quinta-feira, 22 de março de 2018

A alegria de ser Igreja em caminho com Maria


É o tema da 86.ª Peregrinação da diocese de Leiria-Fátima ao Santuário de Nossa Senhora do Rosário de Fátima, que ocorreu no passado domingo, o V domingo da Quaresma, dia 18 de março, no contexto da Liturgia da Nova Aliança firmada na imolação sacrificial do corpo de Cristo entregue por nós e selada pelo sangue do mesmo Cristo derramado na cruz até à última gota para o resgate do homem pecador para o perdão dos pecados e acesso à vida da Graça.
Ao início da manhã, os peregrinos provindos das diversas comunidades paroquiais diocesanas congregaram-se na Capelinha das Aparições onde, após a saudação a Nossa Senhora, recitaram o Rosário com o bispo diocesano, Dom António Augusto Santos Marto. Depois deste momento de oração mariana encaminhada para Cristo e dele para o Pai no Espírito Santo, a Imagem da Virgem seguiu, em procissão, para o altar do Recinto, onde foi celebrada a Eucaristia, memorial da Paixão, Morte e Ressurreição do Senhor, presidida pelo prelado diocesano.
Na homilia, o Presidente da celebração lembrou, a partir da Liturgia da Palavra do dia, o amor presente no Mistério da Cruz, onde Jesus, pela morte e ressurreição, mostra a cada batizado um “amor totalmente entregue, gerador de um novo coração, de uma nova aliança e de uma nova esperança”. Nessa entrega pela cruz o Pai glorificou o Filho e os irmãos encontram a salvação e se congregam na unidade e em comunhão.
Por conseguinte, o Bispo de Leiria-Fátima, tirando ilações do envolvimento dos cristãos no dinamismo do Evangelho desafiou os peregrinos a serem discípulos missionários e “a Igreja de Leiria-Fátima, reunida em peregrinação ao Santuário de Fátima, a ser Igreja missionária, escutando o Evangelho, sendo sinal do amor de Deus presente no Crucifixo, e dando testemunho de fé pela fraternidade”.
Evocando o exemplo daqueles “gregos” do Evangelho de João que disseram a Filipe que queriam ver Jesus, o Bispo interpelou os peregrinos sobre o sentido do seu desejo de ver Jesus e sobre o que temos nós para mostrar a Jesus. Assim, perguntou:
Queremos ver Jesus? Queremos ver o seu amor, capaz de gerar um povo novo, uma humanidade nova, que viva a fraternidade entre todos os que são filhos de Deus? E o que é que temos nós para mostrar Jesus?”.
Na resposta à concretização desta evangelização, o prelado exortou os peregrinos a serem “discípulos missionários, ao encontro dos que querem ver Jesus”, lembrando três conselhos deixados pelo Papa Francisco:
Primeiro, escutando o Evangelho, onde Jesus Cristo Ressuscitado fala ao coração de cada um e onde cada um é chamado, em sintonia com os outros, a escutá-lo, a acolher a sua Palavra de vida e salvação e a conhecer a beleza do seu rosto;
Segundo, oferecendo o crucifixo, sinal que nos lembra o amor com que Jesus se entregou por nós, de tal maneira que possamos dizer como Paulo: ‘vivo animado pela fé no Filho de Deus, que me amou e Se entregou por Mim’ (Gl 2,20);
Terceiro, dando testemunho de fé, em vidas configuradas em Jesus, através do amor, da caridade, da dedicação, da entrega, da doação e da solidariedade com os mais necessitados, e da luta pela justiça e pela paz.
Perante uma assembleia de fiéis diocesanos em peregrinação a Fátima, Dom António Marto pediu a intercessão de Nossa Senhora para a realização desta “Igreja missionária”, exortando:
Peçamos a Nossa Senhora a graça de conhecermos Jesus através dela, através do seu coração e exemplo de mãe e primeira discípula do Senhor. Que ela nos ajude a testemunhar a alegria de sermos Igreja em saída, para levar ao mundo o Evangelho da alegria e da misericórdia.”.
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Esta peregrinação a Fátima foi particularmente significativa para os cerca de 800 escuteiros de Leiria-Fátima presentes, devido à bênção da nova insígnia regional pelo bispo diocesano, no final da celebração. Recorde-se que a atualização da insígnia de “CNE Leiria” para “CNE Leiria-Fátima” aconteceu em junho de 2017, numa decisão justificada pela designação da diocese de pertença e pela “oportunidade de aproximação à Mensagem de Fátima”.
No final da celebração, Dom António Marto deixou, a propósito da solenidade litúrgica de São José que se celebrou no dia seguinte, o dia 19, uma saudação a todos os pais presentes no Recinto de Oração (É de recordar que os Pastorinhos na visão/aparição de outubro também contemplaram a figura humana de São José). E lembrou também o 5.º aniversário do pontificado do Papa Francisco, por quem rezou, em união com a assembleia, uma Avé-Maria.
Para além dos fiéis de Leiria-Fátima, foram anunciados: sete grupos de peregrinos nacionais; três grupos espanhóis; dois provenientes da Coreia do Sul; um da Polónia; e outro dos Estados Unidos da América.
A Eucaristia daquele domingo foi celebrada no Recinto de Oração do Santuário, sendo que, a partir daquele dia, a Missa dominical das 11 horas, que consta do programa oficial do Santuário, passa a ser celebrada no Recinto, entrando em vigor o horário de verão.
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Por se falar em rosário, Nossa Senhora, Corpo e Sangue de Cristo, Paixão do Senhor, apraz referir uma ação que se realizou no passado dia 21.

