O
Secretário-Geral da ONU sustenta que é preciso desnuclearizar a península
coreana para que haja paz e estabilidade na região. De facto, a
desnuclearização da Coreia do Norte é a chave para garantir a paz e a
estabilidade na península, mas isso passa pela união de esforços dos Estados para
impor sanções.
António
Guterres encontra-se no Japão a participar numa conferência internacional sobre
saúde e falou aos jornalistas após uma reunião com o Primeiro-Ministro
nipónico, Shinzo Abe, e defendeu a tese das sanções para urgir a
desnuclearização. Segundo Guterres, as resoluções do Conselho de Segurança da
ONU devem ser “totalmente aplicadas e respeitadas” pelo regime de Pyongyang,
mas também por todos os outros países envolvidos na questão, por forma a
garantir que as sanções atinjam os objetivos para que foram impostas, ou seja,
a desnuclearização da península coreana demasiado tensa. E sublinhou:
“A unidade do Conselho de Segurança é crucial, mas também é importante
permitir que a diplomacia se envolva numa resolução pacífica. É importante que
todas as partes percebam a urgência de se encontrar uma solução que evite uma
confrontação que trará consequências trágicas para todos.”.
Segundo o
Secretário-Geral, não se pode entrar como “sonâmbulos numa guerra” devido à
situação desencadeada pela Coreia do Norte, pelo que é necessário dar apoio à
diplomacia. Ao invés, uma guerra na região poderá “trazer consequências
dramáticas”.
Questionado
sobre se planeia deslocar-se à Coreia do Norte para se reunir com o presidente
Kim Jong Un, Guterres manifestou-se “disponível”, mas desde que tal faça
sentido. Esclarecendo que “as reuniões só fazem sentido se houver um objetivo”,
declarou-se “pronto para ir a qualquer lado, desde que isso seja útil”.
Por seu
turno, o Primeiro-Ministro nipónico concordou com a ideia de que o diálogo com
a Coreia do Norte deve “fazer sentido”, visando sobretudo o fim do programa
nuclear norte-coreano.
***
Entretanto,
no dia 13, o Secretário de Estado norte-americano, Rex Tillerson, disse que
Washington está aberto à possibilidade de negociações com Pyongyang, mas a Casa
Branca defendeu que, primeiro, a Coreia do Norte deve “terminar com as
provocações” e tomar “ações sinceras e significativas em direção à
desnuclearização”.
Não
obstante, no momento em que Rex Tillerson, fazia este anúncio, que parece
amenizar a posição de Washington, o dirigente norte-coreano Kim Jong-Un
alimentou a guerra de palavras dos últimos meses, ao divulgar a sua intenção de
fazer do seu país “a potência nuclear e militar mais forte do mundo”.
Até
agora, o governo de Donald Trump afirmava sempre que eventuais futuras
negociações com a Coreia do Norte só poderiam realizar-se se tivessem como
objetivo a desnuclearização da península coreana. Agora, Tillerson, durante uma
conferência em Washington, disse que não é realista afirmar que só discutem com
os norte-coreanos se eles vierem para a mesa das negociações dispostos a
abandonar o seu programa nuclear.
Questionado
a propósito do desenvolvimento de mísseis intercontinentais e armas nucleares
pelo regime de Pyongyang, respondeu que “eles já investiram muito”. E adiantou:
“Estamos prontos a discutir desde que a Coreia do Norte queira discutir.
Estamos prontos a ter uma primeira reunião sem qualquer condição prévia.
Reunamo-nos. Falemos do tempo, se quiserem, ou discutamos se é preciso uma mesa
redonda ou quadrada, se vos der prazer. Mas, pelo menos, encontremo-nos cara a
cara e comecemos a definir um guião sobre o que queremos fazer.”.
É de
registar esta mudança de postura norte-americana. Com efeito, no passado,
Tillerson foi censurado publicamente por Trump, depois de ter mencionado a
existência de “canais de comunicação” para “sondar” as intenções de Kim
Jong-Un, com vista a um eventual diálogo. Trump dizia que o Secretário de
Estado estava “a perder o seu tempo a negociar”.
***
Neste contexto, o responsável pelos assuntos políticos da ONU visitou, na
semana passada, a Coreia do Norte. Foi a primeira visita de um responsável
político das Nações Unidas em mais de sete anos.
Jeffrey
Feltman declarou que oficiais de Pyongyang lhe disseram, durante a visita ao
país, que “era importante evitar a guerra” face ao avanço dos programas nuclear
e de mísseis balísticos.
