Os
primórdios
O
assentamento humano na Ucrânia remonta a 6 450 AP. Entre 4.500-3.000 a.C.,
no Neolítico tardio, surge a Cultura Cucuteni-Trypillian cujas populações,
na Idade do Cobre, passam a residir na porção oeste do que hoje é Ucrânia, localizando-se
mais a leste a Cultura Sredny Stog, a que sucederam, no início da Idade do
Bronze (por volta
do III milénio a.C.), a Cultura
Yama (Kurgan) das estepes e a Cultura Catacumba. Na Idade do Ferro,
emergiram por ali os Dácios, Cimérios, Citas, Sármatas e outras
tribos nómadas. O Reino Cita existiu ali entre 750-250 a.C. E, com as colónias
da Grécia Antiga (do século VI a.C.), na costa nordeste do Mar Negro, as colónias de Tiras, Ólbia e
Hermonassa continuaram como cidades dos impérios romano e bizantino até ao século
VI. No século III (entre 250-375) chegaram
ali os Godos a quem chamaram de Aujo, correspondente à cultura
arqueológica Cherniacove. A partir de 350, fixaram-se nesta área os
Ostrogodos sob a influência dos Hunos. Ao norte do reino dos Ostrogodos,
havia a Cultura de Kiev, que floresceu entre os séculos II e V, até à
expulsão pelos Hunos. E, após haverem ajudado a derrotar os Hunos na Batalha
de Nedau em 454, puderam estabelecer-se na Panónia.
Com o vácuo
criado entre o fim do governo Huno e Godo, terão emergido, a partir da Cultura
de Kiev, as tribos eslavas, começando a expandir-se pelo atual território da
Ucrânia no século V e pelos Balcãs no século VI. No século
VII, o território da moderna Ucrânia era o centro do Estado dos Protobúlgaros
(Grande
Bulgária Antiga) com a
capital na Fanagória. Em fins do século VII, a maior parte das tribos
búlgaras migrou para diversas regiões e os que ficaram foram absorvidos
pelos Cazares (povo seminómada da Ásia Central), que fundaram o Canato Cazar no sudeste do que hoje é
parte da Europa, junto ao Cáucaso e Mar Cáspio, incluindo o oeste
do Cazaquistão, parte do leste da Ucrânia, Azerbaijão, sul da Rússia e
Crimeia. Por volta de 800, este reino converteu-se ao Judaísmo.
***
A Rússia
de Kiev, base da identidade da Ucrânia e demais nações eslavas orientais
Nos séculos
X e XI, o território da Ucrânia tornou-se o centro dum poderoso e
prestigioso Estado na Europa, a Rússia de Kiev, que estabeleceu, nos
séculos subsequentes, a base das identidades nacionais da Ucrânia e demais
nações eslavas orientais (Rússia, Ucrânia e Bielorrússia). A capital do principado era Kiev, conquistada aos
Cazares por Ascoldo e Dir cerca de 860. Segundo a Crónica Nestoriana, a
elite era, de início, formada por varegues provenientes da Escandinávia
e mais tarde assimilados à população local de modo a formar a dinastia
ruríquida.
A Rússia de
Kiev era constituída por diversos domínios governados por príncipes ruríquidas
aparentados. Kiev, o mais influente de todos, era cobiçado pelos diversos membros
da dinastia, o que originava enfrentamentos sangrentos. A Era Dourada coincide
com os reinados de Vladimir I, o Grande (r. 980-1015), que aproximou o Estado do cristianismo
bizantino, e do filho Jaroslau I, o Sábio (r. 1019-1054), que viu o principado atingir o zénite militar e
cultural. Porém, apesar dos esforços de Vladimir II Monómaco (r. 1113-1125) e do filho Mistilau I (r. 1125-1132), no século XII deu-se a fragmentação. O
território desintegrou-se, com o surgimento de principados com sede em Kiev, Czernicóvia,
Galícia e Vladimir-Susdália. E a invasão tártaro-mongol do século XII conferiu
ao principado o golpe de misericórdia, do qual nunca se levantaria.
