terça-feira, 14 de novembro de 2017

A 193.ª Assembleia Plenária da CEP traz novidades

Está a decorrer, na Casa de Nossa Senhora das Dores, no Santuário de Fátima, a 193.ª Assembleia Plenária da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), que se iniciou a 13 de novembro e se prolonga até ao dia 16. De entre os temas agendados, destacam-se os seguintes:
O teor do discurso de abertura, pelo Presidente da CEP, Cardeal Patriarca de Lisboa, Dom Manel José Macário do Nascimento Clemente; a reflexão sobre a nova Ratio Fundamentalis Institutionis Sacerdotalis, da Congregação para o Clero, sob o título “O Dom da Vocação Presbiteral”; a reflexão sobre a preparação para o matrimónio na esteira e à luz da exortação apostólica Amoris Laetitia; a apresentação da síntese de respostas da CEP ao questionário preparatório da próxima sessão do Sínodo dos Bispos sobre “os jovens, a fé e o discernimento vocacional”; a apreciação da tradução provisória oficial dos Evangelhos e do Saltério; a aprovação do Cantoral Nacional litúrgico; a informação sobre atividades e apreciação de propostas das Comissões Episcopais e outros organismos da CEP; e, ainda, outros assuntos, como a eleição do Presidente da Comissão Episcopal da Pastoral Social e Mobilidade Humana, lugar que vagou com o falecimento do Bispo do Porto, Dom António Francisco dos Santos; o tema das Jornadas Pastorais do Episcopado em 2018; as nomeações de novos bispos e de lugares da responsabilidade da CEP; a atualização do Regulamento Geral dos Estatutos da CEP; e o orçamento do Secretariado Geral da CEP para 2018.
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No discurso de abertura da Assembleia Plenária, para a qual foram convidados os jornalistas, o Presidente afirmou que os incêndios e a seca exigem uma nova “relação com a natureza” e apresentou a agenda de trabalhos do episcopado.
Sobre a problemática dos incêndios e da seca Dom Manuel Clemente, afirmou a aposta dos cidadãos e, em especial dos cristãos, na revisão da nossa relação com o meio ambiente, dizendo:
Dadas as graves e gravosas circunstâncias que afetaram e afetam o nosso país, entre os incêndios e a seca, com tantas perdas de vidas e danos materiais de toda a ordem, temos de rever profundamente a nossa relação com o meio ambiente”.
Mais advertiu o Presidente da CEP:
É tempo de nos sentirmos parte consciente e responsável duma criação que há de ser tomada como um todo e assim mesmo respeitada nos seus ritmos e sinais”.
E defendeu a concretização da “ecologia integral”, “a que o Papa Francisco dedicou a encíclica Laudato si’, de imprescindível receção teórica e prática”, que só acontece mediante a tríplice capacidade de “respeitar a natureza, proteger a vida e atender aos pobres”.
Referindo-se, em especial, aos recentes incêndios em Portugal, registou que “reforçaram tragicamente” o apelo do episcopado em sua Nota Pastoral do dia 27 de abril deste ano, onde se diz que a natureza é mais do que “uma simples fonte de utilidade e rendimento económico”.
O Cardeal Patriarca disse, depois, em relação à “proteção da vida humana”, da conceção à morte natural, que o “caminho é claro e obrigatório” e saudou “quantos dão o seu melhor para defender e promover a vida em todas as suas fases”, lembrando o documento da CEP sobre a eutanásia, de 8 de março de 2016.
Aludindo ao Dia Mundial dos Pobres, promovido por iniciativa do Papa Francisco, a 19 de novembro, o XXXIII domingo do Tempo Comum e penúltimo do Ano Litúrgico, pediu que seja acolhido “ativamente” nas “comunidades e na sociedade em geral”.
Ao iniciar os trabalhos desta reunião magna do episcopado português, o presidente da CEP lembrou os bispos falecidos recentemente, Dom Manuel Martins e Dom António Francisco dos Santos, frisando que “ambos deixam uma saudade preenchida pelo grande exemplo de amor à Igreja e de atenção a todos”.
Dom Manuel Clemente desejou a Dom José Traquina, escolhido pelo Papa para bispo de Santarém, as “maiores felicidades no seu novo trabalho” e assegurou aguardar “serenamente” as nomeações episcopais para as outras dioceses de Portugal. A este propósito disse:
Serenamente esperamos as nomeações episcopais que o Papa Francisco irá fazendo a seu tempo para outras Dioceses, por motivos de idade ou de saúde dos seus atuais prelados”.
O presidente da CEP disse também que a assembleia do episcopado vai analisar a formação em curso nos seminários, as orientações relativas à preparação para o matrimónio, “à luz da exortação apostólica pós-sinodal Amoris Laetitia” e proceder à “preparação da próxima assembleia do Sínodo dos Bispos sobre os jovens, a fé e o discernimento vocacional”, pois “ontem como hoje, nomeadamente quanto à família e à juventude, as propostas evangélicas mantêm plena verdade e requerem igual decisão”.
