domingo, 13 de fevereiro de 2022

Ser a voz dos que confiam em nós para sermos a sua voz

 

Dom José Manuel Garcia Cordeiro tomou posse como Arcebispo de Braga e Primaz das Espanhas na Sé Catedral Primacial, às 16 horas do dia 12 de fevereiro, em cerimónia transmitida em direto pela DMTV à semelhança do que sucedeu neste dia 13 relativamente à celebração solene da Eucaristia que assinalou o início do seu Ministério Pastoral nesta Arquidiocese. Narraram os acontecimentos o historiador Rui Ferreira e o Padre Marcelino Ferreira, Vice-arcipreste de Braga.

À invocação inicial, o Cónego Joaquim Félix, saudando o Arcebispo e todos os presentes, bem como todas as pessoas que assistiram à cerimónia através das transmissões em direto, vincou:

É uma hora de confiança que nos faz estremecer na consolação e comunhão que há no Espírito e nos coloca na Liturgia da perfumada gratidão. Sim, para agradecer, por um lado, a intensa e cordial caridade pastoral de Dom Jorge Ortiga, que termina o seu ministério como Arcebispo de Braga e, por outro, a abundante graça de Dom José Cordeiro, que assume o serviço de anunciar e experimentar com ousadia a alegria do Evangelho desta Igreja local”.

A seguir, o Núncio Apostólico Dom Ivo Scapolo proferiu uma breve alocução em que brindou o “momento histórico” que a Arquidiocese se encontra a viver na pegada da Carta aos Colossenses:

Estas poucas, mas preciosas palavras do Apóstolo Paulo, ajudam a evidenciar os elementos essenciais que devem caraterizar a qualidade e a beleza duma Igreja particular como é, neste caso a Arquidiocese de Braga: a fé profunda em Cristo ressuscitado, a caridade concreta à imitação de Jesus, a esperança dinamizadora na vida futura nos Céus onde Jesus foi preparar um lugar para nós. A fé, a esperança, a caridade são as joias preciosas, o património magnífico, que cada Igreja particular deve guardar, aumentar e compartilhar mediante uma multiplicidade de estruturas e atividades pastorais, sob a guia do seu Pastor”.

Após a intervenção de Dom Ivo Scapolo, o Cónego João Paulo Alves, Chanceler da Arquidiocese, leu as Letras Apostólicas e foi exarada e assinada a Ata que oficializou a Tomada de Posse.

o Cónego José Paulo Abreu, Deão do Cabido, referiu a “mudança emblemática do brasão episcopal” e deu as boas-vindas ao Arcebispo, na certeza de que “a mesa continuará posta, que o Evangelho não nos faltará”, que a Palavra de Deus continuará a ser semeada no coração de todos, “pela voz, sabedoria e empenho” do novo pastor bracarense.

O presidente do Cabido considerou a mudança de brasão como um “renovar de esperança” e um “sinal de acolhimento” à doutrina que será comunicada, bem como “um gesto de abertura ao Deus que fala pelos profetas de todos os tempos, os de ontem, os de hoje, os de amanhã”. Assim, pediu que “Deus continue” a falar ao Seu povo, fazendo jus ao lema do Arcebispo, “Ad docendum Christi mysteria”, sendo necessário que os ouvidos de todos estejam atentos à voz d’Ele, de modo que os corações se transformem pelo dinamismo da Boa Nova e o possa o mundo sentir a força revolucionária do amor de Deus que, pela Palavra, nos é dado a conhecer!”. Por outro lado, agradeceu a Dom Jorge Ortiga, Arcebispo Emérito, “por tantos e tantos ensinamentos recebidos, por tanto alimento repartido, por tanta paixão no anúncio das maravilhas de Deus”.

A seguir, as Armas de Fé de Dom José Cordeiro foram colocadas na Cátedra.

O Arcebispo Emérito também saudou Dom José Cordeiro e agradeceu a Deus por conceder, da parte de Francisco mediante o Núncio Apostólico, à Arquidiocese um novo Arcebispo para a guiar, na convicção de que “a Igreja se sente grata precisamente por isso”. E referiu que, “em sinodalidade”, deseja caminhar com Dom José Cordeiro para que a Palavra de Deus ecoe em todas as 552 paróquias da Arquidiocese, grupos, movimentos, congregações e em todos os sinais de vida da comunidade.

À tomada de posse seguiu-se, pelas 17 horas, a primeira conferência de imprensa de Dom José Cordeiro como Arcebispo de Braga e Primaz das Espanhas, no Museu Pio XII, moderada pelo Padre Paulo Terroso, Diretor do Departamento de Comunicação da Arquidiocese.

Ante dezenas de jornalistas, o Arcebispo Primaz respondeu a questões respeitantes a diversos temas, como a pobreza, a caridade, o Sínodo, o território da Arquidiocese e até o Acordo de Cooperação Missionária com a Diocese de Pemba. Questionado sobre se teria sentido medo com a nomeação para Arcebispo de Braga, respondeu convictamente que não, pois, como vincou, “o medo é o maior obstáculo à esperança” e, tenho o prelado “consciência da complexidade da missão”, garantiu que “a esperança é sempre maior” e revelou que gostaria de se “surpreender todos os dias com a esperança”.