***
Da Comunidade Polaco-Lituana (1300-1600) ao*s cossacos (1600-1800)
Na região do
hoje território da Ucrânia, sucederam à Rússia de Kiev os principados
de Galícia e Volínia, posteriormente fundidos no Estado de Galícia-Volínia. Em meados do século XIV, o Estado foi
tomado por Casimiro IV da Polónia, ao passo que o cerne da Rússia de Kiev (inclusive a
cidade de Kiev) passou ao
controlo do Grão-Ducado da Lituânia. O casamento do Grão-Duque
Jagelão da Lituânia com a Rainha Edviges da Polónia pôs sob o controlo
da Lituânia a maior parte do território ucraniano (Czernicóvia,
Novogárdia Sevéria, Podólia, Kiev e grande parte da Volínia).
Então, a
parte sul da Ucrânia (incluindo a Crimeia) era regida pelo Canato da Crimeia, enquanto as terras a oeste dos Cárpatos eram
dominadas pelos magiares desde o século XI. No século XV, o
povo ucraniano distingue-se dos outros povos eslavos orientais
que tiveram origem comum na Rússia de Kiev e era o povo que habitava a
região da fronteira (krai) com
os polacos.
A União
de Lublim (1569), que criou a Comunidade
Polaco-lituana, levou uma significativa porção do território ucraniano do
controlo lituano para o da coroa da Polónia. Sob pressão deste processo de
polonização, a maior parte da elite rutena (eslava ou eslavizada, mesmo a de
origem lituana) converteu-se
ao catolicismo. O povo, porém, manteve-se fiel à Igreja Ortodoxa, o
que levou a tensões sociais manifestas, por exemplo, na União de Brest, de
1596, pela qual Sigismundo III Vasa tentou criar uma Igreja Católica
Grega Ucraniana vinculada à Igreja Católica. A plebe ucraniana, desprotegida
pela nobreza rutena (cada vez mais votada ao catolicismo), voltou-se
para os cossacos (ortodoxos) em demanda
de segurança.
Os cossacos originariamente
eram servos fugitivos de origem russa ou polaca que se fixaram
na ilha de Hortitsa (ou Khortytsia) no Rio
Dniepre, entrando em constante conflito com os polacos.
Em meados
do século XVII, já havia um quase-Estado cossaco, o Zaporozhian
Sich, criado pelos cossacos do Dniepre e pelos camponeses rutenos que
fugiam da servidão polaca. A Polónia não tinha o efetivo controlo
daquela área, hoje no centro da Ucrânia, que se tornou Estado autónomo
militarizado, aliado à Comunidade. Entretanto, a servidão do campesinato
pela nobreza polaca, a ênfase da economia agrária da Comunidade na
exploração da mão-de-obra servil e, talvez a razão mais importante, a supressão
da fé ortodoxa acabaram por afastar os cossacos e a Polónia. Assim, os cossacos
voltaram-se para a Igreja Ortodoxa
Russa, o que levaria eventualmente à
queda da Comunidade Polaco-Lituana.
Em 1648,
os cossacos, liderados por Bogdán Jmelnitski (ou
Khmelnitski), iniciaram
uma grande rebelião (Insurreição de Khmelnitski) contra o Rei João II Casimiro, que levou à partilha
da Ucrânia entre a Polónia e a Rússia, consolidada com o tratado de
Pereiaslav (1654), pelo qual o czar se
comprometeu a proteger dos polacos o leste da Ucrânia.
Na segunda
metade do século XVIII, o sul da Ucrânia tornou-se uma das principais
fontes de trigo para o Império Russo. Em 1783, o Canato da
Crimeia foi anexado pela Rússia, que encerrou a dominação tártara na
região. Entre 1793 e 1795 ficou definida a partilha da Polónia entre Prússia,
Áustria e Rússia, tendo esta ficado inicialmente com os territórios
situados à leste do Rio Dniepre, enquanto a Áustria ficou com a
Ucrânia Ocidental (com o nome de província da Galícia).
