É o trinómio virtuoso que o Papa Francisco
destacou na sua visita
pastoral a San Giovanni Rotondo, em Pietrelcina, onde rezou diante do corpo de Padre Pio e
celebrou a missa na manhã do dia 17 de março, enaltecendo as virtudes deste
grande santo propostas à contemplação dos fiéis com vista à imitação.
O Papa foi recebido na Piana Romana, em Pietrelcina, por Dom Felice Accrocca, Arcebispo de Benevento
e Domenico Masone, Prefeito de Pietrelcina, fez uma breve paragem para oração na
Capela São Francisco ante o Olmo dos Estigmas e, na Praça, diante da Aula
Litúrgica, teve um encontro com os fiéis perante quem pronunciou um discurso de
que, mais adiante, se fará súmula rudimentar, tendo, a seguir, saudado a
Comunidade dos Capuchinhos e uma pequena representação de fiéis.
Depois, Francisco foi recebido no Campo Desportivo de San Giovanni
Rotondo por Dom Michele Castoro, Arcebispo de Manfredonia-Vieste-San Giovanni Rotondo e Costanzo Cascavilla, Prefeito de San Giovanni Rotondo, após o que se deslocou
ao Hospital “Casa sollievo
della Sofferenza”. Diante do Hospital, saudou e abençoou os fiéis e os
doentes. Na visita ao Setor de Oncologia Pediátrica, foi recebido pelo Dr.
Domenico Crupi, Diretor-Geral do Hospital e encontrou-se com as crianças ali internadas.
No final desta visita, o Papa dirigiu-se ao Santuário de Santa Maria das
Graças, onde foi recebido pelos Padres Maurizio Placentino, Ministro Provincial
dos Capuchinhos, Carlo Laborde, Responsável, e Francesco Dileo, Reitor. No Santuário,
saudou a Comunidade dos Capuchinhos e venerou o corpo de São Pio de Pietrelcina
e o Crucifixo dos Estigmas.
Na Praça da Igreja de São Pio de Pietrelcina, presidiu à Concelebração Eucarística,
tendo proferido a homilia de que, mais adiante, se registam algumas referências.
No final da Santa Missa foi saudado por Dom Michele Castoro, Arcebispo de
Manfredonia-Vieste-San Giovanni Rotondo e recebeu algumas Autoridades e uma
representação de fiéis.
***
Em frente ao
Santuário de Nossa Senhora das Graças, onde se encontra o corpo de São Pio, na
homilia da celebração eucarística a que presidiu, o Santo Padre chamou a atenção
dos participantes na assembleia litúrgica para três palavras importantes que
traduzem vertentes de espiritualidade vividas pelo santo e aconselhadas também
a nós: oração, pequenez e sabedoria.
***
No atinente à oração, o
Pontífice, tendo em conta a passagem do Evangelho tomado para aquela liturgia,
apontou o exemplo supremo de Jesus que reza. E do seu coração fluem com a
naturalidade e singeleza filiais as palavras: “Eu te louvo, Pai, Senhor dos céus
e da terra, porque
escondeste estas coisas aos sábios e aos entendidos e as revelaste aos
pequeninos” (Mt 11,25). Para Jesus, a oração surgia espontaneamente e não
era propriamente opcional; e, para garantir maior intimidade oracional com o
Pai, costumava retirar-se para lugares desertos para rezar (cf Mc 1,35).
O diálogo
com o Pai estava acima de tudo e vinha em primeiro lugar. Tanto assim era que
os discípulos, por curiosidade ou por descoberta da importância da oração, um
dia lhe pediram: “Senhor, ensina-nos a
orar, como João também
ensinou os seus discípulos” (Lc 11,1). Por isso, o Papa adverte: “Se quisermos imitar Jesus, também devemos começar por onde Ele
começou, isto é, pela oração”. E interroga-se se nós como cristãos
rezamos o suficiente, observando que, no dia a dia, sempre nos momentos de
oração vêm à mente tantas desculpas e muitas coisas urgentes para fazer e que
obstam à oração ou a dificultam. E, na evocação que faz do Padre Pio, diz que,
após 50 anos desde a sua entrada no céu, ele nos ajuda deixando como herança o
incitamento à oração: “Rezai muito
meus filhos, rezai sempre, sem nunca vos cansardes”.
Francisco
sublinha que Jesus é quem nos mostra como se deve rezar. Seguindo o seu
exemplo, não se deve começar com súplicas ou pedidos, mas louvando a Deus.
Jesus não diz: “Eu preciso disso ou daquilo”,
mas “Eu te louvo, ó Pai”.
Por isso, o
Santo Padre questiona-nos “quantas vezes esquecemos a adoração e o louvor”. E,
porque “não se conhece o Pai sem se abrir ao louvor, sem dedicar tempo somente
a Ele, sem adorar”, aponta a necessidade de cada um se perguntar a si mesmo: “Como é que eu adoro? Quanto eu O adoro?
Quando O adoro?”.
