O mundo reagiu à morte de Stephen Hawking. Do Ministro da Ciência português à Primeira-Ministra do
Reino Unido e Katy Perry, são muitos os que já comentaram a morte de Stephen
Hawking, elogiando o legado do cientista, que faleceu a 14 de março aos 76 anos
de idade.
Manuel Heitor, o Ministro
da Ciência português, reagiu à morte de Stephen Hawking, elogiando o legado do astrofísico
britânico. E disse:
“Hoje estar no mundo é saber fazer as
perguntas mais difíceis mesmo que não tenhamos respostas imediatas para elas e,
por isso, [Hawking] é um exemplo para todos, certamente para os mais jovens e é
uma lição de vida que vale a pena viver e vale a pena ter boas ideias.”.
Questionou-se
inclusive a si próprio. Por exemplo: quando, em 2010, veio repor toda a sua
teoria sobre o universo e buracos negros, mostrou que “faz parte de fazer
ciência estar sempre a questionar e a fazer novas perguntas”. Segundo Heitor, o
físico “não tinha medo da morte, mas tinha medo de não conseguir fazer tudo o
que queria fazer até morrer”, o que “mostra o que é o espírito de uma pessoa
forte que quer viver e quer estar sempre a fazer perguntas”.
A Primeira-Ministra
britânica enalteceu a mente “brilhante e extraordinária” do físico. Nas
palavras de Theresa May, Hawking foi “um dos grandes cientistas da sua geração”.
Por isso, “a sua coragem, humor e determinação para tirar o melhor da vida
foram uma inspiração”. Assim, “o seu legado não será esquecido”.
Barack Obama,
antigo presidente dos Estados Unidos, escreveu na sua página do Twitter: “Diverte-te
aí entre as estrelas”.
Eddie Redmayne, o ator que
o interpretou no filme “A Teoria de Tudo”
– papel com o qual ganhou um Óscar de Melhor Ator – enviou uma declaração ao
órgão digital norte-americano Mashable
do teor seguinte:
“Perdemos uma mente verdadeiramente
brilhante, um cientista assombroso e o homem mais divertido que já tive o
prazer de conhecer. O meu amor e os meus pensamentos estão com a sua
extraordinária família.”.
Jeremy Corbyn, líder do
Partido Trabalhista britânico, frisou a “coragem de tirar a respiração” do
físico na luta contra “as adversidades da vida”, bem como “a sua determinação
em explicar os mistérios do cosmos”.
O
comediante John Oliver, que
o entrevistou, recordou “um homem brilhante mas também incrivelmente divertido”.
E acrescentou: “Falar com ele foi “um
privilégio”.
A NASA, através da sua conta oficial de
Twitter, homenageou o astrofísico, destacando:
“As suas teorias desbloquearam um universo
de possibilidades que nós e o mundo ainda estamos a explorar”.
“Perdemos uma mente colossal e um espírito
magnífico. Descansa em paz, Stephen Hawking”.
Stephen Toope, professor
e vice-reitor da Universidade de Cambridge, afirmou:
“O professor Hawking era um indivíduo único
que será recordado de forma calorosa e afetuosa, não apenas em Cambridge, mas
em todo o mundo. As suas contribuições excecionais para o conhecimento
científico e para o aumento da popularidade da ciência e da matemática deixam
um legado que não poderá ser apagado. A sua personalidade era uma inspiração
para milhões de pessoas. Vamos sentir a falta dele.”.
A página
oficial da série “A Teoria do Big Bang” recordou,
no Twitter, a passagem de Hawking pelo programa e agradeceu-lhe a inspiração.
Al Jean, guionista
e produtor da série “Os Simpsons”,
sublinhou que o físico tinha “um sentido de humor tão vasto quanto o universo”.
Matthew
Buckley, professor e especialista em Física, lembrou que Hawking
era um grande cientista: “O mundo talvez
não o chegasse a conhecer se nunca tivesse sofrido da doença de que sofreu, mas
deveria”.
E a
cantora Katy Perry diz
ter “um grande buraco negro no coração” depois da morte do físico.
***
Stephen Hawking, o astrofísico
britânico que popularizou os mistérios da ciência junto de milhões de leitores
e desenvolveu estudos pioneiros sobre o universo, morreu na sua residência
em Cambridge, na Grã-Bretanha, na passada quarta-feira, dia 14, aos 76 anos.
Nasceu em
Oxford, na Inglaterra, em 8 de janeiro de 1942 – exatamente o dia do
aniversário de 300 anos da morte de Galileu
Galilei (1564-1642) – e morreu
no dia em que nasceu outro físico brilhante Albert
Einstein, em 14 de março de 1879.
Hawking sofria
desde os 21 anos de idade de esclerose lateral amiotrófica (ELA), doença degenerativa que lhe paralisou os movimentos
e até a voz, confinando-o a uma cadeira de rodas pelo resto da vida – mas que
não lhe limitou nem a curiosidade nem o brilhantismo, que o impulsionaram até ao
fim a buscar respostas para as grandes questões da ciência.
