quinta-feira, 14 de dezembro de 2017

É importante evitar a guerra, que não dá vencedores e vencidos!

O Secretário-Geral da ONU sustenta que é preciso desnuclearizar a península coreana para que haja paz e estabilidade na região. De facto, a desnuclearização da Coreia do Norte é a chave para garantir a paz e a estabilidade na península, mas isso passa pela união de esforços dos Estados para impor sanções.
António Guterres encontra-se no Japão a participar numa conferência internacional sobre saúde e falou aos jornalistas após uma reunião com o Primeiro-Ministro nipónico, Shinzo Abe, e defendeu a tese das sanções para urgir a desnuclearização. Segundo Guterres, as resoluções do Conselho de Segurança da ONU devem ser “totalmente aplicadas e respeitadas” pelo regime de Pyongyang, mas também por todos os outros países envolvidos na questão, por forma a garantir que as sanções atinjam os objetivos para que foram impostas, ou seja, a desnuclearização da península coreana demasiado tensa. E sublinhou:
A unidade do Conselho de Segurança é crucial, mas também é importante permitir que a diplomacia se envolva numa resolução pacífica. É importante que todas as partes percebam a urgência de se encontrar uma solução que evite uma confrontação que trará consequências trágicas para todos.”.
Segundo o Secretário-Geral, não se pode entrar como “sonâmbulos numa guerra” devido à situação desencadeada pela Coreia do Norte, pelo que é necessário dar apoio à diplomacia. Ao invés, uma guerra na região poderá “trazer consequências dramáticas”.
Questionado sobre se planeia deslocar-se à Coreia do Norte para se reunir com o presidente Kim Jong Un, Guterres manifestou-se “disponível”, mas desde que tal faça sentido. Esclarecendo que “as reuniões só fazem sentido se houver um objetivo”, declarou-se “pronto para ir a qualquer lado, desde que isso seja útil”.
Por seu turno, o Primeiro-Ministro nipónico concordou com a ideia de que o diálogo com a Coreia do Norte deve “fazer sentido”, visando sobretudo o fim do programa nuclear norte-coreano.
***
Entretanto, no dia 13, o Secretário de Estado norte-americano, Rex Tillerson, disse que Washington está aberto à possibilidade de negociações com Pyongyang, mas a Casa Branca defendeu que, primeiro, a Coreia do Norte deve “terminar com as provocações” e tomar “ações sinceras e significativas em direção à desnuclearização”.
Não obstante, no momento em que Rex Tillerson, fazia este anúncio, que parece amenizar a posição de Washington, o dirigente norte-coreano Kim Jong-Un alimentou a guerra de palavras dos últimos meses, ao divulgar a sua intenção de fazer do seu país “a potência nuclear e militar mais forte do mundo”.
Até agora, o governo de Donald Trump afirmava sempre que eventuais futuras negociações com a Coreia do Norte só poderiam realizar-se se tivessem como objetivo a desnuclearização da península coreana. Agora, Tillerson, durante uma conferência em Washington, disse que não é realista afirmar que só discutem com os norte-coreanos se eles vierem para a mesa das negociações dispostos a abandonar o seu programa nuclear.
Questionado a propósito do desenvolvimento de mísseis intercontinentais e armas nucleares pelo regime de Pyongyang, respondeu que “eles já investiram muito”. E adiantou:
Estamos prontos a discutir desde que a Coreia do Norte queira discutir. Estamos prontos a ter uma primeira reunião sem qualquer condição prévia. Reunamo-nos. Falemos do tempo, se quiserem, ou discutamos se é preciso uma mesa redonda ou quadrada, se vos der prazer. Mas, pelo menos, encontremo-nos cara a cara e comecemos a definir um guião sobre o que queremos fazer.”.
É de registar esta mudança de postura norte-americana. Com efeito, no passado, Tillerson foi censurado publicamente por Trump, depois de ter mencionado a existência de “canais de comunicação” para “sondar” as intenções de Kim Jong-Un, com vista a um eventual diálogo. Trump dizia que o Secretário de Estado estava “a perder o seu tempo a negociar”.
***
Neste contexto, o responsável pelos assuntos políticos da ONU visitou, na semana passada, a Coreia do Norte. Foi a primeira visita de um responsável político das Nações Unidas em mais de sete anos.
Jeffrey Feltman declarou que oficiais de Pyongyang lhe disseram, durante a visita ao país, que “era importante evitar a guerra” face ao avanço dos programas nuclear e de mísseis balísticos.
O diplomata veterano norte-americano, que é subsecretário-geral da ONU para os assuntos políticos, disse aos jornalistas, depois de informar do facto em privado o Conselho de Segurança das Nações Unidas, no passado dia 12, que a forma “como fazemos isso” foi o tema de mais de 15 horas de discussão com o ministro dos Negócios Estrangeiros Ri Yong Ho e outros responsáveis. E frisou:
