A comissão política da líder do CDS-PP, Assunção Cristas, foi eleita no
27.º Congresso com 89,2% dos votos, menos do que no último Congresso, e perdeu
3 lugares no Conselho Nacional. Há dois
anos, a direção de Assunção Cristas tinha sido eleita com 95,59% dos votos.
Assim, não é a reeleição que espanta, mas a descida percentual para quem
se dizia publicamente melhor que Rui Rio, o novo líder do PSD, tinha o partido
preparado para subir à I Divisão e se via já como primeira-ministra.
A lista da
direção ao Conselho Nacional, encabeçada por António Lobo Xavier, obteve 51 dos
70 lugares (72,8%), enquanto a liderada
por Filipe Lobo D’ Ávila elegeu 13 conselheiros (18,5%) e a da Tendência Esperança em Movimento (TEM), cujo primeiro nome é Abel Matos Santos, seis (8,5%).
No anterior
Congresso, em Gondomar (Porto), havia
apenas duas listas concorrentes ao Conselho Nacional: a de Assunção Cristas,
que conseguiu 54 lugares (75,48%), e a de
Filipe Lobo D’Ávila que alcançou 23,08%, correspondente a 16 lugares, menos 3
do que elegeu neste Congresso.
No 27.º
Congresso do CDS-PP, que terminou hoje em Lamego (Viseu), votaram para a Comissão Política Nacional 1.099
delegados, dos quais 989 a favor, correspondentes a 89,26%.
A Mesa do
Conselho Nacional, encabeçada por Telmo Correia, foi eleita com 87,68% dos
votos e a Mesa do Congresso, presidida por Luís Queiró, com 86,89%.
Há dois
anos, as listas da direção conseguiram mais votos para todos os órgãos
nacionais: a Mesa do Congresso foi eleita com 94,4% dos votos, a Mesa do
Conselho Nacional com 93,56% e o Conselho de Fiscalização com 94,57% dos votos.
Neste
Congresso, ao Conselho de Jurisdição concorreram duas listas: a da direção,
encabeçada por António Carlos Monteiro, obteve 6 lugares; e a da TEM elegeu um
membro, Pedro Melo.
Para o
Conselho Nacional de Fiscalização, a lista da direção encabeçada por Alberto
Coelho elegeu 6 elementos e a da TEM apenas um, Rui Gonçalves.
Entre a
contagem dos votos e a proclamação de resultados decorreu cerca de hora e meia,
com os atrasos a deverem-se a pedidos de recontagem.
E o
Congresso apresentou uma novidade nos órgãos do CDS-PP: a criação da coordenação
autárquica, cujo chefe ou, melhor, o coordenador é o dirigente e deputado João Rebelo.
Também
a presidente do CDS-PP fez questão de anunciar que o vice-presidente Nuno Melo
será o cabeça de lista do partido nas eleições europeias no próximo ano, a que
os democratas-cristãos concorrerão sozinhos. E fê-lo nestes termos:
“Queria
dizer-vos, em primeira mão, que proporei aos outros órgãos do partido que seja,
não apenas o nosso eurodeputado, mas também o nosso cabeça de lista às próximas
eleições europeias”.
Assunção Cristas chamou ela própria ao palco Nuno Melo, a
quem deu um abraço antes de o eurodeputado começar a sua intervenção. Após
Telmo Correia ter elogiado a prestação de Nuno Melo em Bruxelas, Cristas pediu
um minuto ao presidente da Mesa do Congresso, Luís Queiró:
“Um
minuto porque o congressista que se segue é alguém que nos habituou a palavras
rigorosas, a espírito combativo, a ser um adversário que impõe muito respeito,
a ser uma pessoa de profundíssimas convicções”.
Nas eleições europeias de 2009, Nuno Melo foi o cabeça de
lista do CDS-PP, tendo sido eleito deputado ao Parlamento Europeu em 7 de junho
desse ano, juntamente com Diogo Feio. E, em 2014, o CDS-PP concorreu às europeias,
mas em coligação com o PSD, e Nuno Melo foi em quarto lugar da lista conjunta,
tendo sido o único eleito dos democratas-cristãos. No Parlamento Europeu,
chefia a delegação portuguesa do CDS-PP pelo grupo do PPE desde 14 de julho de
2009 e é membro efetivo na Comissão das Liberdades Cívicas, Justiça e Assuntos
Internos.
**
A líder do
CDS, no seu primeiro discurso as congressistas, anunciou que o partido levará a votos
o Programa de Estabilidade 2018-2022 que o Governo apresentar em abril no Parlamento.
Os centristas repetirão assim a postura dos anos passados, obrigando o PCP e o
BE a votar ao lado do PS para aprovar esses documentos que se inserem no
Semestre Europeu da Comissão Europeia. E Assunção Cristas disse aos militantes
que tem sido assim “a oposição firme e acutilante” que prometeu.
