A abertura do novo triénio pastoral no Santuário de Fátima processou-se em dois
momentos diferentes, mas complementares: no dia 2 de dezembro, a apresentação
do plano pastoral para 2017/2018; e no dia 3, a celebração da Eucaristia
dominical na Basílica da Santíssima Trindade.
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Na sessão da apresentação do plano pastoral para o novo ano, no Centro
Pastoral Paulo VI, o Bispo de Leiria Fátima, que presidiu, apresentou o novo
plano no âmbito do triénio de olhos postos “no início de um novo centenário”,
recordando “pontos-chave” da vivência do
primeiro centenário de Fátima, que ditam um novo caminho.
Dom António
Marto elogiou esta a “originalidade da celebração do centenário” entre
2010-2017, não reduzindo as celebrações a um ano de atividades, mas como uma
nova abordagem “global” que permitiu ir “ao centro da Mensagem”. Na verdade, estes
últimos sete anos permitiram gerar uma “nova abordagem” à Mensagem de Fátima,
com “mudança de registo ou de registos”, saindo-se duma visão “meramente
devocional” ou de curiosidade “às vezes mórbida” sobre os segredos, ao olhar dos
acontecimentos da Cova da Iria “na sua globalidade”, “indo ao núcleo” e
procurando ver a sua atualidade.
O prelado aproveitou
o ensejo para projetar um novo ciclo de Fátima, mas sem deixar de assinalar as
marcas que ficam do centenário acabado de celebrar. Entre elas, há duas
particularmente importantes: a dimensão mística e a dimensão profética.
Dom António
Marto observou que a dimensão mística foi, muitas vezes, “coberta apenas pelo
aspeto devocional”, sendo, porém, necessário sublinhar o convite deixado por
Nossa Senhora à abertura do coração humano a Deus “em tempos de descrença ou de
indiferença”, passando à vertente profética. Com efeito, Fátima “acompanha a
história da humanidade em cada época”.
E, no atinente
às celebrações centenárias, o “grande presente” foi a canonização dos
pastorinhos Francisco e Jacinta, sem a qual, na ótica de Dom António, “este
centenário não ficaria completo”. O prelado diocesano sublinhou a repercussão
da canonização no aumento das visitas aos túmulos e aproveitou o momento para
partilhar um comentário do Papa Francisco, na audiência privada que lhe
concedeu, no passado dia 30 de setembro, a propósito do exemplo da vida dos
pastorinhos: “As pessoas hoje procuram a
inocência num mundo perturbado”.
O bispo de
Leiria-Fátima recordou, ainda, o pedido deixado pelo Papa na Peregrinação de
maio sobre a necessidade da “purificação da devoção a Nossa Senhora”. Por outro
lado e de olhos postos no dia a dia do Santuário, Dom António Marto sublinhou a
experiência de “universalidade” e a “projeção nacional e mundial de Fátima”,
particularmente neste ano de 2017, destacando de maneira particular os grupos
de peregrinos vindos da Ásia, com referência específica aos católicos da China
continental.
E,
terminando a sua intervenção com uma citação de Santo Agostinho, exortou o Santuário
a guardar este dom e a cuidar dele, “para que faça brilhar a Mensagem com toda
a força, renovando e convertendo corações”, e frisou que quem vem a Fátima não
o faz como “mero turista” mas “tocado pelo coração”.
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Fátima viveu efetivamente a jornada de abertura do novo ano pastoral “Tempo de Graça e Misericórdia: dar graças
pelo dom de Fátima”. Dentro do
tema genérico, o tema especifico escolhido para este Ano Pastoral é “Dar graças pelo dom de Fátima”, como
anunciou o reitor do Santuário.
