segunda-feira, 18 de dezembro de 2017

É preciso que Ele cresça!

A cada passo somos confrontados com a necessidade de respeitar o Papa, o Bispo e o Sacerdote como representantes de Cristo. Do Papa se diz que é o Vigário de Cristo na Terra; o Bispo tem a plenitude do sacerdócio; o padre é um “Alter Christus”; e do diácono diz-se que é um arauto da Palavra e um servidor da mesa ou das mesas.
Obviamente não nego o caráter sagrado conferido pela ordenação diaconal, presbiteral e episcopal ou a consequência da investidura do Bispo de Roma no exercício do seu múnus petrino, como não contesto a presença de Cristo in persona ministri que preside à assembleia e na própria assembleia litúrgica eclesial. Porém, parece que há urgência em centrar a nossa atenção na pessoa de Jesus e fazer dela a referência, pois é Ele o centro da mistério da Salvação, o protagonista do plano salvífico do Pai, a imagem visível e atraente do Deus invisível e misericordioso, que é espírito e que, por isso mesmo, deve ser imitado e adorado em espírito e verdade. O Evangelho de João recorda a crentes e não crentes:
Apareceu um homem, enviado por Deus, que se chamava João. Este vinha como testemunha, para dar testemunho da Luz e todos crerem por meio dele. Ele não era a Luz, mas vinha para dar testemunho da Luz.” (Jo 1,6-8).
Refere-se ao Batista, enviado como precursor do Messias em cumprimento do que vem escrito no Profeta Isaías:
Eis que envio à tua frente o meu mensageiro, a fim de preparar o teu caminho. Uma voz clama no deserto: ‘Preparai o caminho do Senhor, endireitai as suas veredas’.” (Mc 1,2-3).
João Batista não era a Luz. A Luz é Cristo. Mas João, vindo à frente da Luz, do Messias, está como precursor, pregoeiro do Messias que há de vir, testemunha da Luz, não se furtando a dar testemunho dela. Vestido de pelos de camelo e trazendo uma correia de couro à cintura, alimentava-se de gafanhotos e mel silvestre; e apareceu no deserto a pregar um batismo de arrependimento para a remissão dos pecados. Saíam ao seu encontro todos os da província da Judeia e todos os habitantes de Jerusalém e eram batizados por ele no rio Jordão, confessando os seus pecados e escutando as suas exortações. (cf Mc 1,4-6).
O Precursor deu testemunho de Jesus ao clamar: “Este era aquele de quem eu disse: ‘O que vem depois de mim passou-me à frente, porque existia antes de mim.”. E “todos nós participamos da sua plenitude, recebendo graças sobre graças. É que a Lei foi dada por Moisés, mas a graça e a verdade vieram-nos por Jesus Cristo. A Deus jamais alguém o viu. O Filho Unigénito, que é Deus e está no seio do Pai, foi Ele quem o deu a conhecer.”. (cf Jo 1,18). E Ele, que se fez carne, agora habita entre nós (vd Jo 1,14).
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Sucedeu que as autoridades judaicas enviaram de Jerusalém ao Batista sacerdotes e levitas para lhe perguntarem quem era ele. E ele confessou a verdade, afirmando: “Eu não sou o Messias”. E à pergunta se era Elias ou o profeta, respondeu: “Não”. Mas eles, como tinham que dar uma resposta a quem os enviou, insistiram: “Quem és tu, para podermos dar uma resposta aos que nos enviaram? Que dizes de ti mesmo?”. E João declarou: Eu sou a voz de quem grita no deserto:Retificai o caminho do Senhor’, como disse o profeta Isaías.”,
Ora, havia enviados dos fariseus que lhe perguntaram: “Então porque batizas, se tu não és o Messias, nem Elias, nem o Profeta?”. Ao que João esclareceu: “Eu batizo com água, mas no meio de vós está quem vós não conheceis. É aquele que vem depois de mim, a quem eu não sou digno de desatar a correia das sandálias.” (Cf Jo 1,19-27).
