sábado, 18 de novembro de 2017

Prontidão para acolher Deus e cooperar com Ele


A Missa dominical do dia 12 de novembro na Basílica da Santíssima Trindade do Santuário de Fátima juntou grupos de Portugal, Espanha, França, Itália, Alemanha, Polónia e Irlanda.
O reitor do Santuário, comentando à homilia o Evangelho do XXXII domingo do Tempo Comum no Ano A (Mt 25,1-13), que enuncia a parábola das 10 virgens (5 prudentes e 5 insensatas) desafiou os peregrinos a estarem “prontos” para o encontro com Deus, vivendo vigilantes e comprometidos para serem Seus colaboradores, à imagem dos pastorinhos de Fátima, as candeias acesas para Deus que brilharam para o mundo.
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Nos finais do séc. I (década de 80), em que já tinha passado a “febre escatológica”, não tendo os cristãos como iminente a vinda de Jesus e, passado o entusiasmo inicial, a vida de fé dos crentes tinha arrefecido e a comunidade tinha-se instalado na rotina, comodismo, facilidade. Era urgente apresentar algo que abanasse os discípulos e os “redespertasse” para o compromisso com o Evangelho. Neste ambiente, Mateus descobre que as palavras do “discurso escatológico” de Jesus, colhido em Marcos, encerram uma poderosa interpelação; e recompõe, com elas, uma exortação dirigida aos cristãos, lembrando-lhes que a segunda vinda do Senhor está no horizonte final da história humana, mas, enquanto não se realiza, os crentes são chamados a viver com coerência e entusiasmo a sua fé, fiéis aos ensinamentos de Jesus e comprometidos com a construção do Reino. Isto corresponde, na catequese primitiva, ao que se denomina por chama “estar vigilantes, à espera do Senhor que vem”.
A parábola das 10 virgens alude aos rituais típicos dos casamentos judaicos. Segundo os costumes, a cerimónia do casamento começava com a ida do noivo a casa da noiva, para levá-la para a sua nova casa. O noivo chegava atrasado, pois devia, antes, discutir com os familiares da noiva os presentes que ofereceria à família da amada, sendo as negociações muito demoradas, mas necessárias por terem importante função social. Os parentes da noiva deviam mostrar-se exigentes, sugerindo que a família perdia algo de muito precioso ao entregar a menina a outra família. Por seu turno, o noivo e os seus familiares ficavam contentes com as exigências, pois assim mostravam aos vizinhos e conhecidos o valor e a importância da mulher que entrava na família. Quem testemunhava o acordo, estava pronto para ir avisar a noiva de que as negociações se concluíram com êxito e que o noivo ia chegar. Entretanto, a noiva, vestida a preceito, esperava em casa do pai que o noivo viesse ao seu encontro. As amigas da noiva esperavam também, com as lâmpadas acesas, para acompanharem a noiva, entre danças e cânticos, à sua nova casa, onde decorreria a festa do casamento e para onde era preciso partir.
A parábola tal como saiu da boca de Jesus, era uma “parábola do Reino” (v. 1: “o Reino dos céus pode comparar-se…”). O Reino de Deus, aqui, é assemelhado a uma das celebrações mais alegres e felizes dos israelitas: o banquete de casamento. As dez donzelas representam a totalidade do Povo de Deus, que espera ansiosamente a chegada do Messias (o noivo). Uma parte desse Povo (as jovens prudentes ou previdentes) está preparada e, quando o Messias surgir, pode entrar a fazer parte da comunidade do Reino; outra parte (as jovens, insensatas, descuidadas ou negligentes) não está preparada e não pode entrar na comunidade do Reino. Não se prepara por comodismo, distração, indiferença.
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A parábola constitui, pois, um apelo aos israelitas no sentido de não perderem a oportunidade de participar na grande festa, o se replica como insistente apelo a todos os membros da Igreja de ontem, de hoje e de sempre. Não consiste em ter só a alminha preparada para prestar contas ao Senhor, mas em trabalhar pacientemente na construção e dilatação do Reino, estendendo-o aos pobres, desabrigados, doentes, oprimidos e descartados
Mateus, quando escreveu, retomou a parábola, adaptando-a às necessidades da comunidade. A parábola foi convertida em exortação a estar preparado, em jubilosa e esperança e afincado trabalho, para a vinda do Senhor, a qual pode acontecer no momento menos esperado. A festa é, neste contexto, a segunda vinda de Jesus. O noivo que está para chegar é Jesus. As dez jovens representam a Igreja que, experimentando na história as dificuldades e as perseguições, anseia pela chegada da libertação definitiva. Uma parte da Igreja está preparada, vigilante, atenta e, quando o “noivo” chega, pode entrar no banquete da vida eterna; a outra parte não está preparada, pois preferiu apostar nos valores do mundo, guiou a sua vida por eles e esqueceu os valores do Reino.
