Dom José
Manuel Garcia Cordeiro tomou posse como Arcebispo de Braga e Primaz das Espanhas
na Sé Catedral Primacial, às 16 horas do dia 12 de fevereiro, em cerimónia transmitida
em direto pela DMTV à semelhança do que sucedeu neste dia 13
relativamente à celebração solene da Eucaristia que assinalou o início do seu Ministério
Pastoral nesta Arquidiocese. Narraram os acontecimentos o historiador Rui
Ferreira e o Padre Marcelino Ferreira, Vice-arcipreste de Braga.
À invocação
inicial, o Cónego Joaquim Félix, saudando o Arcebispo e todos os presentes, bem
como todas as pessoas que assistiram à cerimónia através das transmissões em
direto, vincou:
“É uma hora de confiança que nos faz
estremecer na consolação e comunhão que há no Espírito e nos coloca na Liturgia
da perfumada gratidão. Sim, para agradecer, por um lado, a intensa e cordial
caridade pastoral de Dom Jorge Ortiga, que termina o seu ministério como
Arcebispo de Braga e, por outro, a abundante graça de Dom José Cordeiro, que
assume o serviço de anunciar e experimentar com ousadia a alegria do Evangelho
desta Igreja local”.
A seguir, o Núncio
Apostólico Dom Ivo Scapolo proferiu uma breve alocução em que brindou o
“momento histórico” que a Arquidiocese se encontra a viver na pegada da Carta
aos Colossenses:
“Estas poucas, mas preciosas palavras do
Apóstolo Paulo, ajudam a evidenciar os elementos essenciais que devem caraterizar
a qualidade e a beleza duma Igreja particular como é, neste caso a Arquidiocese
de Braga: a fé profunda em Cristo ressuscitado, a caridade concreta à imitação
de Jesus, a esperança dinamizadora na vida futura nos Céus onde Jesus foi
preparar um lugar para nós. A fé, a esperança, a caridade são as joias
preciosas, o património magnífico, que cada Igreja particular deve guardar,
aumentar e compartilhar mediante uma multiplicidade de estruturas e atividades
pastorais, sob a guia do seu Pastor”.
Após a
intervenção de Dom Ivo Scapolo, o Cónego João Paulo Alves, Chanceler da
Arquidiocese, leu as Letras Apostólicas e foi exarada e assinada a Ata que
oficializou a Tomada de Posse.
o Cónego
José Paulo Abreu, Deão do Cabido, referiu a “mudança emblemática do brasão
episcopal” e deu as boas-vindas ao Arcebispo, na certeza de que “a mesa
continuará posta, que o Evangelho não nos faltará”, que a Palavra de Deus
continuará a ser semeada no coração de todos, “pela voz, sabedoria e empenho”
do novo pastor bracarense.
O presidente
do Cabido considerou a mudança de brasão como um “renovar de esperança” e um
“sinal de acolhimento” à doutrina que será comunicada, bem como “um gesto de
abertura ao Deus que fala pelos profetas de todos os tempos, os de ontem, os de
hoje, os de amanhã”. Assim, pediu que “Deus continue” a falar ao Seu povo,
fazendo jus ao lema do Arcebispo, “Ad docendum Christi mysteria”, sendo necessário
que os ouvidos de todos estejam atentos à voz d’Ele, de modo que os corações se
transformem pelo dinamismo da Boa Nova e o possa o mundo sentir a força
revolucionária do amor de Deus que, pela Palavra, nos é dado a conhecer!”. Por outro lado, agradeceu a Dom Jorge Ortiga, Arcebispo Emérito, “por
tantos e tantos ensinamentos recebidos, por tanto alimento repartido, por tanta
paixão no anúncio das maravilhas de Deus”.
A seguir, as
Armas de Fé de Dom José Cordeiro foram colocadas na Cátedra.
O Arcebispo
Emérito também saudou Dom José Cordeiro e agradeceu a Deus por conceder, da
parte de Francisco mediante o Núncio Apostólico, à Arquidiocese um novo
Arcebispo para a guiar, na convicção de que “a Igreja se
sente grata precisamente por isso”. E referiu que, “em sinodalidade”, deseja
caminhar com Dom José Cordeiro para que a Palavra de Deus ecoe em todas as 552
paróquias da Arquidiocese, grupos, movimentos, congregações e em todos os
sinais de vida da comunidade.
À tomada de
posse seguiu-se, pelas 17 horas, a primeira conferência de imprensa de Dom José
Cordeiro como Arcebispo de Braga e Primaz das Espanhas, no Museu Pio XII, moderada
pelo Padre Paulo Terroso, Diretor do Departamento de Comunicação da Arquidiocese.
Ante dezenas
de jornalistas, o Arcebispo Primaz respondeu a questões respeitantes a diversos
temas, como a pobreza, a caridade, o Sínodo, o território da Arquidiocese e até
o Acordo de Cooperação Missionária com a Diocese de Pemba. Questionado sobre se
teria sentido medo com a nomeação para Arcebispo de Braga, respondeu
convictamente que não, pois, como vincou, “o medo é o
maior obstáculo à esperança” e, tenho o prelado “consciência da complexidade da
missão”, garantiu que “a esperança é sempre maior” e revelou que gostaria de se
“surpreender todos os dias com a esperança”.
