quarta-feira, 6 de dezembro de 2017

Três Santos, bispos de Braga, celebrados no mesmo dia

A Igreja festeja no dia 5 de dezembro três figuras notáveis do episcopado que se celebrizaram como evangelizadores no noroeste da Península Ibérica: São Martinho de Dume, São Frutuoso e São Geraldo. São três santos com um elo de ligação muito forte: todos foram bispos de Braga (São Geraldo foi arcebispo de Braga), um dos principais epicentros da Cristandade. Evangelizadores de povos diferentes, aquando das invasões bárbaras e da reconquista do território ibérico aos mouros, deixaram a sua marca em domínios tão diversos como a nomenclatura dos dias da semana, as regras de convivência em mosteiros e mesmo a construção de catedrais imponentes. Recordá-los é um dever dos cristãos pois foram os pioneiros da evangelização em terra que, mais tarde, se chamou de Santa Maria.
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Martinho de Dume
De São Martinho de Dume, apóstolo dos Suevos, sabe-se, pelo seu próprio testemunho (Epitáfio), confirmado por Venâncio Fortunato (Carminum libri, 5,2) e Gregório de Tours (Historia Francorum, 5,37), que era oriundo da Panónia (atual Hungria) ou descendente de panónios. Presume-se que seria de origem romana. O seu nascimento situa-se próximo do ano 520.
Foi seduzido pela necessidade interior de se familiarizar com os Lugares Santos, como afirmam Gregório de Tours (Historia Francorum, 5, 37) e Isidoro de Sevilha (De viris illustribus, 35, 45) partiu para a Palestina. E a estada no Oriente enriqueceu-o pela oportunidade de contacto com personagens cultas que demandavam aquelas paragens e pelo conhecimento da vida no estilo dos Padres do Deserto, muito desenvolvida, assim como serviu de ensejo para crescer no conhecimento das Escrituras, da língua grega e da cultura oriental, como testemunham Venâncio Fortunato, Gregório de Tours e Isidoro de Sevilha (Historia de Regibus Gothorum, Wandalorum et Suevorum, 91).
Martinho veio por mar e desembarcou num porto da Galécia, ao tempo das relíquias do homónimo Martinho de Tours ou em época próxima. São várias as conjeturas para a localização desse porto, mas nenhuma dispõe de suporte suficiente. E a data do evento, que marcou um novo rumo na vida das populações da Galécia, situa-se próxima do ano 550, sendo já Martinho monge e presbítero. O metropolita de Braga era Lucrécio.
Entretanto, o rei Carrarico, cumprindo a promessa que fizera para obter a cura do filho, construiu em Dume, arredores de Braga, uma igreja em honra de São Martinho de Tours e abandonou o arianismo. E Martinho, contando com o patrocínio régio, edificou junto à igreja um mosteiro, de que foi o primeiro abade, acabando o mosteiro por se converter num importante centro de formação e difusão de vida cristã e de cultura.
Por razões desconhecidas, mas conexas com a sua invulgar estatura de homem culto e cristão convicto, pela sua proximidade da corte e pelo papel desempenhado na conversão dos suevos, foi criada para ele a diocese de Dume, mantendo o bispo a sua condição de abade. Segundo o Breviário de Soeiro (Lectio IX), a sagração episcopal de Martinho teve lugar a 5 de abril de 556. E a sagração da igreja de Dume como sé celebrou-se no ano 558. Como bispo de Dume participou no I Concílio de Braga (561). A diocese de Dume restringia-se ao mosteiro, suas terras, servos e famílias, numa extensão territorial igual ou ligeiramente superior aos atuais limites da paróquia do mesmo nome. Este tipo de diocese foi, até então, um facto inédito no Ocidente. Manteve-se até 866, altura em que o bispo Sabarico se retirou para Mondoñedo, mercê das graves dificuldades criadas pelas invasões árabes. Durante este tempo, os seus bispos ora eram só abades e bispos de Dume, ora acumulavam com a Igreja de Braga. Quando, em 1070, se procedeu à restauração da diocese de Braga, foi nela incorporada a diocese de Dume. O então bispo de Mondoñedo protelou o cumprimento desta determinação, que veio a cumprir-se em tempos do arcebispo de Braga São Geraldo (1101). Porém, antes do ano 569, por morte do arcebispo metropolita de Braga, Lucrécio, Martinho assumiu a arquidiocese, sem deixar de ser bispo de Dume e abade do mosteiro. E, no ano 572, Martinho presidiu ao II Concílio de Braga. Na introdução às Atas do Concílio, lê-se a interpelação de Martinho aos outros bispos para que se examinem questões de disciplina que existam “por ignorância ou por negligência”, pois “pela graça de Cristo, nesta Província, nada é duvidoso acerca da unidade e da retidão da fé”. Com a sua cooperação, era já longo o caminho percorrido na consolidação da fé. Como metropolita, promoveu a reorganização paroquial, criou novos bispados e dividiu a metrópole bracarense em dois concílios ou sínodos, Lugo e Braga, continuando esta a ser a cabeça metropolitana. Braga, sede da corte do Reino Suevo, ficou com as dioceses a sul e a norte do rio Douro, vislumbrando-se neste seccionamento uma contribuição para a futura separação entre o Norte e o Sul da Galécia e, mais tarde, o nascimento de Portugal. Conforme a informação de Isidoro de Sevilha (De viris illustribus, 35, 45-46), Martinho fundou outros mosteiros. As tentativas para a sua identificação variam, em número e lugar, de autor para autor, sem se poder chegar a conclusões seguras.
