O Papa Francisco assinalou hoje a celebração do Dia
Internacional da Mulher com uma mensagem de gratidão, através da sua conta no Twitter, onde escreveu para os seus
cerca de 50 milhões de seguidores:
“Agradeço a todas as mulheres que, todos os
dias, procuram construir uma sociedade mais humana e acolhedora”.
Francisco tem recordado em várias ocasiões as mulheres que
mais influenciaram o seu caminho de fé, como a sua avó Rosa, repetindo em diversos
discursos que “a Igreja é feminina, é mãe”.
Na véspera deste dia 8 de março foi apresentado um livro
prefaciado por Francisco, no qual este se mostra preocupado com “a persistência
de uma certa mentalidade machista”, mesmo nas “sociedades mais avançadas”.
O Papa denuncia a violência contra as mulheres, objeto de
“maus-tratos, tráfico e lucro”, bem como na exploração de “certo tipo de
publicidade e na indústria do consumo e da diversão”.
No prefácio que escreveu para o livro de Maria Teresa Compte,
‘Dez coisas que o Papa Francisco propõe
às mulheres’ (Publicações
Claretianas), o Pontífice
convida a uma “renovada investigação antropológica”, para aprofundar a
identidade feminina e masculina à luz dos “progressos da ciência e das atuais
sensibilidades culturais”.
Embora mantenha a inibição do acesso das mulheres ao
sacerdócio (mas
constituiu uma comissão para o diaconado no feminino), Francisco tem dado passos
significativos na atribuição que lhes vem dando de alguns cargos de
responsabilidade eclesial. Assim, em fevereiro, nomeou a Irmã Carmen Ros Nortes
como subsecretária da Congregação para os
Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica (Santa Sé). E, já em novembro de 2017, tinha nomeado duas
mulheres como subsecretárias do novo Dicastério
para os Leigos, Família e Vida (Santa Sé), reforçando assim a presença feminina na Cúria Romana. Gabriella
Gambino, professora de Bioética, foi indicada para a secção para a Vida desde
organismo, e Linda Ghisoni, especialista em Direito Canónico, recebeu a
nomeação pontifícia para a secção da Família.
A presença feminina na Santa Sé inclui responsabilidades nos
departamentos da Cúria Romana e nas áreas dos arquivos, da história e da
comunicação social.
Atualmente, a jornalista espanhola Paloma García Ovejero é
vice-diretora da Sala de Imprensa da
Santa Sé; Margaret Archer preside à Pontifícia
Academia de Ciências Sociais; e Barbara Jatta é a primeira diretora dos Museus Vaticanos desde janeiro de 2017.
E hoje, Dia Internacional
da Mulher, o Papa nomeou como única voz feminina do Conselho pré-Sinodal a
brasileira Irmã Irene Lopes dos Santos S.C.M.S.T.B.G., assessora da REPAM (Rede Eclesial Pan-Amazónica), que fala da sua alegria pela
nomeação, em representação da CLAR, Confederação Latino-Americana e Caribenha
de Religiosos e Religiosas, para o Conselho pré-sinodal e, declarando que
quer ser ‘voz de todas as pessoas da Amazónia, principalmente das mulheres,
diz: “Seremos os portadores das vozes de todos os povos indígenas, quilombolas,
ribeirinhos e urbanos da área que representa mais de 60% do território nacional”.
Neste dia 8
de março, também o Vatican News (Serviço de
Informação da Santa Sé) homenageia
as mulheres com imagens que demonstram a admiração de Francisco por elas. Com
efeito, nestes seus cinco anos de pontificado, foram inúmeras as ocasiões em
que o Santo Padre manifestou seu carinho às mães, consagradas e leigas com
gestos emblemáticos e palavras importantes para recordar a todos que as
mulheres são capazes de ver sempre mais além.
Em sintonia
com o Papa, também o Prefeito da Congregação para a Vida Consagrada, o Cardeal
João Braz de Aviz, deixou a sua mensagem a todas as mulheres e, em especial, às
consagradas com palavras de reconhecimento e bênção pelo seu ser, papel e ação
na linha de serviço a Deus, à Igreja e ao mundo, na verificação de que não há
homem que não tenha nascido de mulher e no pressuposto da complementaridade na
família, na Igreja e na sociedade. Obviamente que o purpurado enalteceu
sobretudo a mulher consagrada.
