quinta-feira, 15 de março de 2018

Alegria e esperança. Votos por fecundo e frutuoso Episcopado!


É com estas palavras que os Bispos Auxiliares do Porto, por eles colocadas no coração da diocese, saúdam a nomeação tornada pública hoje, dia 15 de março, de Dom Manuel da Silva Rodrigues Linda, até agora Bispo do Ordinariato Castrense, para Bispo da Igreja diocesana do Porto. E, porfiando que o recebemos “como um dom de Deus chegado até nós pela mão do zelo apostólico de Sua Santidade, a quem significamos a nossa gratidão”, sustentam que “todos quantos integram esta porção do Povo de Deus afirmam a sua disposição em colaborar, com lealdade e filial obediência, com o Bispo agora chegado”, bem como solicitam “para a sua ação pastoral a bênção materna de Nossa Senhora da Assunção”.
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A nota biográfica delineada pela Sala de Imprensa da Santa Sé destaca:
“S. E. Mons. Manuel da Silva Rodrigues Linda nasceu a 15 de abril de 1956, em Paus, na diocese de Lamego.
Frequentou o Seminário de Lamego para os estudos teológicos. Obteve três licenciaturas: em Disciplinas Humanísticas na Faculdade de Filosofia da Universidade Católica, Braga; em Teologia, na Faculdade do Porto; e em Teologia Moral, na Academia Alfonsiana, em Roma. E completou o doutoramento em Teologia Moral na Universidade de Comillas, Madrid.
Foi ordenado sacerdote a 10 de junho de 1981, com incardinação na diocese de Vila Real. Como sacerdote desempenhou os seguintes cargos: pároco, assistente da Ação Católica, docente no Seminário, membro da Comissão diocesana “Projeto Vida”, reitor do Seminário, diretor do Centro Católico de Cultura da diocese; e vigário episcopal para a Cultura.
A 20 de setembro de 2009, foi nomeado Bispo Auxiliar de Braga e, a 10 de outubro de 2013, foi nomeado Ordinário Militar para Portugal.”.
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Por ocasião da publicação da sua nomeação para Bispo do Porto, emitiu uma saudação de teor eminentemente ecuménico ou católico no sentido “originário” da palavra, como diz a portada:
Aos que, na consciência da fé, no desânimo da indiferença, na adesão a outras crenças ou até na oposição ao fenómeno religioso aspiram à felicidade pessoal e coletiva, edificam a sociedade humana na paz e na verdade e vivem ou são originários da área da Diocese do Porto”.
Reconhecendo que as muitas surpresas agradáveis com que tem sido presenteado, longe de serem “coincidência ou acaso”, são obra do Espírito, que, apesar da liberdade pessoal e das teimosas “resistências colocadas à graça”, tem o poder e a benevolência de conduzir a história, inscreve a sua nomeação para pastorear a diocese portuense no rol das “felizes surpresas” com que “Deus tem urdido as teias” da sua existência.
Considera-se em emocionante regresso ao Porto quase 40 anos após a formação no Seminário Maior, donde partiu “para a vida sacerdotal” e onde exerceu “o sacerdócio colaborando na formação de novos padres”. Porém, agora diz regressar “como mais um de entre os muitíssimos que apostam tudo na evangelização e na promoção humana desta Diocese que sempre se distinguiu pela cultura dos seus membros, zelo missionário, santidade operante e sadia presença na sociedade”. Quer trilhar com os demais o rumo sempre “na fidelidade ao sopro do Espírito que nos manda edificar ‘um novo céu e uma nova terra’, de acordo com os sinais dos tempos”.
