Passa
hoje, dia 18 de maio, o centenário do nascimento do Papa polaco em Wadovice – “um
gigante na Igreja”. E a efeméride fica assinalada por alguns factos e declarações.
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A nível
dos factos, ressalta a celebração da Missa pelo Papa Francisco na Basílica de São Pedro, na Capela onde se encontra o
Túmulo de São João Paulo II, em cuja homilia afirmou que Deus visitou o seu
povo enviando o Papa Wojtyla para guiar a Igreja e destacando três traços da
sua personalidade: oração, proximidade às pessoas e sentido pleno de justiça que jamais se
pode separar da misericórdia. Entre os concelebrantes, contavam-se: o cardeal
Angelo Comastri, vigário do Papa para a Cidade do Vaticano e arcipreste da
Basílica Vaticana; o cardeal Konrad Krajewski, esmoleiro apostólico; Dom Piero
Marini, durante 18 anos mestre das celebrações litúrgicas no Pontificado de
João Paulo II; e o arcebispo polaco Jan Romeo Pawłowski, chefe da 3.ª Secção da
Secretaria de Estado que se ocupa dos diplomatas da Santa Sé.
Tendo sido
esta a última das Missas da manhã celebradas ao vivo streaming por Francisco desde 9 de março passado, no âmbito da
suspensão das celebrações com a participação de fiéis por via da pandemia da
Covid-19, pois a Itália, como outros países, retomou as celebrações com fiéis, o
Papa fez votos de que o povo de Deus volte à familiaridade comunitária com o
Senhor nos sacramentos, sempre respeitando – como disse no Regina Caeli dominical
– as prescrições estabelecidas para a saúde de todos.
No término
da Missa, Francisco pediu a Deus que suscite em nós “a chama da caridade que
alimentou incessantemente a vida de São João Paulo II” e “o impeliu a
gastar-se” pela Igreja.
Entre os cânticos
da Missa, destaca-se um dos mais conhecidos das JMJ (Jornadas
Mundiais da Juventude), “Jesus Christ you are my life”, entoado na
vigília da JMJ de Torvergata, em Roma, em 2000 com João Paulo II a movimentar de
modo comovente os braços a acompanhar os jovens que cantavam.
Também Francisco
determinou que seja inscrito no Calendário Romano Geral o nome de Santa Maria
Faustina Kowalska, virgem, e celebrada a sua memória por todos em 5 de outubro.
Com efeito, a Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos publicou
um decreto, neste dia 18, sobre tal disposição pontifícia. O texto começa com a
citação bíblica do Evangelho de Lucas, “De
geração em geração, a sua misericórdia chega aos que o temem” (Lc 1,50), misericórdia que jorra do coração de Cristo. Na verdade,
“o que a Virgem Maria cantou no Magnificat, contemplando a obra
salvífica de Deus em favor de toda geração humana, reflete-se na experiência
espiritual de Santa Faustina Kowalska que viu, como um presente do Céu, no
Senhor Jesus Cristo o rosto misericordioso do Pai e tornou-se anunciadora”,
ressalta o decreto assinado pelo cardeal Robert Sarah, prefeito da Congregação
para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos, e por Dom Arthur Roche,
secretário do organismo.
Esta nova memória deve ser inserida em todos os Calendários e
Livros litúrgicos da celebração da Missa e da Liturgia das Horas, adotando os
textos litúrgicos anexos ao predito decreto, que devem ser traduzidos,
aprovados e, depois da confirmação da Congregação para o Culto Divino e a
Disciplina dos Sacramentos, publicados pelas Conferências Episcopais.
