quarta-feira, 6 de maio de 2020

Ministério das Finanças insiste na necessidade da cooperação europeia


A interrupção da atividade económica está a ser revertida em Portugal desde o dia 4 deste mês de maio com as medidas de desconfinamento gradual, com a reabertura do pequeno comércio e de alguns estabelecimentos. E, conhecidas as previsões da Comissão Europeia, que apontam para contração de 6,8% do PIB este ano em Portugal e crescimento de 5,8% da nossa economia em 2021, o Ministério das Finanças salienta a importância de coordenar medidas de resposta à pandemia ao nível europeu para a recuperação. A respeito disto, refere em comunicado:
A eficácia da coordenação entre as medidas estratégicas adotadas a nível nacional e europeu para dar resposta à crise assume particular importância, tendo em conta a necessidade de conter o impacto económico negativo da pandemia e proporcionar uma recuperação célere e robusta, para que as economias retomem um rumo de crescimento inclusivo e sustentável”.
As previsões assentam numa contração da procura interna em 2020 do lado do consumo privado (apesar das medidas extraordinárias para preservar contratos de trabalho e rendimentos) e do lado do investimento (devido ao contexto de incerteza e disrupções nas cadeias globais de valor). E as Finanças sustentam que a interrupção da atividade económica em março e em abril será revertida a partir do início do mês de maio, suportada numa recuperação do mercado interno e na retoma do investimento. Não obstante, para Bruxelas, o investimento em construção deverá ser mais resiliente, beneficiando do ciclo económico e da introdução de maior flexibilidade na utilização de fundos europeus.
Recordando as projeções, o Ministério das Finanças salienta que, no conjunto dos dois anos, o desempenho da economia portuguesa será menos negativo que o da média dos países da área do Euro e da UE. Segundo as previsões, o PIB da Zona Euro deverá cair 7,7% em 2020 (8% na UE), seguindo-se uma recuperação de 6,3% em 2021. O PIB cairá mais que em Portugal, mas a recuperação da economia também será maior. E, ainda segundo as previsões, o impacto da pandemia e das decorrentes medidas temporárias de contenção e confinamento nas contas públicas será menos negativo em Portugal que o estimado para a área do euro e UE.
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Como ficou dito, a Comissão Europeia vê, em Portugal o PIB a cair 6,8% em 2020 e a economia a crescer 5,8% em 2021. Com efeito, Bruxelas atualizou, neste dia 6 de maio, as suas previsões económicas e os números mostram que a forte contração do PIB em Portugal fica aquém da contração na Zona Euro, tal como o crescimento económico em 2021 e que a Comissão está ligeiramente menos pessimista do que o FMI (Fundo Monetário Internacional), que prevê uma queda do PIB em 8% em 2020 e uma recuperação económica de 5% em 2021.
Entre os países que partilham o euro, os mais afetados pelo impacto económico da pandemia, com o PIB a encolher mais de 9%, são a Itália, a Grécia e a Espanha. 
Uma dos fatores de diferenciação entre e evolução da economia desses países e a portuguesa é o impacto da pandemia no investimento privado e público. Em média, o investimento na Zona Euro cairá 13,3% em 2020, mas menos em Portugal (-8,6%) que em Espanha (-20,7%), Itália (-14,2%) e Grécia (-30%). E registar-se-ão quedas significativas também noutras componentes do PIB em Portugal. Assim, o consumo privado encolherá 5,8%, as exportações cairão 14,1% e as importações 10,3%. A única componente a crescer será o consumo público, mais 2,4%, mercê do aumento dos gastos do Estado com as ajudas relacionadas com a crise pandémica.
A Comissão Europeia antecipa que o PIB em 2021 ainda fique abaixo dos níveis de 2019 e prevê que a recuperação demore mais tempo a concretizar-se. Com efeito, espera-se que a economia recupere com força após o choque inicial, mas em alguns setores, particularmente no turismo (a atividade turística cairá 50% na UE), é expectável que as réplicas da crise pandémica se prolonguem. Lá está: no caso de Portugal a dependência do turismo estrangeiro torna esta retoma mais desafiante até haver uma vacina ou um tratamento eficaz para a Covid-19.
Com a receita a cair e a despesa a subir em 2020, Portugal passará dum excedente orçamental em 2019 (o primeiro em democracia) para um défice de 6,5% este ano, segundo as previsões da Comissão. Também neste indicador Portugal figura melhor que a média da Zona Euro (-8,5%). Em 2021, o défice português encolherá para 1,8% e o da Zona Euro para 3,5%, ainda acima da linha vermelha dos 3%, imposta pelas regras da UE, suspensas neste momento.
Segundo a Comissão, a causa da deterioração do saldo orçamental está nos estabilizadores automáticos (por exemplo, o subsídio de desemprego) e na necessidade de a política orçamental suportar a economia, ou seja, no aumento da maioria das categorias de despesa, em particular subsídios e transferências sociais, e na queda da receita pública. No total, as medidas adotadas pelo Governo até agora para reforçar a resposta do SNS, proteger o emprego, dar apoio social e salvaguardar a liquidez das empresas terão um custo direto estimado de 2,5% do PIB.
Num cenário de políticas invariantes (só se considera o que já está legislado), o saldo orçamental melhorará no próximo ano com a recuperação económica e a eliminação progressiva das medidas implementadas para lidar com a pandemia. Todavia, o risco orçamental é descendente, pois há incertezas sobre a curva epidémica e os efeitos persistentes na economia e na sociedade, admitindo-se a possibilidade de continuar a assunção das obrigações do Estado.
