terça-feira, 5 de dezembro de 2017

Luís Veiga Leitão, um poeta e militante antifascista

Desta vez, tenho o prazer de dar a conhecer o perfil e a obra, embora de forma diáfana, dum escritor e poeta oriundo das conhecidas por Terras do Demo, denominação aquiliniana. Estou a referir-me a Luís Veiga Leitão de que há, além da produção literária, as seguintes memórias:
- Uma placa na casa onde nasceu em Moimenta da Beira;
- A Galeria Municipal Luís Veiga Leitão e a Rua Luís Veiga Leitão, em Moimenta da Beira;
- A Rua Luís Veiga Leitão, no Porto.
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Luís Veiga Leitão é o pseudónimo de Luís Maria Leitão, que nasceu em Moimenta da Beira a 27 de maio de 1912 e faleceu, com a idade de 75 anos, durante uma visita ao Brasil, em Niterói, a 9 de outubro de 1987.
Viveu a meninice e a adolescência/juventude na freguesia de Penso, do concelho de Sernancelhe, residindo na Quinta de São Luís.  
Foi um poeta e artista plástico, membro do grupo literário Germinal, e militante antifascista, sendo obrigado a exilar-se devido à perseguição pelo regime político iniciado em 1926 e consolidado em 1933. Era amigo do poeta brasileiro Odilo Costa Filho, tendo feito o seguinte elogio ao brasileiro: “Poeta do amor pelo amor / das coisas, dos bichos, do ser”.
Lutou, ainda durante o tempo de estudante, pela criação de uma universidade livre, empreendimento inviabilizado pela galopante ascensão do regime ditatorial no início da década de 30, que sobreviveu com o rosto de Estado Novo até 1974. Publicou, em 1950, “Latitude”, uma coletânea de poemas, vindo a sofrer, dois anos depois, a prisão política no forte de Caxias, onde magicou as composições, que, três anos depois, formaram a obra “Noite de Pedra”, cuja publicação foi apreendida pela polícia política. Muitos destes poemas conheceram tradução em várias línguas – castelhano, inglês, francês, grego, russo, albanês, italiano, checo, búlgaro, alemão… – e integram muitas das melhores antologias da moderna poesia portuguesa, nacionais e estrangeiras, como: Ciclo de Pedras (1964); Sonhar da Terra Livre e Insubmissa (1973); Longo Caminho Breve – Poesias Escolhidas (1943 e 1983); e Biografia Pétrea (1989).
Pela sua hostilidade ao regime salazarista, foi demitido de escriturário da 7.ª Brigada Cadastral da Federação dos Vinicultores da Região do Douro, atividade aonde ingressara após a conclusão do ensino liceal. Não obstante, não desistiu das suas ideias e percorreu todo o país e algumas terras europeias como delegado de informação médica ao serviço de laboratórios farmacêuticos nacionais e estrangeiros.
A partir de 1957, foi também cronista de viagens e costumes e artista plástico dedicando-se ao desenho. Sob os auspícios da Universidade de Aix-Marseille, de cuja Faculdade de Letras foi professor, inaugurou um curso de traduções de português com base em modernos textos literários. Foi escritor e conferencista, com André Joucla, no Collège Internacional de Cannes.
Foi codiretor de “Notícias do Bloqueio”, fascículos de poesia, e membro da Associação dos Jornalistas e Homens de Letras do Porto e da Associação Portuguesa de Escritores.
Em 1959, a “Arnaldo Trindade” (Porto e Lisboa) editou um disco “Gravação Antológica da Poesia Portuguesa”, música e voz, da coleção “Orfeu”, com poesia de Luís Veiga Leitão. Em, 1974, a mesma editora lançou novo disco “Noite de Pedra”, com música de Rão Kyao.
O poeta, de feição neorrealista, colaborou nos suplementos literários da imprensa diária e em revistas, como “Seara Nova”, “Vértice”, “Colóquio/Letras”, etc. Também colaborou em revistas estrangeiras, como “Belles Paroles”, “Poet An International Monthly” e “Humboldt”.
Integrou, pela feitura temática, ao lado dos poetas Egito Gonçalves e Papiano Carlos, uma antologia organizada sob a epígrafe feita de um verso de Daniel Filipe “Sonhar a terra livre e insubmissa”. E, em 1964, surgiu o seu terceiro livro “Ciclo de Pedras”, editado pela Portugália Editora, Lisboa, na coleção “Poetas de Hoje”.
