É com estas palavras
que os Bispos Auxiliares do Porto, por eles colocadas no coração da diocese,
saúdam a nomeação tornada pública hoje, dia 15 de março, de Dom Manuel da Silva Rodrigues Linda,
até agora Bispo do Ordinariato Castrense, para Bispo da Igreja diocesana do Porto.
E, porfiando que o recebemos “como um dom de Deus chegado até nós pela mão do
zelo apostólico de Sua Santidade, a quem significamos a nossa gratidão”,
sustentam que “todos quantos integram esta porção do Povo de Deus afirmam a sua
disposição em colaborar, com lealdade e filial obediência, com o Bispo agora
chegado”, bem como solicitam “para a sua ação pastoral a bênção materna de
Nossa Senhora da Assunção”.
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A nota
biográfica delineada pela Sala de Imprensa da Santa Sé destaca:
“S. E. Mons. Manuel da Silva
Rodrigues Linda nasceu a 15 de abril de 1956, em Paus, na diocese de Lamego.
Frequentou o Seminário de Lamego para
os estudos teológicos. Obteve três licenciaturas: em Disciplinas Humanísticas na Faculdade de Filosofia da Universidade
Católica, Braga; em Teologia, na
Faculdade do Porto; e em Teologia Moral,
na Academia Alfonsiana, em Roma. E completou o doutoramento em Teologia Moral na Universidade de
Comillas, Madrid.
Foi ordenado sacerdote a 10 de junho
de 1981, com incardinação na diocese de Vila Real. Como sacerdote desempenhou
os seguintes cargos: pároco, assistente da Ação Católica, docente no Seminário,
membro da Comissão diocesana “Projeto Vida”, reitor do Seminário, diretor do
Centro Católico de Cultura da diocese; e vigário episcopal para a Cultura.
A 20 de setembro de 2009, foi nomeado
Bispo Auxiliar de Braga e, a 10 de outubro de 2013, foi nomeado Ordinário
Militar para Portugal.”.
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Por ocasião
da publicação da sua nomeação para Bispo do Porto, emitiu uma saudação de teor
eminentemente ecuménico ou católico no sentido “originário” da palavra, como
diz a portada:
“Aos que, na consciência da fé,
no desânimo da indiferença, na adesão a outras crenças ou até na oposição ao
fenómeno religioso aspiram à felicidade pessoal e coletiva, edificam a
sociedade humana na paz e na verdade e vivem ou são originários da área da
Diocese do Porto”.
Reconhecendo
que as muitas surpresas agradáveis com que tem sido presenteado, longe de serem
“coincidência ou acaso”, são obra do Espírito, que, apesar da liberdade pessoal
e das teimosas “resistências colocadas à graça”, tem o poder e a benevolência
de conduzir a história, inscreve a sua nomeação para pastorear a diocese
portuense no rol das “felizes surpresas” com que “Deus tem urdido as teias” da
sua existência.
Considera-se
em emocionante regresso ao Porto quase 40 anos após a formação no Seminário
Maior, donde partiu “para a vida sacerdotal” e onde exerceu “o sacerdócio
colaborando na formação de novos padres”. Porém, agora diz regressar “como mais
um de entre os muitíssimos que apostam tudo na evangelização e na promoção
humana desta Diocese que sempre se distinguiu pela cultura dos seus membros,
zelo missionário, santidade operante e sadia presença na sociedade”. Quer
trilhar com os demais o rumo sempre “na fidelidade ao sopro do Espírito
que nos manda edificar ‘um novo céu e uma nova terra’, de acordo com os sinais
dos tempos”.