Mas logo no dia seguinte, expôs o ser e a missão de Jesus, pois, ao vê-lo, exclamou: Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo! É aquele de quem eu disse: ‘Depois de mim vem um homem que me passou à frente, porque existia antes de mim’. (cf Jo,1,29-30).
Foi com estas palavras que João O apresentou aos discípulos que naquele dia estavam com ele. E, à voz de Jesus, o Batista deixou que eles respondessem ao chamamento de Jesus e O seguissem. João não vinha construir o Reino, mas preparar o caminho a quem o vinha construir. É assim que se compreende que os discípulos de João migrassem para o colégio de Jesus.
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E o Evangelho de João continua a elucidar-nos:
João, que ainda não tinha sido lançado no cárcere, estava a batizar em Enon, perto de Salim, porque havia ali águas abundantes e vinha gente para ser batizada. Então, levantou-se uma discussão entre os discípulos de João e um judeu, acerca dos ritos de purificação. Foram ter com João e disseram-lhe: ‘Rabi, aquele que estava contigo na margem de além-Jordão, aquele de quem deste testemunho, está a batizar, e toda a gente vai ter com Ele’.
Mas João declarou que um homem não pode tomar nada como próprio, se isso não lhe for dado do Céu. E esclareceu: “Vós mesmos sois testemunhas de que eu disse: ‘Eu não sou o Messias, mas apenas o enviado à sua frente.’ O esposo é aquele a quem pertence a esposa; mas o amigo do esposo, que está ao seu lado e o escuta, sente muita alegria com a voz do esposo. Pois esta é a minha alegria! E tornou-se completa! Ele é que deve crescer, e eu diminuir.”.
Com efeito, Aquele que vem do Alto está acima de tudo; Aquele que vem do Céu está acima de tudo e dá testemunho daquilo que viu e ouviu. E quem aceita o seu testemunho reconhece que Deus é verdadeiro; pois aquele que Deus enviou transmite as palavras de Deus, porque dá o Espírito sem medida. O Pai ama o Filho e tudo põe na sua mão. Quem crê no Filho tem a vida eterna; quem se nega a crer no Filho não verá a vida, mas sobre ele pesa a ira de Deus.
(cf Jo 3,23-31.32.33-36).
Mateus refere que, estando João no cárcere e tendo ouvido falar das obras de Cristo, enviou-lhe discípulos com a pergunta: “És Tu aquele que há de vir, ou devemos esperar outro?”. E Jesus disse: “Ide contar a João o que vedes e ouvis: Os cegos veem e os coxos andam, os leprosos ficam limpos e os surdos ouvem, os mortos ressuscitam e a Boa-Nova é anunciada aos pobres. E bem-aventurado quem não encontra em mim ocasião de escândalo.” (Mt 11,2-6).
Depois de os discípulos de João partirem, Jesus fez a apologia do precursor, exatamente porque, na sua grandeza profética, revelou-se na sua missão sem a ultrapassar e sabendo lucidamente atribuir a quem de direito as loas da luz e do Reino:
Que fostes ver ao deserto? Uma cana agitada pelo vento? Então que fostes ver? Um homem vestido de roupas luxuosas? Mas os que usam roupas luxuosas encontram-se nos palácios dos reis. Que fostes, então, ver? Um profeta? Sim, Eu vo-lo digo, e mais que um profeta. É aquele de quem está escrito: Eis que envio o meu mensageiro diante de ti, para te preparar o caminho. Em verdade vos digo: Entre os nascidos de mulher, não apareceu ninguém maior do que João Batista; e, no entanto, o mais pequeno no Reino do Céu é maior do que ele. Desde o tempo de João Batista até agora, o Reino do Céu tem sido objeto de violência e os violentos apoderam-se dele à força. Porque todos os Profetas e a Lei anunciaram isto até João. E, acrediteis ou não, ele é o Elias que estava para vir. Quem tem ouvidos, oiça!”.