***
Dizer que o “Papa
Francisco tem tido uma palavra luminosa” configura a forma como a Vice-Presidente da Comissão Nacional
Justiça e Paz em Portugal (CNJP) vê o modo
como Francisco tem defendido a dignidade da mulher.
Em
entrevista à VATICAN NEWS no contexto da nota que aquele organismo da Conferência
Episcopal Portuguesa divulgou para o Dia
Internacional da Mulher, Maria
do Rosário Carneiro acentua que “a Humanidade é feita de homens e
mulheres iguais na sua dignidade”. E, frisando que “só esta paridade, esta igualdade de
situação, é que permitirá que o caminho dos povos seja feito em paz e seja
feito com desenvolvimento”, aquela dirigente destaca algumas preocupações do
documento da CNJP sob o lema ‘O sentido
da vida e o caminho dos povos’. Desde logo a violência sobre as mulheres,
“as mulheres que não chegaram a nascer porque eram mulheres ou iam ser
mulheres, mulheres que são mortas à nascença porque são meninas”. Depois,
refere a violência doméstica e “a desigual remuneração”, revelando alguns
dados: em
Portugal 80% da violência na esfera doméstica “é praticada sobre mulheres”;
as mulheres “ganham em média em Portugal menos 17% do que os homens para
trabalho igual”; e 31%, em média, das mulheres mais velhas têm pensões
significativamente mais baixas do que as dos homens.
***
No Vaticano, está a decorrer, entre 6 a 9 de março,
a Assembleia Plenária da CAL (Pontifícia Comissão para a
América Latina) dedicada à mulher latino-americana, para a
qual foi convidado, a título excecional, um grupo de mulheres. O tema escolhido
pelo Papa para esta Plenária da CAL é “A
mulher, pilar da edificação da Igreja e da sociedade na América Latina”. A
este propósito, lê-se num comunicado de imprensa adrede divulgado:
“Já
que todos os membros e conselheiros da CAL são cardeais e bispos, desta vez –
em caráter excecional – foi convidado para a Plenária um grupo restrito de
personalidades femininas provenientes da América Latina, com diferentes cargos
de responsabilidade sociais e eclesiais. Sua presença, competência e experiência
serão fundamentais para enriquecer as reflexões e intercâmbio de ideias no
decorrer da Assembleia.”.
O programa prevê quatro conferências:
a Professora Ana Maria Bidegain destaca “os
obstáculos e os pontos de força para a promoção da mulher na realidade
latino-americana”; o Prof. Guzmán Carriquiry fala das mulheres que marcaram
“a guinada de uma transformação cultural”;
o Cardeal Francisco Robles apresenta o tema “a presença de Nossa Senhora e o papel da mulher na evangelização dos
povos latino-americanos”, e o Cardeal Marc Ouellet, Presidente da CAL fala
sobre “a mulher à luz do mistério da
Trindade e da Igreja”. Há ainda uma série de painéis sobre temas relacionados
com o universo feminino. E, no final, está prevista uma audiência com o Pontífice
na manhã do dia 9 de março.
A última vez que Francisco falou da
situação da mulher latino-americana foi na sua recente viagem ao Peru, em
janeiro passado, quando denunciou o “machismo” na região, que comporta
discriminações no trabalho, condições de pobreza e indigência e a violência que,
muitas vezes, provoca casos de feminicídio.
À margem dos trabalhos da CAL, em que participa, o Cardeal
Dom Odilo Pedro Scherer, fez hoje declarações à Rádio Vaticano, em que releva a
igualdade em dignidade do homem e da mulher com base na teologia e na
antropologia cristãs; as distorções a essa igualdade espelhadas na mentalidade
que perfilha a inferioridade da mulher e nas relações de violência, desprezo,
prepotência e injustiça bastante frequentes; o papel específico da mulher na
família, na Igreja e na sociedade; e a complementaridade entre homem e mulher.
***
Por
seu turno, o Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura em Portugal publica
hoje um artigo sob o título “Papa Francisco, o mundo e a
Igreja no feminino”, de Luciano Moia,
traduzido do Avvenire em que se
afirma que o Papa “sonha uma Igreja
pobre, mas também uma Igreja ‘esposa e mãe’, porque a mulher é o grande dom de Deus, é a harmonia do mundo”. E o
articulista, que vê intensidade lírica no discurso papal sobre a mulher, releva
a profundidade teológica presente nas atitudes e no discurso papal. Como
atitude última, ressalta a inscrição no calendário litúrgico da memória da
Virgem Maria Mãe da Igreja; e, no discurso, ressalta a denúncia da “persistência
de uma certa mentalidade machista, inclusive nas sociedades mais avançadas, nas
quais se consumam atos de violência contra as mulheres, vítimas de maus-tratos,
de tráfico e lucro, bem como reduzidas a objetos em alguma publicidade ou na
indústria do entretenimento”.
