A cada
passo somos confrontados com a necessidade de respeitar o Papa, o Bispo e o
Sacerdote como representantes de Cristo. Do Papa se diz que é o Vigário de
Cristo na Terra; o Bispo tem a plenitude do sacerdócio; o padre é um “Alter Christus”; e do diácono diz-se que
é um arauto da Palavra e um servidor da mesa ou das mesas.
Obviamente
não nego o caráter sagrado conferido pela ordenação diaconal, presbiteral e
episcopal ou a consequência da investidura do Bispo de Roma no exercício do seu
múnus petrino, como não contesto a presença de Cristo in persona ministri que preside à assembleia e na própria assembleia
litúrgica eclesial. Porém, parece que há urgência em centrar a nossa atenção na
pessoa de Jesus e fazer dela a referência, pois é Ele o centro da mistério da
Salvação, o protagonista do plano salvífico do Pai, a imagem visível e atraente
do Deus invisível e misericordioso, que é espírito e que, por isso mesmo, deve
ser imitado e adorado em espírito e verdade. O Evangelho de João recorda a
crentes e não crentes:
“Apareceu um
homem, enviado por Deus, que se chamava João. Este
vinha como testemunha, para dar testemunho da Luz e todos crerem por meio dele. Ele não era a Luz, mas vinha para dar
testemunho da Luz.” (Jo 1,6-8).
Refere-se
ao Batista, enviado como precursor do Messias em cumprimento do que vem escrito
no Profeta Isaías:
“Eis que envio à tua frente
o meu mensageiro,
a fim de
preparar o teu caminho.
Uma voz
clama no deserto:
‘Preparai
o caminho do Senhor,
endireitai
as suas veredas’.” (Mc 1,2-3).
João Batista não era a Luz. A Luz é Cristo. Mas João, vindo à frente da
Luz, do Messias, está como precursor, pregoeiro do Messias que há de vir,
testemunha da Luz, não se furtando a dar testemunho dela. Vestido de pelos de camelo
e trazendo uma correia de couro à cintura, alimentava-se de gafanhotos e mel
silvestre; e apareceu no deserto a pregar um batismo de arrependimento para a
remissão dos pecados. Saíam ao seu encontro todos os da província da Judeia e
todos os habitantes de Jerusalém e eram batizados por ele no rio Jordão,
confessando os seus pecados e escutando as suas exortações. (cf Mc 1,4-6).
O Precursor
deu testemunho de Jesus ao clamar: “Este era aquele de quem eu disse: ‘O que vem
depois de mim passou-me à frente, porque existia antes de mim’.”. E “todos
nós participamos da sua plenitude, recebendo graças sobre graças. É que a Lei
foi dada por Moisés, mas a graça e a verdade vieram-nos por Jesus Cristo. A
Deus jamais alguém o viu. O Filho Unigénito, que é Deus e está no seio do Pai,
foi Ele quem o deu a conhecer.”. (cf Jo 1,18). E Ele, que se fez carne, agora
habita entre nós (vd Jo 1,14).
***
Sucedeu que as autoridades judaicas enviaram de Jerusalém ao Batista sacerdotes e levitas
para lhe perguntarem quem era ele. E ele confessou a verdade, afirmando: “Eu
não sou o Messias”. E à pergunta se era Elias ou o profeta, respondeu: “Não”.
Mas eles, como tinham que dar uma resposta a quem os enviou, insistiram: “Quem
és tu, para podermos dar uma resposta aos que nos enviaram? Que dizes de ti
mesmo?”. E João declarou: “Eu sou a
voz de quem grita no deserto:
‘Retificai o caminho do Senhor’, como disse o profeta Isaías.”,
Ora, havia
enviados dos fariseus que lhe perguntaram: “Então porque batizas, se tu não és
o Messias, nem Elias, nem o Profeta?”. Ao que João esclareceu: “Eu batizo
com água, mas no meio de vós está quem vós não conheceis. É aquele que vem
depois de mim, a quem eu não sou digno de desatar a correia das sandálias.”
(Cf Jo
1,19-27).