Sobre feridas sociais e pobreza no território, o Arcebispo mencionou a carta que lhe foi enviada por um jovem a pedir que não esquecesse os pobres, os jovens, algo que o marcou profundamente. E assegurou que, “no seguimento de tantos Arcebispos Santos desta Arquidiocese, a caridade pastoral é para continuar”, sendo que disso mesmo fala o plano pastoral, ou seja de “uma Igreja Sinodal e Samaritana”, pois “a Igreja é chamada a fazer sempre o bem”.

Quanto às mudanças culturais que pautam a sociedade de hoje, foi perentório ao dizer que a Igreja deve sempre acompanhá-las. E explicitou:

A Igreja está sempre em construção, acompanha as mudanças e às vezes até as antecipa. Recordo as palavras de Pedro Arrupe, que nos dizia que, quiséssemos ou não, o mundo avança sem nós. Depende de nós, por isso, acompanhar essas mudanças. O Processo Sinodal que estamos a viver não pode ser uma moda ou um slogan, é um caminho a percorrermos juntos com Cristo, por Cristo e em Cristo.”.

O metropolita planeia fazer um roteiro de visita pastoral de forma a passar pelos 14 Arciprestados da Arquidiocese, até porque “é das periferias que se vê melhor a totalidade”, roteiro que será delineado “em sinodalidade, escutando o Espírito, os Arciprestes e Vice-arciprestes, assim como os párocos”.

O Arcebispo Primaz deseja uma Igreja de “portas escancaradas”, abertas a todos – apontando até a curiosidade de existir na Arquidiocese um Santuário com o nome de São Bento da Porta Aberta – e pediu que ninguém se acomode, mas que opte por uma certa inquietude que já carateriza várias boas práticas da Arquidiocese.

Acentuou que, não sendo “nenhum órgão político, nem de comunicação”, a Arquidiocese assume o dever de anunciar o Evangelho, “ser a voz dos que não têm voz e que confiam em nós para sermos a sua voz”, pois “o Evangelho não pode calar as periferias invisíveis” e “a comunicação social tem é a obrigação de nos ajudar a sermos fiéis ao Evangelho”. Disse-o ao ser questionado sobre a pretensão de continuar a ser uma voz de autoridade, à semelhança do que tem acontecido com outros prelados bracarenses.

Ficou visivelmente comovido quando lhe perguntaram o que sentiu quando deixou Bragança e rumou a Braga, antes da Tomada de Posse, admitindo ser muito difícil expressá-lo por palavras. No entanto, observou que fora “o primeiro amor” e “as próprias raízes”, sendo estas que nos sustentam e não ao contrário. E especificou:

Bragança é filha de Braga, é isso que me consola também. Desde 1545 que começamos como Diocese em Miranda, depois Bragança-Miranda e, em 1881, reconfigurou-se naquilo que é o território de Bragança e Miranda. Estamos na mesma Província Eclesiástica e o coração está totalmente em Braga, mas tem muitas saudades de Bragança-Miranda. Como disse na última celebração, o ‘até sempre’ ainda me radica aqui mais em Braga.”.

Também foram alvo de perguntas o clericalismo, que o Arcebispo classificou como “o mal da Igreja, sendo que a desclericalização não acontece de um momento para o outro”, e o escândalo dos abusos sexuais. Sobre este último, asseverou:

Sentimos a vergonha e humilhação de tudo o que acontece dentro da Igreja e fora dela também. Temos de olhar para as vítimas com seriedade, justiça, compaixão, ternura e misericórdia. Temos que dar voz ao silêncio das vítimas e cuidar de todas elas. É uma crise muito grande, mas também é um momento de purificação, que nos liberta. Pode custar-nos e podemos estar a sofrer, mas é para nos libertar.”.

O Arcebispo planeia visitar a Paróquia de Santa Cecília de Ocua, na Diocese de Pemba, “tão breve quanto possível”, elogiando o projeto, já que está a par do trabalho realizado pelo Centro Missionário Arquidiocesano de Braga e já falou com sacerdotes e leigos voluntários nessa missão.

No atinente à candidatura de Braga a Capital Europeia da Cultura, o Primaz começou por felicitar desde logo o tema “Tempo para Contemplação”. E, assumindo como “nossa” tanto a cidade de Braga como a Arquidiocese, disse que “somos todos convocados para a candidatura e a Igreja há de acompanhar naquilo que também nos for proposto e que até já está a fazer, com muitas instituições e pessoas”. Mostrou o desejo de “conhecer ainda mais em profundidade esta candidatura” para juntos colaborarem na “construção do maior bem comum”. Mais referiu que “Braga tem muito a oferecer ao mundo, como já o está a fazer, mas pode ser ainda mais conhecida”. E observou que o Museu Pio XII é surpreendente no que encerra, o que se verifica em tantos outros lugares desta cidade, pertencentes à Igreja, ao Estado ou à Autarquia. Enfim, afirmou que Braga é “uma cidade que dá gosto visitar”.

***

Foi um bom introito para a Eucaristia Solene que assinalou o início do Ministério Pastoral de Dom José Cordeiro na Arquidiocese de Braga, neste dia 13 de fevereiro, pelas 16 horas, na Sé Catedral Primacial, e que pôde ser acompanhada em direto através do Facebook e YouTube e do Diário do Minho e redes sociais da Arquidiocese. Que este vento que sopra do nordeste transmontando sirva para rejuvenescer ainda mais a grande e antiga metrópole nortenha.

2022.02.13 – Louro de Carvalho

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