segunda-feira, 4 de dezembro de 2017

Pela hospitalização domiciliária

A hospitalização domiciliária é considerada uma das boas práticas, pois reduz custos de internamento e risco de infeções hospitalares ou nosocomiais, tal como liberta camas e permite o avanço de cirurgias, fazendo diminuir as listas de espera.
Destina-se a doentes agudos ou em fase aguda da doença para pacientes cujas condições biológicas, psicológicas e sociais o permitam. Mas, além das situações agudas, a insuficiência cardíaca crónica, as infeções respiratórias e as pneumonias contam-se entre as doenças passíveis de internamento domiciliário.
Como refere o respetivo site, em abril de 2016, o Hospital Garcia de Orta (HGO), em Almada, era o primeiro Hospital em Portugal a implementar uma Unidade de Hospitalização Domiciliária (UHD) de doentes agudos. Após uma fase experimental com o internamento no domicílio de mais de 100 doentes, a primeira UHD revelava-se como um modelo assistencial alternativo ao internamento hospitalar convencional. Trata-se de um modelo de assistência hospitalar centrada no doente e nas famílias/cuidadores, que se carateriza pela prestação de cuidados no domicílio a doentes agudos, cujas condições biológicas, psicológicas e sociais o permitam. Assenta em 5 princípios fundamentais: voluntariedade na aceitação do modelo; igualdade de direitos e deveres do doente; equivalência de qualidade na prestação dos cuidados; rigor na admissão de doentes e no seu seguimento clínico; humanização de serviços; e valorização do papel da família.
Esta atividade, iniciada ali no final de 2015, contava em abril de 2016 com cerca de 105 doentes admitidos, com uma duração média da estadia em UHD de 8,7 dias de internamento.
A missão da UHD consiste em contribuir para o melhor nível possível de saúde e bem-estar dos indivíduos da área de abrangência daquele hospital, que necessitem transitoriamente (ou seja, na fase aguda ou agudizada da doença) de cuidados hospitalares, oferecendo-lhes um serviço de qualidade com o rigor clínico e a visão holística e humanizada da Medicina Interna, sempre que a permanência no hospital seja prescindível. Assim, procura contribuir para um hospital sem muros, garantindo mais e melhores acessos aos cuidados de saúde, promovendo a redução das complicações inerentes ao internamento convencional (como as quedas ou infeções), criando ainda um entorno psicológico mais favorável ao doente durante o período de tratamento, e valorizando o papel da família/cuidador, prevenindo a rejeição, o abandono e a institucionalização.
A UHD está integrada no serviço de Medicina Interna e conta com uma equipa de 19 elementos que garantem a cobertura médica e de enfermagem, durante 24 horas, todos os dias do ano, inclusive nos feriados e fins de semana, em regime de presença física e prevenção.
A opção pelo internamento domiciliário pode ser colocada na admissão do doente no serviço de urgência, na consulta externa e no Hospital de Dia, e exige um diagnóstico claro, a estabilidade clínica e a possibilidade de controlar as comorbilidades no domicílio.  Após a referenciação, o doente é submetido a uma avaliação em 3 eixos: médico, enfermeiro e assistente social – numa multidisciplinariedade complementar.
Os dados disponíveis permitiam afirmar a existência de uma redução na taxa de complicações, nomeadamente infeções, sendo elevada a satisfação dos doentes e das famílias. Na avaliação subsequente realizada em consulta externa, a grande maioria dos utentes apresenta-se estável sem necessidade de reinternamento.
Pedro Correia Azevedo, da Unidade de Hospitalização Domiciliária do Hospital do HGD, explica que a opção cabe ao doente e exige alguns critérios. Diz o responsável:
Os doentes são elegíveis se tiverem um diagnóstico definido e algumas condições base, nomeadamente, um domicílio, boas condições higieno-sanitárias e um cuidador durante as 24 horas do dia”.
E sublinha a vantagem de o doente “ficar no conforto da sua casa, com a redução das complicações associadas ao internamento convencional, como as infeções hospitalares, as quedas e, nos idosos, o nível de desorientação”.
O tempo de tratamento e recuperação acaba por ser mais eficaz e reduzido, com visitas diárias de médicos e enfermeiros. “No período noturno e ao fim de semana existe sempre um médico de prevenção, para dar resposta a qualquer processo de agudização que aconteça”, diz Correia Azevedo.
O projeto desenvolvido no Hospital Garcia de Orta foi distinguido, em novembro de 2016, com o prémio atribuído pela 10.ª edição do Encontro do Prémio de Boas Práticas em Saúde, organizado pela Associação Portuguesa para o Desenvolvimento Hospitalar (APDH), a Direção-Geral da Saúde, Administração Central do Sistema da Saúde e as Administrações Regionais de Saúde.
