sexta-feira, 2 de março de 2018

UMA SÓ FAMÍLIA HUMANA, CUIDAR DA CASA COMUM


É o tema da Semana Nacional da “Cáritas” em Portugal, que está a decorrer de 26 de fevereiro até ao próximo dia 4 de março.
Gosto de falar desta iniciativa, quando sei que algumas “Cáritas” diocesanas estão com problemas alegadamente por via da gestão de verbas (com o labéu de gestão danosa), mas sobretudo para dizer que não alinho na confusão entre a “Cáritas” de Lisboa e a “Cáritas” Portuguesa, sendo que a “Cáritas” Portuguesa é uma entidade nacional com personalidade e capacidade jurídicas próprias, bem como serviços e agentes próprios, e que em cada diocese, mais ativa e operativa ou menos, existe a “Cáritas” diocesana para garantir o serviço da ação pastoral da Igreja local junto de quem mais precisa. E é bom que os agentes operativos prestem, sim, um serviço assistencial sempre que a emergência o exige, mas que não se esqueçam de que o importante é trabalhar pela autonomização das pessoas e grupos que hoje se sentem fragilizados e dependentes, na linha de que nunca se deve dar por caridade o que é devido por justiça, pois a caridade cristã deveria ser o selo de Evangelho que se apõe à obra da promoção da justiça social, para garantir um rosto de humanidade em todo quanto se faz de bem.
Não se pode olvidar que a “Caritas” em Portugal é composta por mais de 1400 colaboradores profissionais, cerca de 100 dirigentes e conta com a colaboração regular de cerca de 250 voluntários e mais de 4 mil voluntários ocasionais.
Por outro lado, será de grande utilidade e de exercício de seriedade tentar conhecer todo o bem que as “Cáritas” fazem, mesmo aquelas que eventualmente acusem problemas de gestão. Com efeito é fácil – e a nossa comunicação social merece críticas neste aspeto – propalar os aspetos negativos das diversas organizações, sobretudo daquelas em que se evidencia o trabalho das Igrejas, mas torna-se bem difícil expor Urbi et Orbi a ação benéfica de quem trabalha pelas grandes causas, a não ser que seja útil fabricar mitos para chapar com eles na face de quem não gostamos. Mas, como diz António Costa, “é a vida”.
***
Ora, para lá dum conjunto de ações locais, nesta semana, a “Cáritas” quer a participação de todos os portugueses Peditório Público Nacional, entre os dias 1 e 4 de março.
Com efeito, são muitas as situações que levam os portugueses a procurar a ajuda da “Cáritas”. São elas os baixos rendimentos, o desemprego, a falta de saúde e a ausência de habitação.
Assim, segundo os dados oportunamente divulgados, no primeiro semestre de 2017, a rede nacional “Cáritas” atendeu um total de 68 258 pessoas. E os atendimentos reportados pelas “Cáritas” diocesanas relativamente ao primeiro semestre de 2017 registaram uma diminuição face aos anos anteriores, mas não com uma diferença muito elevada, verificando-se em relação ao ano de 2016 uma diminuição de 7%.
Eugénio Fonseca, presidente da “Cáritas” Portuguesa (e sabemos que é um lídimo discípulo de Dom Manuel Martins, que foi o 1.º Bispo de Setúbal) frisa:
Este ano, a Cáritas olhar particularmente para o mundo como ‘casa comum’ e é nessa perspetiva que desenvolve a sua missão diária de resposta às emergências locais e nacionais. Acreditamos que o mundo pode ser um lugar melhor se todos nos sentirmos parte de uma mesma família e é esse o contributo que a Cáritas quer dar a Portugal e ao Mundo.”.
Dom Joaquim Traquina, Bispo de Santarém e Presidente da Comissão Episcopal da Pastoral Social e Mobilidade (sucessor, neste cargo, de Dom António Francisco dos Santos, que foi Bispo do Porto), lembra que nunca podem andar sozinhos as expressões “casa comum” e “família humana”, sobretudo quando se pretende alcançar um desenvolvimento sustentável integral. Evocando as palavras do Papa ao sublinhar que não existem duas crises separadas, uma ambiental e outra social, mas uma e complexa crise socioambiental”, Dom José entende dever encontrar-se “uma abordagem integral que permita combater a pobreza, devolver a dignidade aos excluídos e, simultaneamente, cuidar da natureza”.
***
No sítio Web da “Cáritas” Portuguesa, fica plasmado o dinamismo de algumas das suas principais iniciativas e da sua ação em geral.   
A Semana Nacional Cáritas é uma iniciativa da rede “Cáritas” em Portugal que acontece todos os anos na semana que antecede o Dia Nacional Cáritas, que se assinala no 3.º domingo da Quaresma (este ano, 4 de março). É uma semana em que, por todo o país, se multiplicam atividades de ação social, atividades de animação pastoral e também iniciativas de angariação de fundos, como é o caso do peditório público nacional, que reverte para o apoio da missão da “Cáritas” a nível nacional.