Mas logo no
dia seguinte, expôs o ser e a missão de Jesus, pois, ao vê-lo, exclamou: “Eis o
Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo! É aquele de quem eu disse:
‘Depois de mim vem um homem que me passou à frente, porque existia antes de mim’.
(cf Jo,1,29-30).
Foi com
estas palavras que João O apresentou aos discípulos que naquele dia estavam com
ele. E, à voz de Jesus, o Batista deixou que eles respondessem ao chamamento de
Jesus e O seguissem. João não vinha construir o Reino, mas preparar o caminho a
quem o vinha construir. É assim que se compreende que os discípulos de João
migrassem para o colégio de Jesus.
***
E o Evangelho de João continua a elucidar-nos:
João, que
ainda não tinha sido lançado no cárcere, estava a batizar em Enon, perto de
Salim, porque havia ali águas abundantes e vinha gente para ser batizada. Então,
levantou-se uma discussão entre os discípulos de João e um judeu, acerca dos
ritos de purificação. Foram ter com João e disseram-lhe: ‘Rabi, aquele que
estava contigo na margem de além-Jordão, aquele de quem deste testemunho, está
a batizar, e toda a gente vai ter com Ele’.
Mas João declarou
que um homem não pode tomar nada como próprio, se isso não lhe for dado do Céu.
E esclareceu: “Vós mesmos sois
testemunhas de que eu disse: ‘Eu não sou
o Messias, mas apenas o enviado à sua frente.’ O esposo é aquele a quem
pertence a esposa; mas o amigo do esposo, que está ao seu lado e o escuta,
sente muita alegria com a voz do esposo. Pois esta é a minha alegria! E
tornou-se completa! Ele é que deve crescer, e eu diminuir.”.
Com efeito, Aquele
que vem do Alto está acima de tudo; Aquele que vem do Céu está acima de tudo e
dá testemunho daquilo que viu e ouviu. E quem aceita o seu testemunho reconhece
que Deus é verdadeiro; pois aquele que Deus enviou transmite as palavras de
Deus, porque dá o Espírito sem medida. O Pai ama o Filho e tudo põe na sua mão.
Quem crê no Filho tem a vida eterna; quem se nega a crer no Filho não verá a
vida, mas sobre ele pesa a ira de Deus.
(cf Jo 3,23-31.32.33-36).
Mateus refere
que, estando João no cárcere e tendo ouvido falar das obras de Cristo, enviou-lhe
discípulos com a pergunta: “És Tu aquele que há de vir, ou devemos esperar
outro?”. E Jesus disse: “Ide contar a
João o que vedes e ouvis: Os cegos veem e os coxos andam, os
leprosos ficam limpos e os surdos ouvem, os mortos ressuscitam e a
Boa-Nova é anunciada aos pobres. E bem-aventurado quem não encontra em mim
ocasião de escândalo.” (Mt 11,2-6).
Depois de os
discípulos de João partirem, Jesus fez a apologia do precursor, exatamente
porque, na sua grandeza profética, revelou-se na sua missão sem a ultrapassar e
sabendo lucidamente atribuir a quem de direito as loas da luz e do Reino:
“Que fostes ver ao deserto? Uma cana agitada pelo vento? Então
que fostes ver? Um homem vestido de roupas luxuosas? Mas os que usam roupas
luxuosas encontram-se nos palácios dos reis. Que fostes, então, ver? Um
profeta? Sim, Eu vo-lo digo, e mais que um profeta. É aquele de quem está
escrito: Eis que envio o meu mensageiro diante de ti, para te preparar
o caminho. Em verdade vos digo: Entre os nascidos de mulher, não
apareceu ninguém maior do que João Batista; e, no entanto, o mais pequeno no
Reino do Céu é maior do que ele. Desde o tempo de João Batista até
agora, o Reino do Céu tem sido objeto de violência e os violentos apoderam-se
dele à força. Porque todos os Profetas e a Lei anunciaram isto até João. E,
acrediteis ou não, ele é o Elias que estava para vir. Quem tem ouvidos, oiça!”.