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A nova Ratio Fundamentalis Institutionis Sacerdotalis sucede à promulgada em 6 de janeiro de 1970 e revista a 19 de março de 1985, para adequação às novas orientações do Código de Direito Canónico, de 25 de janeiro de 1983. Depois, a 25 de março de 1992, João Paulo II publicou a exortação apostólica pós-sinodal Pastores dabo vobis e Bento XVI, a 16 de janeiro de 2013, publicou a Carta Apostólica por motu proprio Ministrorum institutio – que oferecem muitos e notáveis contributos para a formação sacerdotal, inicial e ao longo da vida. E Francisco, durante o seu pontificado, tem construído um rico Magistério e oferecido constante exemplo pessoal a propósito do ministério e vida dos sacerdotes, além de ter encorajado e seguido de perto dos trabalhos que levaram ao presente documento – o qual perspetiva a formação presbiteral como única, integral, comunitária e missionária: única, porque é a continuação do único caminho de discipulado que se inicia no batismo e se prolonga pela vida fora; integral, porque tem de abranger as quatro dimensões da Pastores dabo vobis: humana, espiritual, intelectual e pastoral; comunitária, pois, a vocação sacerdotal é um dom concedido por Deus em prol da comunidade e implica um percurso não individualista, mas tendo como referência uma porção concreta do povo de Deus – presbitério e comunidade dos fiéis – no respeito das competências e tarefas confiadas a cada um; e missionária, visto que tem como nítida meta a participação na única missão confiada por Cristo à Igreja, a Evangelização em todas as suas formas.
Refletir sobre a Amoris Laetitia na vertente da preparação para o matrimónio leva à ultrapassagem do entendimento demasiado disseminado de que a exortação pós-sinodal se centra no acesso à comunhão por parte dos recasados, o que a reduz a uma fração do seu capítulo VIII, que é muito pouco. É de referir que o documento postula o investimento na preparação do matrimónio, como na formação dos sacerdotes, dos seminaristas, dos religiosos e das religiosas, bem como de todos aqueles e de todas aquelas que se ocupam com a educação e formação da adolescência, da juventude e das famílias.
Quanto à preparação do próximo Sínodo sobre “os jovens, a fé e o discernimento vocacional”, a CEP tem mesmo de se entender nessa matéria para que os participantes na assembleia sinodal possam efetivamente representar o pensamento da Igreja em Portugal e saber assumir as dores e as alegrias da Igreja pelos jovens e destes pela Igreja – e não se limitarem a verter para a aula sinodal a mera opinião pessoal, por mais ajustada que possa teoricamente ser.   
É de registar como novidade a aprovação do Cantoral Nacional litúrgico, o que a Conferência Episcopal Espanhola já tem há muitos anos. Na verdade, por mais ricas e voluntariosas que sejam as coletâneas de cânticos para utilização litúrgica existentes no país, a CEP não dispunha de um livro de cânticos oficial que promovesse a dignidade da ação litúrgica de forma inequívoca e exemplar. Todavia, será pena se a CEP tiver a pretensão de obrigar os agentes litúrgicos ao seguimento literal e cantoral daquela formulação. O Cantoral Nacional Litúrgico, pela criteriosa seleção de composições, tanto com base na vertente literal como na melódico-harmónica e rítmica, deve constituir um instrumento de referência que sirva de exemplo e modelo para os organizadores do culto em cada comunidade e, sobretudo, que sirva de instrumento utilizável quando a criatividade local estiver eclipsada. Porém, não deve impor-se como livro único ou como inibidor da criação litúrgica, obviamente sempre no respeito pelos parâmetros da dignidade da ação cultual, que devem ser definidos e periodicamente atualizados.
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Os restantes assuntos fazem parte da agenda ordinária da assembleia da CEP. Todavia, sabe a pouco o que diz o Presidente da CEP sobre a espera serena das nomeações de bispos para as dioceses vagas ou a vagar. Sobretudo, depois do que foi passado para a comunicação social sobre a alegada inabilidade e tropelias do atual Núncio Apostólico sobre a gestão da provisão dos lugares no episcopado, incluindo a tendência para nomear bispos em Portugal de feição tradicionalista contrária ao sentido do Papa Francisco, a CEP tinha de tomar uma posição clarificadora. Isto, porque “quem não se sente não é filho de boa gente” e porque, embora a nomeação de Bispos caiba à Santa Sé, em especial à Congregação para os Bispos, sendo o Núncio o interlocutor ordinário, a CEP tem a obrigação de fazer as suas propostas e fazer as suas pressões, até porque conhece os bispos e os sacerdotes. Ademais, não é admissível que uma diocese esteja sem conhecimento, por mais de três meses, de quem será o seu bispo diocesano, sobretudo quando a provisão é feita por transferência. As esperas têm limites e o governo duma diocese devia ser coisa bem mais grave. Por outro lado, se o Núncio Apostólico tem usado da prudência e audácia necessárias, merece uma palavra de solidariedade da CEP. É que pode pensar-se que os bispos atuais não seguem a linha pastoral e humana de Francisco, o que, pelo menos, em termos de generalização é injusto e um insulto aos bispos que já faleceram.
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 A Assembleia Plenária da CEP terminará no dia 16, em Lisboa, com a inauguração das novas instalações da sede Conferência Episcopal Portuguesa.
Depois do encerramento da Assembleia haverá, às 15 horas, na Casa do Bom Pastor, em Lisboa (Estrada da Buraca, 8-12), uma Conferência de Imprensa na qual será apresentado o comunicado final. A Conferência de Imprensa decorrerá no auditório da Rádio Renascença. Espero que os jornalistas não se inibam de colocar todas as questões pertinentes e que a CEP saiba e queira responder a tudo.

2017.11.14 – Louro de Carvalho

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