domingo, 3 de dezembro de 2017

Abertura do novo triénio pastoral no Santuário de Fátima


A abertura do novo triénio pastoral no Santuário de Fátima processou-se em dois momentos diferentes, mas complementares: no dia 2 de dezembro, a apresentação do plano pastoral para 2017/2018; e no dia 3, a celebração da Eucaristia dominical na Basílica da Santíssima Trindade.
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Na sessão da apresentação do plano pastoral para o novo ano, no Centro Pastoral Paulo VI, o Bispo de Leiria Fátima, que presidiu, apresentou o novo plano no âmbito do triénio de olhos postos “no início de um novo centenário”, recordando “pontos-chave” da vivência do primeiro centenário de Fátima, que ditam um novo caminho.
Dom António Marto elogiou esta a “originalidade da celebração do centenário” entre 2010-2017, não reduzindo as celebrações a um ano de atividades, mas como uma nova abordagem “global” que permitiu ir “ao centro da Mensagem”. Na verdade, estes últimos sete anos permitiram gerar uma “nova abordagem” à Mensagem de Fátima, com “mudança de registo ou de registos”, saindo-se duma visão “meramente devocional” ou de curiosidade “às vezes mórbida” sobre os segredos, ao olhar dos acontecimentos da Cova da Iria “na sua globalidade”, “indo ao núcleo” e procurando ver a sua atualidade.
O prelado aproveitou o ensejo para projetar um novo ciclo de Fátima, mas sem deixar de assinalar as marcas que ficam do centenário acabado de celebrar. Entre elas, há duas particularmente importantes: a dimensão mística e a dimensão profética.
Dom António Marto observou que a dimensão mística foi, muitas vezes, “coberta apenas pelo aspeto devocional”, sendo, porém, necessário sublinhar o convite deixado por Nossa Senhora à abertura do coração humano a Deus “em tempos de descrença ou de indiferença”, passando à vertente profética. Com efeito, Fátima “acompanha a história da humanidade em cada época”.
E, no atinente às celebrações centenárias, o “grande presente” foi a canonização dos pastorinhos Francisco e Jacinta, sem a qual, na ótica de Dom António, “este centenário não ficaria completo”. O prelado diocesano sublinhou a repercussão da canonização no aumento das visitas aos túmulos e aproveitou o momento para partilhar um comentário do Papa Francisco, na audiência privada que lhe concedeu, no passado dia 30 de setembro, a propósito do exemplo da vida dos pastorinhos: “As pessoas hoje procuram a inocência num mundo perturbado”.
O bispo de Leiria-Fátima recordou, ainda, o pedido deixado pelo Papa na Peregrinação de maio sobre a necessidade da “purificação da devoção a Nossa Senhora”. Por outro lado e de olhos postos no dia a dia do Santuário, Dom António Marto sublinhou a experiência de “universalidade” e a “projeção nacional e mundial de Fátima”, particularmente neste ano de 2017, destacando de maneira particular os grupos de peregrinos vindos da Ásia, com referência específica aos católicos da China continental.
E, terminando a sua intervenção com uma citação de Santo Agostinho, exortou o Santuário a guardar este dom e a cuidar dele, “para que faça brilhar a Mensagem com toda a força, renovando e convertendo corações”, e frisou que quem vem a Fátima não o faz como “mero turista” mas “tocado pelo coração”.
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Fátima viveu efetivamente a jornada de abertura do novo ano pastoral “Tempo de Graça e Misericórdia: dar graças pelo dom de Fátima”. Dentro do tema genérico, o tema especifico escolhido para este Ano Pastoral é “Dar graças pelo dom de Fátima”, como anunciou o reitor do Santuário. 
O tempo que agora se abre foi olhado pelo Santuário no horizonte de um triénio e o itinerário delineado propõe-se, precisamente, prolongar e aprofundar o Centenário das Aparições e promover a consolidação dos dinamismos criados, propiciadores de “tão bons frutos, sob a égide do reconhecimento do dom recebido e do compromisso pelo seu acolhimento”. Concluído o Centenário e um itinerário de sete anos, o Santuário abre um novo ciclo de 3 anos, intitulado “Tempo de Graça e misericórdia”, que sugere para cada ano um tema específico. O primeiro, em que agora entramos, vive-se sob o tema “Tempo de graça e misericórdia: dar graças pelo dom de Fátima”, sublinhando a consciência do dom recebido como iniciativa gratuita e amorosa de Deus. O segundo, 2018-2019, será vivido à luz de “Tempo de graça e misericórdia: dar graças por peregrinar em Igreja”, evocando a dimensão eclesial deste dom à Igreja e à humanidade, para a Igreja e para o mundo. Finalmente, o ano de 2019-2020, entonado pela vocação à santidade, dom e tarefa, será designado por “Tempo de graça e misericórdia: dar graças por viver em Deus”. Com este percurso, o Santuário fará memória dos momentos de graça que pautam a centenária história do acontecimento de Fátima, procurando avivar a consciência do dom que este acontecimento é para a contemporaneidade.
Na apresentação do novo Ano Pastoral, o Padre Carlos Cabecinhas adiantou que os “grandes objetivos do triénio” consistem em
Fazer memória dos momentos de graça ao longo dos 100 anos do Acontecimento de Fátima, avivar a consciência de que Fátima é dom para a contemporaneidade e salientar a dimensão de eclesialidade na mensagem de Fátima”. 
E outros objetivos que se pretendem alcançar, segundo o reitor, são:
