O espírito da celebração do Natal no Santuário de Fátima, que parecia eu
estar a olvidar (ainda estamos na Oitava do
Natal), pode
sintetizar-se no apelo do Reitor, o Padre Carlos Cabecinhas, na missa das 11
horas do da 25 na Basílica da Santíssima
Trindade: “Alegremo-nos, façamos a festa, mas não percamos o essencial”.
À assembleia
de peregrinos, o Padre Cabecinhas apresentou Jesus como a “Palavra de Deus Pai,
Palavra que que nos ilumina e nos conduz à vida plena”, explicando que “aqui
reside a Sua identidade, a Sua missão e o dom que significa para cada homem e
mulher”. E salientou a ideia de que, “num mundo tão cheio de palavras, como é o
nosso, Jesus vem como a Palavra definitiva de Deus”.
Depois,
explicitou o dinamismo inerente ao Deus-Menino e à nossa relação com Ele:
“O Deus-Menino é a Palavra capaz de dar
sentido às nossas vidas, capaz de atingir a profundidade da nossa existência e
dos nossos problemas. No Natal, Deus fala-nos pelo Seu próprio Filho. A grande
questão é se nós nos dispomos a escutá-Lo, nos dispomos a acolher Jesus,
Palavra de Deus.”.
Alertando
para um problema que “dois mil anos depois” continua a ser “o verdadeiro drama
do Natal: não termos lugar para Cristo,
não O acolhermos”, afirmou:
“Corremos sempre o risco de nos ocuparmos
tanto da preparação da festa do Natal, que deixamos de ter espaço para o mais
importante: acolher Jesus que vem como Palavra, Luz e Vida”.
E reconheceu
que há com isto o risco de “ou por estarmos demasiado distraídos de Deus, ou
por não querermos que Ele venha incomodar as nossas rotinas e opções, também
nós não termos espaço para o Deus Menino”.
Nesta
celebração, em que se fez anunciar um grupo de peregrinos da Costa do Marfim, o
Padre Carlos Cabecinhas considerou o “silêncio para O acolher fundamental”, uma
vez que “a palavra só pode ressoar e fazer-se ouvir onde encontra silêncio
recetivo”. A este respeito, considerou:
“Por isso, o silêncio é também caraterístico
da narração e celebração do Natal. Não um silêncio vazio, mas o silêncio
contemplativo, o silêncio de quem escuta. Se Jesus Menino é o Verbo, a Palavra
de Deus que se faz carne, então é fundamental fazer silêncio para O escutar. A
palavra só no silêncio se pode acolher.”.
Desta forma,
pôde inferir as consequências do Natal, que é desafio e convite:
“O Natal é desafio a fazer calar tantos
ruídos que nos cercam: é desafio a fazer calar as vozes do nosso egoísmo, que
nos centram em nós e nos nossos problemas e nos impedem de acolher os outros; é
convite a fazer calar as vozes da nossa autossuficiência, que nos impede de nos
reconhecermos frágeis e débeis, necessitados de Deus e da Sua força; é convite
a fazer calar o ruído em que nos envolvemos para nos distrairmos da vontade de
Deus, tantas vezes misteriosa; é desafio a fazermos calar as vozes do comodismo”.
Em suma,
disse: “O grande desafio do Natal é não perdermos o essencial. Alegremo-nos,
façamos a festa mas não percamos o essencial”.
***
Já na Missa Noite de Natal, pelas
23 horas do dia 24, o Reitor, classificou esta noite como noite de “alegria”,
de “luz” e de “paz”, lembrando a alegria resultante do nascimento do Salvador:
“Esta
noite de Natal é uma noite especial, marcada pela alegria de nos sabermos
amados por Deus, pela irrupção da luz de Deus, que vem iluminar-nos, e pela
paz, que o Deus-Menino nos vem trazer”.
Com efeito,
“no nascimento de Jesus, em Belém, experimentamos a imensa ternura com que Deus
nos ama”, explicou o Padre Cabecinhas lembrando a “simplicidade” do relato de
São Lucas, no Evangelho e falando da “contemplação dos presépios, que nele se
inspiram, e na qual transparece a imensa ternura e o amor desmedido de Deus
para connosco”. E mostrou aos peregrinos presentes como Deus “Se faz próximo, vem ao nosso encontro e nos
mostra o seu amor sem medida”.
Depois,
abordou o mistério do Natal pela temática da luz, recordando a “luz”
consequente do nascimento do “Salvador”.