O tempo que
agora se abre foi olhado pelo Santuário no horizonte de um triénio e o
itinerário delineado propõe-se, precisamente, prolongar e aprofundar o
Centenário das Aparições e promover a consolidação dos dinamismos criados,
propiciadores de “tão bons frutos, sob a égide do reconhecimento do dom
recebido e do compromisso pelo seu acolhimento”. Concluído o Centenário e um
itinerário de sete anos, o Santuário abre um novo ciclo de 3 anos, intitulado “Tempo de Graça e misericórdia”, que
sugere para cada ano um tema específico. O primeiro, em que agora entramos,
vive-se sob o tema “Tempo de graça e misericórdia: dar graças pelo dom de Fátima”, sublinhando a consciência do dom
recebido como iniciativa gratuita e amorosa de Deus. O segundo, 2018-2019, será
vivido à luz de “Tempo de graça e misericórdia: dar graças por peregrinar em Igreja”, evocando a dimensão eclesial
deste dom à Igreja e à humanidade, para a Igreja e para o mundo. Finalmente, o
ano de 2019-2020, entonado pela vocação à santidade, dom e tarefa, será
designado por “Tempo de graça e misericórdia: dar graças por viver em Deus”. Com este percurso, o Santuário fará
memória dos momentos de graça que pautam a centenária história do acontecimento
de Fátima, procurando avivar a consciência do dom que este acontecimento é para
a contemporaneidade.
Na
apresentação do novo Ano Pastoral, o Padre Carlos Cabecinhas adiantou que os “grandes
objetivos do triénio” consistem em
“Fazer memória dos momentos de graça ao longo dos 100 anos do
Acontecimento de Fátima, avivar a consciência de que Fátima é dom para a
contemporaneidade e salientar a dimensão de eclesialidade na mensagem de Fátima”.
E outros objetivos
que se pretendem alcançar, segundo o reitor, são:
“Aprofundar a dimensão batismal da mensagem de Fátima, valorizar a
peregrinação como identificativo da condição humana e a figura do peregrino
como protagonista do acontecimento de Fátima e aprofundar o conhecimento dos
modelos de santidade específicos de Fátima”.
O Padre
Carlos Cabecinhas acrescentou que este novo Ano Pastoral procurará, “do ponto
de vista gráfico, assinalar com cartazes e outros suportes este tema, para ir recordando
aos peregrinos o tema” que guia Fátima. Neste sentido, será proposto “um
itinerário de oração para os peregrinos”, “uma catequese alusiva ao tema nas
alamedas do recinto de Oração” e o livro do ano, agora como “Guia do Peregrino”.
Ao nível de
formação, o reitor informou que irá ser mantido o “ritmo habitual dos simpósios
teológico-pastorais” e o “ritmo de ciclo de conferências, embora numa configuração
um pouco diferente”, estendendo-se ao longo de todo o ano pastoral.
Embora o
programa cultural não venha a ter “a intensidade destes últimos anos”, contudo,
o Santuário pretende “manter o ritmo anual das exposições temporárias”, pois é
considerado “um elemento qualificante da mensagem que se pretende transmitir”. Neste
sentido, afirmou:
“Refletiremos sobre a importância de Fátima como lugar de cultura – onde
se dá lugar à cultura, onde se produz cultura e donde irradiam novos eixos de
desenvolvimento da cultura –, bem como sobre a sua relevância antropológica,
concretamente diante de prementes desafios do acolhimento do sofrimento humano
ou do cuidado da Casa Comum e da humanidade que a habita, segundo uma
perspetiva cristã integrada e integral”.