Sobre feridas
sociais e pobreza no território, o Arcebispo mencionou a carta que lhe foi
enviada por um jovem a pedir que não esquecesse os pobres, os jovens, algo que
o marcou profundamente. E assegurou que, “no seguimento de tantos Arcebispos Santos desta
Arquidiocese, a caridade pastoral é para continuar”, sendo que disso mesmo fala
o plano pastoral, ou seja de “uma Igreja Sinodal e Samaritana”, pois “a Igreja
é chamada a fazer sempre o bem”.
Quanto às
mudanças culturais que pautam a sociedade de hoje, foi perentório ao dizer que
a Igreja deve sempre acompanhá-las. E explicitou:
“A Igreja está sempre em construção,
acompanha as mudanças e às vezes até as antecipa. Recordo as palavras de Pedro
Arrupe, que nos dizia que, quiséssemos ou não, o mundo avança sem nós. Depende
de nós, por isso, acompanhar essas mudanças. O Processo Sinodal que estamos a
viver não pode ser uma moda ou um slogan, é um caminho a
percorrermos juntos com Cristo, por Cristo e em Cristo.”.
O metropolita
planeia fazer um roteiro de visita pastoral de forma a passar pelos 14
Arciprestados da Arquidiocese, até porque “é das periferias que se vê melhor a
totalidade”, roteiro que será delineado “em sinodalidade, escutando o Espírito,
os Arciprestes e Vice-arciprestes, assim como os párocos”.
O Arcebispo
Primaz deseja uma Igreja de “portas escancaradas”, abertas a todos – apontando
até a curiosidade de existir na Arquidiocese um Santuário com o nome de São
Bento da Porta Aberta – e pediu que ninguém se acomode, mas que opte por uma
certa inquietude que já carateriza várias boas práticas da Arquidiocese.
Acentuou que,
não sendo “nenhum órgão político, nem de comunicação”, a Arquidiocese assume o
dever de anunciar o Evangelho, “ser a voz dos que não têm voz e que confiam em
nós para sermos a sua voz”, pois “o Evangelho não pode calar as periferias
invisíveis” e “a comunicação social tem é a obrigação de nos ajudar a sermos
fiéis ao Evangelho”. Disse-o ao ser questionado sobre a pretensão de continuar
a ser uma voz de autoridade, à semelhança do que tem acontecido com outros
prelados bracarenses.
Ficou
visivelmente comovido quando lhe perguntaram o que sentiu quando deixou
Bragança e rumou a Braga, antes da Tomada de Posse, admitindo ser muito difícil
expressá-lo por palavras. No entanto, observou que fora “o primeiro amor” e “as
próprias raízes”, sendo estas que nos sustentam e não ao contrário. E especificou:
“Bragança é filha de Braga, é isso que me
consola também. Desde 1545 que começamos como Diocese em Miranda, depois
Bragança-Miranda e, em 1881, reconfigurou-se naquilo que é o território de
Bragança e Miranda. Estamos na mesma Província Eclesiástica e o coração está
totalmente em Braga, mas tem muitas saudades de Bragança-Miranda. Como disse na
última celebração, o ‘até sempre’ ainda me radica aqui mais em Braga.”.
Também foram
alvo de perguntas o clericalismo, que o Arcebispo classificou como “o mal da
Igreja, sendo que a desclericalização não acontece de um momento para o outro”,
e o escândalo dos abusos sexuais. Sobre este último, asseverou:
“Sentimos a vergonha e humilhação de tudo o
que acontece dentro da Igreja e fora dela também. Temos de olhar para as vítimas
com seriedade, justiça, compaixão, ternura e misericórdia. Temos que dar voz ao
silêncio das vítimas e cuidar de todas elas. É uma crise muito grande, mas
também é um momento de purificação, que nos liberta. Pode custar-nos e podemos
estar a sofrer, mas é para nos libertar.”.
O Arcebispo
planeia visitar a Paróquia de Santa Cecília de Ocua, na Diocese de Pemba, “tão
breve quanto possível”, elogiando o projeto, já que está a par do trabalho
realizado pelo Centro Missionário Arquidiocesano de Braga e já falou com
sacerdotes e leigos voluntários nessa missão.
No atinente
à candidatura de Braga a Capital Europeia da Cultura, o Primaz começou por
felicitar desde logo o tema “Tempo para
Contemplação”. E, assumindo como “nossa” tanto a cidade de Braga como a
Arquidiocese, disse que “somos todos convocados para a candidatura e a Igreja
há de acompanhar naquilo que também nos for proposto e que até já está a fazer,
com muitas instituições e pessoas”. Mostrou o desejo de “conhecer ainda mais em
profundidade esta candidatura” para juntos colaborarem na “construção do maior
bem comum”. Mais referiu que “Braga tem muito a oferecer ao mundo, como já o
está a fazer, mas pode ser ainda mais conhecida”. E observou que o Museu Pio
XII é surpreendente no que encerra, o que se verifica em tantos outros lugares
desta cidade, pertencentes à Igreja, ao Estado ou à Autarquia. Enfim, afirmou
que Braga é “uma cidade que dá gosto visitar”.
***
Foi um bom
introito para a Eucaristia Solene que assinalou o início do Ministério Pastoral
de Dom José Cordeiro na Arquidiocese de Braga, neste dia 13 de fevereiro, pelas
16 horas, na Sé Catedral Primacial, e que pôde ser acompanhada em direto
através do Facebook e YouTube e do Diário do Minho e redes
sociais da Arquidiocese. Que este vento que sopra do nordeste transmontando
sirva para rejuvenescer ainda mais a grande e antiga metrópole nortenha.
2022.02.13 – Louro de Carvalho
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