Considerando que
“todos nós fazemos a experiência das trevas, não apenas físicas, da falta de
luz que nos impede de ver, mas sobretudo existenciais, quando não vemos o
sentido da nossa vida, quando não vemos saída para os nossos problemas, dificuldades
e dúvidas”, o Padre celebrante afirmou que “Jesus vem precisamente como luz,
capaz de nos iluminar, de nos mostrar os caminhos que devemos trilhar”.
E, tendo em
conta que “o Natal é festa de luz, aliás manifesta nas iluminações natalícias,
sinal festivo e de alegria”, frisou que “no Menino do Presépio encontramos essa
luz que nos reconcilia connosco próprios, que nos conduz a Deus, que nos mostra
o caminho da felicidade”.
Por fim, o Padre
Cabecinhas memorou a “paz” decorrente do nascimento do Salvador, dizendo:
“Pelo
seu nascimento, Deus concede-nos a paz como dom. A paz sintetiza todos os dons
de Deus e cria em nós serenidade, concórdia, união, harmonia com Deus, com os
outros e connosco próprios”.
O Reitor
explicou que “o Natal é festa da paz, da harmonia com os outros” e que “esta paz
tem tanto de dom como de tarefa”. Oram sendo “também missão que nos é confiada,
torna-se claro que “de nós depende construir a paz e difundi-la à nossa volta”.
E, convocando
a “profunda gratidão a Deus, que nos ama tanto, a ponto de nos cumular de tais
dons”, declarou:
“No
Menino do Presépio, Deus identifica-Se com os ‘pequenos’, os deserdados, os
refugiados, os pobres, os doentes ou os que estão sós. Acolher a paz como dom e
assumi-la como tarefa implica, da nossa parte, a atenção concreta aos outros, a
solidariedade, a partilha, o amor concreto, a ajuda desinteressada aos que mais
precisam”.
É assim o
Natal, festa de Deus feito Palavra para nós, nossa alegria, nossa luz e nossa
paz – a escutar e acolher num ambiente de silêncio eloquente!
***
Mas o Natal
do Santuário, em coerência com a doutrina pregada na celebração da Eucaristia, quis
também ser momento e festa de partilha.
Assim, os ofertórios das Missas de Natal no Santuário de
Fátima, dos dias 24 e 25, revertem a favor das vítimas dos incêndios. A recolha de donativos decorreu nos “momentos
da osculação do Menino Jesus”, no final das cerimónias ligadas à celebração do
nascimento de Cristo.
É certo que as celebrações
principais ocorreram na Basílica da Santíssima Trindade. Assim, a ‘Missa do Galo’, na noite de 24 de dezembro, teve início às 23 horas, na
Basílica da Santíssima Trindade. E, no dia 25, houve celebração da Missa às 9 horas, 11
horas, 15 horas e 16,30 horas na Basílica da Santíssima Trindade; às 7,30
horas e 18,30 horas na Basílica de Nossa Senhora do Rosário de Fátima; e às 12,30
horas na Capelinha das Aparições.
E, no âmbito da partilha da oração, pelas 17,30
horas, foram cantadas Vésperas na Basílica de Nossa Senhora do Rosário de
Fátima.
***
A envolver a celebração
do Natal no Santuário, destacaram-se duas realizações artístico-culturais: o Concerto
de Natal promovido pelo Santuário de Fátima no Centro Pastoral de Paulo VI com
a Banda Sinfónica Portuguesa e Coro Infantil da Academia de Música de
Costa Cabral, no dia 17 de dezembro; e o Presépio de Paulo Neves, que integra património do Santuário de Fátima e
ficou instalado na nave da Basílica de Nossa Senhora do Rosário de
Fátima foi pensado e desenhado para este espaço.
No predito concerto foram
interpretadas seis peças, entre as quais o tema Whatsup-whatsdown, de Jorge Salgueiro, em estreia absoluta – e tudo
sob a direção do Maestro Francisco Ferreira.
A Banda
Sinfónica Portuguesa é uma Associação cultural, sem fins lucrativos, apoiada
pelas escolas de ensino artístico especializado da Academia de Música de Costa
Cabral (Porto) e Conservatório de Música do Porto,
sendo ainda financiada pela Direção-Geral das Artes.
Sediada no
Porto, apresentou-se ao público, pela primeira vez, no dia 1 Janeiro de 2005 no
Rivoli, Teatro Municipal do Porto, onde também gravou o seu primeiro CD, tendo
entretanto recebido um importante apoio por parte da “Culturporto” e mais tarde
da “Porto Lazer” na divulgação e expansão do seu projeto.