Também o Papa
enviou uma carta ao Padre Michal Paluch, reitor da Pontifícia Universidade
Santo Tomás de Aquino (Angelicum), por
ocasião da inauguração do Instituto Cultural “São João Paulo II”, no centenário
do nascimento do pontífice polaco, celebrado neste dia 18. Nela refere:
“No dia em que se celebra o centenário do
nascimento de São João Paulo II, o aluno mais ilustre desta universidade, é
inaugurado no Angelicum, na Faculdade de Filosofia, o Instituto
Cultural, a ele intitulado. Expresso o meu agradecimento por esta
iniciativa e estendendo uma cordial saudação a toda a comunidade académica e a
todos os que participam no evento, em particular aos representantes das duas
fundações polacas, Futura Iuventa e Saint Nicholas,
que apoiam o novo Instituto.”.
Para Francisco,
a finalidade principal do instituto “é refletir sobre a cultura contemporânea”,
para o que “os promotores pretendem fazer uso da colaboração dos mais eminentes
filósofos, teólogos e homens e mulheres de cultura, em sua expressão mais ampla”.
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No atinente
a declarações de reconhecida pertinência, contam-se a: de Pietro Parolin,
Secretário de Estado; de Dom Mieczysław Mokrzycki, arcebispo de Lviv (Ucrânia); ex-secretário pessoal do Papa Wojtyła; do cardeal
Odilo Scherer, Arcebispo de São Paulo (Brasil); do cardeal
Orani João Tempesta, Arcebispo do Rio de Janeiro (Brasil); e de Andrea Torrielli, editor do Vatican News e da Rádio
Vaticano.
Parolin evoca o ano 1990, em que Wojtyła visitou o México
pela segunda vez, o que foi uma experiência única para o então Secretário da
então Delegação Apostólica no México. O México, apesar de 95% da população
ser católica, tinha uma Constituição secularista, que não reconhecia o direito
da Igreja de existir e chegava ao ponto de proibir os cultos religiosos em
público. João Paulo não foi como político em busca de acordos, mas como
peregrino em busca de fé, como assegurou no discurso de boas-vindas:
“O Senhor, mestre da
história e dos nossos destinos, estabeleceu que o meu pontificado fosse o de um
Papa peregrino da evangelização, para percorrer os caminhos do mundo levando a
mensagem de salvação a todos os lugares”.
Entretanto,
o panorama alterou-se e foram restabelecidas, anos depois, as relações diplomáticas.
Por sua vez,
Mokrzycki,
recordando a grande humanidade e capacidade de escutar do Papa polaco, sublinha
que ele “ensinou acima de tudo, a confiar no Senhor” e, logo no início do seu
pontificado, nos convidou “a abrir as portas a Cristo, para que pudéssemos, com
a Sua ajuda, criar um mundo de paz, gerar o bem e fazer progredir toda a
humanidade”, sendo que, pela oração, “devemos e podemos resolver todos os
problemas da vida e do mundo”.
Já o
cardeal Odilo falou das boas lembranças de
convivência com João Paulo II no Vaticano e dos primeiros encontros estando o
cardeal ainda no Brasil enquanto sacerdote e referiu as muitas atividades do Papa
Wojtyla, que designa como “Grande Papa Missionário”.
Dom
Orani Tempesta lembrou João Paulo II como o “Grande Pregador” e salientou a sua
capacidade de liderança religiosa e proximidade a ponto de clamar no Rio de
Janeiro, no II Encontro Mundial das Famílias, que, “Se Deus é
brasileiro, o Papa é carioca”.
Por fim, Torrielli, falando dum Papa que "navegou na rota traçada pelo Concílio Vaticano II
percorrendo novos caminhos”, destaca os dois momentos em que chamou os líderes
das diversas religiões do mundo para rezarem em conjunto, em Assis, pela paz:
em setembro de 1986, quando estava prestes a eclodir uma guerra nuclear; e, em janeiro
de 2002, por via de novos focos de guerra e terrorismo. E frisou o seu papel na
condução da Igreja para o 3.º milénio, no simbólico derrube do muro de Berlim e
na aproximação das religiões e culturas.
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Um pontificado cuja História está por fazer e cujo mérito não
é apreciado como deve ser!
2020.05.18
– Louro de Carvalho
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