Na perspetiva de Mateus, “estar preparado para acolher a vinda do Senhor” significa escutar as palavras de Jesus, acolhê-las no coração e viver de forma coerente com os valores do Evangelho. Significa, fundamentalmente, viver na fidelidade aos projetos do Pai e amar os irmãos até ao dom da vida, em todos os instantes da nossa existência – fazer comunidade viva.
A mensagem que Mateus pretende, com a parábola, transmitir aos cristãos da sua comunidade (e, no fundo, aos cristãos de todas as comunidades cristãs de todos os tempos e lugares) é: nós os crentes, não podemos afrouxar a vigilância e enfraquecer o nosso compromisso com os valores do Reino. Na verdade, com o passar do tempo, as nossas comunidades têm tendência para se instalarem no comodismo, na tibieza, no adormecimento, no descuido, numa vida de fé que não compromete, numa religião de “meias tintas” e de facilidade, num testemunho pouco empenhado e pouco coerente. É, no entanto, preciso que o nosso compromisso com Jesus se renove cada dia. A certeza de que Ele vem outra vez, deve impulsionar-nos a um compromisso ativo com os valores do Evangelho, na fidelidade aos ensinamentos de Jesus e ao compromisso com o Reino.
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A partir do Evangelho proclamado em todas as igrejas, cuja parábola sublinha a necessidade de estar preparados para a vinda de Deus, a qualquer momento, o Padre Carlos Cabecinhas sublinhou a importância de uma atitude vigilante, que não é apenas “esperar passivamente” mas uma vida cristã atenta e comprometida.
O reitor do Santuário frisou que “vigiar não é uma atitude passiva de quem se limita a esperar a vinda de algo” mas uma vida “desperta”  e “comprometida”, ciente “das fragilidades e das limitações”. E precisou:
Ter as lâmpadas acesas como nos convoca o Evangelho é comprometermo-nos com Jesus, com os caminhos que Ele nos abre, com o mandamento novo que é a Sua palavra”.
Por outras palavras, “a parábola exorta-nos à vigilância e a estarmos preparados”, pois, “o Senhor vem sempre; a questão é sabermos se estamos preparados ou não para O seguir e fazer a Sua vontade”. E o reitor, lembrando que Deus se manifesta de várias formas através da palavra, dos sacramentos e, sobretudo, no “amor aos irmãos”, advertiu:
Não basta dizer `sim Senhor, sim Senhor´; é preciso fazer a vontade de Deus tal como os pastorinhos fizeram sempre, procurando agradar a Deus em tudo o que faziam”.
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Em plena Semana Nacional dos Seminários, que termina no dia 19, o Santuário de Fátima vem rezando em todas as celebrações oficiais pelos Seminários, sintonizando nesta matéria com toda a Igreja e,  em particular, com a diocese de Leiria-Fátima, onde está inserido.
E, às 11 horas do dia 13 de novembro, dia de peregrinação mensal que evoca as aparições de Nossa Senhora na Cova da Iria – para o que se fizeram anunciar quatro grupos da França, um da Alemanha, um da China, um de Itália, um do Brasil, um de Espanha e um de Portugal – foi celebrada a Solenidade da Dedicação da Basílica da Santíssima Trindade.
Ora, como será de notar esta celebração tem semelhança com a parábola de Mateus, pois, como a Basílica tem de estar exemplarmente com todos os seus elementos materiais bem colocados e ajustados de modo que o edifício se torne equilibrado, robusto e belo e se apresente com uma referência genuína de Jesus Ressuscitado para o meio ambiente, também a Igreja edifício espiritual, que é mais importante, precisa de todas as suas pedras vivas no sítio, em equilíbrio dinâmico e harmónico, de modo que se mantenha sempre como gruta de acolhimento, marco de referência, torre de vigia esperançosa que estenda dos braços a todas as periferias existenciais.
Por isso, o reitor do Santuário de Fátima desafiou, na homilia, os peregrinos a viverem “como ‘pedras vivas’ da Igreja e em união com o Santo Padre”, cabeça visível deste edifício místico.
Na celebração da solenidade da Dedicação da Basílica da Santíssima Trindade, o Padre Cabecinhas salientou o significado de ser Igreja e sublinhou a importância de se fazer memória de uma Dedicação, afirmando:

A celebração da Dedicação de uma igreja é um convite a tomarmos consciência do que significa ser Igreja, uma vez que nos orienta sempre para o mistério da Igreja de pedras vivas que aí se reúne”.
Também disse que “a comunidade cristã e o coração humano são o verdadeiro templo, o lugar do encontro com Deus”. E salientou que, além do convite a ser igreja, este é um momento “de tomada de consciência da nossa união com o Santo Padre, sinal visível da unidade da Igreja”.
O Reitor do Santuário lembrou que os Pastorinhos, depois das aparições, manifestaram sempre essa comunhão com o Santo Padre, sobretudo através da oração, referindo:
Desde então, rezar pelo Santo Padre e pelas suas intenções tornou-se parte integrante da própria mensagem e prática habitual no Santuário”.
Recorde-se que o Santuário de Fátima celebrou a 13 de novembro de 2012, pela primeira vez, a solenidade da Dedicação da Basílica da Santíssima Trindade. Pelo decreto de 19 de junho de 2012, assinado pelo então Prefeito da Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos, cardeal Dom António Canizares Llovera, a Igreja da Santíssima Trindade recebeu o título de Basílica e ficou estipulado o dia 13 de novembro como a data anual da Celebração Litúrgica da Dedicação da Basílica da Santíssima Trindade.
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Podemos olhar as virgens insensatas da parábola como pedras pouco cuidadas do templo, deslocadas, mal conservadas ou como pessoas ignorantes, desmazeladas e desprevenidas. Por isso, fazem quatro coisas inúteis: pedem às outras que as salvem, pois já não têm tempo; saem de noite para procurar quem venda azeite para as lâmpadas, o que é absurdo; chegam quando a porta já está fechada; e obviamente clamam sem serem escutadas: “Senhor, Senhor, abre-nos”. Como resposta têm a recusa: “Não vos conheçoAssim, ficamos a saber que temos de estar preparados para a segunda vinda de Cristo e não estar a perder azeite da nossa lâmpada durante o caminho da vida por negligência, por brincadeira no carrossel da fortuna ou com as solicitações do prazer. Como são Paulo, cremos firmemente na segunda vinda do Senhor. Por isso, temos de estar preparados e acordados, mas não de braços caídos e, sim, trabalhando de forma consciente e digna pelo sustento integral, ajudando os outros a preparar-se. Desta sorte, quando o Senhor vier, encontrar-nos-á com a lâmpada da fé acesa, com a alegria da esperança satisfeita, com o azeite da caridade derramando-se por essa nossa lâmpada, com a consciência tranquila e com a paz na alma esperando o abraço de Deus.
Olharemos Cristo, dado como o Esposo, pois o que teremos e saborearemos na parusia serão as bodas eternas com o nosso Salvador e os seus amigos que se mantiveram fiéis à aliança. A metáfora das bodas simboliza a relação de amor, de índole nupcial, que se realiza entre Deus e cada um de nós, entre Jesus e a sua Igreja. Porque este Esposo Cristo chega mesmo, mas chega tarde e de improviso, temos de estar preparados, bem-dispostos e com a paciência de Deus. Cristo abrir-nos-á a porta com às virgens sensatas, que estavam acordadas e tinham tudo preparado e que entram na festa das bodas. Mas a porta fechar-se-á atrás de nós para os negligentes como se fechou para as virgens néscias. Puderam entrar as sensatas porque encheram de azeite as suas almotolias, e assim impediram que a caridade, que é a chama da alma, se extinguisse. Não podemos cabecear, dormitar ou adormecer. Um automobilista não pode permitir-se o luxo de conduzir sob sono, álcool ou estupefacientes; um médico não pode se ausentar duma operação delicada e ir embora para dormir; um piloto de avião não pode converter a sua cabina num dormitório. Um só instante de sono ou mesmo de sonolência poderia ser fatal para tais pessoas e causaria um desastre nunca justificável. Assim acontece com a nossa vida cristã.
Por fim, que lições encerra para nós esta parábola? Primeiro, ficamos a saber que  que estamos na vida para ir para a eternidade gozar do Reino que está preparado para nós desde o princípio do mundo (cf Mt 25,34), para o encontro com Cristo, que está já a preparar o banquete de bodas definitivo, antecipado e significado aqui na terra pelo banquete da Eucaristia pelo sinal e véu do sacramento. Segundo, sabemos que temos de encher sempre a lâmpada da nossa fé com o azeite da caridade e do amor e a força da esperança, pois só assim Jesus nos reconhecerá e daremos com a porta no meio da escuridão do caminho; finalmente, saberemos que, se não fazemos isto, entraremos desgraçadamente dentro do grupo dos ignorantes e fátuos, por falta de prudência, e seremos excluídos do banquete e escutaremos de Cristo a voz justiceira que será o irreversível “Não vos conheço”, pois não praticámos a justiça como Deus querCom isto, o Senhor alerta-nos que, junto com a possibilidade da salvação final, existe a possibilidade da condenação eterna, que muitos hoje querem negar, tendo como escudo este sofisma: “Deus é tão bom, que não permitirá que ninguém se condene”. Deus é sério. “De Deus ninguém zomba. O que o homem semear, isso colherá” (cf Gl 6,7). Se brincarmos com a lâmpada da fé comprando outras velas no supermercado do mundanismo imoderado, talvez se quebre. Se não se alimentar a lâmpada com a caridade, ela apagar-se-á. Mas até lá temos sempre a oportunidade da misericórdia, que nos dá a fortaleza para prosseguirmos depois da queda de que nos refazemos.
Não percamos, pois, o lugar, a sobriedade, a vigilância, a rota, o lume, o azeite. Assim seremos sempre as pedras vivas do templo do Senhor, no lugar certo e no momento certo, na função certa para glória de Deus e bem de todos nós.

2017.11.17 – Louro de Carvalho

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