No mês de maio, milhões de pessoas
participam em romarias e peregrinações a santuários marianos, fazem orações
especiais a Maria e oferecem-Lhe presentes
espirituais e materiais.
De facto, em
maio, a homenagem da Igreja na dimensão de povo piedoso volta-se para Maria, Mãe
de Deus e Mãe nossa, Rainha dos homens e dos anjos. O mês mariano, mais do que marcado por
várias aparições da Virgem no Mundo, é palco espiritual do fervor devoto dos
católicos para a sublime figura que Ela representa de amor, fé, obediência à
Deus e compaixão.
Identificada
no Novo Testamento e no Alcorão, Maria recebe as designações de Nossa Senhora,
Santíssima Virgem e Virgem Maria. Estava noiva de José quando recebeu a visita
do anjo Gabriel, que lhe anunciou que fora a escolhida para mãe do filho de
Deus. Pelo seu sim, expresso na frase optativa “Faça-se em mim a tua vontade”, iniciou-se o plano de salvação da
humanidade com a conceção de Jesus por obra e graça do Espírito Santo.
Exemplo
divino-humano de figura materna, Maria esteve bem presente em cada
fase da vida de Jesus como mãe amorosa e dedicada a zelar por seu filho amado,
acompanhou-O nos seus primeiros passos, testemunhou os seus primeiros sorrisos
e zelou por cada sua noite de sono. Com José – pai terreno de Jesus – ensinou-o
na fé, amor, lei de Deus e na condição de homem justo. Como exemplo de
fortaleza, pois, face às dificuldades, não se deixou abalar na fé. Aceitou sem
medo o desígnio de Deus, enfrentou cada momento difícil e nunca abandonou a
oração. Quando Jesus foi crucificado, estava lá sentindo na alma a dor de ver brutalmente
sacrificado o mesmo Jesus que tinha transportado no ventre e carregado nos
braços. É inimaginável a dor da mãe ao ver o filho torturado, humilhado e
condenado à morte e morte tão cruel. No auge da paixão, Jesus fez de Maria a
mãe da humanidade: “Eis o teu filho…Eis a
tua mãe”.
Falando das aparições
da Senhora, é de advertir que não se limitam a apenas relatos milenares. Ao
longo da História, Maria reapareceu em vários lugares e eventos. São famosas as
aparições da Virgem de feição particular, muitas delas reconhecidas e veneradas
pela Igreja Católica por estimularem no mundo a fé, a esperança, a compaixão e
a solidariedade. Ocorrem em épocas conflituosas, mostrando o maternal carinho de
Maria e a sua grande preocupação para com os seus filhos, como têm ocorrido
para acentuar verdades da fé católica. Como nossa intercessora junto de Jesus,
apresenta-Lhe os nossos dramas, pecados, necessidades e êxitos, expressos na
frase bíblica “Não têm vinho”, e,
como missionária de Jesus junto de nós e nossa conselheira, avisa que não O
ofendamos, que façamos o que Ele manda e ajuda a resolver os problemas
existentes ou traz conforto e aponta alternativas aos filhos que sofrem.
Podem
mencionar-se as aparições de Guadalupe e Aparecida, vindas de Maria em épocas
de escravidão e sofrimento de índios e negros na América Latina; as de Nossa
Senhora Auxiliadora que protegeu a Igreja no conflito da guerra; as de Lourdes,
a confirmar o dogma da Imaculada Conceição; e as de Fátima, a alertar a
humanidade para os acontecimentos que viriam à tona.
***
Pelo século
XII, a Igreja Católica, instaurou a tradição de Tricesimum ou a devoção de 30 dias a Maria. A época começou por
incidir nos meses de setembro e outubro (nalguns lugares de 15 de agosto a
14 de setembro), mas, por
força da coincidência do mês de maio com o Tempo Pascal e por maio ser, no auge
da primavera, o mês das flores, atinou-se neste mês como o mais apto para
celebrar a Mãe de Deus, até em consonância com a tradição
antropológico-cultural. Com efeito, ao longo da história antecristã,
maio foi o mês de outras homenagens de culturas e épocas. Na Grécia Antiga,
nele era celebrada a deusa Artemisa, da fecundidade. Do mesmo modo, a Antiga
Roma e a época medieval atribuíam ao mês a celebração da Flora, a deusa da
vegetação, por ser o tempo dos começos da primavera. Em Roma, celebravam-se os ‘ludi florales’ (jogos
florais) no fim do
mês de abril e pediam sua intercessão.