Segundo o Breviário de Soeiro, Martinho, o último dos escritores do Reino Suevo, morreu a 20 de março de 579. Foi sepultado na igreja do mosteiro de Dume. Aí se mantiveram os seus restos mortais até meados do século IX, altura em que, pelo, risco que corriam devido à presença árabe, foram trasladados para Mondoñedo. Porém, no século XV, estavam de novo em Dume, na capela-mor da igreja. Em 1545, o arcebispo de Braga, Dom Manuel de Sousa, tentou trasladar as relíquias para a catedral. Ante a enérgica oposição do povo, optou por as esconder temporariamente aí, debaixo do altar-mor. Com a sua morte perdeu-se-lhes o rasto, até que, em 1591, são redescobertas pelo arcebispo Dom Frei Agostinho de Jesus, que decidiu, uma vez mais, levá-las para Braga. Enquanto se faziam as obras necessárias para as receber, foram trasladadas para a igreja do mosteiro de São Frutuoso. Finalmente, a 22 de outubro de 1606, foram levadas para a sé, onde, depois de várias mudanças, podem ser veneradas na Capela das Relíquias. O túmulo que guardava os seus restos mortais, em Dume, encontra-se no Museu Dom Diogo de Sousa (Braga). O X Concílio de Toledo (656), em sintonia com o sentir popular, já desde os contemporâneos de Martinho, tratou-o como santo. Depois, até à restauração da diocese de Braga, em 1070, perdeu-se o rasto do culto a Martinho. Parece claro, contudo, que se lhe sobrepôs o culto do homónimo Martinho de Tours. A partir de finais do século XI, o seu nome começa a aparecer, ininterruptamente, nos calendários e livros litúrgicos bracarenses. No breviário bracarense do século XIV (que está na origem do Breviário de Soeiro, séc. XV), São Martinho de Dume aparece como padroeiro da Igreja de Braga. Este título acabará, entretanto, por se perder até à sua retoma oficial em 1984. A sua festa litúrgica foi fixada em 22 de outubro, na diocese de Braga, e em 5 de dezembro, para Portugal, com São Frutuoso e São Geraldo.
O breviário bracarense (de 1588) dá a Martinho o título de doutor, que se manteve até tempos recentes – honra justificada, se considerarmos estar ante “uma das figuras mais destacadas e eficientes que o olhar do historiador descobre na Igreja ocidental do século VI”. Deve-se-lhe o renascimento literário e científico da Galécia. Aires Nascimento sintetiza assim a sua obra: Martinho de Dume
“[Martinho de Dume] não só introduziu um modelo de vida cenobita como, promovendo a conversão do povo suevo, conseguiu ambiente de paz suficiente para reorganizar a sua Igreja, doutriná-la e transmitir aos seus clérigos normas de vida exemplares; preocupou-se em dotar a sua Igreja com textos fundamentais, nomeadamente com os textos conciliares da Igreja Oriental, mas cuidou sobretudo de uma pastoral direta, atenta às situações, interveniente e benevolente”.
Trata-se, enfim, duma personagem que, antes e após a chegada à Galécia, soube enriquecer-se num mundo de relações que conferem à sua figura e à ação sócio-religiosa uma surpreendente dimensão cosmopolita.