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Segundo a informação vertida para a comunicação social nestes dias, o Governo, tendo em conta o caráter positivo dessa experiência, que já contemplou mais de 300 doentes no Garcia de Orta, quer alargar a hospitalização domiciliária, em 2018, a outras unidades hospitalares, para reduzir custos e risco de infeções, assim como para libertar camas nos hospitais e reduzir os custos de internamento em cerca de 40%.
O procedimento, que permite aos doentes mais conforto e menos risco de infecções hospitalares e aos hospitais a libertação de camas e redução de custos de internamento está a ser objeto de negociação com o Serviço Nacional de Saúde (SNS) que deve estar concluída antes do final do mês, como refere o Jornal de Notícias.
O documento orientador da negociação entre a tutela e o SNS salienta que está em equação uma resposta diferenciada das já existentes no SNS, pois “incide sobre a fase aguda da doença, de elevada complexidade e frequência de procedimentos clínicos praticados”. Por outro lado, define o pagamento de 1714 euros aos hospitais por cada hospitalização domiciliária, correspondente a 75% do preço-base do internamento programado, que é de 2285 euros.
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É óbvio que a hospitalização domiciliária não pode arvorar-se em regra, tendo que ser decidida casuisticamente, pois não pode se aplicada a todos os doentes. Têm de ser definidos e aplicados critérios de inclusão e de exclusão e será dada prioridade a determinadas patologias como a doença pulmonar obstrutiva crónica (DPOC), a insuficiência cardíaca crónica descompensada, a asma aguda, as infeções adquiridas na comunidade ou no hospital, as pneumonias, as patologias tromboembólicas, entre outras, como consta do predito documento publicado pela Administração Central do Sistema de Saúde (março de 2017).
O mesmo documento preconiza o incentivo a projetos conjuntos que permitam:
i. Hospitalização domiciliária, como alternativa ao internamento convencional, que proporciona assistência médica e paramédica aos utentes que, apesar de necessitarem cuidados hospitalares, reúnem um conjunto de critérios clínicos, sociais e geográficos que permitem que sejam hospitalizados no domicílio, sob vigilância de uma equipa multidisciplinar, após consentimento do doente e da sua família;
ii. Visitas domiciliárias, as quais incluem visitas ou procedimentos realizados no domicílio do utente pelos CSP, como alternativa ao atendimento no ambulatório.”.
O objetivo do Governo, conforme explicou o Secretário de Estado da Saúde, é tirar doentes do internamento hospitalar mais cedo e mantê-los no domicílio com monitorização, evitando infeções nosocomiais e promovendo mais conforto ao doente. Manuel Delgado diz que o apoio domiciliário resultará de uma articulação dos profissionais dos hospitais e dos cuidados de saúde primários, envolvendo médicos, enfermeiros, terapeutas e psicólogos. E refere que “há uma equipa médica que vai a casa acompanhar o doente”.
Esclarecendo que não se trata de cuidados de reabilitação pós-alta, mas de internamento no domicílio, o Secretário de Estado da Saúde diz que isto configura “mais um desafio para os hospitais: tratar os doentes em casa”.
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Por mim considero irónico aceitar-se pacificamente que haja infeções hospitalares ou em clínicas sem que se faça algo para as debelar e evitar. É irónico ir para ou a um hospital tratar-se e sair de lá infetado. Também não vejo que uma das razões da hospitalização domiciliária possa estar no evitar de quedas do paciente. Não sei mesmo se não será mais fácil o doente cair em sua casa do que no hospital.
Acredito que em fase de experiência controlada o sistema funcione com satisfação para o doente e para a família. Porém, a generalização das experiências em Portugal costumam redundar em fracasso das antes ditas boas praticas. Ademais, quantas vezes é que não ouvi falar de articulação entre o hospital e os serviços dos cuidados primários de saúde?! Isto é deixar os doentes entregues a si próprios… No interior, os Centros de Saúde funcionam durante menos tempo, não têm médicos para cobrir as especialidades, nem terapeutas nem psicólogos! E os clínicos não dão resposta a todas as necessidades de consulta. Enfim, poesia e bonito papel, mas ceticismo.  
É óbvio que os doentes têm alta precoce, não se justificando que ocupem cama hospitalar. Mas como é que vêm para casa? Com que cuidados?
Não estará um Governo dito socialista, pela via das generalizações, a desresponsabilizar-se da prestação dos cuidados de saúde às populações que jurou defender?  

2017.12.04 – Louro de Carvalho

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