Eles precisam de sinalizar o que estão dispostos a fazer agora... para começar algum tipo de compromisso”.
Por si, sustentou:
Acho que deixámos a porta entreaberta, e espero fervorosamente que a porta para uma solução negociada seja agora mais aberta”.
Após a visita, Jeffrey Feltman e as autoridades da Coreia do Norte emitiram um comunicado, no qual concordavam que a situação na península asiática é a questão “mais tensa e perigosa do mundo” em termos de paz e segurança.
A posição coincidente entre a ONU e Pyongyang surgiu, como se disse, na sequência de uma “série de reuniões” que Feltman manteve com o ministro dos Negócios Estrangeiros norte-coreano, Ri Yong Ho, e também com o vice-ministro, Pak Myong Guk, durante a visita que fez à Coreia do Norte entre os dias 5 e 8.
A visita de Feltman aconteceu após mais um ensaio balístico da Coreia do Norte, com o míssil disparado a atingir maior altura do que em qualquer de outros testes anteriores.
Segundo a ONU, a visita foi uma resposta a um convite antigo para manter um “diálogo político” entre as autoridades de Pyongyang e as Nações Unidas.
Trata-se da primeira viagem à Coreia do Norte que fez um responsável político das Nações Unidas em mais de sete anos. O último a visitar o país fora o antecessor de Feltman, Lynn Pascoe, em fevereiro de 2010.
Recorde-se que a tensão na península coreana é elevada, com Pyongyang a aumentar os lançamentos de mísseis e os testes nucleares enquanto foi trocando ameaças bélicas com o Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.
***
Quem se quer antecipar a um eventual colapso do regime de Pyongyang é o Governo de Pequim, que parece estar a preparar centros de refugiados junto à fronteira.
Com efeito, segundo o que relata o The Guardian na sua edição do dia 12, pelo menos cinco campos de refugiados estarão a ser construídos pela China ao longo da fronteira de 1416 quilómetros com a Coreia do Norte. A notícia sobre a construção dos campos de refugiados tinha sido avançada inicialmente pelo Financial Times na semana passada, depois de ter vindo a público um documento interno da empresa estatal chinesa de telecomunicações que terá sido encarregada de instalar internet nos centros.
O documento da China Mobile circulou nas redes sociais e, embora não tenha sido confirmada a autenticidade dos planos, ao que tudo indica, os cinco campos de refugiados estarão a ser construídos na província de Jilin, devido às “crescentes tensões do outro lado da fronteira”. No texto da China Mobile são referidas as localizações de três destes campos: Changbai, Changbai Shibalidaogou e Changbai Jiguanlizi. E o The New York Times refere que dois centros de refugiados estão igualmente planeados para as cidades de Tumen e Hunchun.
Em conferência de imprensa no dia 11, um porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês recusou confirmar a veracidade dos planos, mas não negou o projeto para os centros de refugiados. Escreve o The Guardian que a construção destes campos reflete a preocupação crescente de Pequim com a instabilidade política ou mesmo com o potencial colapso do regime de Pyongyang. O jornal abona-se com a citação dum especialista da Universidade de Pequim, que estuda a Coreia do Norte: segundo Cheng Xiaohe, seria “irresponsável” se a China não se preparasse para qualquer eventualidade perante as tensões na península coreana.
E Jiro Ishimaru, realizador japonês de documentários que está em contacto com uma rede de jornalistas cidadãos que vivem na Coreia do Norte e ao longo da fronteira com a China, disse ao Guardian que nenhum dos seus contactos em Changbai testemunhou a construção dos campos de refugiados, mas que os planos para a construção dessas instalações são conhecidos na região.
***
São de saudar as tímidas mudanças de posição quer da Coreia do Norte quer dos EUA. Importa entabular e intensificar negociações, parar com as ameaças mútuas e desistir dos testes nucleares. Uma guerra nuclear destruirá uma grande parte da humanidade e não trará vencedores e vencidos. Será, antes, a via da aniquilação.
Para evitar a guerra, é preciso desadensar ao clima de tensão entre a Coreia do Norte e os EUA, entre a Coreia do Norte e Coreia do Sul. E todos os países terão de reforçar as conversações diplomáticas para desviar a rota da guerra o destino dos povos, não devendo ser necessárias sanções económicas ou financeiras.
A paz acima de tudo… a fazer sem armas!

2017.12.14 – Louro de Carvalho 

Sem comentários:

Enviar um comentário