domingo, 11 de março de 2018

O 27.º Congresso do CDS reelegeu Cristas com 89,2% dos votos

A comissão política da líder do CDS-PP, Assunção Cristas, foi eleita no 27.º Congresso com 89,2% dos votos, menos do que no último Congresso, e perdeu 3 lugares no Conselho Nacional. Há dois anos, a direção de Assunção Cristas tinha sido eleita com 95,59% dos votos.
Assim, não é a reeleição que espanta, mas a descida percentual para quem se dizia publicamente melhor que Rui Rio, o novo líder do PSD, tinha o partido preparado para subir à I Divisão e se via já como primeira-ministra.  
A lista da direção ao Conselho Nacional, encabeçada por António Lobo Xavier, obteve 51 dos 70 lugares (72,8%), enquanto a liderada por Filipe Lobo D’ Ávila elegeu 13 conselheiros (18,5%) e a da Tendência Esperança em Movimento (TEM), cujo primeiro nome é Abel Matos Santos, seis (8,5%).
No anterior Congresso, em Gondomar (Porto), havia apenas duas listas concorrentes ao Conselho Nacional: a de Assunção Cristas, que conseguiu 54 lugares (75,48%), e a de Filipe Lobo D’Ávila que alcançou 23,08%, correspondente a 16 lugares, menos 3 do que elegeu neste Congresso.
No 27.º Congresso do CDS-PP, que terminou hoje em Lamego (Viseu), votaram para a Comissão Política Nacional 1.099 delegados, dos quais 989 a favor, correspondentes a 89,26%.
A Mesa do Conselho Nacional, encabeçada por Telmo Correia, foi eleita com 87,68% dos votos e a Mesa do Congresso, presidida por Luís Queiró, com 86,89%.
Há dois anos, as listas da direção conseguiram mais votos para todos os órgãos nacionais: a Mesa do Congresso foi eleita com 94,4% dos votos, a Mesa do Conselho Nacional com 93,56% e o Conselho de Fiscalização com 94,57% dos votos.
Neste Congresso, ao Conselho de Jurisdição concorreram duas listas: a da direção, encabeçada por António Carlos Monteiro, obteve 6 lugares; e a da TEM elegeu um membro, Pedro Melo.
Para o Conselho Nacional de Fiscalização, a lista da direção encabeçada por Alberto Coelho elegeu 6 elementos e a da TEM apenas um, Rui Gonçalves.
Entre a contagem dos votos e a proclamação de resultados decorreu cerca de hora e meia, com os atrasos a deverem-se a pedidos de recontagem.
E o Congresso apresentou uma novidade nos órgãos do CDS-PP: a criação da coordenação autárquica, cujo chefe ou, melhor, o coordenador é o dirigente e deputado João Rebelo.
Também a presidente do CDS-PP fez questão de anunciar que o vice-presidente Nuno Melo será o cabeça de lista do partido nas eleições europeias no próximo ano, a que os democratas-cristãos concorrerão sozinhos. E fê-lo nestes termos:
Queria dizer-vos, em primeira mão, que proporei aos outros órgãos do partido que seja, não apenas o nosso eurodeputado, mas também o nosso cabeça de lista às próximas eleições europeias”.
Assunção Cristas chamou ela própria ao palco Nuno Melo, a quem deu um abraço antes de o eurodeputado começar a sua intervenção. Após Telmo Correia ter elogiado a prestação de Nuno Melo em Bruxelas, Cristas pediu um minuto ao presidente da Mesa do Congresso, Luís Queiró:
Um minuto porque o congressista que se segue é alguém que nos habituou a palavras rigorosas, a espírito combativo, a ser um adversário que impõe muito respeito, a ser uma pessoa de profundíssimas convicções”.
Nas eleições europeias de 2009, Nuno Melo foi o cabeça de lista do CDS-PP, tendo sido eleito deputado ao Parlamento Europeu em 7 de junho desse ano, juntamente com Diogo Feio. E, em 2014, o CDS-PP concorreu às europeias, mas em coligação com o PSD, e Nuno Melo foi em quarto lugar da lista conjunta, tendo sido o único eleito dos democratas-cristãos. No Parlamento Europeu, chefia a delegação portuguesa do CDS-PP pelo grupo do PPE desde 14 de julho de 2009 e é membro efetivo na Comissão das Liberdades Cívicas, Justiça e Assuntos Internos.
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A líder do CDS, no seu primeiro discurso as congressistas, anunciou que o partido levará a votos o Programa de Estabilidade 2018-2022 que o Governo apresentar em abril no Parlamento. Os centristas repetirão assim a postura dos anos passados, obrigando o PCP e o BE a votar ao lado do PS para aprovar esses documentos que se inserem no Semestre Europeu da Comissão Europeia. E Assunção Cristas disse aos militantes que tem sido assim “a oposição firme e acutilante” que prometeu.
O Governo, quando apresenta o documento no Parlamento, não tem obrigatoriamente de o submeter a votação. Desta forma, o CDS quer colar o PCP, os Verdes e o BE – sem os quais o PS não consegue fazer aprovar o Programa de Estabilidade – às exigências europeias, algo que têm criticado. O documento será apresentado em abril, pois a Comissão Europeia tem de o receber nesse mês no âmbito do Semestre Europeu.