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Frutuoso de Braga, de Dume ou de El Bierzo
Frutuoso de Braga ou Frutuoso de Dume ou de El Bierzo (em latim: Fructuosus), apóstolo dos visigodos, foi um monge e bispo godo do século VII, tendo nascido em Astorga, nas Astúrias, no Reino Visigótico, nos finais do Século VI ou no início do século VII, e falecido em Braga a 16 de abril de 665. Foi apóstolo incansável antes e depois de receber a dignidade episcopal. Homem de grande santidade, mas também de grande cultura, fundou diversos mosteiros que irradiavam simultaneamente evangelização, civilização e ação social, funcionando alguns como refúgios. É venerado como santo juntamente com Martinho de Dume e Geraldo.
A história da sua vida chega-nos via São Valério, um dos seus discípulos, de temperamento forte, monge copista e escritor, que a escreveu imediatamente após a sua morte. Na Vita Sancti Fructuosi destacam-se quase só os aspetos da vida monástica do biografado, omitindo a sua atuação como bispo e sua intervenção na vida civil e religiosa do Reino Visigótico, que tiveram grande importância no seio dos godos hispânicos.
Frutuoso ficou órfão na adolescência e decidiu abandonar os atrativos da corte de Toledo e retirar-se para a vida solitária. A família possuía algumas propriedades em El Bierzo, para onde quis retirar-se à imitação dos ermitãos orientais. Mas, antes, esteve junto de Conâncio, Bispo de Palência, de quem aprendeu as Sagradas Escrituras e música, pois viveu algum tempo na escola episcopal da cidade. Depois, entregou os seus bens aos pobres, deu liberdade aos escravos e foi para El Bierzo. Ali, no vale de Compludo, lugar agreste e de difícil acesso, dedicou-se à vida cenobita, vivendo numa cova, fazendo duras penitências e alimentando-se frugalmente.
Depressa a fama da sua vida se estendeu pela região e fora dela. Muitos homens e mulheres chegaram a El Bierzo, que se povoou de cenobitas e penitentes, a ponto de a região ser conhecida pela designação de “Tebaida espanhola” ou “Tebaida berciana”. Foi tal a legião de solitários que povoou aquelas montanhas, que Frutuoso se viu obrigado a fundar o primeiro dos seus mosteiros: o de Compludo, para o qual redigiu a sua primeira regra monástica. De todos os lados chegavam monges, jovens e velhos, nobres e escravos, chefes militares e soldados, que rapavam a cabeça e se vestiam de saco para fazer penitência. Assim, o mosteiro tomou a forma de aldeia, onde viviam, separados, as esposas e os filhos dos monges. As esposas, entregues também à mais áspera vida monástica, e os filhos a aprender na escola monacal a sua futura vida religiosa. Com a entrada em Compludo deviam esquecer as suas antigas relações familiares e isolar-se na oração e na penitência.
Organizado o mosteiro de Compludo, a que os grandes senhores ofereciam constantemente as suas doações, o Santo decidiu regressar à vida cenobita e solitária e, assim, buscou um novo lugar, ainda mais agreste e inacessível numa cova do monte Aquiana (ou Guiana) no vale do Oza, perto de onde hoje está o Mosteiro de São Pedro de Montes e onde têm vivido até há quase um século os monges herdeiros da fundação frutuosiana. Admiradores e discípulos seguiram o novo retiro e obrigaram-no em pouco tempo a levantar um novo mosteiro: o chamado Rupianense. Porém, um dia, os monges da primeira fundação foram a partir de Compludo à procura do Santo e fizeram-no regressar. Voltou a escapar-se Frutuoso, mas repetiram-se os factos, desta vez na serra de Aguiar, onde fundou o terceiro mosteiro de El Bierzo: San Félix de Visonia.
A partir deste momento, sai de El Bierzo e começa uma série de fundações por todo o ocidente peninsular; sempre em lugares escondidos das montanhas e inclusive nalguma ilha das rias galegas ou mesmo na ilha de Leão, junto a Cádiz onde funda mais dois mosteiros. O total de fundações, desde a Galécia à Bética e por toda a Lusitânia, pode estimar-se em cerca de vinte. Depois da ampla etapa fundacional, abraçou a ideia de peregrinar a Jerusalém; mas rei Recesvinto impediu-o disso aprisionando-o e encerrando-o em Toledo para o tirar do cárcere com a nomeação de abade-bispo de Dume, em virtude do que teve de assistir ao X Concílio de Toledo. No Concílio, a voz de Frutuoso terá sido importante, pois dos 7 cânones aprovados, 4 referem-se à vida de perfeição e os dois decretos publicados como apêndices, equacionam problemas que se deixam “à discrição do nosso venerável irmão Frutuoso, bispo”, com consta textualmente nas atas conciliares. No mesmo Concílio, foi eleito por unanimidade arcebispo de Braga e Metropolita da Galiza, face à renúncia do titular, Potâmio, que revelou ter quebrado o celibato num escrito que enviou espontaneamente aos padres conciliares, declarando querer retirar-se para fazer penitência.