A sua morte foi
confirmada em nota divulgada pelos filhos, Lucy, Robert e Tim, onde se lia:
“Ele era um grande cientista e um homem
extraordinário cujo legado viverá por muitos anos. A sua coragem e persistência
com o seu brilhantismo e humor inspiraram pessoas ao redor do mundo.”.
O comunicado
não detalhou a causa da morte.
Formado em
Física na Universidade de Oxford, tornou-se pesquisador da Universidade de Cambridge, em
cosmologia – ciência que estuda o Universo na sua totalidade, envolvendo a sua
origem e evolução. Nos anos em que se dedicou ao estudo das leis fundamentais
que governam o cosmos, propôs que, se o Universo teve um início – o Big Bang –,
provavelmente terá um fim. Trabalhando com o cosmólogo Roger Penrose, demonstrou
que a Teoria
da Relatividade Geral, de Albert Einstein, leva a concluir que o
espaço-tempo, iniciado no Big Bang, chegaria ao fim com os buracos negros. A
tese implica que a teoria de Einstein e a teoria quântica devem estar
conectadas – algo controverso até hoje.
Utilizando
as duas teorias, em 1974, Hawking teorizou
que, por causa dos efeitos quânticos, os buracos negros não são totalmente
“negros”, mas deveriam emitir um tipo de radiação, contradizendo a ideia de que
nada poderia escapar desses corpos celestes.
A ideia
deste físico partia do princípio de que, graças ao caráter aleatório da teoria
quântica, não seria possível a existência do vazio absoluto no Universo. Mesmo
o vácuo espacial teria flutuações em seus campos energéticos, fazendo com que
pares de fótons aparecessem continuamente, destruindo-se mutuamente logo em
seguida. Mas esses “fótons virtuais” poderiam tornar-se partículas reais, caso
o horizonte de eventos dum buraco negro os separasse antes de eles se aniquilarem
um ao outro. Assim, um fóton seria tragado pelo horizonte de eventos e o outro liberado
no espaço. Seria a “radiação Hawking”,
emitida pelo buraco negro.
Em 2014,
Hawking reviu a sua teoria de forma surpreendente, ao escrever que “não existem
buracos negros”. Não existem, pelo menos, da maneira que os cosmólogos os
compreendem tradicionalmente. Esta sua nova teoria descartou a existência dum
“horizonte de eventos”, o ponto do qual nada pode escapar. Em vez disso, propôs
a existência dum “horizonte aparente”, que seria alterado de acordo com as
mudanças quânticas no buraco negro – teoria que permanece controversa.
O seu
primeiro livro que o tornou popular foi “Uma Breve História do Tempo: do Big Bang aos
Buracos Negros”, lançado em 1988. Nele, o autor procurou divulgar junto do
grande público questões fundamentais sobre o nascimento e morte do Universo.
Desde então, o cientista publicou outros livros de divulgação, como “O Universo em uma Casca de Noz” (2001), “O Fim da
Física” (1994), “Os Génios da Física: Sobre os Ombros de Gigantes” (2000), “Uma
Brevíssima História do Tempo”, O Grande Projeto (2010) e “a Teoria
de Tudo – A Origem e o Destino do Universo” (2017).
Conhecido
mundialmente por seus populares livros de divulgação científica – como o best-seller “Uma Breve História do Tempo”
– Hawking também chamava a atenção pelo contraste entre a sua vitalidade
intelectual e a sua fragilidade física.
A sua enorme
contribuição para a ciência veio em duas frentes. Na divulgação
científica, introduziu a cosmologia ao público leigo com livros que explicaram
o mundo fascinante da astrofísica com uma linguagem acessível e apelo pop
como os acima referenciados. É de
referir que “Uma Breve História do Tempo” (1988) foi um best-seller que vendeu mais de 10 milhões de
cópias ao redor do planeta. Na área académica, o astrofísico desenvolveu
estudos sobre gravidade, teoria quântica, relatividade e, acima de tudo,
buracos negros.
Encantado
pelos mistérios do universo, o próprio Hawking era um mistério para a medicina.
Com base em casos semelhantes, depois do diagnóstico da doença os médicos deram-lhe
poucos anos de vida. Erraram por muito. A ELA, porém, deixou o físico incapaz
de se mover. E, quando alcançou o estrelato, após a publicação de Uma Breve História do Tempo, já não tinha capacidade
nem de falar – e a “sua voz”, que se tornaria mundialmente conhecida, seria o
som metálico do sintetizador usado para ler o que ele digitava. O próprio astrofísico atribuía a sua notoriedade a essa
condição. Explicava ele, com boas doses de modéstia e humor:
“As pessoas são fascinadas pelo
contraste entre minhas capacidades físicas extremamente limitadas e a
imensidade do universo de que trato”.