A Academia de
Música de Costa Cabral (AMCC), fundada em 1995, integra a rede
nacional de escolas do ensino artístico especializado da música com autonomia
pedagógica e autorização definitiva de funcionamento. Tem vindo a desenvolver, ao
longo dos anos, um trabalho pedagógico destacando-se diversas atividades
culturais junto de várias instituições. No seio da sua oferta educativa
destacam-se os cursos básicos em regime integrado (formação geral e vocacional) do 5.º ao 9.º ano e os cursos
profissionais de nível secundário, a par das iniciações musicais, cursos
básicos e secundários em regime supletivo e articulado.
O maestro Francisco Ferreira, diplomado
em Saxofone, estudou com os prestigiados saxofonistas Daniel Deffayet, Claude Delangle,
Jean-Yves Fourmeau e Vincent David. Professor de saxofone e coordenador do
departamento de sopros e percussão do Conservatório de Música do Porto, acumula
estas tarefas com as funções de Diretor Pedagógico na AMCC. E é membro
fundador do Quarteto de Saxofones do Porto e da Banda Sinfónica Portuguesa. Teve
o mérito de desenvolver em Portugal, no Conservatório de Música do Porto, na
Escola Profissional de Música de Espinho e na AMCC, uma importante classe de
saxofone com imensos alunos premiados em concursos nacionais e internacionais,
sendo considerado um dos principais responsáveis pela afirmação do saxofone no
país.
No atinente
ao Presépio é de referir:
Os
peregrinos que se deslocaram ou deslocam a Fátima na época de Natal contemplam
o novo Presépio de Paulo Neves, um conjunto escultórico composto por três
peças, instaladas na nave da Basílica de Nossa Senhora do Rosário de Fátima,
junto à entrada, do lado da Epístola.
A
instalação, encomendada pelo Santuário de Fátima, recupera a Sagrada Família e,
na figura de Maria, o escultor faz aparecer um coração sobre o peito materno da
Virgem.
Como noutras
obras do seu ‘curriculum’, trabalha a figura humana a partir da
valorização da forma arcaica que a arte dos inícios do século XX veio enaltecer
(a gosto de movimentos
estéticos como o Cubismo), sobretudo
a partir do conceito de máscara que surge esculpida a partir da sinuosidade das
linhas que o tronco, como matéria-prima, dita na hora de sulcar e talhar o lenho.
O Presépio é
desenvolvido em madeira de cedro esculpida e tem uma volumetria de
350x200x200cm.
Paulo Neves Nasceu em Cucujães,
Oliveira de Azeméis, em 1959. Frequentou o Curso de Pintura da Faculdade de
Belas Artes da Universidade do Porto. De 1978 a 1981 conviveu e trabalhou com
diversos artistas em vários países da Europa, regressando depois à terra natal
onde tem o seu ateliê. Desde 1980 já realizou cerca de 100 exposições individuais
e outras tantas coletivas, sendo autor de variadas expostas em diferentes
locais espalhados pelos quatro cantos do Mundo. Trabalha sempre em madeira e
pedra.
Trata-se de um escultor premiado
tendo recebido, entre outros, o Prémio
Águas do Minho e Lima, XIII Bienal de Cerveira; Prémio aquisição XIV Bienal de Cerveira, Fundação Eugénio de
Almeida; Primeiro prémio concurso para
monumento ao Magriço, promovido pela Câmara Municipal de Penedono, em 2000;
Primeiro prémio concurso ‘Elementos
Escultóricos e Baixos-relevos para a Revitalização da Zona Histórica de Viseu’,
promovido pela Câmara Municipal de Viseu, em 1999.
***
Tudo vem
decorrendo em conformidade com o espírito da prévia Mensagem de Natal do Reitor
do Santuário de Fátima, com interpretação em língua gestual portuguesa, que falou
de um “especialíssimo tempo de graça”. E explicitou:
“Este
é tempo de graça, pois a graça de Deus tem nome e rosto: o Deus-Menino do
presépio. Em Jesus Cristo temos o maior dom que Deus nos pode oferecer, pois é
oferta gratuita de Si, para que tenhamos vida e vida em abundância.”.
E porfiou:
“É
em Jesus Cristo que temos a manifestação suprema do amor de Deus para connosco,
o rosto da misericórdia de Deus”.
***
Vale a pena
acentuar que o Santuário Mariano não nos distrai do fundamental do mistério da
fé: Jesus Cristo, portador da graça, dom do Pai a todos nós, manifestação
suprema do amor e da misericórdia. E Maria apresenta-no-Lo e encaminha-nos para
Ele.
2017.12.30 – Louro de Carvalho
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