Da sua atuação como bispo conhece-se pouco. Em todo o caso, sabe-se que, a instâncias suas, se construiu uma igreja dedicada a São Salvador, que hoje é São Frutuoso de Montélios, uma das mais originais e discutidas relíquias da arquitetura visigótica, junto à qual foi enterrado. Os seus milagres parecem repetidos nas florinhas de São Francisco de Assis; não são espetaculares nem grandiosos, mas neles vemos o seu amor e o frequente contacto com a natureza. São Valério narra-no-los com singular simplicidade. Muitos deles referem-se à salvação dos códices da biblioteca que o Santo levava sempre consigo nas suas fundações com risco de se perderem ao atravessar os rios em seu constante peregrinar. Da sua regra destaca-se a dureza na mortificação, as horas dedicadas à oração de noite e de dia, os terríveis castigos aos que cometem faltas à regra, a frugalidade na comida, o trabalho constante no campo ou na biblioteca monacal e a obediência ao Abade, bem como o voto de fidelidade que recorda o costume visigótico.
O arcebispo de Compostela Diego Gelmirez, no ano 1102, foi o responsável pelo roubo do corpo enquanto relíquia, de Dume, em Braga, para Santiago, onde foi enterrado solenemente na cripta da catedral. A catedral de Compostela celebra a solenidade litúrgica dessa transladação, ato que veio a ser designado por “pio latrocínio”, a 16 de dezembro, que Braga, desde São Geraldo, considera ‘ação má e indigna’.
Atualmente, as relíquias podem ser veneradas no seu local original, tendo sido apenas devolvidas por Santiago de Compostela em 1966, passados 864 anos.
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É fundamental a importância de Frutuoso para compreender a espiritualidade da Hispânia visigótica. Foi padre no monasticismo hispânico, viajante infatigável, fundador de inúmeros mosteiros, redator e venerador de duas regras monásticas, a Regra Monachorum e a Regra Monastica Communis – que se podem considerar como as mais tipicamente hispânicas do monasticismo peninsular, que se caraterizava por dar às comunidades grande autonomia económica suprindo todas as necessidades dos mosteiros. Depois dele, ainda persistiram outras regras europeias, mesmo nos próprios centros frutuosianos, particularmente a Beneditina; não obstante, muitos dos mosteiros fundados por Frutuoso subsistiram até épocas recentes. Frutuoso, conhecedor do monasticismo oriental, das regras europeias e das normas isidorianas, refundiu-as todas dotando-as duma originalidade tal que, frente ao latente latinismo da Regra de Santo Isidoro, podem ser consideradas reflexo de um caráter hispânico que se identificou com o espírito bárbaro dos visigodos.
Em Braga, é venerado na Capela de São Frutuoso, bem como na Sé Catedral.
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Geraldo de Moissac ou da Gasconha
São Geraldo, padroeiro da cidade de Braga, nasceu no século XI em Cahors, na Gasconha, de uma família nobre, professou entre os beneditinos do mosteiro cluniacense de Moissac, onde desempenhou os cargos de bibliotecário, mestre dos oblatos e cantor. E, depois, foi arcebispo de Braga, tendo falecido em 1108.
O bispo Bernardo de Toledo conseguiu levá-lo para a sua catedral para aí exercer as funções de mestre e de cantor. Porém, eleito bispo de Braga em 1095 ou 1096, desenvolveu uma grande ação pastoral e evangelizadora, preocupando-se com o clero e com o povo simples.
Em 1100, viajou para Roma para obter do Papa Pascoal II a dignidade metropolítica para a Sé de Braga a título definitivo. Ora, a autonomia eclesiástica de Braga seria o prenúncio da independência do Condado Portucalense. E, em 1103, dirigiu-se novamente a Roma, obtendo confirmação da jurisdição sobre todas as dioceses da Galiza – Astorga, Lugo, Mondoñedo, Ourense e Tui – e ainda, em Portugal, sobre o Porto, Coimbra, Lamego e Viseu.