Na época
medieval abundaram costumes similares, tudo centrado na chegada do bom clima e
o afastamento do inverno. O dia 1.º de maio era considerado como o apogeu da
primavera.
Dedicar o mês de maio a Maria – o “mês das flores” no
hemisfério norte – é uma devoção arraigada há séculos. Com sua poesia “Ben vennas Mayo”, das Cantigas de Santa Maria, Afonso X, o
Sábio, revela-nos que esta tradição já existia na Idade Média. Porém, foi no século XVII que se
combinaram em definitivo o mês de maio e de Maria, fazendo com que esta
celebração conte com devoções especiais organizadas em cada dia durante todo o
mês. Este costume durou, sobretudo, durante o século XIX e é praticado até
hoje.
As formas nas
quais Maria é honrada em maio são tão variadas como as pessoas que a honram.
As paróquias costumam
rezar diariamente o Terço e muitas preparam um altar especial com um quadro ou
imagem de Maria. Além disso, trata-se duma grande tradição a coroação de Nossa
Senhora, costume conhecido como Coroação
de Maio. Normalmente, a coroa é feita de lindas flores que representam a
beleza e a virtude de Maria e lembra que os fiéis se devem esforçar por imitar as
suas virtudes. Em algumas regiões, a coroação acontece numa grande celebração
e, em geral, fora da Missa. Entretanto, os altares e coroações não são
apenas atividades de paróquia: o mesmo pode ser feito nos lares para participar
mais plenamente na vida da Igreja. Deve-se preparar um lugar especial
para Maria, não por ser tradição ou pelas graças especiais que se podem
alcançar, mas porque Ela é nossa Mãe, mãe de todo o mundo e porque se preocupa
com todos nós, intercedendo inclusive em assuntos menores.
A Igreja tem sempre incentivado esta devoção,
por exemplo recomendando a oração do Rosário, concedendo indulgências e
produzindo alguns documentos do Magistério papal, como a encíclica “Mense Maio”, de São Paulo VI, em 1965. São
Paulo VI, São João Paulo II, Bento XVI e Francisco estiveram em Fátima em 13 de
maio: 1967, 1981, 1991, 2000, 2010 e 2017.
“O mês de maio estimula-nos
a pensar e a falar de modo particular d’Ela. De facto, este é o seu mês. Assim,
o período do ano litúrgico [Ressurreição] e ao mesmo tempo o mês corrente
chamam e convidam os nossos corações a abrirem-se de maneira singular para
Maria.”.
O cardeal São John Henry Newman, no seu livro póstumo “Meditações e devoções” (1893), dá várias razões por que o mês de maio é propício à devoção
mariana, apesar de haver várias festas marianas noutros meses. Escrevendo dum
país do hemisfério norte, refere que “é o tempo em que a terra faz surgir a
terna folhagem e os verdes pastos, depois do frio e da neve do inverno, da
cruel atmosfera, do vento selvagem e das chuvas da primavera”. E, continua a
justificar:
“Porque os dias se
tornam longos, o sol nasce cedo e se põe tarde. Porque semelhante alegria e
júbilo externo da natureza são os melhores acompanhantes da nossa devoção
Àquela que é a Rosa Mística e a Casa de Deus. (…) Ninguém pode negar que este
seja pelo menos o mês da promessa e da esperança. Ainda que o tempo não seja
favorável, é o mês que dá início e é prelúdio do verão. (…) Maio é o mês, se
não da consumação, pelo menos da promessa, e não é este o sentido no qual mais
propriamente recordamos a Santíssima Virgem Maria, a quem dedicamos o mês?”.
Autores como Vittorio Messori veem nesta manifestação de
religiosidade a cristianização duma celebração pagã: a dedicação do mês de maio
às deusas da fecundidade, já apontada acima. De facto, maio deve o seu nome a Maia,
deusa da primavera. Além disso, em muitos países, em maio, comemora-se o Dia da
Mãe; e a lembrança dirige-se também à Mãe do Céu.