É a lição que
todos devemos tomar do Batista: “Eu batizo com
água, mas no meio de vós está quem vós não conheceis. É aquele que vem depois
de mim, a quem eu não sou digno de desatar a correia das sandálias” (Jo 1,26-27). “É preciso que
Ele Cresça e eu diminua” (Jo 3,30). Com efeito, a referência é Cristo; nós somos apenas seus
seguidores e servidores para merecermos ser seus mensageiros, apóstolos e
missionários, não para falarmos de nós, mas d’Ele.
***
É de Jesus que Dom António Marto, Bispo de Leira-Fátima apregoou no
passado dia 17, a partir do Santuário de Fátima, que “nunca aparece de
mãos vazias”. Na verdade, “Deus semeia tanta bondade no coração humano que o potencial de
bondade é sempre muito maior do que o mal”. E dizia o prelado na missa
que contou com a participação de funcionários, voluntários, colaboradores e
benfeitores do Santuário que celebraram, este domingo, a festa de Natal, para
lá dos inúmeros peregrinos provenientes de várias partes do país e do mundo:
“É Ele que nos traz os melhores presentes de
Natal, restituindo a dignidade e a atenção aos pobres e aos pequeninos; curando
as feridas dos corações atribulados; oferecendo a libertação a todas as
escravidões e oferendo o seu perdão”.
E sublinhou que estes “são
belos presentes” que “não servem para
encher as bolsas nem o estômago, mas os corações, a vida e as relações de
convivência”.
O Bispo
exortou os participantes na missa do III domingo do Advento no Santuário a
serem “missionários da alegria do evangelho”. Na missa a que presidiu na
Basílica da Santíssima Trindade, em que foram benzidas imagens do Menino Jesus
que vão ser colocadas nos presépios, como manda a tradição neste 2.º domingo
antes do Natal, Dom António Marto disse:
“A Igreja de Jesus não é o refúgio dos tristes da vida, mas de quem
encontra a alegria do Evangelho, mesmo perante as dificuldades da vida. Como cristãos
somos chamados a ter cara de alegria e não de funeral.”.
E concluiu
frisando que a verdadeira alegria vem do encontro com Deus. De facto, “a presença do Senhor, maior e mais fiel
amigo, traz conforto, consolação, confiança na vida despertando o que de mais
belo existe em nós”.
Já na sua mensagem de Natal o prelado dizia aos diocesanos que que o Natal é um convite
dirigido a todos à alegria, à fraternidade e à esperança e desafiava as comunidades
diocesanas a não ficarem indiferentes e a deixarem-se surpreender por um Deus
que é amor. Dizia o Bispo:
“O verdadeiro Natal de Cristo gera um novo despertar de fraternidade,
partilha e solidariedade com os que à nossa volta conhecem a solidão, a
pobreza, a precariedade […]. Não deixemos que nos roubem o autêntico Natal.”.
No documento, o prelado
recorre à simbologia do presépio e à figura dos pastores “a quem foi feito o
primeiro anúncio do Natal de Jesus” e que “estão lá como representantes dos
mais pobres, frágeis, necessitados e descartados da nossa sociedade”. E avisa, recordando
“de modo particular as vítimas dos incêndios”, que afetaram grande parte das
comunidades diocesanas de Leiria-Fátima:
“Neste
Natal não podemos faltar-lhes com a nossa solidariedade géneros […]. Benditas
as mãos que se abrem para acolher os pobres e socorrê-los: são mãos que levam
esperança. Benditas as mãos que superam toda a barreira de cultura, religião e
nacionalidade, derramando óleo de consolação nas chagas da humanidade.”.
E ensina:
“Deus
faz-se pequeno para que não tenhamos medo de O receber nos braços; faz-se
pequeno para que os mais pobres e humilhados não tenham medo d’Ele e Nele
encontrem acolhimento como os pastores de Belém; faz-se pequeno para tocar o
coração dos poderosos deste mundo. É este o rosto que nós contemplamos no
Natal!”.
***
É urgente que
vejamos o Cristo do presépio nas crianças débeis ou abandonadas, famintas e
sedentas. Na verdade, Cristo apresenta-Se-nos no esfomeado e sequioso, roto ou
nu, doente, peregrino, migrante, refugiado, recluso, explorado, descartado. É Ele.
Não O ignoremos!
2017.12.18 – Louro de Carvalho
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