Em 1796, a
Rússia passou a dominar também territórios a oeste do Rio Dniepre, região que
seria chamada Nova Rússia. E, pese o facto de que as promessas de autonomia da
Ucrânia conferidas pelo tratado de Pereiaslav nunca se materializaram, os
ucranianos tiveram importante papel no Império Russo, participando nas guerras
contra as monarquias europeias orientais e o Império Otomano e
ascendendo até aos mais altos postos da administração imperial e eclesiástica
russa. Posteriormente, o regime tzarista passou a executar uma dura política de
russificação, proibindo o uso da língua ucraniana nas publicações e
em público.
***
A partilha e
o advento dos soviéticos
Pelo Tratado
de Brest-Litovski, firmado no início de 1918, a União Soviética abriu
mão do exercício de soberania sobre grande parte do território ucraniano, mas, com
a derrota dos Impérios Centrais no fim da I Guerra Mundial, o
território foi disputado na Guerra Polaco-Soviética.
O colapso
dos impérios Russo e Austríaco após a I Guerra Mundial e a Revolução
Russa de 1917 levaram ao ressurgimento do movimento
nacional ucraniano para a autodeterminação em boa parte da Ucrânia. Já em
fevereiro de 1917, com o fim do czarismo, o poder começou a ser disputado
entre o Governo Provisório de São Petersburgo e a Rada Central
de Kiev. Após a tomada do poder pelos bolcheviques, em dezembro, o
primeiro Congresso dos Sovietes da Ucrânia proclamou o domínio sobre as regiões
mais a leste da Ucrânia, com sede em Carcóvia; e a Rada aliou-se às tropas
austro-alemãs que invadiram o país, na primavera de 1918.
Até 1920, a
Ucrânia foi o campo de batalha da guerra entre o governo soviético e os seus
inimigos internos e externos, com o fracasso polaco na Ofensiva de Kiev (1920), ato final da Guerra Polaco-Soviética, a que sucedeu
a Paz de Riga, em março de 1921, entre a Polónia e os bolcheviques,
que voltou a dividir a Ucrânia: a porção ocidental foi incorporada na nova II
República Polaca e a parte maior, no centro e no leste, transformou-se na RSSU (República
Socialista Soviética Ucraniana),
posteriormente unida à URSS (União das Repúblicas Socialistas
Soviéticas), criada em
dezembro de 1922.
O ideal
nacional ucraniano sobreviveu nos primeiros anos sob os soviéticos. A cultura e
a língua ucranianas conheceram um florescimento com a adoção da política
soviética de nacionalidades, mas os seus ganhos foram postos a perder com as
mudanças políticas dos anos 1930.
A industrialização soviética
teve início na Ucrânia a partir do final dos anos 1920, o que levou a produção
industrial do país a quadruplicar nos anos 1930. Contudo, o processo impôs elevado
custo ao campesinato, demograficamente a espinha dorsal da nação ucraniana. E,
para atender à necessidade de maiores suprimentos de alimentos e financiar a industrialização,
Stálin gizou um programa de coletivização da agricultura pelo qual o Estado
combinava as terras e rebanhos dos camponeses em fazendas coletivas. O processo
era garantido pela atuação dos militares e da polícia soviética (OGPU): quem resistisse era preso e deportado. Os camponeses
viam-se obrigados a lidar com os efeitos devastadores da coletivização sobre a
produtividade agrícola e as exigências de quotas de produção ampliadas. Tendo
em conta que os integrantes das fazendas coletivas não estavam autorizados a
receber grãos até completarem as suas impossíveis quotas de produção, a fome
tornou-se generalizada. O processo, denominado Holodomor, levou 7 milhões de pessoas (25% da
população ucraniana) a morrer de
fome. Os soviéticos acusaram a elite política e cultural ucraniana de desvios
nacionalistas, quando as políticas de nacionalidades foram revertidas no início
dos anos 1930. E duas ondas de expurgos (1929-1934 e 1936-1938) redundaram na eliminação de 4/5 da elite cultural da
Ucrânia.
***
II Guerra
Mundial e anexação da Crimeia
Em setembro
de 1939, em resultado de cláusulas secretas do pacto de não-agressão, de
1939, entre a Alemanha, a URSS e a Ucrânia Ocidental, e da invasão da
Polónia pela Alemanha, que destruiu o poderio militar daquele país, ocorre
também a invasão soviética da Polónia, que amplia o território da Ucrânia.