O
diplomata veterano norte-americano, que é subsecretário-geral da ONU para os
assuntos políticos, disse aos jornalistas, depois de informar do facto em
privado o Conselho de Segurança das Nações Unidas, no passado dia 12, que a
forma “como fazemos isso” foi o tema de mais de 15 horas de discussão com o
ministro dos Negócios Estrangeiros Ri Yong Ho e outros responsáveis. E frisou:
“Eles precisam de sinalizar o que estão dispostos a fazer agora... para
começar algum tipo de compromisso”.
Por
si, sustentou:
“Acho que deixámos a porta entreaberta, e espero fervorosamente que a
porta para uma solução negociada seja agora mais aberta”.
Após
a visita, Jeffrey Feltman e as autoridades da Coreia do Norte emitiram um
comunicado, no qual concordavam que a situação na península asiática é a
questão “mais tensa e perigosa do mundo” em termos de paz e segurança.
A
posição coincidente entre a ONU e Pyongyang surgiu, como se disse, na sequência
de uma “série de reuniões” que Feltman manteve com o ministro dos Negócios
Estrangeiros norte-coreano, Ri Yong Ho, e também com o vice-ministro, Pak Myong
Guk, durante a visita que fez à Coreia do Norte entre os dias 5 e 8.
A
visita de Feltman aconteceu após mais um ensaio balístico da Coreia do Norte,
com o míssil disparado a atingir maior altura do que em qualquer de outros
testes anteriores.
Segundo
a ONU, a visita foi uma resposta a um convite antigo para manter um “diálogo
político” entre as autoridades de Pyongyang e as Nações Unidas.
Trata-se
da primeira viagem à Coreia do Norte que fez um responsável político das Nações
Unidas em mais de sete anos. O último a visitar o país fora o antecessor de
Feltman, Lynn Pascoe, em fevereiro de 2010.
Recorde-se
que a tensão na península coreana é elevada, com Pyongyang a aumentar os
lançamentos de mísseis e os testes nucleares enquanto foi trocando ameaças
bélicas com o Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.
***
Quem
se quer antecipar a um eventual colapso do regime de Pyongyang é o Governo de
Pequim, que parece estar a preparar centros de refugiados junto à fronteira.
Com
efeito, segundo o que relata o The
Guardian na sua edição do dia 12, pelo menos cinco campos de refugiados
estarão a ser construídos pela China ao longo da fronteira de 1416 quilómetros
com a Coreia do Norte. A notícia sobre a construção dos campos de refugiados
tinha sido avançada inicialmente pelo Financial Times na
semana passada, depois de ter vindo a público um documento interno da empresa
estatal chinesa de telecomunicações que terá sido encarregada de instalar
internet nos centros.
O
documento da China Mobile circulou
nas redes sociais e, embora não tenha sido confirmada a autenticidade dos
planos, ao que tudo indica, os cinco campos de refugiados estarão a ser
construídos na província de Jilin, devido às “crescentes tensões do outro lado
da fronteira”. No texto da China Mobile
são referidas as localizações de três destes campos: Changbai, Changbai
Shibalidaogou e Changbai Jiguanlizi. E o The New York Times refere
que dois centros de refugiados estão igualmente planeados para as cidades de
Tumen e Hunchun.
Em
conferência de imprensa no dia 11, um porta-voz do Ministério dos Negócios
Estrangeiros chinês recusou confirmar a veracidade dos planos, mas não negou o
projeto para os centros de refugiados. Escreve o The Guardian que a construção destes campos reflete a
preocupação crescente de Pequim com a instabilidade política ou mesmo com o
potencial colapso do regime de Pyongyang. O jornal abona-se com a citação dum
especialista da Universidade de Pequim, que estuda a Coreia do Norte: segundo
Cheng Xiaohe, seria “irresponsável” se a China não se preparasse para qualquer
eventualidade perante as tensões na península coreana.
E Jiro
Ishimaru, realizador japonês de documentários que está em contacto com uma rede
de jornalistas cidadãos que vivem na Coreia do Norte e ao longo da fronteira
com a China, disse ao Guardian que nenhum dos seus contactos
em Changbai testemunhou a construção dos campos de refugiados, mas que os
planos para a construção dessas instalações são conhecidos na região.
***
São
de saudar as tímidas mudanças de posição quer da Coreia do Norte quer dos EUA.
Importa entabular e intensificar negociações, parar com as ameaças mútuas e
desistir dos testes nucleares. Uma guerra nuclear destruirá uma grande parte da
humanidade e não trará vencedores e vencidos. Será, antes, a via da
aniquilação.
Para
evitar a guerra, é preciso desadensar ao clima de tensão entre a Coreia do
Norte e os EUA, entre a Coreia do Norte e Coreia do Sul. E todos os países
terão de reforçar as conversações diplomáticas para desviar a rota da guerra o
destino dos povos, não devendo ser necessárias sanções económicas ou
financeiras.
A
paz acima de tudo… a fazer sem armas!
2017.12.14 – Louro de
Carvalho
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