sábado, 30 de dezembro de 2017

A Solenidade do Natal de 2017 no Santuário de Fátima

O espírito da celebração do Natal no Santuário de Fátima, que parecia eu estar a olvidar (ainda estamos na Oitava do Natal), pode sintetizar-se no apelo do Reitor, o Padre Carlos Cabecinhas, na missa das 11 horas do da 25 na Basílica da Santíssima Trindade: “Alegremo-nos, façamos a festa, mas não percamos o essencial”.
À assembleia de peregrinos, o Padre Cabecinhas apresentou Jesus como a “Palavra de Deus Pai, Palavra que que nos ilumina e nos conduz à vida plena”, explicando que “aqui reside a Sua identidade, a Sua missão e o dom que significa para cada homem e mulher”. E salientou a ideia de que, “num mundo tão cheio de palavras, como é o nosso, Jesus vem como a Palavra definitiva de Deus”.
Depois, explicitou o dinamismo inerente ao Deus-Menino e à nossa relação com Ele:
O Deus-Menino é a Palavra capaz de dar sentido às nossas vidas, capaz de atingir a profundidade da nossa existência e dos nossos problemas. No Natal, Deus fala-nos pelo Seu próprio Filho. A grande questão é se nós nos dispomos a escutá-Lo, nos dispomos a acolher Jesus, Palavra de Deus.”.
Alertando para um problema que “dois mil anos depois” continua a ser “o verdadeiro drama do Natal: não termos lugar para Cristo, não O acolhermos”, afirmou:
Corremos sempre o risco de nos ocuparmos tanto da preparação da festa do Natal, que deixamos de ter espaço para o mais importante: acolher Jesus que vem como Palavra, Luz e Vida”.
E reconheceu que há com isto o risco de “ou por estarmos demasiado distraídos de Deus, ou por não querermos que Ele venha incomodar as nossas rotinas e opções, também nós não termos espaço para o Deus Menino”.
Nesta celebração, em que se fez anunciar um grupo de peregrinos da Costa do Marfim, o Padre Carlos Cabecinhas considerou o “silêncio para O acolher fundamental”, uma vez que “a palavra só pode ressoar e fazer-se ouvir onde encontra silêncio recetivo”. A este respeito, considerou:
Por isso, o silêncio é também caraterístico da narração e celebração do Natal. Não um silêncio vazio, mas o silêncio contemplativo, o silêncio de quem escuta. Se Jesus Menino é o Verbo, a Palavra de Deus que se faz carne, então é fundamental fazer silêncio para O escutar. A palavra só no silêncio se pode acolher.”.
Desta forma, pôde inferir as consequências do Natal, que é desafio e convite:
O Natal é desafio a fazer calar tantos ruídos que nos cercam: é desafio a fazer calar as vozes do nosso egoísmo, que nos centram em nós e nos nossos problemas e nos impedem de acolher os outros; é convite a fazer calar as vozes da nossa autossuficiência, que nos impede de nos reconhecermos frágeis e débeis, necessitados de Deus e da Sua força; é convite a fazer calar o ruído em que nos envolvemos para nos distrairmos da vontade de Deus, tantas vezes misteriosa; é desafio a fazermos calar as vozes do comodismo”.
Em suma, disse: “O grande desafio do Natal é não perdermos o essencial. Alegremo-nos, façamos a festa mas não percamos o essencial”.
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Já na Missa Noite de Natal, pelas 23 horas do dia 24, o Reitor, classificou esta noite como noite de “alegria”, de “luz” e  de “paz”, lembrando a alegria resultante do nascimento do Salvador:
Esta noite de Natal é uma noite especial, marcada pela alegria de nos sabermos amados por Deus, pela irrupção da luz de Deus, que vem iluminar-nos, e pela paz, que o Deus-Menino nos vem trazer”.