Teve um governo curto mas intenso, em que exerceu grande atividade na reorganização da arquidiocese, promoção da vida monástica, reforma litúrgica e pastoral, bem como na aplicação da disciplina eclesiástica. Neste sentido, levou a cabo um conjunto de reformas a nível eclesiástico, moral e administrativo, reorganizando a escola da catedral e o cabido, continuando as obras da Sé, recuperando bens eclesiásticos usurpados e reformando o culto e a liturgia com a introdução do rito romano e aniquilando os focos de resistência antirromana na sua diocese.
Morreu a 5 de dezembro de 1108, numa visita pastoral, em Bornes, concelho de Vila Pouca de Aguiar, estando sepultado na Capela de São Geraldo, na Sé Catedral de Braga.
Sucedeu-lhe Maurício Burdino, personalidade porventura mais maleável, pois, no exercício das suas funções, não se verificaram conflitos graves com os diocesanos de Coimbra e Braga.
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O dia de São Geraldo
Reveste-se de grande significado por ser o padroeiro da cidade de Braga. A Câmara Municipal de Braga e o Cabido da Sé Primaz celebram a data de 5 de dezembro, simbólica para a cidade com um programa alusivo ao testemunho de São Geraldo. Realizado na Sé Catedral de Braga, o programa incluí a tradicional visita à capela do Santo decorada de frutos, um concerto comemorativo, missa solene e uma representação teatral do milagre de S. Geraldo. E, se os bracarenses passarem pela Sé Catedral ao longo do dia da festa, poderão visitar gratuitamente a habitualmente vedada capela de São Geraldo.
Sendo o primitivo lugar do túmulo deste prelado, foi remodelada no século XVIII a mando do Arcebispo Dom Rodrigo de Moura Telles que lhe acrescentou o retábulo em talha dourada e os magníficos painéis de azulejos que relatam a vida de São Geraldo. A capela neste dia encontra-se adornada de frutas da época, em alusão a uma narrativa que atribui um milagre a São Geraldo. Segundo a lenda, o arcebispo encontrava-se doente, temendo-se a sua morte. No ardor da febre terá pedido que lhe trouxessem fruta. Todavia, os servos tentavam demovê-lo dado que era pleno inverno. Confiante na graça divina, Geraldo insiste dizendo “Vai e procura!”. Os servos, achados no exterior, toparam as árvores repletas de fruto contradizendo a lei natural. Devido a este milagre, a capela é decorada com frutos no dia em que se faz a memória do seu padroeiro.
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O primeiro Arcebispo de Braga
Trata-se da restituição dos direitos metropolitas de Braga sobre as dioceses que ocupavam o território da antiga província romana da Galécia (atual Galiza). Depois da restauração da diocese de Braga pelo bispo Dom Pedro em 1070, Geraldo alcança em 1103 o título de arcebispo metropolita, tendo como dioceses sufragâneas Porto, Viseu, Lamego, Coimbra, Lugo, Mondonhedo, Pontevedra, Ourense e Astorga. Recorde-se que até às invasões árabes, e a posterior transferência da diocese para Lugo, Braga era sede de uma província eclesiástica, pelo que os seus bispos eram metropolitas. Portanto, na prática Geraldo não é o primeiro bispo bracarense a obter tais privilégios. A restituição desta dignidade a Geraldo apenas teve a diferenciação de apresentar outra designação – arcebispo (do grego ‘arche’ que quer dizer primeiro entre os bispos, em grego ‘episkopos’) – embora os direitos e poderes sejam exatamente os mesmos que os prelados bracarenses beneficiavam no passado.
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Os primórdios da independência
A questão da independência do Condado Portucalense face ao poderio do Rei de Leão e Castela foi sempre desejo assumido pela Condessa Dona Teresa e pelo Conde Dom Henrique. São Geraldo detinha uma ligação muito próxima com os pais de Dom Afonso Henriques, que viram também na restituição dos direitos metropolitas de Braga como arcebispado um fundamento para as suas ânsias de independência. A questão primacial de Braga, face a Toledo, foi um dos mais importantes fundamentos portugueses na luta pela independência protagonizada por Dom Afonso Henriques, que contou sempre com o apoio dos Arcebispos de Braga.
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O pio latrocínio: ‘ação má e indigna’
Foi no ano de 1102, época em que as relações com Santiago de Compostela estavam muito tensas, que o arcebispo galego se apresentou em Braga numa aparente missão de paz. A boa índole de Geraldo não permitiu decifrar as intenções perversas da comitiva galega, que tinha como intenção derrubar as pretensões de Braga como centro de peregrinações. Assim, durante a noite o Arcebispo Diego Gelmírez e o seu séquito tomaram de assalto os templos mais concorridos e levaram consigo as relíquias mais veneradas de Braga: São Vítor, Santa Susana, São Cucufate, São Silvestre e São Frutuoso. Esta “ação má e indigna”, como o próprio Geraldo catalogou, ficou para a história como o “Pio Latrocínio” e permitiu que Santiago de Compostela ganhasse ascendente sobre Braga no capítulo religioso peninsular.