E, na II Guerra Mundial, alguns membros do subterrâneo nacionalista ucraniano
lutam indistintamente contra nazis e soviéticos, enquanto outros
colaboram com ambos os lados. Em 1941, os invasores alemães e aliados do Eixo avançam
contra o desesperado Exército Vermelho. No cerco de Kiev, a cidade é designada
pelos soviéticos como Cidade Heroica pela feroz resistência do Exército
Vermelho e da população local. Mais de 660 000 soldados soviéticos são
capturados ali.
De início,
os alemães são recebidos como libertadores por muitos ucranianos, especialmente
na Ucrânia Ocidental, que é ocupada pelos soviéticos apenas em 1939.
Entretanto, o controlo alemão sobre os territórios ocupados não se preocupa em
explorar o descontentamento ucraniano com a política soviética; antes, mantém as
fazendas coletivas, executa uma política de genocídio contra judeus e de
deportação para trabalhar na Alemanha. Dessa forma, a maioria da população
nos territórios ocupados passa a opor-se aos nazistas.
As perdas
totais civis durante a guerra e a ocupação alemã na Ucrânia são estimadas em
entre 5 e 8 milhões de pessoas, inclusive mais de meio milhão de judeus. Dos 11
milhões de soldados soviéticos mortos em batalha, cerca de 1/4 são ucranianos
étnicos.
Com o fim da
II Guerra Mundial, as fronteiras da Ucrânia soviética são ampliadas na direção
oeste, unindo a maior parte dos ucranianos sob uma única entidade política. A
população não-ucraniana dos territórios anexados é deportada. E a Ucrânia torna-se
membro da ONU.
No final de
1953, inicia-se a construção dum sistema de irrigação levando a água do lago da
hidroelétrica de Kakhovka para o norte da Crimeia,
sugerindo-se que, para facilitar a sua administração, a Crimeia passe a
integrar a RSSU. E, em fevereiro de 1954, Khrushchev, por ocasião das comemorações dos 300 anos do Tratado
de Pereiaslav, aceita que a Crimeia deixe de integrar a República
Socialista Federada Soviética da Rússia para integrar a RSSU.
A 26 abril
de 1986, ocorre o acidente nuclear de Chernobil, a 130 km ao norte
de Kiev, tido como o mais grave acidente nuclear da história, que afetou
fortemente com 600 mil habitantes. Até 1993, pelo menos 7 000 mortes são
atribuídas às elevadas doses de radiação recebida. Além disso,
135.000 pessoas foram evacuadas. O reator passa a ser revestido por
uma camada de betão de vários metros de espessura, formando uma estrutura
de sarcófago. A nuvem radioativa de Chernobil afeta a Ucrânia, a Bielorrússia,
a Rússia, a Polónia e partes da Suécia e da Finlândia. Nos anos
seguintes, pesquisadores estrangeiros na área registam um aumento de casos de
cancro e outras doenças associadas à radioatividade.
***
A
independência
Após 1985, a
subida de Mikhail Gorbachev ao comando da URSS, iniciou a Perestroika,
e nacionalistas ucranianos e comunistas fundaram o MPUP (Movimento
Popular Ucraniano pela Perestroika), que
reivindicava maior autonomia económica e política e venceu as eleições
legislativas de março de 1990. A 16 de julho, o Soviete Supremo da Ucrânia (Parlamento) proclamou a soberania da república. E, a 24 de agosto
de 1991, foi aprovada a Declaração de Independência e convocado um plebiscito
para a ratificar, que ocorreu em dezembro de 1991, no qual 90% dos votos foram
favoráveis à ratificação. No mesmo dia, Leonid Kravchuk (ex-primeiro-secretário
do Partido Comunista da Ucrânia) foi eleito
presidente com 60% dos votos.
Em 8 de
dezembro de 1991, os presidentes da Ucrânia, da Federação Russa e da
Bielorrússia declararam o fim da URSS e estabeleceram a Comunidade dos
Estados Independentes (CEI).
No início de
1992, o Governo anunciou a liberalização de preços, criou nova moeda e lançou
incentivos para o investimento estrangeiro.