O Governo, quando apresenta o documento no
Parlamento, não tem obrigatoriamente de o submeter a votação. Desta forma, o CDS
quer colar o PCP, os Verdes e o BE – sem os quais o PS não consegue fazer
aprovar o Programa de Estabilidade – às exigências europeias, algo que têm
criticado. O documento será apresentado em abril, pois a Comissão Europeia tem
de o receber nesse mês no âmbito do Semestre Europeu.
Porém, a frase emblemática do
discurso de cerca de 35 minutos foi “Ninguém nos para”, tendo a líder declarado que “o CDS é a única alternativa”
contra o “socialismo que governou anos demais”. Fazendo
de António Costa o principal opositor, Assunção deu vários exemplos da sua
oposição nos últimos dois anos, referindo que o partido foi “a voz da indignação de muitos portugueses”
na altura dos incêndios, “o maior
falhanço do Estado” de que a geração de Cristas “tem memória”. Mas referiu
também o caso do financiamento dos partidos: “Ficamos sozinhos, mas com os portugueses do nosso lado”.
Será?
No início do discurso, prestou contas aos militantes sobre o
trabalho feito nos últimos dois anos desde que foi eleita líder do CDS. Falou
das várias iniciativas parlamentares, dizendo que joga por antecipação e que
esteve “um passo à frente” na apresentação de “propostas concretas” para os
problemas do país, fazendo “sempre política positiva, uma oposição
construtiva”.
No centro desta estratégia está o estudo das matérias, fator vincado
por Cristas, que anunciou que Adolfo Mesquita Nunes, vice-presidente do CDS,
irá coordenar o programa eleitoral do partido. Mais salientou
que, no grupo “Portugal com Futuro” estarão militantes, mas também independentes,
todos com menos de 45 anos. A equipa conta com os independentes Pedro Mexia,
assessor de Marcelo Rebelo de Sousa para a cultura, e Nádia Piazza,
presidente da Associação de Vítimas do Incêndio de Pedrogão, bem como com o
ex-deputado Francisco Mendes da Silva e
Mariana França Gouveia, ambos da comissão política. A completar o grupo estará
Jorge Teixeira, o mais novo com 24 anos, Graça Canto Moniz e João Moreira Pinto
(colaboram
no gabinete de estudos do CDS).
Assunção Cristas quer “estar
um passo à frente na preparação das legislativas”, pelo que solicitou o empenho
dos militantes no contacto com os portugueses de forma a mostrar um CDS aberto
à sociedade. Assumindo-se “pragmática” e uma “pessoa de ação”, sem esquecer a
matriz ideológica da democracia-cristã, Cristas disse que pretende “chegar a
todos”.
***
No discurso de encerramento, obviamente
que saudou Rui Rio, mas no teor proposicional do partido, ignorou-o (e não
ignorou). E, enquanto propalava que “o voto
de cada português é mais livre do que nunca”, era anunciada como “a próxima
primeira-ministra” pela voz off.
Clamando
que “somos a opção dos que rejeitam o socialismo que nos governou em 14 dos últimos
20 anos”, acusou “o socialismo”, que “passou 14 anos a endividar-nos, a
comprometer o futuro das novas gerações, a afastar-nos da média europeia” e
garantiu empolgada que o CDS é “a
esperança dos que desconfiam de um PS encostado às esquerdas radicais”. Reiterando
que que ambiciona para Portugal a “liderança do CDS”, disse: “Já provámos que não há impossíveis”. E repetiu:
“Não há impossíveis!”.
Para a líder centrista, o CDS é o partido “mais
apto a governar Portugal”. Num discurso focado no futuro, sob o
mote do congresso “O futuro é aqui”,
Assunção Cristas elencou como as três prioridades duma governação centrista a
demografia, a coesão territorial território (propondo que o interior tenha um estatuto fiscal de “zona
franca regulatória”) e a
inovação (“queremos que
os nossos jovens sintam que têm Portugal é o melhor país para desenvolver os
seus projetos”). Ao contrário de outros partidos
que, segundo diz, “nem sequer se apercebem da mudança que aí vem”,
garante que o CDS está convicto de que “Portugal pode liderar o novo mundo
cheio de oportunidades”. E, na linha de outros congressistas, sublinhou que “a
função do Estado não é impedir a mudança, mas fazer com que esta seja
aproveitada da melhor forma possível”.
Advertindo
que este partido é “a escolha sensata”, porque “o CDS é o partido mais apto a
governar o nosso Portugal”. E, sabendo que “Portugal ganha com vozes distintas”,
apregoa que “Portugal ganha com a liderança do CDS” e reafirmou: “Queremos ser a primeira escolha!”.