Aprofundar a dimensão batismal da mensagem de Fátima, valorizar a peregrinação como identificativo da condição humana e a figura do peregrino como protagonista do acontecimento de Fátima e aprofundar o conhecimento dos modelos de santidade específicos de Fátima”. 
O Padre Carlos Cabecinhas acrescentou que este novo Ano Pastoral procurará, “do ponto de vista gráfico, assinalar com cartazes e outros suportes este tema, para ir recordando aos peregrinos o tema” que guia Fátima.  Neste sentido, será proposto “um itinerário de oração para os peregrinos”, “uma catequese alusiva ao tema nas alamedas do recinto de Oração” e o livro do ano, agora como “Guia do Peregrino”.
Ao nível de formação, o reitor informou que irá ser mantido o “ritmo habitual dos simpósios teológico-pastorais” e o “ritmo de ciclo de conferências, embora numa configuração um pouco diferente”, estendendo-se ao longo de todo o ano pastoral. 
Embora o programa cultural não venha a ter “a intensidade destes últimos anos”, contudo, o Santuário pretende “manter o ritmo anual das exposições temporárias”, pois é considerado “um elemento qualificante da mensagem que se pretende transmitir”. Neste sentido, afirmou:
Refletiremos sobre a importância de Fátima como lugar de cultura – onde se dá lugar à cultura, onde se produz cultura e donde irradiam novos eixos de desenvolvimento da cultura –, bem como sobre a sua relevância antropológica, concretamente diante de prementes desafios do acolhimento do sofrimento humano ou do cuidado da Casa Comum e da humanidade que a habita, segundo uma perspetiva cristã integrada e integral”.
O Padre Cabecinhas salientou que, depois de se ter “celebrado festivamente e com intensidade” o Centenário das Aparições, não é possível “acabar e concluir pura e simplesmente as celebrações, sobretudo, porque 100 anos de História se vão prolongando com outras efemérides”.  Com efeito, ao triénio associam-se, segundo o sacerdote,  outros acontecimentos que, mesmo que assinalados nas datas próprias, oferecem o contexto transversal aos três anos pastorais: a restauração da Diocese, ocorrida a 17 de janeiro de 1918; a morte de Francisco Marto, a 4 de abril de 1919; a edificação da Capelinha das Aparições, nos meses primaveris de 1919; a morte de Jacinta Marto, a 20 de fevereiro de 1920; a construção da escultura de Nossa Senhora do Rosário de Fátima, naquele mesmo ano; e, ainda em 1920, o início do labor pastoral de Dom José Alves Correia da Silva como Bispo de Leiria. Disse o reitor:
O que pretendemos não só neste ano pastoral, mas nestes três anos que se abrem diante de nós, é dar continuidade à dinâmica iniciada na vida do Santuário pela celebração do Centenário das Aparições. Abordaremos temas complementares que nos ajudarão a dar continuidade à reflexão feita.”. 
O sacerdote revelou que a instituição aproveitará “algum do dinamismo que vinha de trás” para que, “a partir de agora, passe a marcar a vida do Santuário no seu dia a dia”. E sustentou:
Olhando atentamente para os cem anos de Fátima, facilmente constatamos que são muitos os aspetos demonstrativos do dom que Fátima é para a Igreja e para a humanidade. É com essa consciência que o Santuário procurará atravessar os anos vindouros, a começar por este que sucede ao ano jubilar, prolongando-lhe o júbilo e, ainda em júbilo, aprofundando-lhe a fecundidade.”.
O Padre Cabecinhas acrescentou que este ano será prestada “especial atenção à Imagem Peregrina de Nossa Senhora de Fátima, para perceber a relevância pastoral incontornável para as vidas e os contextos das comunidades às quais é levada”.
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Esta jornada de abertura do triénio e apresentação do novo ano pastoral 2017-2018 contou com uma conferência temática do professor da Universidade Católica Portuguesa, José Rui Teixeira, que falou da Cova da Iria como local de “intercessões e interceções”, uma “poética”, um espaço onde os peregrinos “procuram tocar e acabam tocados”.
Para o teólogo, “Fátima é a orla do manto, é lugar de intercessão e interceção, a periferia onde acontece a cura” e “é um lugar onde nos expomos à misericórdia de Deus, um lugar de espera...onde somos visitados”. Apresentando o tema do ano a partir da experiência e do olhar do peregrino, destacou o que torna Fátima tão especial e atual:
Fátima é circunstancial. Mas é à luz do circunstancial que o essencial frutifica, na vida de cada um, em estado de graça. E é à luz do essencial que podemos dar graças pelo dom do circunstancial”.
A jornada de abertura contou com um apontamento musical pela Schola Cantorum Pastorinhos de Fátima, sob a direção da maestrina Paula Pereira,  com a apresentação do 8.º e último número da revista cultural  Fátima XXI e com a entrega da medalha comemorativa do Centenário a 5 instituições que o Santuário quis distinguir pela colaboração intensa e profícua, particularmente, neste ano do Centenário. As entidades agraciadas foram: a Câmara Municipal de Ourém, a Junta de Freguesia de Fátima, a Guarda Nacional Republicana, a Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Fátima e a Aciso – Associação Empresarial de Ourém-Fátima.
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No dia 3, o Santuário de Fátima acolheu celebração no primeiro domingo do Advento, que deu também início ao novo Ano Pastoral, com o respetivo enquadramento litúrgico.