O Catecismo da Igreja Católica, no n.º 971, a respeito da devoção
à Maria Santíssima, afirma:
«Todas as gerações me hão
de proclamar ditosa» (Lc 1,48): «a piedade da Igreja para com a santíssima Virgem
pertence à própria natureza do culto cristão». A santíssima Virgem «é com razão
venerada pela Igreja com um culto especial. E, na verdade, a santíssima Virgem
é, desde os tempos mais antigos, honrada com o título de ‘Mãe de Deus’, e sob a
sua proteção se acolhem os fiéis implorando-a em todos os perigos e
necessidades [...]. Este culto [...], embora inteiramente singular, difere
essencialmente do culto de adoração que se presta por igual ao Verbo Encarnado,
ao Pai e ao Espírito Santo, e favorece-o poderosamente». Encontra a sua
expressão nas festas litúrgicas dedicadas à Mãe de Deus e na oração mariana,
como o santo rosário, «resumo de todo o Evangelho».
Também vários Papas na história da Igreja enfatizaram a
importância de se rezar o rosário.
São João Paulo II fala do rosário nos termos seguintes:
“O Rosário é […] uma oração profundamente
cristológica. Na sobriedade das suas partes, o Rosário consolida-se da
profundidade da Boa Nova, da qual ele é quase um resumo. […] Com o Rosário, o
povo cristão anda na Escola de Maria para se deixar guiar, contemplando a
beleza do rosto de Cristo e experienciando a profundidade do Seu amor. Ao
contemplar os mistérios do Rosário, o crente obtém a graça em plenitude como se
recebesse das próprias mãos da Mãe do Redentor.”.
E, falando no âmbito do testemunho pessoal, assegura:
“Esta oração tem assumido um papel
importante na minha vida espiritual desde a minha infância e juventude. A
oração do Rosário tem-me acompanhado nos momentos de alegria e de provação.
Muitas preocupações entreguei nesta oração e, por meio dela, sempre
experienciei fortalecimento e consolação.”.
Por seu turno, Bento XVI desafiou:
“Se não sabeis como rezar, pedi-Lhe para vos
ensinar e pedi à Mãe do Céu para rezar convosco e por vós. A oração do Rosário
pode ajudar-vos a aprender a arte de rezar com a simplicidade e profundidade de
Maria.”.
E, este ano, a 25 de abril, o Papa Francisco endereçou uma
carta a todos os fiéis sobre o mês de maio, em que “o povo de Deus
manifesta, de forma deveras intensa, o seu amor e devoção à Virgem Maria”. E,
sendo tradição rezar o Terço em casa, com a família (dimensão doméstica), que a pandemia nos forçou a valorizar, inclusive do ponto de
vista espiritual, propôs a redescoberta da beleza de rezar o Terço em casa, no
mês de maio, juntos ou individualmente, de acordo com as situações, valorizando
ambas as possibilidades. E disse que o segredo é a simplicidade e que há bons
esquemas para seguir na sua recitação, facilmente encontráveis mesmo na
Internet.
Além
disso, oferece-nos duas orações à Senhora, que poderemos rezar no fim do Terço.
Tudo, porque “a contemplação do rosto de Cristo, juntamente com o coração de
Maria, nossa Mãe, tornar-nos-á ainda mais unidos como família espiritual e ajudar-nos-á
a superar esta prova”. E o Papa rezará por nós, “especialmente pelos que mais
sofrem”, e pede rezemos por ele.
Eis
as duas orações: uma currente calamo,
mas com muita profundidade; outra, quase poesia:
Oração a Maria
«À
vossa proteção, recorremos, Santa Mãe de Deus».
Na
dramática situação atual, carregada de sofrimentos e angústias que oprimem o
mundo inteiro, recorremos a Vós, Mãe de Deus e nossa Mãe, refugiando-nos sob a
vossa proteção.
Ó
Virgem Maria, volvei para nós os vossos olhos misericordiosos nesta pandemia do
novo coronavírus e confortai a quantos se sentem perdidos e choram pelos seus
familiares mortos e, por vezes, sepultados duma maneira que fere a alma.