Todavia, introduziu notas de
prudência (“sabemos de
onde partimos e as dificuldades para lá chegar”). E o que interessa em última instância é que vença o
conjunto PSD+CDS com maioria absoluta – daí ter feito questão de dar uma
palavra especial a Rui Rio, definindo o PSD como “partido amigo” e com o qual
há “convergência de preocupações temáticas”.
Assim, “em 2019, para governar, não é
preciso ficar em primeiro lugar, é preciso garantir o apoio de um conjunto de
116 deputados”. O CDS-PP chegará “com mais facilidade a esse número somando deputados
depois das eleições”. E enunciou o compromisso:
“No que depender de nós, tudo faremos para conquistar uma maioria de 116
deputados para o espaço de centro direita nas próximas eleições. […] Se em 2015
muitos portugueses foram ao engano, porque não tinham qualquer referência para
poder antecipar e perceber o que depois aconteceu, agora já ninguém irá ao
engano. Hoje o voto útil acabou. Hoje o voto de cada português é mais livre do
que nunca.”.
Quanto
ao CDS, insistiu que é “a escolha clara” e “inequívoca” de “quem não acredita
no PS”, de “quem não se revê nas esquerdas encostadas”. E, considerando que o
partido não está a sobrevalorizar expectativas, disse:
“Quando me perguntam se não estamos a dar um passo maior do que a perna,
a resposta é simples: não duvidei nunca dos passos decididos de um partido que
sabe onde está, sabe o que quer, sabe para onde vai”.
Referindo-se a dois atos eleitorais que
precedem as legislativas de 2019 (em março, as regionais madeirenses e, em junho, as europeias), definiu um objetivo eleitoral
mínimo para as europeias: o CDS quer passar de um para dois eurodeputados, no
mínimo.
Falando, depois, da necessidade de se
operarem “alterações significativas” no sistema de saúde, disse que o CDS
apresentará “um modelo que se recria com base na inovação e está assente na
promoção da saúde e na prioridade dos cuidados primários, com foco no
tratamento efetivo (e não
na ‘produção’), na
dignidade do tratamento de todos até ao último momento de uma morte natural” –
ou seja, “um sistema bem articulado de cuidados hospitalares, cuidados
continuados e cuidados paliativos, nomeadamente ao domicílio”.
No seu
discurso, passou vagamente pela Segurança Social, falando, sem pormenorizar, na
importância de “adaptar as prestações sociais aos novos tempos” e garantiu não
deixar “ninguém para trás”, não deixar “ninguém desprotegido”.
O
discurso da líder do CDS, como era de esperar, foi muito marcado pela
necessidade de falar ao coração dos dirigentes e militantes do CDS , apresentando “um partido de
futuro” que tem “a melhor juventude partidária do país”, “a melhor geração de
deputados no Parlamento”, “a melhor equipa de elaboração do programa eleitoral”
e acima de tudo “a melhor militância, de todas as idades, de norte a sul, do
interior ao litoral”. E mostrou uma atenção particular com eleitorado
feminino, dizendo que, no seu entender, o problema da desvalorização feminina
na participação política ou na direção de empresas e instituições “tem a ver com a compatibilização
trabalho/família e o papel dos homens nesta equação”, suscitando aplausos
ao fazer “uma nota mais pessoal”, a de que tomou “a decisão de não responder
mais a questões sobre como concilio trabalho e família, até ao momento em que
essa mesma questão seja colocada aos homens que são pais e têm uma vida
profissional e pública ativa”.
***
Naturalmente
fica bem a um líder puxar pelo entusiasmo do seu partido até ao rubro, incitar
os militantes, pondo o Congresso em pé, e abrir as portas das iniciativas
partidárias a não militantes. Porém, Cristas deveria, a meu ver, travar um
pouco o entusiasmo partidário e dar um pouco o braço ao líder do partido mais próximo
ideologicamente. Isto, obviamente, se está mesmo empenhada em estilhaçar a
atual geometria parlamentar. Depois, como é que pretende lutar para 116 deputados
no Parlamento com outro partido com quem concorre de costas voltadas, a menos
que haja um duplo discurso: para dentro do partido e para fora?
De resto,
o discurso congressional não hipnotiza ninguém: Rio sorri maliciosamente, dizendo
que Cristas fez o seu papel, mas que ele será melhor primeiro-ministro; Ana
Catarina Mendes não encontrou novidade nenhuma e considera a falta de propostas
um empobrecimento político; Jerónimo de Sousa
diz que o CDS, que “bateu com a mão no peito em relação à saúde”, devia
“prestar contas” por votar contra fim das taxas moderadoras e acompanhamento de
doentes não urgentes; e Miguel Martins
encarou este Congresso como “uma grande ação de maquilhagem” da ação
governativa entre 2011 e 2015.
Por mim, como a qualquer líder político, associativo ou
empresarial, desejo “Bom trabalho e o êxito merecido”.
2018.03.11 – Louro de
Carvalho
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