O Reitor do Santuário, Padre Carlos Cabecinhas, presidiu à missa dominical na Basílica da Santíssima Trindade, celebração para a qual se fizeram anunciar dois grupos de peregrinos, e falou, na homilia, deste tempo de Advento que tem hoje início. Disse a propósito:

Há um desejo de Deus que atravessa todo o tempo de advento que, apesar de ser um tempo de espera, não é uma espera inativa, é sim uma espera motivada pelo desejo de que o Senhor venha”.
O reitor lembrou que “Deus faz-se esperar e desejar ardentemente”, uma vez que é “desejo de Deus aproximar-se de nós”. Isto sucede porque “só em Deus a vida adquire sentido pleno”, e dessa forma “queremos que Ele marque presença na nossa vida”. “Sabemos que vivemos num tempo de satisfação imediata dos desejos e que está bastante distante este ideal da pedagogia do advento” – sustentou o Padre Carlos Cabecinhas.
O reitor do Santuário explicou que “Deus não se impõe e só O pode acolher quem verdadeiramente O deseja, O anseia”, e para isso “este tempo é uma oportunidade de reconciliação e recolhimento, que só em Deus podemos realizar os nossos desejos mais profundos”. E, neste sentido, desafiou os peregrinos à “construção de um mundo mais humano, mais marcado pela presença de Deus”, à luz dos Santos Francisco e Jacinta, em que “há esta pedagogia do advento, esta sede de Deus, da presença de Deus, onde a oração é expressão mais explícita deste desejo de Deus” e, nesta ótica, “desafio de expressar desejo de Deus através da oração, de forma mais intensa”.
O reitor, tendo presente o texto do Evangelho de São Marcos (Mc 13,33-37), lembrou que os Pastorinhos “souberam estar atentos e vigilantes, evitando tudo aquilo que os pudesse afastar de Deus”, e apelou a que, para o Advento que ora se inicia, tenhamos como exemplo os Santos Francisco e Jacinta Marto onde “podemos ter um exemplo de como viver este advento”.
Na verdade, Cristo em São Marcos adverte-nos para a necessidade da vigilância, através da parábola do homem que partiu para uma grande viagem deixando aos servos toda a sua autoridade e todos os seus haveres e distribuindo as tarefas por cada um, para que os administrem e façam render e ao porteiro para que vigie a fim de que ninguém se apodere da casa e eles estejam atentos à vinda do seu senhor. Diz o Evangelho:
Tomai cuidado, vigiai, pois não sabeis quando chegará esse momento. É como um homem que partiu de viagem: ao deixar a sua casa, delegou a autoridade nos seus servos, atribuiu a cada um a sua tarefa e ordenou ao porteiro que vigiasse. Vigiai, pois, porque não sabeis quando virá o dono da casa: se à tarde, se à meia-noite, se ao cantar o galo, se de manhãzinha; não seja que, vindo inesperadamente, vos encontre a dormir. O que vos digo a vós, digo a todos: vigiai!”.
Não somos donos de tudo isto, mas administradores; não temos um poder próprio, mas entregue por Deus; os bens não são nossos, mas de Deus, que no-los confiou para serviço e benefício de todos. Os dons que Deus nos deu não são para autossatisfação, mas são carismas pessoais para proveito da comunidade.
Como no fim do ano litúrgico anterior, o início deste determina a vigilância e a preparação – pela oração, emenda de vida, sobriedade e partilha. É preciso limpar a casa, suas portas e janelas (nas pessoas, o corpo e a alma, os ouvidos e os olhos – purificar o olhar) e recheá-la de bens (nas pessoas, a paz, a bondade, a misericórdia e perdão, a generosidade e a partilha), estando sempre preparados e vigilantes, pois não sabemos o dia nem a hora da vinda do Senhor.
Quanto mais proveitoso for este tempo de Advento mais proveitosa será a vivencia do Natal. O Senhor virá. Mas temos que lhe pedir que venha ter connosco, com cada um, e cada um decidir partir ao seu encontro.
E Fátima é um privilegiado ponto de encontro com Jesus, o Senhor e Salvador, dando-nos, por outro lado, o sentido do zelo pelo mundo.

2017.12.03 – Louro de Carvalho

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