A 5 de maio
de 1992, a Crimeia declarou a independência, mas, cedendo às pressões
de Kiev, cancelou a declaração em troca da concessão de autonomia
económica. Em junho, a Rússia cancelou o decreto de 1954 que cedeu a Crimeia
para a Ucrânia e exigiu a sua devolução.
Em junho de
1993, a Rada Suprema decidiu que pertenceria à Ucrânia todo o arsenal nuclear
da extinta URSS estacionado naquele país e a Ucrânia tornou-se a 3.ª potência
nuclear do mundo. Nessa época de crise económica, Leonid Kutchma renunciou
ao cargo de primeiro-ministro. Em setembro, a Ucrânia cedeu à Rússia a sua parte
da Frota do Mar Negro como pagamento de dívidas por fornecimento de
petróleo e gás. E foi firmado um convénio de cooperação para desmontar os poderosos
mísseis intercontinentais que a Ucrânia queria manter em garantia contra projetos
expansionistas russos, convénio que a oposição denunciou em Kiev.
A 26 de
junho (1.ª volta) e 10 de julho de 1994 (2.ª volta) ocorreram as primeiras eleições presidenciais na era
pós-soviética, em que o ex-primeiro-ministro Leonid Kutchma derrotou
o presidente Leonid Kravchuk com 52 % dos votos e confirmou a
sua intenção de reforçar os laços com a Rússia e ingressar na união económica
da CEI.
Em
1997, entre denúncias de corrupção Pavlo Lazrenko renuncia ao cargo
de primeiro-ministro, e é substituído por Valery Pustovoytenko. Nas eleições
parlamentares de março de 1998, o Partido Comunista da Ucrânia ganha
113 assentos (24,7%), obtendo a
maioria parlamentar para a esquerda e centro-esquerda. A 14 de dezembro de 1999,
Kuchma foi reeleito na 2.ª volta das eleições presidenciais com 56% dos votos,
com a promessa de continuar as reformas de mercado e a aproximação ao ocidente,
para o que designou primeiro-ministro Viktor Yushchenko, chefe do Banco
Nacional da Ucrânia. Em fevereiro de 2000, Yushchenko prometeu reestruturar a
dívida através duma política fiscal austera e um decidido programa de
privatizações. E, em abril de 2000 foi abolida a pena de morte, em
convergência com as diretrizes do Conselho Europeu.
Em abril de
2001, o Parlamento substituiu o primeiro-ministro Yushchenko por Anatoly
Khinakh.
Em novembro
de 2004, a Comissão Eleitoral Central da Ucrânia declarou que o candidato pró-
russo Viktor Yanukóvytch vencera as eleições presidenciais por 49,6% dos
votos, mas a maioria dos observadores denunciou irregularidades no processo
eleitoral. Na sequência de protestos em massa de partidários de Yushchenko (Revolução
Laranja), a 3 de dezembro, o Supremo
Tribunal declarou inválidos os resultados da 2.ª volta e determinou nova votação
a 26 de dezembro de 2004, que foi vencida por Viktor Yushchenko. E, em
setembro de 2005, a primeira-ministra Yulia Timoshenko foi
substituída por Yurii Yekhanurov.
Em janeiro
de 2006, a Rússia cortou o fornecimento de gás à Ucrânia, por não aceitar um
aumento de 460%, o que era, para os ucranianos, retaliação por tentativas de se
tornar mais independente de Moscovo e desenvolver laços mais estreitos com a
UE. E, em março de 2006, houve eleições parlamentares, em que o Partido
das Regiões, liderado por Víktor Yanukóvytch conquistou 186 assentos
do total de 450. Em segundo ficou o “Bloco Timoshenko”, com 129 assentos,
enquanto o Nossa Ucrânia, de Yushchenko, obteve 81 assentos. Em agosto,
Yanukóvytch foi nomeado primeiro-ministro à frente duma coligação pró-russa.