Na saudação que dirige a todos, reserva ligar de destaque especial aos mais débeis, que especifica: “os pobres, desempregados, doentes, idosos, detidos e quantos perderam os horizontes da esperança”. Cumprimenta as famílias que tem como “célula básica da sociedade” e da “Igreja”. E, parafraseando São João XXIII, quer dizer “com a mesma bonomia”: “dai um beijo aos vossos filhos e dizei-lhes que é o novo bispo quem lho manda”. Felicita todos os constituintes da “teia social da comunidade viva: o mundo do trabalho e suas organizações, os setores da cultura e do desporto, os organismos voltados para a saúde e para a assistência social, autênticos pilares da liberdade e da felicidade possíveis”. E endereça “uma palavra de admiração aos dirigentes da comunidade”, salientando o seu valor e zelo nos diversos âmbitos, nomeadamente: autarquias, ensino, segurança ou na administração.
Depois, saúda a Igreja de Deus que está no Porto e elege-a como “fidelíssima” no “dinamismo apostólico e missionário que deve caraterizar o homem e a mulher de fé”. Agradece a quantos empenham as “suas energias ao serviço do Evangelho”. E é curioso que a especificação vem em ordem inversa do habitual. Começa pela maioria, “os leigos que dão corpo aos organismos paroquiais e diocesanos e fermentam o mundo com o humanismo cristão”. Seguem-se “as religiosas e os religiosos”, no “seguimento radical de Jesus”. A seguir, destaca os Diáconos com o testemunho da “caridade como primeira caraterística do Reino de Deus”. Elege os Seminários como garantes da “esperança”. Dá lugar especial ao Presbitério, os Padres, “alguns já tão cansados, que aguentam o peso do trabalho e  a desconfiança duma sociedade em contínua mutação”. Considera o Cabido como “instância de saber e de dinamismo sacerdotal”. Pensa no Vigário Geral e membros das estruturas de participação como “garantia da corresponsabilidade. Dirige uma palavra especial ao Administrador Diocesano e aos outros Bispos Auxiliares, que, “no seu conjunto, constituem o verdadeiro centro nevrálgico da intensa vida diocesana”. E, prometendo “continuar neste dinamismo”, pede licença para se inserir nesta “vinha do Senhor como assalariado acabado de contratar”.
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Após esta urdidura saudacional, estabelece o esquisso da sucessão na perspetiva da comunhão com o Bispo de Roma e sua forma de perspetivar a ação evangélica da Igreja, na linha da História da Igreja do Porto, mormente do legado dos seus Pastores, e na docilidade ao Espírito sob a proteção de Maria, com empenho atento e perspicaz na leitura dos sinais dos tempos.
Assim, pretende trabalhar como até agora: “com Pedro e sob Pedro”, mas também “à maneira de Pedro”. E especifica o que entende com estas expressões: ser “missionário da misericórdia”, pastor com “o cheiro das ovelhas”, pai dos Padres, irmão dos mais pobres e fomentador do espírito ecuménico e de diálogo – procurando acuradamente “reconduzir a Igreja a uma tal simplicidade evangélica que a constitua referencial ético para o mundo atual”.
E, “numa visão global e apressada do último século, regista a “forte semelhança entre o enorme timbre de grandeza dos Pastores da Diocese do Porto e os da Igreja universal”, frisando que, “numa e noutra, há mártires, profetas e santos”. Faz referência a que, nesta Diocese, o património histórico-moral que eles legaram “constitui uma referência incontornável para a Igreja e para a sociedade portuguesas”. E, evocando apenas os Pastores que conheceu pessoalmente, pinça um dado caraterizador de cada um: a “determinação granítica” de Dom António Ferreira Gomes, o “zelo pastoral” de Dom Júlio Tavares Rebimbas, a “arguta perspicácia de Dom Armindo Lopes Coelho, a “lucidez intelectual” de Dom Manuel José Macário do Nascimento Clemente e “a afectividade pura e contagiante” de Dom António Francisco dos Santos, seu antecessor direto.