O Padre
Cabecinhas salientou que, depois de se ter “celebrado festivamente e com
intensidade” o Centenário das Aparições, não é possível “acabar e concluir pura
e simplesmente as celebrações, sobretudo, porque 100 anos de História se vão prolongando
com outras efemérides”. Com efeito, ao triénio associam-se, segundo o
sacerdote, outros acontecimentos que, mesmo que assinalados nas datas
próprias, oferecem o contexto transversal aos três anos pastorais: a
restauração da Diocese, ocorrida a 17 de janeiro de 1918; a morte de Francisco
Marto, a 4 de abril de 1919; a edificação da Capelinha das Aparições, nos meses
primaveris de 1919; a morte de Jacinta Marto, a 20 de fevereiro de 1920; a
construção da escultura de Nossa Senhora do Rosário de Fátima, naquele mesmo
ano; e, ainda em 1920, o início do labor pastoral de Dom José Alves Correia da
Silva como Bispo de Leiria. Disse o reitor:
“O que pretendemos não só neste ano pastoral, mas nestes três anos que
se abrem diante de nós, é dar continuidade à dinâmica iniciada na vida do
Santuário pela celebração do Centenário das Aparições. Abordaremos temas complementares
que nos ajudarão a dar continuidade à reflexão feita.”.
O sacerdote
revelou que a instituição aproveitará “algum do dinamismo que vinha de trás”
para que, “a partir de agora, passe a marcar a vida do Santuário no seu dia a
dia”. E sustentou:
“Olhando atentamente para os cem anos de Fátima, facilmente constatamos
que são muitos os aspetos demonstrativos do dom que Fátima é para a Igreja e
para a humanidade. É com essa consciência que o Santuário procurará atravessar
os anos vindouros, a começar por este que sucede ao ano jubilar,
prolongando-lhe o júbilo e, ainda em júbilo, aprofundando-lhe a fecundidade.”.
O Padre
Cabecinhas acrescentou que este ano será prestada “especial atenção à Imagem Peregrina de Nossa Senhora de Fátima, para
perceber a relevância pastoral incontornável para as vidas e os contextos das
comunidades às quais é levada”.
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Esta jornada
de abertura do triénio e apresentação do novo ano pastoral 2017-2018 contou com
uma conferência temática do professor da Universidade Católica Portuguesa, José
Rui Teixeira, que falou da Cova da Iria como local de “intercessões e
interceções”, uma “poética”, um espaço onde os peregrinos “procuram tocar e
acabam tocados”.
Para o teólogo,
“Fátima é a orla do manto, é lugar de
intercessão e interceção, a periferia onde acontece a cura” e “é um lugar onde nos expomos à misericórdia
de Deus, um lugar de espera...onde somos visitados”. Apresentando o tema do
ano a partir da experiência e do olhar do peregrino, destacou o que torna
Fátima tão especial e atual:
“Fátima é circunstancial. Mas é à luz do circunstancial que o essencial
frutifica, na vida de cada um, em estado de graça. E é à luz do essencial que
podemos dar graças pelo dom do circunstancial”.
A jornada de
abertura contou com um apontamento musical pela Schola Cantorum Pastorinhos de Fátima, sob a direção da maestrina
Paula Pereira, com a apresentação do 8.º e último número da revista
cultural Fátima XXI e com a entrega da medalha comemorativa do Centenário
a 5 instituições que o Santuário quis distinguir pela colaboração intensa e
profícua, particularmente, neste ano do Centenário. As entidades agraciadas
foram: a Câmara Municipal de Ourém, a Junta de Freguesia de Fátima, a Guarda
Nacional Republicana, a Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de
Fátima e a Aciso – Associação Empresarial de Ourém-Fátima.
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No dia 3, o Santuário de Fátima
acolheu celebração no primeiro domingo do Advento, que deu também início ao
novo Ano Pastoral, com o respetivo enquadramento litúrgico.
O Reitor do Santuário, Padre Carlos Cabecinhas, presidiu à
missa dominical na Basílica da Santíssima Trindade, celebração para a qual se fizeram anunciar
dois grupos de peregrinos, e falou, na homilia, deste tempo de Advento que tem
hoje início. Disse a propósito:
“Há
um desejo de Deus que atravessa todo o tempo de advento que, apesar de ser um
tempo de espera, não é uma espera inativa, é sim uma espera motivada pelo
desejo de que o Senhor venha”.
