sábado, 10 de março de 2018

Investimento da SCML: a montanha pare um ratinho


Pelos vistos, da polémica odisseia em torno dum investimento que poderia chegar aos 200 milhões de euros – que agora se diz que era o montante que a instituição tutelada pelo Estado tinha disponível para investir (dizia alguém que tanto vale investir em ações como em obras de arte) – por parte da SCM (Santa Casa da Misericórdia de Lisboa), resultará, quando muito um investimento simbólico. Porém, seria bom que o Ex.mo Provedor esclarecesse em que montante se traduz um investimento simbólico, pois na cena ibérica vimos um banco ser comprado por um euro.
O provedor da SCML, como é de lembrar, chegou a falar em 200 milhões de euros, 10% do capital da CEMG (Caixa Económica Montepio Geral), para a instituição ter no banco uma palavra a dizer, através de dois administradores da sua confiança, mas esse cenário terá sido abandonado. Isto é, o negócio Misericórdia no Montepio não deverá ser tão ambicioso como inicialmente previsto e anunciado. Mesmo assim, a SCML, como já tinha sido anteriormente equacionado, só entrará no capital do Montepio Geral em conjunto com outras instituições de solidariedade social que, no total, irão fazer um investimento simbólico, segundo avança o Público (acesso reservado) de hoje, dia 10, ficando, assim, pelo caminho as possibilidades de só a SCML, por si, adquirir 10% por 200 milhões de euros ou 6% por 160 milhões de euros (diz o ECO, mas 160 milhões seriam 10% do último valor do banco passado à Comunicação Social).
Segundo o Público, já mencionado, a mudança de posição começou a 14 de fevereiro, depois de a SCML ter prescindido dos trabalhos do Haitong, que estava a fazer uma análise aprofundada ao Montepio. Quer dizer que não chegou a ser feita a avaliação iniciada. Será que as contas do Banco acusariam resultados piores que os vertidos para a Comunicação Social?
Segundo aquele diário, o provedor Edmundo Martinho  terá argumentado que não foi feita uma “avaliação firme” da instituição nos prazos acordados. E o Haitong ripostou dizendo que a AMMG (Associação Mutualista Montepio Geral) não facultou a informação requerida. E a pergunta “porquê?” faz levantar consistentemente a dúvida sobre o rigor e a transparência da dona em relação a si própria e ao seu banco.
De momento, ainda falta a apresentação das contas da AMMG, a dona da CEMG, de 2016 e de 2017, estando a instituição à espera de decisão do Ministério das Finanças para mudar o seu estatuto. Com efeito, abdicando de ser IPSS (instituição particular de solidariedade social) e de, como tal, ser isenta de IRC, a associação mutualista quer poder beneficiar de créditos fiscais, como as empresas, nomeadamente os bancos, que permitirão equilibrar as contas do grupo que, segundo estimação a partir dos dados espreitados pela Comunicação Social, poderão vir a atingir os 350 milhões de euros em capitais negativos.
Sendo assim, o banco Caixa Económica Montepio Geral não vale o que inicialmente se fez crer e a sua proprietária AMMG acusa um défice considerável.
Público avança que a alteração do regime de abandono do estatuto de IPSS e a aquisição do estatuto de empresa terá sido aprovada ao final da tarde do dia 9.
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Todavia, a ambiguidade alastrou à governança do banco, o que leva a crer que ou há juízo na administração e nos procedimentos ou o futuro está em perigo.
Passaram-se quase três meses desde que Tomás Correia anunciou que a atual administração liderada por José Félix Morgado estava de saída. Foi em dezembro passado. Embora não coloque em causa o normal funcionamento do banco, este atraso tem impedido a Caixa Económica de avançar com outras operações de relevo, seja a venda de carteiras de crédito, seja a emissão de títulos de dívida de alta subordinação, como é exigido pelo BCE.
Entretanto, foi convidado para chairman do banco Nuno Mota Pinto. Entretanto, sem dar cabal prova de competência ou de incompetência, será substituído por Carlos Tavares, que vai temporariamente acumular os cargos de presidente do conselho de administração e de presidente executivo até a dona do Montepio encontrar um novo CEO com experiência no retalho. E o antigo Ministro da Economia dos governos presididos por Durão Barroso e por Santana Lopes e antigo presidente da CMVM será garantidamente o chairman do Montepio. E Nuno Mota Pinto continuará no banco, mas será despromovido a administrador executivo.
A lista de administradores vai incompleta para o Banco de Portugal até ao próximo dia 12, porque vão faltar alguns administradores não executivos. Aliás, tanto do lado da Associação Mutualista como do Banco de Portugal há uma espécie de consenso: não vale a pena fechar a lista sem que os nomes apresentem total credibilidade e confiança dos responsáveis.