Porém, a frase emblemática do discurso de cerca de 35 minutos foi Ninguém nos para”, tendo a líder declarado que “o CDS é a única alternativa” contra o “socialismo que governou anos demais”. Fazendo de António Costa o principal opositor, Assunção deu vários exemplos da sua oposição nos últimos dois anos, referindo que o partido foi “a voz da indignação de muitos portugueses” na altura dos incêndios, “o maior falhanço do Estado” de que a geração de Cristas “tem memória”. Mas referiu também o caso do financiamento dos partidos: “Ficamos sozinhos, mas com os portugueses do nosso lado”. Será?

No início do discurso, prestou contas aos militantes sobre o trabalho feito nos últimos dois anos desde que foi eleita líder do CDS. Falou das várias iniciativas parlamentares, dizendo que joga por antecipação e que esteve “um passo à frente” na apresentação de “propostas concretas” para os problemas do país, fazendo “sempre política positiva, uma oposição construtiva”.
No centro desta estratégia está o estudo das matérias, fator vincado por Cristas, que anunciou que Adolfo Mesquita Nunes, vice-presidente do CDS, irá coordenar o programa eleitoral do partido. Mais salientou que, no grupo “Portugal com Futuro” estarão militantes, mas também independentes, todos com menos de 45 anos. A equipa conta com os independentes Pedro Mexia, assessor de Marcelo Rebelo de Sousa para a cultura, e Nádia Piazza, presidente da Associação de Vítimas do Incêndio de Pedrogão, bem como com o ex-deputado Francisco Mendes da Silva e Mariana França Gouveia, ambos da comissão política. A completar o grupo estará Jorge Teixeira, o mais novo com 24 anos, Graça Canto Moniz e João Moreira Pinto (colaboram no gabinete de estudos do CDS).
Assunção Cristas quer “estar um passo à frente na preparação das legislativas”, pelo que solicitou o empenho dos militantes no contacto com os portugueses de forma a mostrar um CDS aberto à sociedade. Assumindo-se “pragmática” e uma “pessoa de ação”, sem esquecer a matriz ideológica da democracia-cristã, Cristas disse que pretende “chegar a todos”.
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No discurso de encerramento, obviamente que saudou Rui Rio, mas no teor proposicional do partido, ignorou-o (e não ignorou). E, enquanto propalava que “o voto de cada português é mais livre do que nunca”, era anunciada como “a próxima primeira-ministra” pela voz off.
Clamando que “somos a opção dos que rejeitam o socialismo que nos governou em 14 dos últimos 20 anos”, acusou “o socialismo”, que “passou 14 anos a endividar-nos, a comprometer o futuro das novas gerações, a afastar-nos da média europeia” e garantiu empolgada que o CDS é “a esperança dos que desconfiam de um PS encostado às esquerdas radicais”. Reiterando que que ambiciona para Portugal a “liderança do CDS”, disse: “Já provámos que não há impossíveis”. E repetiu: “Não há impossíveis!”.
Para a líder centrista, o CDS é o partido “mais apto a governar Portugal”. Num discurso focado no futuro, sob o mote do congresso “O futuro é aqui”, Assunção Cristas elencou como as três prioridades duma governação centrista a demografia, a coesão territorial território (propondo que o interior tenha um estatuto fiscal de “zona franca regulatória”) e a inovação (“queremos que os nossos jovens sintam que têm Portugal é o melhor país para desenvolver os seus projetos”). Ao contrário de outros partidos que, segundo diz, “nem sequer se apercebem da mudança que aí vem”, garante que o CDS está convicto de que “Portugal pode liderar o novo mundo cheio de oportunidades”. E, na linha de outros congressistas, sublinhou que “a função do Estado não é impedir a mudança, mas fazer com que esta seja aproveitada da melhor forma possível”.
Advertindo que este partido é “a escolha sensata”, porque “o CDS é o partido mais apto a governar o nosso Portugal”. E, sabendo que “Portugal ganha com vozes distintas”, apregoa que “Portugal ganha com a liderança do CDS” e reafirmou: “Queremos ser a primeira escolha!”.
Todavia, introduziu notas de prudência (“sabemos de onde partimos e as dificuldades para lá chegar”). E o que interessa em última instância é que vença o conjunto PSD+CDS com maioria absoluta – daí ter feito questão de dar uma palavra especial a Rui Rio, definindo o PSD como “partido amigo” e com o qual há “convergência de preocupações temáticas”.
