sábado, 17 de março de 2018

Oração, pequenez e sabedoria


É o trinómio virtuoso que o Papa Francisco destacou na sua visita pastoral a San Giovanni Rotondo, em Pietrelcina, onde rezou diante do corpo de Padre Pio e celebrou a missa na manhã do dia 17 de março, enaltecendo as virtudes deste grande santo propostas à contemplação dos fiéis com vista à imitação.
O Papa foi recebido na Piana Romana, em Pietrelcina, por Dom Felice Accrocca, Arcebispo de Benevento e Domenico Masone, Prefeito de Pietrelcina, fez uma breve paragem para oração na Capela São Francisco ante o Olmo dos Estigmas e, na Praça, diante da Aula Litúrgica, teve um encontro com os fiéis perante quem pronunciou um discurso de que, mais adiante, se fará súmula rudimentar, tendo, a seguir, saudado a Comunidade dos Capuchinhos e uma pequena representação de fiéis.
Depois, Francisco foi recebido no Campo Desportivo de San Giovanni Rotondo por Dom Michele Castoro, Arcebispo de Manfredonia-Vieste-San Giovanni Rotondo e Costanzo Cascavilla, Prefeito de San Giovanni Rotondo, após o que se deslocou ao Hospital “Casa sollievo della Sofferenza”. Diante do Hospital, saudou e abençoou os fiéis e os doentes. Na visita ao Setor de Oncologia Pediátrica, foi recebido pelo Dr. Domenico Crupi, Diretor-Geral do Hospital e encontrou-se com as crianças ali internadas.

No final desta visita, o Papa dirigiu-se ao Santuário de Santa Maria das Graças, onde foi recebido pelos Padres Maurizio Placentino, Ministro Provincial dos Capuchinhos, Carlo Laborde, Responsável, e Francesco Dileo, Reitor. No Santuário, saudou a Comunidade dos Capuchinhos e venerou o corpo de São Pio de Pietrelcina e o Crucifixo dos Estigmas.
Na Praça da Igreja de São Pio de Pietrelcina, presidiu à Concelebração Eucarística, tendo proferido a homilia de que, mais adiante, se registam algumas referências.
No final da Santa Missa foi saudado por Dom Michele Castoro, Arcebispo de Manfredonia-Vieste-San Giovanni Rotondo e recebeu algumas Autoridades e uma representação de fiéis.
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Em frente ao Santuário de Nossa Senhora das Graças, onde se encontra o corpo de São Pio, na homilia da celebração eucarística a que presidiu, o Santo Padre chamou a atenção dos participantes na assembleia litúrgica para três palavras importantes que traduzem vertentes de espiritualidade vividas pelo santo e aconselhadas também a nós: oração, pequenez e sabedoria.
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No atinente à oração, o Pontífice, tendo em conta a passagem do Evangelho tomado para aquela liturgia, apontou o exemplo supremo de Jesus que reza. E do seu coração fluem com a naturalidade e singeleza filiais as palavras: “Eu te louvo, Pai, Senhor dos céus e da terra, porque escondeste estas coisas aos sábios e aos entendidos e as revelaste aos pequeninos” (Mt 11,25). Para Jesus, a oração surgia espontaneamente e não era propriamente opcional; e, para garantir maior intimidade oracional com o Pai, costumava retirar-se para lugares desertos para rezar (cf Mc 1,35).
O diálogo com o Pai estava acima de tudo e vinha em primeiro lugar. Tanto assim era que os discípulos, por curiosidade ou por descoberta da importância da oração, um dia lhe pediram: “Senhor, ensina-nos a orar, como João também ensinou os seus discípulos” (Lc 11,1). Por isso, o Papa adverte: Se quisermos imitar Jesus, também devemos começar por onde Ele começou, isto é, pela oração”. E interroga-se se nós como cristãos rezamos o suficiente, observando que, no dia a dia, sempre nos momentos de oração vêm à mente tantas desculpas e muitas coisas urgentes para fazer e que obstam à oração ou a dificultam. E, na evocação que faz do Padre Pio, diz que, após 50 anos desde a sua entrada no céu, ele nos ajuda deixando como herança o incitamento à oração: Rezai muito meus filhos, rezai sempre, sem nunca vos cansardes”.
Francisco sublinha que Jesus é quem nos mostra como se deve rezar. Seguindo o seu exemplo, não se deve começar com súplicas ou pedidos, mas louvando a Deus. Jesus não diz: “Eu preciso disso ou daquilo”, mas “Eu te louvo, ó Pai”.
Por isso, o Santo Padre questiona-nos “quantas vezes esquecemos a adoração e o louvor”. E, porque “não se conhece o Pai sem se abrir ao louvor, sem dedicar tempo somente a Ele, sem adorar”, aponta a necessidade de cada um se perguntar a si mesmo: “Como é que eu adoro? Quanto eu O adoro? Quando O adoro?”.