O Santuário de Fátima evocou as aparições do Anjo, com uma procissão que saiu da Capelinha das Aparições, rumo ao Poço do Arneiro e Loca do Anjo. Foi um exercício devocional e cultual da Via Matris, no caminho dos Pastorinhos.
A Via Matris pretende ser um percurso evocativo dos passos que assinalam as dores da Mãe de Jesus por causa do Filho e, no fim de contas, por todos os filhos no Filho. Assim, após uma introdução, saudação, admonição e oração, se propõem leituras bíblicas e catequéticas e fórmulas oracionais e/ou cânticos em torno das seguintes sete estações temáticas (em memória das sete dores de Maria): 1. “Maria acolhe na fé a profecia de Simeão”; 2. “Maria foge para o Egito com Jesus e José”; 3. “Maria com José procura Jesus perdido em Jerusalém”; 4. “Maria encontra Jesus a caminho do Calvário”; 5. “Maria está junto à cruz de seu Filho”; 6. “Maria recebe em seu regaço o corpo de Jesus descido da cruz”; e 7. Maria entrega o corpo de Jesus ao sepulcro à espera da Ressurreição”. E termina com a oração de intercessão e despedida.
Durante a Via Matris, no caminho dos Pastorinhos, o Reitor do Santuário, Padre Carlos Cabecinhas, lembrou os excluídos da sociedade, a necessidade da defesa da vida e dos direitos fundamentais da pessoa humana e as crianças “vítimas da injustiça social, da desagregação familiar e da violência”. E, numa das orações durante a Via Matris, rezou ao Senhor:
Nós Te pedimos que, seguindo o exemplo da Virgem das Dores, saibamos lutar para defender a vida e os direitos fundamentais da pessoa humana contra as injustiças e a perseguição dos prepotentes”.
No percurso de 950 metros, no caminho dos Pastorinhos até ao monte dos Valinhos, os peregrinos foram convidados a escutar o Evangelho, seguido de uma pequena oração, feita pelo Reitor do Santuário que terminou com a Ladainha da Paz.

A meditação do Rosário fez-se com trechos homiléticos de Bento XVI em Fátima, em 2010.

Seguiu-se a evocação das aparições do Anjo nos Valinhos, depois no Poço do Arneiro e na Loca do Cabeço, com narrativa assente nas Memórias de Lúcia acerca destas aparições que serviram de pórtico preparatório dos Pastorinhos para as aparições da Senhora no ano seguinte.