O Pontífice lembra-nos
que “a oração é um contacto pessoal, ‘face a face’, um momento de silêncio
diante do Senhor”, e sustenta que “este é o segredo para entrar sempre em comunhão
com Ele”. De facto, “a oração amadurece no louvor e na adoração” e pergunta-nos
“se as nossas orações são iguais à de Jesus ou se se reduzem a chamadas de
emergência”.
A oração,
segundo o Papa, deve ter um peso indispensável nas obras de misericórdia
espirituais, pois, é de nos autointerpelarmos “se nós não confiamos os nossos irmãos, as situações ao Senhor, quem o
fará”. “Quem intercederá, quem tocará e incomodará o coração de Deus para
abrir a porta da misericórdia à humanidade carente? – interroga-nos Francisco.
E lança com razão a hipótese de ter sido por isso que o Padre Pio nos deixou os
grupos de oração. E o Papa termina este item da oração com as seguintes
perguntas: “Eu rezo? E quando rezo, sei
louvar, sei adorar, sei conduzir a vida a Deus?”.
***
A pequenez foi a segunda
palavra destacada pelo Santo Padre
na homilia em Nossa Senhora das Graças, recordando-nos que os mistérios do
Reino foram revelados aos pequeninos. E, a propósito, pergunta-nos: “Quem são esses pequeninos, que souberam
acolher os segredos de Deus?”. E responde:
“São aqueles
que não pensam ser autossuficientes. São aqueles que possuem o coração humilde,
aberto, pobre e necessitado. Que sentem a necessidade de orar, confiar-se e
deixar-se acompanhar. O coração desses pequeninos é como uma antena, que capta
o sinal de Deus. Porque Deus busca o contacto com eles.”.
Para o
Pontífice, “um exemplo deste mistério de pequenez e humildade é a hóstia em
cada missa”, que se faz “um mistério de amor e de humildade”, que “só pode ser
entendido por ser pequeno e estando com os pequeninos”.
Falando do
hospital “Casa Alívio do Sofrimento”,
o Padre Pio designava-o por “templo santo, de templo de oração e de ciência”,
pois, ali, “todos são chamados a ser uma reserva de amor para os outros”. Neste
contexto, o Papa Francisco recordou que, “no enfermo, se encontra Jesus”; e que,
“no cuidado amoroso daqueles que se dobram sobre as feridas do próximo, está o
caminho para O encontrar”. E, falando das crianças e de quem delas cuida,
ensina:
“Quem cuida das crianças está do lado de Deus e vence a cultura do
descarte, que, pelo contrário, prefere os poderosos e considera inúteis os
pobres. Os que preferem os pequenos proclamam a profecia da vida contra os
profetas da morte de todos os tempos, que, ainda hoje, descartam as pessoas,
descartam as crianças e os idosos porque não servem.”.
E,
recordando um facto de quando era criança e na escola ensinavam a história dos
espartanos, diz-nos que ficou impressionado com o que a professora dizia, que,
“quando uma criança com malformação nascia, levavam-na para o topo da montanha
e jogavam-na dali abaixo, para que desaparecessem esses pequeninos”. E frisa
que as crianças que a ouviam diziam: “Mas
quanta crueldade!”. No entanto, realça que nós hoje “fazemos o mesmo, porém
com mais crueldade e com mais ciência”. Com efeito, “aquele que não serve, o
que não produz deve ser deixado”: “Esta é
a cultura do descarte, os pequeninos não são queridos”. E conclui: “por isso, Jesus também é deixado de lado”.
***
No concernente à sabedoria, a última palavra mencionada pelo Papa na homilia, diz-nos
que “a verdadeira sabedoria não está no ter muitos dons e a verdadeira força
não está na potência”. De facto, “não é sábio quem se mostra forte e não é
forte quem responde mal com o mal”.
Assim, “a
única arma sábia e invencível é a caridade animada pela fé, porque tem o poder
de desarmar as forças do mal”. E Francisco salienta que “São Pio lutou contra o
mal ao longo de sua vida e lutou com sabedoria, como o Senhor: com humildade,
com obediência, com a cruz, oferecendo a dor por amor: “Todos se admiram,
mas poucos fazem o mesmo. Muitos falam bem, mas quantos o imitam?”
Por
conseguinte, o Papa desafia: “Muitos
estão dispostos a colocar um ‘like’ na página da internet dos grandes santos,
mas quem faz como eles?”. E justifica: “Porque a vida cristã não é um
‘like’, mas um dom”. Assim, “a vida perfuma quando é oferecida como
presente; torna-se insípida quando é mantida para si mesma”.