A forte queda do PIB e o aumento significativo do défice em 2020 farão mossa na dívida pública portuguesa. O rácio do endividamento público no PIB deverá subir de 117,7%, em 2019, para 131,6%, em 2020, descendo novamente para os 124,4% em 2021. Neste indicador Portugal continua muito acima da média da Zona Euro, cujo rácio de dívida pública no PIB passará dos 86% para os 102,7% em 2020, baixando os 98,8% em 2021, ano em que ainda haverá 7 países, incluindo Portugal, com um rácio superior a 100% do PIB.
No défice e na dívida pública, as previsões da Comissão Europeia são mais otimistas do que as do FMI, que prevê a subida do défice para os 7,1% e a da dívida pública para os 135%.
A contração da economia, sobretudo através da redução das exportações, terá repercussões nas contas externas portuguesas que passam dum equilíbrio em 2019 (0% do PIB) e anos consecutivos de excedentes para um défice de 0,6% em 2020 e de 0,2% em 2021. Já a média da Zona Euro continuará com um excedente externo superior a 3% do PIB, influenciada pelos elevados excedentes registados na Alemanha e na Holanda. Por outro lado, a economia portuguesa registará deflação em 2020 com os preços a baixarem 0,2% no conjunto do ano. Em 2021, a inflação volta a valores positivos com uma taxa de 1,2%.
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Não há dúvida de que Europa enfrentará uma forte recessão este ano. As previsões económicas da Comissão Europeia apontam para uma contração de 8,3% da UE e de 7,7% da Zona Euro, com Grécia, Espanha e Itália a serem os países mais castigados pela crise provocada pela pandemia. Portugal está entre os que menos caem este ano, mas ficará fora do grupo da frente no que toca à recuperação no próximo ano. Será dos que menos crescerá na Zona Euro.
Prevê-se que Grécia, Espanha e Itália apresentem uma contração superior a 9%, este ano. Itália e Espanha assistirão a uma quebra do PIB de 9,5% e 9,4%, respetivamente, reflexo do impacto da pandemia. São os dois países mais fustigados pela crise sanitária com dezenas de milhares de mortes, obrigando à quase paragem total das economias.
França, um dos gigantes da região, deverá contrair 8,2%, enquanto a Alemanha, o motor da economia europeia, poderá apresentar uma quebra de 6,5%. A contração do PIB germânico será ligeiramente inferior à de 6,8% apontada para Portugal, sendo mesmo uma das menores entre os países da Zona Euro. Mas, dos países que partilham a moeda única, o Luxemburgo será o que menos cairá: 5,4%. E, na UE, é a Polónia que tem o desempenho menos negativo (contrairá 4,3%).
A forte contração que será sentida este ano será seguida duma recuperação. Bruxelas aponta para que o PIB da UE cresça 6,1% em 2021, enquanto a economia da Zona Euro apresentará um crescimento superior, de 6,3%. Se Portugal está entre os que menos cairá este ano, também será dos que menos crescerá em 2021. A Comissão Europeia aponta para que o PIB português avance 5,8% no próximo ano, aquém da previsão para a área do Euro, havendo apenas 4 países com taxas de crescimento inferiores: Luxemburgo, Holanda, Áustria e Finlândia. A Alemanha deverá apresentar um crescimento de 5,9% em 2021, após a contração de 6,5%, enquanto a França será o segundo país do euro que mais crescerá no próximo ano: 7,4%, apenas superada pela Grécia que deverá crescer 7,9%. E a Itália registará um crescimento de 6,5%, bastante aquém de Espanha que, após a recessão, entrará no top 5 na recuperação. O país vizinho prepara-se para ver o PIB escalar 7%.
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Segundo a Comissão Europeia, o desemprego em Portugal subirá para 9,7% em 2020, acima da média europeia, um agravamento de 3,2% face à taxa de 2019, mas com uma queda em 2021 para 7,4%, um patamar melhor do que a média da UE, mas acima do valor pré-pandemia.
A taxa de 9,7% estimada por Bruxelas contrasta com a de 6,1% prevista pelo Governo no Orçamento do Estado para 2020, desenhado quando ainda não se antecipava a atual situação pandémica nem os respetivos efeitos na economia mundial. É, porém, um cenário mais otimista que o do FMI, que anteviu uma taxa de desemprego em Portugal de 13,9% em 2020 no World Economic Outlook, divulgado em meados de abril.
Estes 9,7% posicionam Portugal a par da Lituânia e da Suécia, logo acima da média de 9,6% antecipada por Bruxelas para os países da Zona Euro e pior que os 9% antecipados para o conjunto dos 27 Estados-membros da UE. Porém, é inferior à prevista para algumas das maiores economias europeias, fortemente fustigadas pelo novo coronavírus em março e abril. É o caso de França, país em que é estimada uma taxa de desemprego de 10,1%, superior à portuguesa. Enquanto a Grécia ocupa a posição superior da tabela das maiores taxas de desemprego previstas, de 19,9% em 2020, Espanha ocupa o segundo lugar (18,9%) e Itália preenche o terceiro (11,8%). Segue-se a Croácia (10,2%). E a taxa mais reduzida é prevista para a Alemanha (4%), seguindo-se-lhe a República Checa (5%) e a Áustria (5,8%).
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A Covid-19 espoletou um choque económico ao nível mundial, uma derrocada nos mercados financeiros e a ameaça de atirar o mundo para uma nova recessão mundial. No entanto, a Comissão Europeia prevê uma recuperação transversal do mercado laboral europeu em 2021.
Oxalá que a Comissão Europeia tenha razão. Porém, a UE e a Zona Euro têm de abandonar a timidez e a visão mesquinha da economia, que deve proporcionar o bem-estar de todos, e avançar inequivocamente para uma ação coordenada, inovadora e eficaz.
2020.05.06 – Louro de Carvalho

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