A hospitalização
domiciliária é considerada uma das boas práticas, pois reduz custos de internamento
e risco de infeções hospitalares ou nosocomiais, tal como liberta camas e
permite o avanço de cirurgias, fazendo diminuir as listas de espera.
Destina-se a doentes agudos ou em fase aguda da doença para pacientes cujas
condições biológicas, psicológicas e sociais o permitam. Mas, além das situações agudas, a insuficiência
cardíaca crónica, as infeções respiratórias e as pneumonias contam-se entre as
doenças passíveis de internamento domiciliário.
Como refere o respetivo site, em abril de 2016, o Hospital Garcia de Orta (HGO), em
Almada, era o primeiro Hospital em Portugal a implementar uma Unidade de Hospitalização
Domiciliária (UHD) de doentes agudos. Após uma fase experimental com o internamento no
domicílio de mais de 100 doentes, a primeira UHD revelava-se como um modelo
assistencial alternativo ao internamento hospitalar convencional. Trata-se de um modelo de assistência
hospitalar centrada no doente e nas famílias/cuidadores, que se carateriza pela
prestação de cuidados no domicílio a doentes agudos, cujas condições
biológicas, psicológicas e sociais o permitam. Assenta em 5 princípios
fundamentais: voluntariedade na aceitação do modelo; igualdade de direitos e deveres do doente; equivalência de qualidade na
prestação dos cuidados; rigor na
admissão de doentes e no seu seguimento clínico; humanização de serviços; e valorização
do papel da família.
Esta atividade, iniciada ali no final
de 2015, contava em abril de 2016 com cerca de 105 doentes admitidos, com uma
duração média da estadia em UHD de 8,7 dias de internamento.
A missão da UHD consiste
em contribuir para o melhor nível possível de saúde e bem-estar dos indivíduos
da área de abrangência daquele hospital, que necessitem transitoriamente (ou seja, na fase aguda ou agudizada da
doença) de cuidados
hospitalares, oferecendo-lhes um serviço de qualidade com o rigor clínico e a
visão holística e humanizada da Medicina Interna, sempre que a permanência no
hospital seja prescindível. Assim, procura contribuir para um hospital sem
muros, garantindo mais e melhores acessos aos cuidados de saúde, promovendo a
redução das complicações inerentes ao internamento convencional (como as quedas ou infeções), criando ainda um entorno
psicológico mais favorável ao doente durante o período de tratamento, e
valorizando o papel da família/cuidador, prevenindo a rejeição, o abandono e a
institucionalização.
A UHD está integrada no serviço de
Medicina Interna e conta com uma equipa de 19 elementos que garantem a
cobertura médica e de enfermagem, durante 24 horas, todos os dias do ano,
inclusive nos feriados e fins de semana, em regime de presença física e prevenção.
A opção pelo internamento
domiciliário pode ser colocada na admissão do doente no serviço de urgência, na
consulta externa e no Hospital de Dia, e exige um diagnóstico claro, a
estabilidade clínica e a possibilidade de controlar as comorbilidades no
domicílio. Após a referenciação, o doente é submetido a uma avaliação em
3 eixos: médico, enfermeiro e assistente social – numa multidisciplinariedade
complementar.
Os dados disponíveis
permitiam afirmar a existência de uma redução na taxa de complicações,
nomeadamente infeções, sendo elevada a satisfação dos doentes e das famílias.
Na avaliação subsequente realizada em consulta externa, a grande maioria dos
utentes apresenta-se estável sem necessidade de reinternamento.
Pedro Correia Azevedo, da Unidade de Hospitalização Domiciliária do
Hospital do HGD, explica que a opção cabe ao doente e exige alguns critérios. Diz
o responsável:
“Os doentes são elegíveis se tiverem um diagnóstico definido e algumas
condições base, nomeadamente, um domicílio, boas condições higieno-sanitárias e
um cuidador durante as 24 horas do dia”.
E sublinha a vantagem de o doente “ficar
no conforto da sua casa, com a redução das complicações associadas ao internamento
convencional, como as infeções hospitalares, as quedas e, nos idosos, o nível
de desorientação”.
O tempo de tratamento e recuperação acaba por ser mais eficaz e reduzido,
com visitas diárias de médicos e enfermeiros. “No período noturno e ao fim de semana existe sempre um médico de
prevenção, para dar resposta a qualquer processo de agudização que aconteça”,
diz Correia Azevedo.
O projeto desenvolvido no Hospital Garcia de Orta foi
distinguido, em novembro de 2016, com o prémio atribuído pela 10.ª edição do
Encontro do Prémio de Boas Práticas em Saúde, organizado pela Associação
Portuguesa para o Desenvolvimento Hospitalar (APDH), a Direção-Geral da Saúde, Administração Central do Sistema da Saúde e
as Administrações Regionais de Saúde.