Porém,
segundo o autor, a “marca feminina” mais original de Francisco é “a sua atenção
ao papel materno, quer nos muitos acenos dirigidos à mãe Virgem Maria e à avó
Rosa, “mas sobretudo pelo que escreveu nos seus textos mais significativos. Assim,
na “Amoris laetitia” (AL), ao evidenciar a queda da natalidade, frisa:
“O enfraquecimento da presença materna, com
as suas qualidades femininas, é um risco grave para a nossa terra”.
Assim, reconhece
no “compromisso materno”, tão relevante como as “qualidades tipicamente femininas”
a conferição de deveres, “já que o seu ser mulher implica também uma missão
peculiar nesta terra, que a sociedade deve proteger e preservar para bem de
todos” (AL n. 173).
Também são
recorrentes no Papa os temas “da paridade e da reciprocidade homem-mulher”, pois
a mãe, “para destacar as suas caraterísticas de maneira equilibrada, precisa de
interagir com um homem-pai num plano de igual dignidade”, como recordou, por
exemplo, na audiência geral de 22 de abril de 2015:
“Quando finalmente Deus apresenta a mulher,
o homem reconhece, exultante, que essa criatura, e só ela, é parte dele. (…)
Finalmente há um espelhamento, uma reciprocidade. A mulher não é uma ‘réplica’
do homem; vem diretamente do gesto criador de Deus. Homem e mulher são da mesma
substância e são complementares.”.
Por outro lado, a perspetiva da reciprocidade e da igual dignidade
levou o Papa a acolher a denúncia sobre religiosas às vezes tratadas como
escravas pelos seus superiores, sem horário
de trabalho e retribuição salarial” (denúncia da revista “Donne
Chiesa Mondo”, ligada ao “L’ Osservatore
Romano”), tal como tem escalpelizado as situações de
violência, exploração, comercialização, mutilação e descarte em relação à
mulher.
É também em nome da dignidade e da reciprocidade que Francisco se
refere à teoria do género. Não o faz em
referência casual “a uma lógica criticada a partir duma perspetiva ideológica”,
mas para “não fragilizar a ‘beleza e a verdade’ da reciprocidade homem-mulher”.
Assim, a 4 de outubro de 2017, perante a Academia Pontifícia para a Vida,
salientou que a “utopia do neutro”, ao invés de “contrastar as interpretações
negativas da diferença sexual, que mortificam o seu valor irredutível para a
dignidade humana”, tende a diminuir e até a eliminar, de facto, essa diferença
por meio de “técnicas e práticas que a tornam irrelevante para o
desenvolvimento da pessoa e para as relações humanas” – o que acaba por
redundar “em discriminação contra a mulher”. É temática já abordada a 7 de fevereiro
de 2015, perante a assembleia plenária do Conselho Pontifício da Cultura, ao
encorajar “as mulheres as não se sentirem ‘hóspedes’, mas ‘plenamente
participantes dos vários âmbitos da vida social e eclesial’, desejando também um
maior envolvimento das mulheres nas responsabilidades
pastorais”.
Neste
sentido, Francisco deseja indubitavelmente “um aprofundamento teológico da
presença da mulher na Igreja”. Logo a 12 de outubro de 2013, falando ao então Conselho
para os Leigos, interrogava-se sobre a presença que a mulher tem na Igreja. E
agora, no prólogo do livro “Dez coisas
que o papa Francisco propõe às mulheres”, mostrou-se preocupado pelo facto
de “na própria Igreja o papel de serviço a que cada cristão é chamado” deslizar,
“no caso das mulheres, por vezes, para papéis que são mais de servidão do que
de verdadeiro serviço”.
***
E, a
assinalar o Dia da Mulher, se
transcrevem segmentos dum texto de Pearl Drego, membro do Movimento
Graal, Índia (In “Deus
é o existirmos e isto não ser tudo”, ed. Paulinas):
Quem é a
mulher? – Uma criação divina.