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Do opúsculo “Fórmula de vida honesta”, de São Martinho de Dume
Começa por condenar a adulação e a arrogância e pedir a aceitação da advertência alheia e a emenda dos defeitos próprios, bem como a cautelosa correção evangélica dos outros, mas desculpando facilmente o erro.
“Não procures granjear a amizade de alguém pela adulação, nem permitas que os outros por meio dela granjeiem a tua. Não sejas ousado nem arrogante; submete-te e não te imponhas; conserva a serenidade e aceita de bom brado as advertências e com paciência as repreensões. Se alguém te repreender com razão, reconhece que é para teu bem; se o faz sem motivo, admite que é com boa intenção. Não temas as palavras ásperas, mas as brandas. Emenda-te dos teus defeitos e não sejas curioso indagador ou severo censor dos alheios; corrige os outros sem incriminações, prepara a advertência com mostras de sincera simpatia, e ao erro da facilmente desculpa.”.
Exalta a discrição e afabilidade contra a exaltação e a humilhação alheias, propõe o diálogo pronto e sereno, a moderação pessoal do espírito e do corpo e aconselha a índole saudável das relações, na verticalidade, no respeito e na justiça.
“Não exaltes nem humilhes pessoa alguma. Sê discreto sobre o que ouves dizer e acolhedor benévolo dos que te querem ouvir. Responde prontamente a quem te pergunta e cede facilmente a quem porfia, para não caíres em contendas e imprecações.
Se és moderado e senhor de ti mesmo, vigia sobre as moções do teu ânimo e os impulsos do teu corpo, evitando todas as inconveniências; não os ignores pelo facto de serem ocultos, pois não importa que ninguém os veja, se tu de facto os vês.
Sê flexível, mas não leviano; constante, mas não teimoso. A tua ciência não seja ignorada nem molesta. Considera a todos iguais a ti; não desprezes os inferiores com altivez, e não temas os superiores, se vives retamente. Em matéria de obséquios e saudações não te dispenses nem os exijas. Para todos deves ser afável; para ninguém adulador; com poucos, familiar; para todos, justo.”.
Releva a importância do discernimento e da nobreza da vida, sem alardes, mas com misericórdia e humildade a ensinar e a aprender e com firmeza no combate à calúnia.
“Sê mais severo no discernimento que nas palavras e mais nobre na vida que na aparência. Afeiçoa-te à clemência e detesta a crueldade. Quanto à boa fama, não apregoes a tua nem invejes a alheia. Sobre rumores, crimes e suspeitas, não sejas crédulo nem inclinado a pensar mal, mas opõe-te decididamente àqueles que com aparente simplicidade maquinam a difamação alheia.
Sê tardo para a ira e fácil para a misericórdia; firme nas adversidades, prudente e moderado nas prosperidades; ocultador das próprias virtudes, como os outros o são dos vícios. Evita a vanglória e não busques o reconhecimento das tuas qualidades.
A ninguém desprezes por ignorante. Fala pouco, mas tolera pacientemente os faladores. Sê sério, mas não desumano, e não menosprezes as pessoas alegres.
Sê desejoso da sabedoria e dócil. Sem presunção, ensina o que sabes a quem to pedir; e sem disfarçar a ignorância, pede que te ensinem o que não sabes.”.
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Nas festas dos Santos, é importante celebrar e louvar, mas também atender ao que eles ensinam. Na verdade, “os que temem o Senhor são justificados e as suas boas obras brilham como luz”.
(cf Dom Pio Alves, in S. Martinho de Dume, http://www.snpcultura.org/pedras_angulares_sao_martinho_dume.html; Leite, J. e Coleho, A., Santos de Todos os Dias, vol. 12, dezembro, AO, Quid Novi, 2005; CEP, Liturgia das Horas, vol. I, Advento e Natal, Gráfica de Coimbra, 1983; CEP, Missal Quotidiano Dominical e Ferial, PAULUS Editora, 2016; Missal popular, vol. II, Ferial, Gráfica de Coimbra, 1983)

2017.12.05 – Louro de Carvalho

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