O Pontífice lembra-nos que “a oração é um contacto pessoal, ‘face a face’, um momento de silêncio diante do Senhor”, e sustenta que “este é o segredo para entrar sempre em comunhão com Ele”. De facto, “a oração amadurece no louvor e na adoração” e pergunta-nos “se as nossas orações são iguais à de Jesus ou se se reduzem a chamadas de emergência”.
A oração, segundo o Papa, deve ter um peso indispensável nas obras de misericórdia espirituais, pois, é de nos autointerpelarmos “se nós não confiamos os nossos irmãos, as situações ao Senhor, quem o fará”. “Quem intercederá, quem tocará e incomodará o coração de Deus para abrir a porta da misericórdia à humanidade carente? – interroga-nos Francisco. E lança com razão a hipótese de ter sido por isso que o Padre Pio nos deixou os grupos de oração. E o Papa termina este item da oração com as seguintes perguntas: “Eu rezo? E quando rezo, sei louvar, sei adorar, sei conduzir a vida a Deus?”.
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A pequenez foi a segunda palavra destacada pelo Santo Padre na homilia em Nossa Senhora das Graças, recordando-nos que os mistérios do Reino foram revelados aos pequeninos. E, a propósito, pergunta-nos: Quem são esses pequeninos, que souberam acolher os segredos de Deus?”. E responde:
“São aqueles que não pensam ser autossuficientes. São aqueles que possuem o coração humilde, aberto, pobre e necessitado. Que sentem a necessidade de orar, confiar-se e deixar-se acompanhar. O coração desses pequeninos é como uma antena, que capta o sinal de Deus. Porque Deus busca o contacto com eles.”.
Para o Pontífice, “um exemplo deste mistério de pequenez e humildade é a hóstia em cada missa”, que se faz “um mistério de amor e de humildade”, que “só pode ser entendido por ser pequeno e estando com os pequeninos”.
Falando do hospital “Casa Alívio do Sofrimento”, o Padre Pio designava-o por “templo santo, de templo de oração e de ciência”, pois, ali, “todos são chamados a ser uma reserva de amor para os outros”. Neste contexto, o Papa Francisco recordou que, “no enfermo, se encontra Jesus”; e que, “no cuidado amoroso daqueles que se dobram sobre as feridas do próximo, está o caminho para O encontrar”. E, falando das crianças e de quem delas cuida, ensina:
Quem cuida das crianças está do lado de Deus e vence a cultura do descarte, que, pelo contrário, prefere os poderosos e considera inúteis os pobres. Os que preferem os pequenos proclamam a profecia da vida contra os profetas da morte de todos os tempos, que, ainda hoje, descartam as pessoas, descartam as crianças e os idosos porque não servem.”.
E, recordando um facto de quando era criança e na escola ensinavam a história dos espartanos, diz-nos que ficou impressionado com o que a professora dizia, que, “quando uma criança com malformação nascia, levavam-na para o topo da montanha e jogavam-na dali abaixo, para que desaparecessem esses pequeninos”. E frisa que as crianças que a ouviam diziam: “Mas quanta crueldade!”. No entanto, realça que nós hoje “fazemos o mesmo, porém com mais crueldade e com mais ciência”. Com efeito, “aquele que não serve, o que não produz deve ser deixado”: “Esta é a cultura do descarte, os pequeninos não são queridos”. E conclui: “por isso, Jesus também é deixado de lado”.
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No concernente à sabedoria, a última palavra mencionada pelo Papa na homilia, diz-nos que “a verdadeira sabedoria não está no ter muitos dons e a verdadeira força não está na potência”. De facto, “não é sábio quem se mostra forte e não é forte quem responde mal com o mal”.
Assim, “a única arma sábia e invencível é a caridade animada pela fé, porque tem o poder de desarmar as forças do mal”. E Francisco salienta que “São Pio lutou contra o mal ao longo de sua vida e lutou com sabedoria, como o Senhor: com humildade, com obediência, com a cruz, oferecendo a dor por amor: “Todos se admiram, mas poucos fazem o mesmo. Muitos falam bem, mas quantos o imitam?
Por conseguinte, o Papa desafia: “Muitos estão dispostos a colocar um ‘like’ na página da internet dos grandes santos, mas quem faz como eles?”. E justifica: “Porque a vida cristã não é um ‘like’, mas um dom”. Assim, “a vida perfuma quando é oferecida como presente; torna-se insípida quando é mantida para si mesma”.