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Segundo a informação
vertida para a comunicação social nestes dias, o Governo, tendo em conta o
caráter positivo dessa experiência, que já contemplou mais de 300 doentes no Garcia de
Orta, quer alargar a hospitalização
domiciliária, em 2018, a outras unidades
hospitalares, para reduzir custos e risco de infeções, assim como para libertar camas nos hospitais e reduzir os custos de internamento em cerca
de 40%.
O procedimento, que permite aos doentes mais conforto e menos risco de
infecções hospitalares e aos hospitais a libertação de camas e redução de
custos de internamento está a ser objeto de negociação com o Serviço Nacional
de Saúde (SNS) que deve estar concluída antes do final do mês, como refere o Jornal de Notícias.
O documento orientador da negociação entre a tutela e o SNS salienta que
está em equação uma resposta diferenciada das já existentes no SNS, pois “incide
sobre a fase aguda da doença, de elevada complexidade e frequência de
procedimentos clínicos praticados”. Por outro lado, define o pagamento de 1714
euros aos hospitais por cada hospitalização domiciliária, correspondente a 75%
do preço-base do internamento programado, que é de 2285 euros.
***
É óbvio que
a hospitalização domiciliária não pode arvorar-se em regra, tendo que ser
decidida casuisticamente, pois não pode se aplicada a todos os doentes. Têm de
ser definidos e aplicados critérios de inclusão e de exclusão e será dada
prioridade a determinadas patologias como a doença pulmonar obstrutiva crónica
(DPOC), a insuficiência cardíaca
crónica descompensada, a asma aguda, as infeções adquiridas na comunidade ou no
hospital, as pneumonias, as patologias tromboembólicas, entre outras, como consta
do predito documento publicado pela Administração Central do Sistema de Saúde (março
de 2017).
O mesmo
documento preconiza o incentivo a projetos conjuntos que permitam:
“i. Hospitalização
domiciliária, como alternativa ao internamento convencional, que proporciona
assistência médica e paramédica aos utentes que, apesar de necessitarem
cuidados hospitalares, reúnem um conjunto de critérios clínicos, sociais e
geográficos que permitem que sejam hospitalizados no domicílio, sob vigilância
de uma equipa multidisciplinar, após consentimento do doente e da sua família;
ii. Visitas domiciliárias, as quais
incluem visitas ou procedimentos realizados no domicílio do utente pelos CSP,
como alternativa ao atendimento no ambulatório.”.
O
objetivo do Governo, conforme explicou o Secretário de Estado da Saúde, é tirar
doentes do internamento hospitalar mais cedo e mantê-los no domicílio com
monitorização, evitando infeções nosocomiais e promovendo mais conforto ao
doente. Manuel Delgado diz que o apoio domiciliário resultará de uma
articulação dos profissionais dos hospitais e dos cuidados de saúde primários, envolvendo
médicos, enfermeiros, terapeutas e psicólogos. E refere que “há uma equipa
médica que vai a casa acompanhar o doente”.
Esclarecendo
que não se trata de cuidados de reabilitação pós-alta, mas de internamento no
domicílio, o Secretário de Estado da Saúde diz que isto configura “mais um
desafio para os hospitais: tratar os doentes em casa”.
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Por mim
considero irónico aceitar-se pacificamente que haja infeções hospitalares ou em
clínicas sem que se faça algo para as debelar e evitar. É irónico ir para ou a
um hospital tratar-se e sair de lá infetado. Também não vejo que uma das razões
da hospitalização domiciliária possa estar no evitar de quedas do paciente. Não
sei mesmo se não será mais fácil o doente cair em sua casa do que no hospital.
Acredito
que em fase de experiência controlada o sistema funcione com satisfação para o
doente e para a família. Porém, a generalização das experiências em Portugal
costumam redundar em fracasso das antes ditas boas praticas. Ademais, quantas vezes
é que não ouvi falar de articulação entre o hospital e os serviços dos cuidados
primários de saúde?! Isto é deixar os doentes entregues a si próprios… No
interior, os Centros de Saúde funcionam durante menos tempo, não têm médicos
para cobrir as especialidades, nem terapeutas nem psicólogos! E os clínicos não
dão resposta a todas as necessidades de consulta. Enfim, poesia e bonito papel,
mas ceticismo.
É óbvio que
os doentes têm alta precoce, não se justificando que ocupem cama hospitalar. Mas
como é que vêm para casa? Com que cuidados?
Não estará
um Governo dito socialista, pela via das generalizações, a
desresponsabilizar-se da prestação dos cuidados de saúde às populações que jurou
defender?
2017.12.04 –
Louro de Carvalho
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