A 1.ª aparição do Anjo deu-se, na primavera de 1916, na Loca do Cabeço, propriedade da família dos videntes nos Valinhos, onde se apresentou como o Anjo da Paz, recomendou que não tivessem medo e lhes pediu que rezassem com ele. E, ajoelhando em terra, curvou a fronte até ao chão. Levados por um movimento sobrenatural, os videntes imitaram-no e repetiram, por três vezes, as palavras que lhe ouviam pronunciar: “Meu Deus, eu creio, adoro, espero e amo-vos. Peço-vos perdão para os que não creem, não adoram, não esperam, e não vos amam.”.
Depois, ergueu-se e disse-lhes que orassem assim, pois “os corações de Jesus e Maria estão atentos à voz das vossas súplicas”.
Na 2.ª aparição, quando os pastorinhos brincavam junto ao poço do Arneiro, na casa de Lúcia, no verão, apresenta-se como Anjo da Guarda e Anjo de Portugal, reiterando o pedido de oração. Desafia-os a oferecer sacrifícios e aceitar o sofrimento que Deus lhes envie, pois os Corações de Jesus e Maria têm sobre os videntes “desígnios de misericórdia”, pelo que devem oferecer “constantemente ao Altíssimo orações e sacrifícios”.
Sobre o modo e sentido do sacrifício, disse:
De tudo que puderdes, oferecei um sacrifício em ato de reparação pelos pecados com que Ele é ofendido e de súplica pela conversão dos pecadores. Atraí, assim, sobre a vossa Pátria a paz. Eu sou o Anjo da sua guarda, o Anjo de Portugal. Sobretudo aceitai e suportai com submissão o sofrimento que o Senhor vos enviar.”.
A 3.ª aparição aconteceu de novo nos Valinhos, quando os videntes estavam em oração. Viram o Anjo com um cálice na mão e uma hóstia suspensa sobre Ele, da qual caíam algumas gotas de sangue. O Anjo ensinou aos videntes a oração à Santíssima Trindade e deu a hóstia à Lúcia e o sangue do cálice ao Francisco e à Jacinta, como descreve Lúcia: “trazendo na mão um cálice e sobre ele uma Hóstia, da qual caíam, dentro do cálice, algumas gotas de sangue. Deixando o cálice e a Hóstia suspensos no ar, prostrou-se em terra e repetiu três vezes a oração:
Santíssima Trindade, Pai, Filho e Espírito Santo, adoro-Vos profundamente e ofereço-Vos o Preciosíssimo Corpo, Sangue, Alma e Divindade de Jesus Cristo, presente em todos os Sacrários da terra, em reparação dos ultrajes, sacrilégios e indiferenças com que Ele mesmo é ofendido. E pelos méritos infinitos do Seu Santíssimo Coração e do Coração Imaculado de Maria, peço-vos a conversão dos pobres pecadores.”.
Depois, levantou-se, tomou de novo na mão o cálice e a Hóstia e deu a Hóstia a Lúcia e o que continha o cálice à Jacinta e ao Francisco, dizendo ao mesmo tempo: “Tomai e bebei o Corpo e o Sangue de Jesus Cristo horrivelmente ultrajado pelos homens ingratos. Reparai os seus crimes e consolai o vosso Deus.”. De novo, prostrou-se em terra e repetiu com os videntes mais três vezes a oração à Santíssima Trindade.
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A Via Matris foi a réplica mariana sofrente do Evangelho de domingo centrado no sacrifício amoroso de Cristo na cruz que os homens de hoje também anseiam por ver. A memória das aparições do Anjo, insiste no testemunho sacrificial e orante a interiorizar o sacrifício da cruz pela metanoia dos seres humanos: mentalidades, atitudes, ações e estruturas. Evidencia a índole eucarística e trinitária do Santuário e a finalidade última da Mensagem de Fátima: por Maria, leva os homens a Deus e traz Deus aos homens, mediante a ação testemunhal e missionária, aceitando (e levando a aceitar a vida e a ultrapassá-la) como o melhor e mais disponível sacrifício.
2018.03.22 – Louro de Carvalho

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