E recorda que “São Pio ofereceu a vida e inúmeros sofrimentos para encontrar o Senhor nos irmãos e assumindo que “o meio decisivo para encontrá-lo era a confissão, o sacramento da reconciliação”, pois “ali começa e recomeça uma vida sábia, amada e perdoada, ali inicia a cura do coração”. E conclui dizendo:
Padre Pio foi um apóstolo da confissão. E também hoje nos convida e nos diz: Aonde vais? Vai a Jesus ou ao encontro das tuas tristezas? Para onde retornarás? Para aquele que salva ou nos teus abatimentos, nos teus arrependimentos, nos teus pecados? Vens, o Senhor te espera. Coragem, não tem nenhum motivo assim grave que te exclua da sua misericórdia.”.
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Em Pietrelcina, o Papa considerou o Padre Pio como filho do amor materno da Igreja.
Na sua alocução aos fiéis de Piana Romana, em Pietrelcina, o Pontífice exprimiu a sua alegria de poder visitar o lugar onde Francisco Forgione – hoje São Padre Pio – nasceu e iniciou sua longa e fecunda ação humana e espiritual. Ao cumprimentar os seus concidadãos, disse:
Nesta comunidade, ele fortaleceu a sua humanidade, aprendeu a rezar e a reconhecer nos pobres o rosto do Senhor, que o levou abraçar a sequela de Cristo. Assim, pediu para fazer parte da comunidade dos Frades Menores Capuchinhos, onde se tornou Frei Pio de Pietrelcina. Ali, começou a experimentar a maternidade da Igreja, da qual foi sempre um filho devoto; meditou com intensidade o mistério de Deus.”.
Padre Pio permaneceu por motivo de saúde na sua cidade natal. Naquele tempo, não havia antibióticos e as doenças curavam-se em casa, no quadro familiar. Mas não foi um período fácil, ao invés, passou por todo tipo de tribulação e tentação. O demónio existe; ele nos atormenta e nos engana. Porém, aquelas terríveis provações tornaram-se linfa vital para uma oração contínua e uma crescente confiança no Senhor, por quem se sentia interiormente atraído. Este foi o centro da sua teologia. E Francisco acrescentou:
Desta forma, o Padre Pio imergiu-se na oração para aderir sempre mais aos desígnios divinos. Por meio da celebração da Santa Missa, - que era o coração do seu dia e a plenitude da sua espiritualidade, - atingiu um elevado nível de união com Deus, do qual recebeu dons místicos especiais, que precederam os sinais da Paixão de Cristo em sua carne.”.
Depois, o Santo Padre elogiou a população de Pietrelcina por haver dado à Igreja uma das figuras mais belas e luminosas da sua comunidade. O humilde frade capuchinho surpreendeu o mundo com a vida, toda dedicada à oração e à escuta paciente dos irmãos, sobre cujos sofrimentos derramou o bálsamo da caridade de Cristo. E exortou:
Ao imitar o seu heroico exemplo e as suas virtudes, vós  também podeis ser instrumentos do amor de Jesus entre os mais necessitados. Ponderando a vossa fidelidade à Igreja, podeis dar testemunho de comunhão, união e paz, que edificam e constroem.”.
Com efeito, segundo o Papa, a cidade onde diariamente se briga não cresce, não se constrói, mas espanta as pessoas; é cidade doente e triste. Ao invés, a cidade onde se busca a paz, todos se querem bem e não desejam mal a ninguém, cresce, aumenta e torna-se forte. Por isso, Francisco exortou à não perda de tempo e forças com briguinhas, porque isso não faz crescer, progredir. E quem tiver vontade de brigar, – insistiu – deve “morder a língua”, que doerá, mas fará bem à alma e à cidade. Por isso, recomendou: “Procurai dar testemunho de paz e comunhão entre vós”.
Por fim, o Pontífice fez votos de que os habitantes de Pietrelcina tenham a coragem de extrair uma nova linfa dos ensinamentos do Padre Pio, sobretudo neste momento de crise geral. Que nunca lhes falte a atenção e a ternura com os jovens e idosos desta comunidade. Na verdade, como vincou, a população envelhece e muitos jovens são obrigados a ir para outros lugares em busca de trabalho, sendo a migração dos jovens um problema. Porém, a população envelhecida é um tesouro. Por isso, deseja que haja diálogo entre os idosos e os jovens. Os idosos, – insistiu o Papa – são um tesouro e não devem ser excluídos da sociedade, pois representam a sabedoria; são os protagonistas e o património das nossas comunidades. “Gostaria – afirmou – que por uma vez fosse dado o Prémio Nobel aos idosos, que são a memória da humanidade”. E exortou a que se peça a Nossa Senhora para que os jovens encontrem trabalho perto de suas famílias.
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E despediu-se dos fiéis de Pietrelcina, animando-os a guardar, como um tesouro precioso, o testemunho cristão e sacerdotal de São Pio (sentiu na carne os estigmas da Paixão de Cristo, aliás como São Paulo e São Francisco de Assis), que contribui para viver a plenitude da vida, na paz e na unidade da comunidade.
2018.03.17 – Louro de Carvalho


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