, com humildade, mas rumo à eficácia, confiantes no poder de Deus, dispensando o esforço pessoal e mobilizando o dos outros.
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- Espero que o Natal de 2017 seja para todos um Natal de Luz. Não é a luz elétrica ou das lamparinas e das velas, mas a luz de Deus e do seu Cristo, a que ilumina todo o homem que veio a este mundo.
É premente que haja luz nas mentes e nas consciências para que se afaste o mal e se pratique o bem e este vença. E isso pressupõe acesso à educação para que todos e todas usufruam dos benefícios da literacia, da cultura e da civilização, de modo que possam orientar-se nos caminhos do progresso e do desenvolvimento humano, integral e sustentável, afastando as situações de miséria, indignidade e vitimização, de qualquer ordem que seja.
Desejo que a luz do Natal seja a luz da fé que nos encaminha para Cristo, a estrela maior que ilumina a terra inteira e nos abre os olhos do coração e da mente para entendermos o plano divino de Salvação aberto a todas as pessoas, mostrando a todos as raízes da árvore do discernimento ou da ciência do bem e do mal, o tronco da força desta ciência viva que se ramifica diversamente e se espraia na sua frondosidade, rebenta em flores de beleza e produz abundantes frutos de graça e verdade – a vida na sua maior pujança e fecundidade.
Que a estrela de Cristo se torne para todos a referência de vida, que, andemos por onde andarmos, nos sirva de farol que, pela esperança luminosa nos leve a porto seguro, o porto onde encontraremos a barca do Senhor da Pesca e da Viagem para a festa que, uma vez começada, não mais conhecerá fim.
É bom que o Natal de 2017 nos fixe na luz de Cristo e faça com que nos deixemos iluminar por Ele e passemos a transmitir essa luz aos nossos semelhantes, que são nossos irmãos.
Obviamente que a esta luz está necessariamente unido o calor inerente à luz. Ninguém imagina uma fogueira que não aqueça, uma lâmpada que não esteja cheia de calor, uma fonte de energia que não seja capaz de irradiar calor, bastando que se acione esse registo em consonância com os fins em vista.
Desejo, pois, que este Natal não seja o de uma luz fria, inócua, mas que brilhe pelo fulgor da luz e aqueça pelo dinamismo da caridade e da justiça. Não posso esquecer que o Natal é, no fundo e acima de tudo, o mistério de amor de Deus pelo homem, amor tão terno que passa pelo mistério visível da ternura e simplicidade duma criança recém-nascida e reclinada numa manjedoura envolta em panos. É, neste dinamismo do amor que Jesus infante cresce e se capacita para, além de pregar o reino da Vida e da Santidade, dá a sua vida para que todos nós tenhamos a vida e a tenhamos em abundância.
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- E pretendo que o Natal seja de cantares, com música e sinos. Com efeito, se é de anjos que se deixam iluminar pela calorosa luz do Natal, é natural que estes anjos sintam o impulso irresistível de cantar “Glória nas alturas a Deus e paz na Terra aos homens que Ele ama”. É a festa máxima e nos seu melhor!
E a glória de Deus e a paz dos homens têm de coincidir. Não são realidades diferentes, mas faces da mesma moeda. Cantar a glória é cantar a paz. E a paz acontece quando há alegria, caridade, luz, vida, esperança, fé. A paz acontece quando há testemunho, profecia, mensagem, apostolado, dedicação – quando os homens são anjos uns para os outros, amigos, solidários, irmãos – e não lobos, diabos, exterminadores.
Vamos neste Natal cantar a glória e a paz espelhadas na luta pela educação integral para todos, pela saúde e bem-estar a alcance de todos, pela erradicação da miséria e da pobreza, deixando apenas a possibilidade da pobreza para aqueles e aquelas que a professem voluntariamente pelo reino de Deus.
Mas, para isso, temos de autoestabelecer que este Natal terá de ser um tempo de muito trabalho e de trabalho – de mensagem e de canto – que há de prolongar-se por muito tempo. Por isso, este Natal há de ser o dos cantares do esforço, da luz e da alegria das bem-aventuranças:

Felizes os pobres em espírito, porque deles é o Reino dos Céus.
Felizes os que choram, porque serão consolados.
Felizes os mansos, porque possuirão a terra.
Felizes os que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados.
Felizes os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia.
Felizes os puros de coração, porque verão a Deus.
Felizes os pacificadores, porque serão chamados filhos de Deus.
Felizes os que sofrem perseguição por causa da justiça, porque deles é o Reino dos Céus.(Mt 5,3-10).

Na verdade, é necessário erradicar a pobreza que lança os homens na miséria e exploração; e enaltecer a pobreza de quem a abraça no íntimo e contra as avarezas e ganâncias, para lutar pelo Reino de Deus. É preciso experimentar o pranto, mas tentar evitar o dos outros, para saborear o sentido do consolo e do conforto de Deus. É preciso cultivar a mansidão, para ter a capacidade de possuir, sem se deixar escravizar pelos bens. É preciso fomentar a justiça, para que todos sejam saciados, fruindo do que lhes é necessário, sem peias. É preciso sermos misericordiosos como Deus é misericordioso e pedirmos-lhe esta capacidade, para termos “direito” ao acesso à misericórdia de Deus e dos irmãos. É preciso cultivar a pureza de coração, para podermos olhar o mundo com os olhos de Deus e podermos, ao fim e ao cabo, contemplar o rosto de Deus, agora nos demais, e na eternidade no próprio rosto divino. É preciso educar para a paz, apreciá-la, cultivá-la e lutar por ela, para sermos de facto filhos de Deus e filhos da paz – Ele é a Paz! É preciso aceitar a perseguição por causa de Deus, do seu Reino e da sua Justiça para sermos dignos de aceder à posse do Reino de Deus.
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Enfim, cantando as bem-aventuranças, seremos mensageiros, arautos, profetas, apóstolos e missionários das bem-aventuranças. E, sendo cantores da luz e calor das bem-aventuranças, seremos sentinelas da noite de Natal e da sua justiça terna e amorosa.
E, sendo verdadeiros mensageiros, pediremos e faremos mais luz, mais cantares!
2017.12.17 – Louro de Carvalho


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