Como é a sua natureza? – Saturada de graça.
Com que é que se parece a mulher? – Com a bondade e a inteireza.
Que destino é o seu? – Seguir Jesus e continuar a obra divina pela palavra e pela vida.
Como é a sua natureza? – Saturada de graça.
Com que é que se parece a mulher? – Com a bondade e a inteireza.
Que destino é o seu? – Seguir Jesus e continuar a obra divina pela palavra e pela vida.
O espírito da mulher é sublime:
um dom de Deus.
A sua alma é divina: chega às estrelas.
O corpo feminino é sagrado: merece o nosso respeito.
O seu trabalho é santo: que o possa realizar em paz.
O seu gesto de afeto alimenta: aceitemo-lo com alegria.
As palavras da mulher são belas: há que ouvi-las atentamente.
O cuidado feminino conforta e acalma.
A sua alma é divina: chega às estrelas.
O corpo feminino é sagrado: merece o nosso respeito.
O seu trabalho é santo: que o possa realizar em paz.
O seu gesto de afeto alimenta: aceitemo-lo com alegria.
As palavras da mulher são belas: há que ouvi-las atentamente.
O cuidado feminino conforta e acalma.
O seu contributo é sacerdotal:
abençoado do Alto.
O alimento é vital para a mulher: há que alimentá-la bem.
Os milagres femininos são magníficos: acreditai e rejubilai.
São como diamantes as lágrimas das mulheres: guardai-as com carinho.
A zanga das mulheres é criativa: procurai a sua razão.
O alimento é vital para a mulher: há que alimentá-la bem.
Os milagres femininos são magníficos: acreditai e rejubilai.
São como diamantes as lágrimas das mulheres: guardai-as com carinho.
A zanga das mulheres é criativa: procurai a sua razão.
(…)
A maternidade é salvífica: um
privilégio para todos.
Das mulheres, a privacidade é limitada: há que dar-lhe mais espaço.
A sua esperança de vida é longa: expandi-a mais ainda.
Os gritos das mulheres ainda se fazem ouvir: correi a defendê-las.
A casa das mulheres irradia segurança: ajudai-as a manter tal segurança.
Os seus direitos dão-lhe dignidade: ajudai-as a mantê-los.
A sua coragem é contagiosa: aprendei com a sua coragem.
A legislação feita por mulheres é poderosa: elegei mais mulheres.
Quando cantam, as mulheres são expressivas: assimilai os seus temas.
O seu serviço é genuíno: possamos todas fazer florir esse impulso.
O seu sucesso é imenso: recompensemo-lo em abundância.
A firmeza das mulheres transborda ternura: aprendamos a sua força.
Das mulheres, a privacidade é limitada: há que dar-lhe mais espaço.
A sua esperança de vida é longa: expandi-a mais ainda.
Os gritos das mulheres ainda se fazem ouvir: correi a defendê-las.
A casa das mulheres irradia segurança: ajudai-as a manter tal segurança.
Os seus direitos dão-lhe dignidade: ajudai-as a mantê-los.
A sua coragem é contagiosa: aprendei com a sua coragem.
A legislação feita por mulheres é poderosa: elegei mais mulheres.
Quando cantam, as mulheres são expressivas: assimilai os seus temas.
O seu serviço é genuíno: possamos todas fazer florir esse impulso.
O seu sucesso é imenso: recompensemo-lo em abundância.
A firmeza das mulheres transborda ternura: aprendamos a sua força.
A sua paciência é
transbordante: que em nós ressoe em profundidade.
A sua política é corajosa: assumamos a mesma bandeira.
O calor feminino dá energia: confiemos no seu olhar.
A construção feminina da paz é fonte de vida: apoiemos o seu esforço.
As mulheres sabem como rezar: Deus escuta-as sem demora.
A sua caridade é singular: dirige-se ao coração.
A sua política é corajosa: assumamos a mesma bandeira.
O calor feminino dá energia: confiemos no seu olhar.
A construção feminina da paz é fonte de vida: apoiemos o seu esforço.
As mulheres sabem como rezar: Deus escuta-as sem demora.
A sua caridade é singular: dirige-se ao coração.
Que Deus abençoe todas as
mulheres da Terra,
E nos abençoe a nós também!
2018.03.08 – Louro de Carvalho
E nos abençoe a nós também!
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