Na saudação
que dirige a todos, reserva ligar de destaque especial aos mais débeis, que
especifica: “os pobres, desempregados, doentes, idosos, detidos e quantos
perderam os horizontes da esperança”. Cumprimenta as famílias que tem como “célula
básica da sociedade” e da “Igreja”. E, parafraseando São João XXIII, quer dizer
“com a mesma bonomia”: “dai um beijo aos
vossos filhos e dizei-lhes que é o novo bispo quem lho manda”. Felicita
todos os constituintes da “teia social da comunidade viva: o mundo do trabalho
e suas organizações, os setores da cultura e do desporto, os organismos
voltados para a saúde e para a assistência social, autênticos pilares da
liberdade e da felicidade possíveis”. E endereça “uma palavra de
admiração aos dirigentes da comunidade”, salientando o seu valor e zelo
nos diversos âmbitos, nomeadamente: autarquias, ensino, segurança ou na
administração.
Depois, saúda
a Igreja de Deus que está no Porto e elege-a como “fidelíssima” no “dinamismo
apostólico e missionário que deve caraterizar o homem e a mulher de fé”.
Agradece a quantos empenham as “suas energias ao serviço do Evangelho”. E é
curioso que a especificação vem em ordem inversa do habitual. Começa pela
maioria, “os leigos que dão corpo aos organismos paroquiais e diocesanos e
fermentam o mundo com o humanismo cristão”. Seguem-se “as religiosas e os
religiosos”, no “seguimento radical de Jesus”. A seguir, destaca os Diáconos
com o testemunho da “caridade como primeira caraterística do Reino de Deus”.
Elege os Seminários como garantes da “esperança”. Dá lugar especial ao Presbitério,
os Padres, “alguns já tão cansados, que aguentam o peso do trabalho e a
desconfiança duma sociedade em contínua mutação”. Considera o Cabido como “instância
de saber e de dinamismo sacerdotal”. Pensa no Vigário Geral e membros das
estruturas de participação como “garantia da corresponsabilidade. Dirige uma
palavra especial ao Administrador Diocesano e aos outros Bispos Auxiliares, que,
“no seu conjunto, constituem o verdadeiro centro nevrálgico da intensa vida
diocesana”. E, prometendo “continuar neste dinamismo”, pede licença para se inserir
nesta “vinha do Senhor como assalariado acabado de contratar”.
***
Após esta
urdidura saudacional, estabelece o esquisso da sucessão na perspetiva da
comunhão com o Bispo de Roma e sua forma de perspetivar a ação evangélica da
Igreja, na linha da História da Igreja do Porto, mormente do legado dos seus
Pastores, e na docilidade ao Espírito sob a proteção de Maria, com empenho atento
e perspicaz na leitura dos sinais dos tempos.
Assim,
pretende trabalhar como até agora: “com
Pedro e sob Pedro”, mas também “à
maneira de Pedro”. E especifica o que entende com estas expressões: ser “missionário
da misericórdia”, pastor com “o cheiro das ovelhas”, pai dos Padres, irmão dos
mais pobres e fomentador do espírito ecuménico e de diálogo – procurando acuradamente
“reconduzir a Igreja a uma tal simplicidade evangélica que a constitua
referencial ético para o mundo atual”.
E, “numa
visão global e apressada do último século, regista a “forte semelhança entre o
enorme timbre de grandeza dos Pastores da Diocese do Porto e os da
Igreja universal”, frisando que, “numa e noutra, há mártires, profetas e santos”.
Faz referência a que, nesta Diocese, o património histórico-moral que eles legaram
“constitui uma referência incontornável para a Igreja e para a sociedade
portuguesas”. E, evocando apenas os Pastores que conheceu pessoalmente, pinça
um dado caraterizador de cada um: a “determinação granítica” de Dom António
Ferreira Gomes, o “zelo pastoral” de Dom Júlio Tavares Rebimbas, a “arguta
perspicácia de Dom Armindo Lopes Coelho, a “lucidez intelectual” de Dom
Manuel José Macário do Nascimento Clemente e “a afectividade pura
e contagiante” de Dom António Francisco dos Santos, seu antecessor direto.
Deste diz que
“marcou a história da Diocese com a sua proximidade e candura”, que também o chorou
como um pai, aliás como todos, e que sabe não ser fácil suceder-lhe. Porém,
assegura que “todos nós, agentes de pastoral, tomaremos em boa conta o seu
grande legado: a certeza de que a única chave que abre o coração humano
é a ternura e a simpatia”.