Com efeito, “no nascimento de Jesus, em Belém, experimentamos a imensa ternura com que Deus nos ama”, explicou o Padre Cabecinhas lembrando a “simplicidade” do relato de São Lucas, no Evangelho e falando da “contemplação dos presépios, que nele se inspiram, e na qual transparece a imensa ternura e o amor desmedido de Deus para connosco”. E mostrou aos peregrinos presentes como Deus “Se faz próximo, vem ao nosso encontro e nos mostra o seu amor sem medida”.
Depois, abordou o mistério do Natal pela temática da luz, recordando a “luz” consequente do nascimento do “Salvador”.
Considerando que “todos nós fazemos a experiência das trevas, não apenas físicas, da falta de luz que nos impede de ver, mas sobretudo existenciais, quando não vemos o sentido da nossa vida, quando não vemos saída para os nossos problemas, dificuldades e dúvidas”, o Padre celebrante afirmou que “Jesus vem precisamente como luz, capaz de nos iluminar, de nos mostrar os caminhos que devemos trilhar”.
E, tendo em conta que “o Natal é festa de luz, aliás manifesta nas iluminações natalícias, sinal festivo e de alegria”, frisou que “no Menino do Presépio encontramos essa luz que nos reconcilia connosco próprios, que nos conduz a Deus, que nos mostra o caminho da felicidade”.
Por fim, o Padre Cabecinhas memorou a “paz” decorrente do nascimento do Salvador, dizendo:
Pelo seu nascimento, Deus concede-nos a paz como dom. A paz sintetiza todos os dons de Deus e cria em nós serenidade, concórdia, união, harmonia com Deus, com os outros e connosco próprios”.
O Reitor explicou que “o Natal é festa da paz, da harmonia com os outros” e que “esta paz tem tanto de dom como de tarefa”. Oram sendo “também missão que nos é confiada, torna-se claro que “de nós depende construir a paz e difundi-la à nossa volta”.
E, convocando a “profunda gratidão a Deus, que nos ama tanto, a ponto de nos cumular de tais dons”, declarou:
No Menino do Presépio, Deus identifica-Se com os ‘pequenos’, os deserdados, os refugiados, os pobres, os doentes ou os que estão sós. Acolher a paz como dom e assumi-la como tarefa implica, da nossa parte, a atenção concreta aos outros, a solidariedade, a partilha, o amor concreto, a ajuda desinteressada aos que mais precisam”.
É assim o Natal, festa de Deus feito Palavra para nós, nossa alegria, nossa luz e nossa paz – a escutar e acolher num ambiente de silêncio eloquente!
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Mas o Natal do Santuário, em coerência com a doutrina pregada na celebração da Eucaristia, quis também ser momento e festa de partilha.
Assim, os ofertórios das Missas de Natal no Santuário de Fátima, dos dias 24 e 25, revertem a favor das vítimas dos incêndios. A recolha de donativos decorreu nos “momentos da osculação do Menino Jesus”, no final das cerimónias ligadas à celebração do nascimento de Cristo. 
É certo que as celebrações principais ocorreram na Basílica da Santíssima Trindade. Assim, a ‘Missa do Galo’, na noite de 24 de dezembro, teve início às 23 horas, na Basílica da Santíssima Trindade. E, no dia 25, houve celebração da Missa às 9 horas, 11 horas, 15 horas  e 16,30 horas na Basílica da Santíssima Trindade; às 7,30 horas e 18,30 horas na Basílica de Nossa Senhora do Rosário de Fátima; e às 12,30 horas na Capelinha das Aparições.