***
Protestos do
Euromaidan e Guerra Civil no Leste
O protestos
do Euromaidan começaram em novembro de 2013,
quando os cidadãos ucranianos exigiram maior integração do país com na UE. As
manifestações foram provocadas pela recusa do governo ucraniano em assinar um
acordo de associação com a UE, que Yanukovych descreveu como desvantajoso para
a Ucrânia. Com o tempo, o movimento Euromaidan promoveu uma onda de grandes
manifestações e agitação civil por todo o país, que evoluiu para incluir
clamores pela renúncia do presidente Yanukovich e do seu governo. A violência
intensificou-se depois de 16 de janeiro de 2014, quando o Governo aceitou as
leis Bondarenko-Oliynyk, conhecidas como leis-antiprotesto. Os manifestantes
antigoverno ocuparam edifícios do centro de Kiev, incluindo o prédio do
Ministério da Justiça, e os tumultos deixaram 98 mortos e milhares de feridos
entre 18 e 20 fevereiro. A 22 de fevereiro, o Parlamento da Ucrânia destituiu
Yanukovych por o considerar incapaz de cumprir os seus deveres e definiu uma
eleição para 25 de maio para selecionar o seu substituto. Os resultados da
eleição foram considerados pelo The
New York Times como “uma vitória decisiva na eleição presidencial
ucraniana” para Petro Poroshenko, que venceu com uma plataforma pró-União
Europeia, ganhando com mais de 50% dos votos, portanto, sem a necessidade de
2.ª volta com Yulia Timochenko, que na eleição só foi capaz de reunir menos de
um terço de seu número de votos. Poroshenko anunciou que as suas
prioridades imediatas seriam tomar medidas no conflito civil no leste da
Ucrânia e reatar os laços diplomáticos com a Rússia.
Após o
colapso do governo de Yanukóvytch e a subsequente revolução, em
fevereiro de 2014, começou a crise de secessão na Crimeia, território
ucraniano com significativo número de russófonos. A 1 de março o
presidente exilado, Viktor Yanukóvytch, pediu que a Rússia usasse forças
militares para estabelecer a legitimidade, a paz, a lei e a ordem para defender
o povo da Ucrânia. Nesse dia, Putin pediu e recebeu autorização da Parlamento
russo para implantar tropas militares na Ucrânia e assumiu o controlo da
Crimeia. Além disso, a NATO foi considerada pela maioria dos russos
invasora de suas fronteiras nacionais, o que pesou na decisão de Moscovo de
tomar medidas para proteger o seu porto do Mar Negro, na
Crimeia.
A 6 de
março, o Parlamento da Crimeia aprovou a decisão de entrar para a
Federação Russa, com os direitos duma entidade da Federação Russa e, mais tarde,
fez um referendo perguntando à população local se queria juntar-se ao
território russo como uma unidade federal ou restaurar a constituição
de 1992 da Crimeia e seu status como parte da Ucrânia.
Embora
aprovada por esmagadora maioria, a votação não foi monitorada por terceiros e
os resultados são contestados por vários países. Crimeia e Sevastopol declararam
formalmente a sua independência política sob o nome de República da Crimeia e
pediram admissão como membros constituintes da Federação Russa. A 18 de
março, a Rússia e a Crimeia assinaram um tratado de adesão da República
da Crimeia e de Sevastopol à Federação Russa, apesar de a Assembleia
Geral da ONU ter votado uma declaração não vinculativa para se opor a
anexação russa da península.
Também
começou a agitação popular nas regiões leste e sul do país. Em várias cidades,
como Donetsk e Lugansk, homens armados declararam-se como milícia local
e ocuparam prédios do Governo e delegacias policiais. E, em Genebra, UE,
Rússia, Ucrânia e EUA produziram uma declaração diplomática conjunta –
o Pacto de Genebra de 2014 –, em que as partes solicitaram que as milícias
ilegais depusessem as armas e desocupassem os prédios públicos tomados e
estabeleceram um diálogo político para outorgar maior autonomia às regiões
ucranianas.
***
Enfim, a guerra
começou. Todavia, Putin não pode invocar razões históricas, cujas vicissitudes,
oscilações e emaranhados não lhe conferirão legitimidade. Idem a propósito do
invocado dado religioso (a oscilação é análoga). Por seu turno, os ocidentais não têm moral para contestar as ambições da
Rússia, porque a nível estratégicos, económico, militar e político ambos lados fazem
o seu jogo de interesses e tentam manipular a Ucrânia, que será quem mais
sofrerá com a guerra.
2022.02.24 – Louro de Carvalho
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