Foi em meados de 1967 que se radicou no Brasil, passando a morar no Rio de Janeiro e em Niterói e exercendo ali múltiplas atividades: redator, bibliotecário, desenhador, pesquisador iconográfico, leitor profissional, autor e locutor de programa televisionado acerca da moderna poesia portuguesa. Integrou uma equipa multidisciplinar, que incluía também sociólogos e economistas, sobre a produção do livro no Brasil (parceria da Fundação Getúlio Vargas e MEC). Colaborou no “Jornal do Escritor”, Rio de Janeiro, e no suplemento literário de “Correio do Povo” e proferiu conferências e palestras em vários estabelecimentos de ensino secundário e superior.
Antes e depois do seu regresso a Portugal em 1976, já em plena era democrática, autografou, no Rio de Janeiro e em Niterói, o “Livro de Andar e Ver(com prefácio de Jayro José Xavier), publicado por Robson Achiamé Fernandes, editor, na primeira daquelas cidades. A segunda edição da mesma obra saiu em 1978, em Lisboa, editada pel’ “A Regra do Jogo”. Entretanto, em 1977, a “Oiro do Dia” e ditou a plaquete “Linhas do Trópico”.
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Luís Veiga Leitão foi, pois, escritor e poeta, cronista e conferencista, professor e publicista, bibliotecário e desenhador, pesquisador e leitor profissional. Trabalhara como escriturário e como delegado de informação médica. Foi um homem que passou um pouco por tudo na vida, em Portugal e no estrangeiro, na prisão por motivos políticos e em liberdade, na pátria e no exílio, em ditadura e em democracia. De perfil e trabalho plurifacetados, manteve, contudo, um denominador comum – as letras e o grafismo. A sua poesia reflete o inconformismo e a amargura, o sentimento e a esperança. Foi o homem que a vida deu e que se deu à vida.
As suas principais obras são: Latitude, Régua, Imprensa do Douro, 1950, com desenhos do autor e carta-prefácio de Ferreira de Castro; Noite de Pedra, Porto, 1955, com ilustração de Augusto Gomes; Dispersas, in “Ciclo de Pedra” (antologia), Lisboa, Portugália Editora, 1964, organizada pelo autor, com prefácio de Fernando Guimarães; Sonhar a terra livre e insubmissa…, em colaboração com Egito Gonçalves e Papiniano Carlos, Porto, Editorial Nova, 1973; Livro de Andar e Ver, Rio de Janeiro, Robson Achiamé Fernandes, Editor, 1976, e Lisboa, A Regra do Jogo, 1978, com desenhos do autor e prefácio de Jayro José Xavier; Linhas do Trópico, Porto, Editorial Nova, 1977, com desenhos de Veiga Luís; Figurações, in “Longo Caminho Breve – Poesias Escolhidas” (antologia), 1943-1983, Lisboa, INCM, 1985, organizada pelo autor, com prefácio de Fernando Guimarães; Livro da Paixão – Para Ler e Contar, Lisboa, Ulmeiro, 1986, com ilustrações de Veiga Luís; Novos Poemas, in “Biografia Pétrea” (antologia), Brasília, Thesaurus Editora, s/d (provavelmente póstuma de 1989), organizada e prefaciada por António Roveral Mikten; e Rosto por Dentro, Porto, Edições Afrontamento, edição póstuma, 1992, organização de Fernando Guimarães, Lucinda Araújo e Luís Adriano Carlos.
Em 1997, Luís Adriano Carlos e Paula Monteiro coligiram num volume sob a epígrafe de “Obra Completa” a produção literária do escritor e poeta Luís Veiga Leitão, com nota à edição pelos organizadores e com introdução e notas de Luís Adriano Carlos. É uma edição de “Campo das Letras”, Porto.
A edição contém Obra Poética e Prosas. Em Obra Poética, temos Latitude, Noite de Pedra, Dispersas, do Livro de Andar e Ver (que também tem prosas), Linhas do Trópico, Figurações, Livro da Paixão – Para Ler e Contar e Rosto por Dentro; em Prosas, temos Livro de Andar e Ver (que também tem poesia), Crónicas Ambulantes, Pescador à Linha e Palavras Puxam Palavras, com Textos de Autorreflexão, Textos de Crítica Literária e Textos Políticos.
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Aqui deixo um poema de Luís Veiga Leitão para leitura:
Acompanhamento Lírico

Desceu a nuvem. E de vale em vale
a manhã ficou pálida suspensa
Árvores lama fronte de quem pensa
vestem de branco um branco glacial
Como flecha de lume no vitral
também minha alma que brilhou intensa
novamente afogou sua presença
no fundo de uma túnica irreal
E levo-a
pelo mar fora pelo mar da névoa
sob o silêncio húmido profundo
em cujas mãos de lágrimas deponho
o mutilado corpo do teu sonho
corpo sem asas de voar no mundo

2017.12.05 – Louro de Carvalho

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