O cientista mais célebre desde Einstein sabia que era (e parecia gostar de o ser) a celebridade da popcultura. Teve participação especial em séries
como Os Simpsons, Futurama, Star Trek e Big Bang Theory,
estrelou um documentário premiado, foi tema dum filme de Hollywood e adorava
fazer declarações bombásticas – como quando afirmou que “Deus não tem lugar” nas
teorias para a criação do universo ou que os humanos devem evitar o contacto
com ETs para
a própria sobrevivência – e fazer apostas públicas com outros cientistas
renomados (em 2012 perdeu 100 dólares quando o bóson de
Higgs foi detetado).
O astrónomo Martin Rees, que o conheceu quando ambos cursavam doutoramentos
na Universidade de Cambridge, disse de Hawking:
“Tornou-se possivelmente o cientista
mais famoso do mundo, aclamado por suas pesquisas brilhantes, por seus livros
best-sellers e, acima de tudo, por seu assombroso triunfo ante a adversidade”.
Rees, ex-presidente da Royal Society, uma das mais antigas e prestigiosas instituições
científicas do mundo, em que Hawking foi admitido em 1974, com apenas 32
anos, destaca, no entanto, que o sucesso entre o grande público não deve
ofuscar as importantes contribuições de Hawking ao mundo da ciência pura, em
particular nas áreas dos buracos negros, relatividade e gravidade. Com efeito, ele
fez mais que qualquer um desde Einstein para melhorar nosso conhecimento sobre
a gravidade”, disse Rees em 2012.
***
Também o
Vaticano assinala o adeus ao astrofísico britânico Stephen Hawking, que fora recebido por 4
Papas no Vaticano, “se tornou um dos cientistas mais conhecidos do mundo ao
abordar temas como a natureza da gravidade e a origem do universo” e, desde
1986, era Membro da Pontifícia Academia de Ciências.
Diz o Vatican
News:
“Faleceu na noite de quarta-feira (14/03) em Cambridge, o físico e pesquisador
britânico Stephen William Hawking,
aos 76 anos. Era o cientista mais popular desde Albert Einstein: um génio que
desvendou segredos do universo enquanto lutava contra a doença degenerativa
Esclerose Lateral Amiotrófica (ELA).”.
E continua:
Membro desde
1986 da Pontifícia Academia de Ciências, o cientista foi recebido por 4 Papas:
Paulo VI, em abril de 1975; João Paulo II, em outubro de 1981; Bento XVI, em
outubro de 2008; e Francisco, em novembro de 2016.
Genialidade
e fama precoces
Hawking nasceu
em 8 de janeiro de 1942 em Oxford, na Inglaterra. Aos 8 anos mudou-se para St.
Albans, cidade localizada a cerca de 30 km de Londres. Foi professor de
Matemática em Cambridge e dirigiu o departamento de Matemática Aplicada e
Física Teórica da mesma universidade. Em 1974 tornou-se um dos mais jovens
membros da Royal Society, com apenas 32 anos.
E destaca:
“Muitos de seus trabalhos se concentraram em
alinhar a relatividade à teoria quântica para explicar a criação e o
funcionamento do Universo”.
Como referência
de popularidade, ressalta: “Autor de 14 livros, a sua obra mais popular foi ‘Um breve história do tempo’, best-seller
lançado em 1988 que detalhava a lógica dos buracos negros a todo o universo. Em
2014, a história de sua vida foi narrada no filme ‘A teoria de tudo’, vencedor de um Oscar.”.
Sobre a adaptação
à doença, refere:
“Hawking também se tornou um símbolo de determinação
por ser portador da ELA e ter sobrevivido décadas. Aos 21 anos foi
diagnosticado com a doença que acaba com os neurónios motores, as células
nervosas responsáveis pelos movimentos do corpo e perdeu progressivamente sua
capacidade de se mover, falar, engolir e até respirar. A cadeira de rodas e a
crescente dificuldade para se comunicar não o impediram, no entanto, de seguir
sua carreira, já que sua capacidade intelectual permaneceu intacta. Dependente
de um sistema de voz computadorizado para se comunicar, o astrofísico
prosseguiu trabalhando até o fim, sem perder sua curiosidade e humildade diante
dos mistérios da ciência.”.
Frisando a
circunstância da morte em família, transcreve parte do testemunho dos filhos:
“Estamos profundamente entristecidos porque
nosso querido pai faleceu. Era um grande cientista e um extraordinário homem
cujo legado perdurará por muitos anos”. E ainda:
“Sua coragem
e persistência, brilho e humorismo inspiraram pessoas em todo o mundo.
Sentiremos sempre sua falta”.
E, por fim, a síntese circunstancial:
“Stephen
Hawking faleceu ‘pacificamente’ em sua casa, circundado por seus três filhos
Lucy, Robert e Tim”.
***
Cientista e
vaticano em boa relação pela similitude em querer acertar, para lá das
divergências!
2018.03.16 – Louro de Carvalho
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