É a lição que todos devemos tomar do Batista: “Eu batizo com água, mas no meio de vós está quem vós não conheceis. É aquele que vem depois de mim, a quem eu não sou digno de desatar a correia das sandálias” (Jo 1,26-27). “É preciso que Ele Cresça e eu diminua” (Jo 3,30). Com efeito, a referência é Cristo; nós somos apenas seus seguidores e servidores para merecermos ser seus mensageiros, apóstolos e missionários, não para falarmos de nós, mas d’Ele.
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É de Jesus que Dom António Marto, Bispo de Leira-Fátima apregoou no passado dia 17, a partir do Santuário de Fátima, que “nunca aparece de mãos vazias”. Na verdade, “Deus  semeia tanta bondade no coração humano que o potencial de bondade é sempre muito maior do que o mal”. E dizia o prelado na missa que contou com a participação de funcionários, voluntários, colaboradores e benfeitores do Santuário que celebraram, este domingo, a festa de Natal, para lá dos inúmeros peregrinos provenientes de várias partes do país e do mundo:
É Ele que nos traz os melhores presentes de Natal, restituindo a dignidade e a atenção aos pobres e aos pequeninos; curando as feridas dos corações atribulados; oferecendo a libertação a todas as escravidões e oferendo o seu perdão”.
E sublinhou que estes “são belos presentes” que “não servem para encher as bolsas nem o estômago, mas os corações, a vida e as relações de convivência”.
O Bispo exortou os participantes na missa do III domingo do Advento no Santuário a serem “missionários da alegria do evangelho”. Na missa a que presidiu na Basílica da Santíssima Trindade, em que foram benzidas imagens do Menino Jesus que vão ser colocadas nos presépios, como manda a tradição neste 2.º domingo antes do Natal, Dom António Marto disse:
A Igreja de Jesus não é o refúgio dos tristes da vida, mas de quem encontra a alegria do Evangelho, mesmo perante as dificuldades da vida. Como cristãos somos chamados a ter cara de alegria e não de funeral.”.
E concluiu frisando que a verdadeira alegria vem do encontro com Deus. De facto, “a presença do Senhor, maior e mais fiel amigo, traz conforto, consolação, confiança na vida despertando o que de mais belo existe em nós”.
Já na sua mensagem de Natal o prelado dizia aos diocesanos que  que o Natal é um convite dirigido a todos à alegria, à fraternidade e à esperança e desafiava as comunidades diocesanas a não ficarem indiferentes e a deixarem-se surpreender por um Deus que é amor. Dizia o Bispo:
 “O verdadeiro Natal de Cristo gera um novo despertar de fraternidade, partilha e solidariedade com os que à nossa volta conhecem a solidão, a pobreza, a precariedade […]. Não deixemos que nos roubem o autêntico Natal.”.
No documento, o prelado recorre à simbologia do presépio e à figura dos pastores “a quem foi feito o primeiro anúncio do Natal de Jesus” e que “estão lá como representantes dos mais pobres, frágeis, necessitados e descartados da nossa sociedade”. E avisa, recordando “de modo particular as vítimas dos incêndios”, que afetaram grande parte das comunidades diocesanas de Leiria-Fátima:
Neste Natal não podemos faltar-lhes com a nossa solidariedade géneros […]. Benditas as mãos que se abrem para acolher os pobres e socorrê-los: são mãos que levam esperança. Benditas as mãos que superam toda a barreira de cultura, religião e nacionalidade, derramando óleo de consolação nas chagas da humanidade.”.
E ensina:
Deus faz-se pequeno para que não tenhamos medo de O receber nos braços; faz-se pequeno para que os mais pobres e humilhados não tenham medo d’Ele e Nele encontrem acolhimento como os pastores de Belém; faz-se pequeno para tocar o coração dos poderosos deste mundo. É este o rosto que nós contemplamos no Natal!”.
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É urgente que vejamos o Cristo do presépio nas crianças débeis ou abandonadas, famintas e sedentas. Na verdade, Cristo apresenta-Se-nos no esfomeado e sequioso, roto ou nu, doente, peregrino, migrante, refugiado, recluso, explorado, descartado. É Ele. Não O ignoremos!

2017.12.18 – Louro de Carvalho

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