Sustentai aqueles que estão angustiados por pessoas enfermas de quem não se
podem aproximar, para impedir o contágio. Infundi confiança em quem vive
ansioso com o futuro incerto e as consequências sobre a economia e o trabalho.
Mãe
de Deus e nossa Mãe, alcançai-nos de Deus, Pai de misericórdia, que esta dura
prova termine e volte um horizonte de esperança e paz. Como em Caná, intervinde
junto do vosso Divino Filho, pedindo-Lhe que conforte as famílias dos doentes e
das vítimas e abra o seu coração à confiança.
Protegei
os médicos, os enfermeiros, os agentes de saúde, os voluntários que, neste
período de emergência, estão na vanguarda arriscando a própria vida para salvar
outras vidas. Acompanhai a sua fadiga heroica e dai-lhes força, bondade e
saúde. Permanecei junto daqueles que assistem noite e dia os doentes, e dos
sacerdotes que procuram ajudar e apoiar a todos, com solicitude pastoral e
dedicação evangélica.
Virgem
Santa, iluminai as mentes dos homens e mulheres de ciência, a fim de
encontrarem as soluções justas para vencer este vírus.
Assisti
os responsáveis das nações, para que atuem com sabedoria, solicitude e
generosidade, socorrendo aqueles que não têm o necessário para viver,
programando soluções sociais e económicas com clarividência e espírito de
solidariedade.
Maria
Santíssima, tocai as consciências para que as somas enormes usadas para
aumentar e aperfeiçoar os armamentos sejam, antes, destinadas a promover
estudos adequados para prevenir catástrofes do género no futuro.
Mãe
amadíssima, fazei crescer no mundo o sentido de pertença a uma única grande
família, na certeza do vínculo que une a todos, para acudirmos, com espírito
fraterno e solidário, a tanta pobreza e inúmeras situações de miséria.
Encorajai a firmeza na fé, a perseverança no serviço, a constância na oração.
Ó
Maria, Consoladora dos aflitos, abraçai todos os vossos filhos atribulados e
alcançai-nos a graça que Deus intervenha com a sua mão omnipotente para nos
libertar desta terrível epidemia, de modo que a vida possa retomar com
serenidade o seu curso normal.
Confiamo-nos
a Vós, que resplandeceis sobre o nosso caminho como sinal de salvação e de
esperança, ó clemente, ó piedosa, ó doce Virgem Maria. Ámen.
Oração a Maria
Ó Maria,
Vós sempre resplandeceis sobre o nosso caminho
como um sinal de salvação e de esperança.
Confiamo-nos a Vós, Saúde dos Enfermos,
que permanecestes, junto da cruz, associada ao sofrimento de Jesus,
mantendo firme a vossa fé.
Vós sempre resplandeceis sobre o nosso caminho
como um sinal de salvação e de esperança.
Confiamo-nos a Vós, Saúde dos Enfermos,
que permanecestes, junto da cruz, associada ao sofrimento de Jesus,
mantendo firme a vossa fé.
Vós, Salvação do Povo Romano,
sabeis do que precisamos
e temos a certeza de que no-lo providenciareis
para que, como em Caná da Galileia,
possa voltar a alegria e a festa
depois desta provação.
sabeis do que precisamos
e temos a certeza de que no-lo providenciareis
para que, como em Caná da Galileia,
possa voltar a alegria e a festa
depois desta provação.
Ajudai-nos, Mãe do Divino Amor,
a conformar-nos com a vontade do Pai
e a fazer aquilo que nos disser Jesus,
que assumiu sobre Si as nossas enfermidades
e carregou as nossas dores
para nos levar, através da cruz,
à alegria da ressurreição. Ámen.
a conformar-nos com a vontade do Pai
e a fazer aquilo que nos disser Jesus,
que assumiu sobre Si as nossas enfermidades
e carregou as nossas dores
para nos levar, através da cruz,
à alegria da ressurreição. Ámen.
À vossa proteção, recorremos,
Santa Mãe de Deus;
não desprezeis as nossas súplicas na hora da prova
mas livrai-nos de todos os perigos, ó Virgem gloriosa e bendita
2020.05.01 – Louro de
Carvalho
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