Reconhece o
Porto como a “cidade do trabalho” e a “cidade da Virgem” e que, “da ‘Terra de
Santa Maria’ até à Senhora da Vandoma, a invocação pode ser distinta, mas a
devoção e a confiança são as mesmas”. Por isso, roga à Mãe de Jesus e Mãe da
Igreja que “vele por nós” e pelo novo ministério do prelado, “para que
sejamos, agora e sempre, uma Igreja aberta, franca, acolhedora,
missionária, orante, solidária, encarnada no mundo”. E, apelando às
raízes, faz o seguinte voto:
“Se
‘daqui houve nome Portugal’ como nos garante Eugénio de Andrade, também
floresça uma Igreja conduzida pelo Espírito, sensível aos sinais dos tempos e
sempre ‘reformanda’, como pede o Papa
Francisco e exigem os nossos contemporâneos”.
Por fim,
citando Sophia de Mello Breyner, a ilustre diocesana do Porto – que deixou uns
versos que interpelam: “A presença dos
céus não é a Tua,/ embora o vento venha não sei donde./ Os oceanos não dizem
que os criaste,/ nem deixas o Teu rasto nos caminhos./ Só o olhar daqueles que
escolheste/ nos dá o Teu sinal entre os fantasmas” – entende que “somos nós esses escolhidos para captarmos e
retransmitirmos o ‘sinal’ de Deus. E promete, interpelando:
“Vamos
fazê-lo de tal maneira que se evitem todos os ruídos perturbadores e, dessa
forma, se afugentem os fantasmas dos medos e os pavores da solidão, tão típicos
da sociedade atual?”.
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Disse, na
mensagem aos militares e polícias, que partia “com gosto, para o trabalho apostólico numa grande diocese” que
muito ama e admira. Porém, a mudança gera-lhe no interior “extensa mancha de
nostalgia e de saudade”, pois, no meio castrense, criaram-se “relações” e
enraizaram-se “amizades que não se podem ignorar”. E compreende melhor agora a
conhecida frase de Santo Agostinho de Hipona: “Não se deixa sem dor o que se possuiu com amor”.
Vem na sequência dum pedido irrecusável, na certeza de que
tanto militares e polícias como “nós, pessoas da Igreja, sabemos bem o que é obedecer
e a força moral de uma ‘guia de marcha’ para onde os nossos superiores entendem
que somos necessários”.
***
A Sua
Excelência Rev.ma Dom Manuel Linda, de quem me recordo do tempo do
Seminário de Lamego, desejo do coração uma entrada auspiciosa no pastoreio
desta grande diocese e digo que a todos nós nos move o melhor sentido do ser da
Igreja e do seu rumo nos caminhos do mundo.
Encontrá-lo-emos
como o Bispo, que é Pai na fé (não só dos padres, mas de todos), Pontífice e Pastor, que merece os parabéns, que
precisa da oração ardente da Igreja, da cooperação solidária e do
aconselhamento leal e que vem adornado com os predicados que Dom José Manuel
Cordeiro, Bispo de Bragança-Miranda, topou em Dom Frei Bartolomeu dos Mártires,
o tridentino beato arcebispo de Braga: em termos de perfil, “pureza de
intenção, conversação santa e irrepreensível, humildade interior e sincera”; em
termos de atitude, “coragem da esperança”; e em termos de programa, “a
caridade, a sabedora, a retidão e a justiça” (cf Ecclesia, 2014/02/22).
Assim seja –
e que este homem santo reze e suscite oração, que este homem sabedor ensine e
promova o conhecimento, que este homem prudente governe de modo que os
conteúdos da oração da fé se tornem obra, que este general das nossas forças
armadas e de segurança faça dos seus novos diocesanos “boni et strenui milites Christi”!
2018.03.15 –
Louro de Carvalho
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