Deste diz que “marcou a história da Diocese com a sua proximidade e candura”, que também o chorou como um pai, aliás como todos, e que sabe não ser fácil suceder-lhe. Porém, assegura que “todos nós, agentes de pastoral, tomaremos em boa conta o seu grande legado: a certeza de que a única chave que abre o coração humano é a ternura e a simpatia”.
Reconhece o Porto como a “cidade do trabalho” e a “cidade da Virgem” e que, “da ‘Terra de Santa Maria’ até à Senhora da Vandoma, a invocação pode ser distinta, mas a devoção e a confiança são as mesmas”. Por isso, roga à Mãe de Jesus e Mãe da Igreja que “vele por nós” e pelo novo ministério do prelado, “para que sejamos, agora e sempre, uma Igreja aberta, franca, acolhedora, missionária, orante, solidária, encarnada no mundo”. E, apelando às raízes, faz o seguinte voto:
Se ‘daqui houve nome Portugal’ como nos garante Eugénio de Andrade, também floresça uma Igreja conduzida pelo Espírito, sensível aos sinais dos tempos e sempre ‘reformanda’, como pede o Papa Francisco e exigem os nossos contemporâneos”.
Por fim, citando Sophia de Mello Breyner, a ilustre diocesana do Porto – que deixou uns versos que interpelam: “A presença dos céus não é a Tua,/ embora o vento venha não sei donde./ Os oceanos não dizem que os criaste,/ nem deixas o Teu rasto nos caminhos./ Só o olhar daqueles que escolheste/ nos dá o Teu sinal entre os fantasmas” – entende que “somos nós esses escolhidos para captarmos e retransmitirmos o ‘sinal’ de Deus. E promete, interpelando:
Vamos fazê-lo de tal maneira que se evitem todos os ruídos perturbadores e, dessa forma, se afugentem os fantasmas dos medos e os pavores da solidão, tão típicos da sociedade atual?”.
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Disse, na mensagem aos militares e polícias, que partia “com gosto, para o trabalho apostólico numa grande diocese” que muito ama e admira. Porém, a mudança gera-lhe no interior “extensa mancha de nostalgia e de saudade”, pois, no meio castrense, criaram-se “relações” e enraizaram-se “amizades que não se podem ignorar”. E compreende melhor agora a conhecida frase de Santo Agostinho de Hipona: “Não se deixa sem dor o que se possuiu com amor”.
Vem na sequência dum pedido irrecusável, na certeza de que tanto militares e polícias como “nós, pessoas da Igreja, sabemos bem o que é obedecer e a força moral de uma ‘guia de marcha’ para onde os nossos superiores entendem que somos necessários”.
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A Sua Excelência Rev.ma Dom Manuel Linda, de quem me recordo do tempo do Seminário de Lamego, desejo do coração uma entrada auspiciosa no pastoreio desta grande diocese e digo que a todos nós nos move o melhor sentido do ser da Igreja e do seu rumo nos caminhos do mundo.
Encontrá-lo-emos como o Bispo, que é Pai na fé (não só dos padres, mas de todos), Pontífice e Pastor, que merece os parabéns, que precisa da oração ardente da Igreja, da cooperação solidária e do aconselhamento leal e que vem adornado com os predicados que Dom José Manuel Cordeiro, Bispo de Bragança-Miranda, topou em Dom Frei Bartolomeu dos Mártires, o tridentino beato arcebispo de Braga: em termos de perfil, “pureza de intenção, conversação santa e irrepreensível, humildade interior e sincera”; em termos de atitude, “coragem da esperança”; e em termos de programa, “a caridade, a sabedora, a retidão e a justiça” (cf Ecclesia, 2014/02/22).
Assim seja – e que este homem santo reze e suscite oração, que este homem sabedor ensine e promova o conhecimento, que este homem prudente governe de modo que os conteúdos da oração da fé se tornem obra, que este general das nossas forças armadas e de segurança faça dos seus novos diocesanos “boni et strenui milites Christi”!
2018.03.15 – Louro de Carvalho

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