E, no âmbito da partilha da oração, pelas 17,30 horas, foram cantadas Vésperas na Basílica de Nossa Senhora do Rosário de Fátima.

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A envolver a celebração do Natal no Santuário, destacaram-se duas realizações artístico-culturais: o Concerto de Natal promovido pelo Santuário de Fátima no Centro Pastoral de Paulo VI com a Banda Sinfónica Portuguesa e  Coro Infantil da Academia de Música de Costa Cabral, no dia 17 de dezembro; e o Presépio de Paulo Neves, que integra património do Santuário de Fátima e ficou instalado na nave da Basílica de Nossa Senhora do Rosário de Fátima foi pensado e desenhado para este espaço.

No predito concerto foram interpretadas seis peças, entre as quais o tema Whatsup-whatsdown, de Jorge Salgueiro, em estreia absoluta – e tudo sob a direção do Maestro Francisco Ferreira.

A Banda Sinfónica Portuguesa é uma Associação cultural, sem fins lucrativos, apoiada pelas escolas de ensino artístico especializado da Academia de Música de Costa Cabral (Porto) e Conservatório de Música do Porto, sendo ainda financiada pela Direção-Geral das Artes.
Sediada no Porto, apresentou-se ao público, pela primeira vez, no dia 1 Janeiro de 2005 no Rivoli, Teatro Municipal do Porto, onde também gravou o seu primeiro CD, tendo entretanto recebido um importante apoio por parte da “Culturporto” e mais tarde da “Porto Lazer” na divulgação e expansão do seu projeto.
A Academia de Música de Costa Cabral (AMCC), fundada em 1995, integra a rede nacional de escolas do ensino artístico especializado da música com autonomia pedagógica e autorização definitiva de funcionamento. Tem vindo a desenvolver, ao longo dos anos, um trabalho pedagógico destacando-se diversas atividades culturais junto de várias instituições. No seio da sua oferta educativa destacam-se os cursos básicos em regime integrado (formação geral e vocacional) do 5.º ao 9.º ano e os cursos profissionais de nível secundário, a par das iniciações musicais, cursos básicos e secundários em regime supletivo e articulado.
O maestro Francisco Ferreira, diplomado em Saxofone, estudou com os prestigiados saxofonistas Daniel Deffayet, Claude Delangle, Jean-Yves Fourmeau e Vincent David. Professor de saxofone e coordenador do departamento de sopros e percussão do Conservatório de Música do Porto, acumula estas tarefas com as  funções de Diretor Pedagógico na AMCC. E é membro fundador do Quarteto de Saxofones do Porto e da Banda Sinfónica Portuguesa. Teve o mérito de desenvolver em Portugal, no Conservatório de Música do Porto, na Escola Profissional de Música de Espinho e na AMCC, uma importante classe de saxofone com imensos alunos premiados em concursos nacionais e internacionais, sendo considerado um dos principais responsáveis pela afirmação do saxofone no país.
No atinente ao Presépio é de referir:
Os peregrinos que se deslocaram ou deslocam a Fátima na época de Natal contemplam o novo Presépio de Paulo Neves, um conjunto escultórico composto por três peças, instaladas na nave da Basílica de Nossa Senhora do Rosário de Fátima, junto à entrada, do lado da Epístola.
A instalação, encomendada pelo Santuário de Fátima, recupera a Sagrada Família e, na figura de Maria, o escultor faz aparecer um coração sobre o peito materno da Virgem.
Como noutras obras do seu ‘curriculum’, trabalha a figura humana a partir da valorização da forma arcaica que a arte dos inícios do século XX veio enaltecer (a gosto de movimentos estéticos como o Cubismo), sobretudo a partir do conceito de máscara que surge esculpida a partir da sinuosidade das linhas que o tronco, como matéria-prima, dita na hora de sulcar e talhar o lenho.
O Presépio é desenvolvido em madeira de cedro esculpida e tem uma volumetria de 350x200x200cm.
Paulo Neves Nasceu em Cucujães, Oliveira de Azeméis, em 1959. Frequentou o Curso de Pintura da Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto. De 1978 a 1981 conviveu e trabalhou com diversos artistas em vários países da Europa, regressando depois à terra natal onde tem o seu ateliê. Desde 1980 já realizou cerca de 100 exposições individuais e outras tantas coletivas, sendo autor de variadas expostas em diferentes locais espalhados pelos quatro cantos do Mundo. Trabalha sempre em madeira e pedra.
Trata-se de um escultor premiado  tendo recebido, entre outros, o Prémio Águas do Minho e Lima, XIII Bienal de Cerveira; Prémio aquisição XIV Bienal de Cerveira, Fundação Eugénio de Almeida; Primeiro prémio concurso para monumento ao Magriço, promovido pela Câmara Municipal de Penedono, em 2000; Primeiro prémio concurso ‘Elementos Escultóricos e Baixos-relevos para a Revitalização da Zona Histórica de Viseu’, promovido pela Câmara Municipal de Viseu, em 1999.
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Tudo vem decorrendo em conformidade com o espírito da prévia Mensagem de Natal do Reitor do Santuário de Fátima, com interpretação em língua gestual portuguesa, que falou de um “especialíssimo tempo de graça”. E explicitou:
Este é tempo de graça, pois a graça de Deus tem nome e rosto: o Deus-Menino do presépio. Em Jesus Cristo temos o maior dom que Deus nos pode oferecer, pois é oferta gratuita de Si, para que tenhamos vida e vida em abundância.”. 
E porfiou:
É em Jesus Cristo que temos a manifestação suprema do amor de Deus para connosco, o rosto da misericórdia de Deus”.
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Vale a pena acentuar que o Santuário Mariano não nos distrai do fundamental do mistério da fé: Jesus Cristo, portador da graça, dom do Pai a todos nós, manifestação suprema do amor e da misericórdia. E Maria apresenta-no-Lo e encaminha-nos para Ele.

2017.12.30 – Louro de Carvalho 

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