Assim, “em 2019, para governar, não é preciso ficar em primeiro lugar, é preciso garantir o apoio de um conjunto de 116 deputados”. O CDS-PP chegará “com mais facilidade a esse número somando deputados depois das eleições”. E enunciou o compromisso:
No que depender de nós, tudo faremos para conquistar uma maioria de 116 deputados para o espaço de centro direita nas próximas eleições. […] Se em 2015 muitos portugueses foram ao engano, porque não tinham qualquer referência para poder antecipar e perceber o que depois aconteceu, agora já ninguém irá ao engano. Hoje o voto útil acabou. Hoje o voto de cada português é mais livre do que nunca.”.
Quanto ao CDS, insistiu que é “a escolha clara” e “inequívoca” de “quem não acredita no PS”, de “quem não se revê nas esquerdas encostadas”. E, considerando que o partido não está a sobrevalorizar expectativas, disse:
      “Quando me perguntam se não estamos a dar um passo maior do que a perna, a resposta é simples: não duvidei nunca dos passos decididos de um partido que sabe onde está, sabe o que quer, sabe para onde vai”.
Referindo-se a dois atos eleitorais que precedem as legislativas de 2019 (em março, as regionais madeirenses e, em junho, as europeias), definiu um objetivo eleitoral mínimo para as europeias: o CDS quer passar de um para dois eurodeputados, no mínimo.
Falando, depois, da necessidade de se operarem “alterações significativas” no sistema de saúde, disse que o CDS apresentará “um modelo que se recria com base na inovação e está assente na promoção da saúde e na prioridade dos cuidados primários, com foco no tratamento efetivo (e não na ‘produção’), na dignidade do tratamento de todos até ao último momento de uma morte natural” – ou seja, “um sistema bem articulado de cuidados hospitalares, cuidados continuados e cuidados paliativos, nomeadamente ao domicílio”.
No seu discurso, passou vagamente pela Segurança Social, falando, sem pormenorizar, na importância de “adaptar as prestações sociais aos novos tempos” e garantiu não deixar “ninguém para trás”, não deixar “ninguém desprotegido”.
O discurso da líder do CDS, como era de esperar, foi muito marcado pela necessidade de falar ao coração dos dirigentes e militantes do CDS , apresentando “um partido de futuro” que tem “a melhor juventude partidária do país”, “a melhor geração de deputados no Parlamento”, “a melhor equipa de elaboração do programa eleitoral” e acima de tudo “a melhor militância, de todas as idades, de norte a sul, do interior ao litoral”. E mostrou uma atenção particular com eleitorado feminino, dizendo que, no seu entender, o problema da desvalorização feminina na participação política ou na direção de empresas e instituições “tem a ver com a compatibilização trabalho/família e o papel dos homens nesta equação”, suscitando aplausos ao fazer “uma nota mais pessoal”, a de que tomou “a decisão de não responder mais a questões sobre como concilio trabalho e família, até ao momento em que essa mesma questão seja colocada aos homens que são pais e têm uma vida profissional e pública ativa”.
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Naturalmente fica bem a um líder puxar pelo entusiasmo do seu partido até ao rubro, incitar os militantes, pondo o Congresso em pé, e abrir as portas das iniciativas partidárias a não militantes. Porém, Cristas deveria, a meu ver, travar um pouco o entusiasmo partidário e dar um pouco o braço ao líder do partido mais próximo ideologicamente. Isto, obviamente, se está mesmo empenhada em estilhaçar a atual geometria parlamentar. Depois, como é que pretende lutar para 116 deputados no Parlamento com outro partido com quem concorre de costas voltadas, a menos que haja um duplo discurso: para dentro do partido e para fora?
De resto, o discurso congressional não hipnotiza ninguém: Rio sorri maliciosamente, dizendo que Cristas fez o seu papel, mas que ele será melhor primeiro-ministro; Ana Catarina Mendes não encontrou novidade nenhuma e considera a falta de propostas um empobrecimento político; Jerónimo de Sousa diz que o CDS, que “bateu com a mão no peito em relação à saúde”, devia “prestar contas” por votar contra fim das taxas moderadoras e acompanhamento de doentes não urgentes; e Miguel Martins encarou este Congresso como “uma grande ação de maquilhagem” da ação governativa entre 2011 e 2015.
Por mim, como a qualquer líder político, associativo ou empresarial, desejo “Bom trabalho e o êxito merecido”.
2018.03.11 – Louro de Carvalho

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