Ao que o ECO apurou, “a acumulação de funções por parte do antigo presidente da CMVM será transitória”. O Jornal Económico já tinha avançado que Tavares seria chairman do banco, em substituição do primeiro nome proposto, o de Francisco Fonseca da Silva, chumbado pelo Banco de Portugal por ter relações comerciais com o próprio banco. Com este novo modelo de governação, a Associação Mutualista, dona do banco, cria uma solução temporária que apenas permite ganhar tempo até encontrar um novo CEO com um perfil diferente do de Mota Pinto.
Em princípio, o Banco de Portugal não vai opor-se a esta administração, pois ainda há pouco mais de um ano foi o próprio BCE (Banco Central Europeu) que autorizou António Domingues a assumir funções de CEO e chairman na Caixa Geral de Depósitos durante seis meses. Assim, se o regulador máximo aceita, Carlos Costa deverá também alinhar pela mesma bitola e Tomás Correia terá meio ano para selecionar um novo presidente da Comissão Executiva.
Quanto a Nuno Mota Pinto, esta “despromoção” para administrador executivo face ao cargo para o qual tinha sido apontando desde início (de CEO) tem sobretudo a ver com a falta de vocação do ex-administrador do Banco Mundial para aquilo que é o negócio core da Caixa Económica Montepio: o retalho. E questões relacionadas com incumprimento de crédito pouco ou nada tiveram a ver com isto.
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Associação Mutualista Montepio Geral vem aguardando parecer das Finanças para beneficiar de créditos fiscais, tal como bancos e empresas já usufruem, na esperança de que a vantagem fiscal equilibraria capitais nas contas de 2017. Terá mesmo sido enviado um pedido de informação vinculativa às Finanças para assegurar que não há qualquer obstáculo a este processo.
Com efeito, como já acima se deu a entender, o que acontece até agora é que, como IPSS, a Associação Mutualista Montepio Geral está isenta do pagamento de impostos, nomeadamente do IRC, mas, por outro lado, não pode tirar partido de um regime de que bancos e empresas já usufruem: o dos créditos fiscais. Em termos práticos, em cima da mesa está a possibilidade de a própria mutualista renunciar ao regime de isenção fiscal para passar a pagar também ela impostos, mas isto sem alterar a sua natureza de instituição social. Sendo assim, é de perguntar por que motivo lhe interessa a natureza de instituição social, quando uma empresa pode também e com mérito perseguir objetivos sociais, além dos económicos.   
Esta opção por que a AMMG quer enveredar só avançará a partir do momento em que houver luz verde do Terreiro do Paço. O Ministério das Finanças recusou comentar a informação por dever de sigilo fiscal.
Seja como for, nada está ainda decidido e fechado neste momento. Em boa verdade, as discussões dentro da Associação Mutualista Montepio ainda não passaram do simples plano teórico e os técnicos que estão a trabalhar neste dossiê podem até chegar à conclusão de que não é viável seguir este caminho, mas querem deixar esta porta aberta.
Dentro de alguns dias haverá nova reunião extraordinária do Conselho Geral da associação e mais detalhes poderão ser anunciados nessa altura.
Na reunião informal de fevereiro, que juntou os 21 conselheiros da associação, não foram avançados dados concretos em relação ao efeito que poderá ter nas contas da associação.
Ainda assim, depois de 2016 ter terminado com um défice nos capitais próprios entre 300 e 350 milhões de euros naquilo que são as contas consolidadas da mutualista, conforme avançou o Público, é expectável que esta solução produza um efeito fiscal que venha a corrigir a insuficiência nos capitais da associação ao ponto de se repor um cenário de equilíbrio entre o passivo e o ativo nas contas consolidadas de 2017. Isto é, o património da associação viria a igualar as responsabilidades, algo que não acontece neste momento.
Assim, além do efeito fiscal positivo, a AMMG aproveitaria o “efeito calendário” para apresentar resultados mais positivos, pois as contas consolidadas de 2016 (que deverão registar os tais capitais próprios negativos entre os 300 e os 350 milhões de euros) deverão ser aprovadas na assembleia geral do final de março. E, logo a seguir, seriam apresentadas as contas consolidadas de 2017, mas já com um enquadramento mais favorável.
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Enfim, são graves as situações que estão por clarificar ao nível da avaliação do banco, da administração do banco e do défice da AMMG. E fica a SCML com saudades de participar no Montepio nestas condições, restando-lhe a consolação dum investimento simbólico em aliança solidária de ou com outras instituições sociais. Assim, nem o banco fica com saúde e as instituições sociais, que nunca foram especificadas, arrepelam-se por terem beliscado os seus fins sociais. É como diz o povo: nem o pai morre nem os filhos comem a sopa.  
Ainda gostava de saber em que é que o Montepio, dito na área da economia social, se distingue dos outros bancos. Mas isso é outra conversa!
2018.03.10 – Louro de Carvalho

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