E recorda
que “São Pio ofereceu a vida e inúmeros sofrimentos para encontrar o Senhor nos
irmãos e assumindo que “o meio decisivo para encontrá-lo era a confissão, o
sacramento da reconciliação”, pois “ali começa e recomeça uma vida sábia, amada
e perdoada, ali inicia a cura do coração”. E conclui dizendo:
“Padre Pio foi um apóstolo da confissão. E também hoje nos convida e nos
diz: Aonde vais? Vai a Jesus ou ao encontro das tuas tristezas? Para onde
retornarás? Para aquele que salva ou nos teus abatimentos, nos teus
arrependimentos, nos teus pecados? Vens, o Senhor te espera. Coragem, não tem
nenhum motivo assim grave que te exclua da sua misericórdia.”.
***
Em Pietrelcina,
o Papa considerou o Padre
Pio como filho do amor materno da Igreja.
Na sua
alocução aos fiéis de Piana Romana, em
Pietrelcina, o Pontífice
exprimiu a sua alegria de poder visitar o lugar onde Francisco Forgione – hoje
São Padre Pio – nasceu e iniciou sua longa e fecunda ação humana e espiritual.
Ao cumprimentar os seus concidadãos, disse:
“Nesta comunidade, ele
fortaleceu a sua humanidade, aprendeu a rezar e a reconhecer nos pobres o rosto
do Senhor, que o levou abraçar a sequela de Cristo. Assim, pediu para fazer
parte da comunidade dos Frades Menores Capuchinhos, onde se tornou Frei Pio de
Pietrelcina. Ali, começou a experimentar a maternidade da Igreja, da qual foi
sempre um filho devoto; meditou com intensidade o mistério de Deus.”.
Padre Pio
permaneceu por motivo de saúde na sua cidade natal. Naquele tempo, não havia
antibióticos e as doenças curavam-se em casa, no quadro familiar. Mas não foi
um período fácil, ao invés, passou por todo tipo de tribulação e tentação. O
demónio existe; ele nos atormenta e nos engana. Porém, aquelas terríveis
provações tornaram-se linfa vital para uma oração contínua e uma crescente
confiança no Senhor, por quem se sentia interiormente atraído. Este foi o
centro da sua teologia. E Francisco acrescentou:
“Desta forma, o Padre Pio
imergiu-se na oração para aderir sempre mais aos desígnios divinos. Por meio da
celebração da Santa Missa, - que era o coração do seu dia e a plenitude da sua
espiritualidade, - atingiu um elevado nível de união com Deus, do qual recebeu
dons místicos especiais, que precederam os sinais da Paixão de Cristo em sua
carne.”.
Depois, o
Santo Padre elogiou a população de Pietrelcina por haver dado à Igreja uma das
figuras mais belas e luminosas da sua comunidade. O humilde frade capuchinho
surpreendeu o mundo com a vida, toda dedicada à oração e à escuta paciente dos
irmãos, sobre cujos sofrimentos derramou o bálsamo da caridade de Cristo. E
exortou:
“Ao imitar o seu heroico exemplo
e as suas virtudes, vós também podeis ser instrumentos do amor de Jesus
entre os mais necessitados. Ponderando a vossa fidelidade à Igreja, podeis dar
testemunho de comunhão, união e paz, que edificam e constroem.”.
Com efeito,
segundo o Papa, a cidade onde diariamente se briga não cresce, não se constrói,
mas espanta as pessoas; é cidade doente e triste. Ao invés, a cidade onde se busca a paz, todos se querem
bem e não desejam mal a ninguém, cresce, aumenta e torna-se forte. Por
isso, Francisco exortou à não perda de tempo e forças com briguinhas, porque
isso não faz crescer, progredir. E quem tiver vontade de brigar, – insistiu – deve
“morder a língua”, que doerá, mas fará bem à alma e à cidade. Por isso, recomendou:
“Procurai dar testemunho de paz e comunhão entre vós”.
Por fim, o
Pontífice fez votos de que os habitantes de Pietrelcina tenham a coragem de
extrair uma nova linfa dos ensinamentos do Padre Pio, sobretudo neste momento
de crise geral. Que nunca lhes falte a atenção e a ternura com os jovens e
idosos desta comunidade. Na verdade, como vincou, a população envelhece e
muitos jovens são obrigados a ir para outros lugares em busca de trabalho,
sendo a migração dos jovens um problema. Porém, a população envelhecida é um
tesouro. Por isso, deseja que haja diálogo entre os idosos e os jovens. Os
idosos, – insistiu o Papa – são um tesouro e não devem ser excluídos da
sociedade, pois representam a sabedoria; são os protagonistas e o património
das nossas comunidades. “Gostaria – afirmou – que por uma vez fosse dado o Prémio
Nobel aos idosos, que são a memória da humanidade”. E exortou a que se peça a
Nossa Senhora para que os jovens encontrem trabalho perto de suas famílias.
***
E despediu-se
dos fiéis de Pietrelcina, animando-os a guardar, como um tesouro precioso, o
testemunho cristão e sacerdotal de São Pio (sentiu na carne os estigmas da
Paixão de Cristo, aliás como São Paulo e São Francisco de Assis), que contribui para viver a plenitude da vida, na
paz e na unidade da comunidade.
2018.03.17 – Louro de Carvalho
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