O reitor
lembrou que “Deus faz-se esperar e
desejar ardentemente”, uma vez que é “desejo
de Deus aproximar-se de nós”. Isto sucede porque “só em Deus a vida adquire sentido pleno”, e dessa forma “queremos que Ele marque presença na nossa
vida”. “Sabemos que vivemos num tempo
de satisfação imediata dos desejos e que está bastante distante este ideal da
pedagogia do advento” – sustentou o Padre Carlos Cabecinhas.
O reitor do
Santuário explicou que “Deus não se impõe
e só O pode acolher quem verdadeiramente O deseja, O anseia”, e para isso “este tempo é uma oportunidade de
reconciliação e recolhimento, que só em Deus podemos realizar os nossos desejos
mais profundos”. E, neste sentido, desafiou os peregrinos à “construção de
um mundo mais humano, mais marcado pela presença de Deus”, à luz dos Santos
Francisco e Jacinta, em que “há esta pedagogia do advento, esta sede de Deus,
da presença de Deus, onde a oração é expressão mais explícita deste desejo de
Deus” e, nesta ótica, “desafio de expressar desejo de Deus através da oração,
de forma mais intensa”.
O reitor,
tendo presente o texto do Evangelho de São Marcos (Mc 13,33-37), lembrou que os Pastorinhos “souberam estar atentos e vigilantes,
evitando tudo aquilo que os pudesse afastar de Deus”, e apelou a que, para
o Advento que ora se inicia, tenhamos como exemplo os Santos Francisco e
Jacinta Marto onde “podemos ter um
exemplo de como viver este advento”.
Na verdade,
Cristo em São Marcos adverte-nos para a necessidade da vigilância, através da parábola
do homem que partiu para uma grande viagem deixando aos servos toda a sua autoridade
e todos os seus haveres e distribuindo as tarefas por cada um, para que os
administrem e façam render e ao porteiro para que vigie a fim de que ninguém se
apodere da casa e eles estejam atentos à vinda do seu senhor. Diz o Evangelho:
“Tomai cuidado, vigiai, pois não sabeis quando chegará esse momento. É
como um homem que partiu de viagem: ao deixar a sua casa, delegou a autoridade
nos seus servos, atribuiu a cada um a sua tarefa e ordenou ao porteiro que
vigiasse. Vigiai, pois, porque não sabeis quando virá o dono da casa: se à
tarde, se à meia-noite, se ao cantar o galo, se de manhãzinha; não seja que,
vindo inesperadamente, vos encontre a dormir. O que vos digo a vós, digo a
todos: vigiai!”.
Não somos
donos de tudo isto, mas administradores; não temos um poder próprio, mas
entregue por Deus; os bens não são nossos, mas de Deus, que no-los confiou para
serviço e benefício de todos. Os dons que Deus nos deu não são para autossatisfação,
mas são carismas pessoais para proveito da comunidade.
Como no fim
do ano litúrgico anterior, o início deste determina a vigilância e a preparação
– pela oração, emenda de vida, sobriedade e partilha. É preciso limpar a casa,
suas portas e janelas (nas
pessoas, o corpo e a alma, os ouvidos e os olhos – purificar o olhar) e recheá-la de bens (nas pessoas, a paz, a bondade, a
misericórdia e perdão, a generosidade e a partilha), estando sempre preparados e
vigilantes, pois não sabemos o dia nem a hora da vinda do Senhor.
Quanto mais
proveitoso for este tempo de Advento mais proveitosa será a vivencia do Natal. O
Senhor virá. Mas temos que lhe pedir que venha ter connosco, com cada um, e
cada um decidir partir ao seu encontro.
E Fátima é um
privilegiado ponto de encontro com Jesus, o Senhor e Salvador, dando-nos, por outro
lado, o sentido do zelo pelo mundo.
2017.12.03 – Louro de Carvalho
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