Persegue os seguintes objetivos: divulgação as atividades de apoio social desenvolvidas pela rede “Cáritas”; promoção da reflexão sobre temas relevantes conexos com essas atividades; realização de atividades locais para dar a conhecer a “Cáritas” e o seu trabalho; e angariação de fundos (de 1 a 4 de março)
Em 2018, em torno do tema “Uma Só Família Humana, Cuidar da casa Comum”, pretende-se promover a reflexão na sociedade sobre a “ecologia integral” que é, para a “Cáritas”, estabelecer uma relação única com Deus, com o outro e com o planeta.
Apesar de existirem, na sociedade portuguesa, sinais de melhoria das condições de vida, as famílias chegam à “Cáritas” com problemas sociais graves, sobretudo em matéria de trabalho e sobre-endividamento, quer devido à insuficiência de recursos para fazer face às despesas correntes, quer devido a piores condições laborais. Esta realidade é ainda mais preocupante nos jovens, do que se deu conta no recente relatório conjunto da “Cáritas” Portuguesa e da “Cáritas” Europa “Os jovens na Europa precisam de um futuro!”.
Como se disse, no primeiro semestre de 2017, a rede nacional “Cáritas” respondeu a mais de 68 mil pessoas. A resposta às situações de emergência é missão da “Cáritas”. E, assim, em junho e outubro de 2017, esteve com as vítimas dos incêndios prestando apoio direto à população. As duas campanhas de recolha de fundos que se realizaram angariaram cerca de 2 milhões e 100 mil euros. Perto de metade destes recursos adveio dos ofertórios das comunidades cristãs, decidido pelos Bispos portugueses. Com esta verba, assumiu-se a construção de 51 habitações em Coimbra e Portalegre-Castelo Branco (28 concluídas e as restantes em curso), foram apoiados produtores de animais em Viseu e Guarda e muitas famílias nos complementos dos seus meios de vida. O trabalho foi feito em rede com as “Cáritas” diocesanas, as comunidades paroquiais, as autoridades públicas nacionais e locais e inúmeros parceiros.
O peditório público, que vai decorrer até 4 de março, reverte para o apoio de projetos sociais nas 20 dioceses do país. A conclusão do peditório coincide com o fim da Semana Nacional Cáritas, que este ano tem como tema ‘Uma Só Família Humana, Cuidar da Casa Comum’.
Em 2017 esta atividade permitiu angariar “um total de 194 510,41 euros que foram aplicados nos diferentes projetos diocesanos de apoio à população fragilizada”.
Na dimensão internacional, a “Cáritas” apoiou com alimentos, agasalhos, apoio social e alojamento mais de 3200 refugiados na Turquia, na Sérvia e na Grécia, mantendo-se ativa na resposta a esta crise humanitária. Esteve com as vítimas das cheias na Albânia e contribuiu com medicamentos para muitas famílias da Venezuela. Foi um trabalho realizado, através da rede mundial, com as “Cáritas” destes países.
A campanha da Caritas Internationalis “Partilhar a Viagem”, lançada em setembro, pelo Papa, pretende promover a “cultura do encontro” encorajando as pessoas a refletir, aproximando migrantes, refugiados e comunidades com o escopo de mudar corações e mentalidades. Além de se associar ao lançamento mundial, a “Cáritas” Portuguesa assinalou, com este tema, o 1.º Dia Mundial dos Pobres.
A Semana Nacional Cáritas – uma iniciativa que quer dinamizar na sociedade a reflexão à volta de uma “ecologia integral” que privilegia e defende “a relação única com Deus, com o outro e com o planeta” encerra no próximo domingo, na Sé de Santarém, com uma celebração eucarística presidida por Dom José Traquina, bispo desta diocese e presidente da Comissão Episcopal da Pastoral Social e Mobilidade Humana.
***
***
O Bispo de Santarém, por ocasião da Semana Nacional Cáritas deixou aos portugueses uma mensagem em que, além das afirmações que lhe foram atribuídas supra, refere que “o mundo é a nossa casa”, o que nos foi dado perceber desde a infância em qualquer lugar que tenhamos vivido e crescido ou no convívio com as que pessoas cujo contacto a vida nos proporciona e o que nos é todos os dias feito sentir pela comunicação social. Se o mundo é a nossa casa, o conjunto de quantos os habitam constituem a nossa família. Sendo assim, a nossa responsabilidade, começando no nosso núcleo familiar mais próximo, estende-se a todo o mundo, particularmente aos que nele vivem em jeito de fragilização, opressão, marginalização ou descarte.    
É nestes termos que o prelado escalabitano nos propõe a releitura atenta da encíclica Laudato Si’, do Papa Francisco, e destaca, a propósito, o segmento da introdução que diz:
O urgente desafio de proteger a nossa casa comum inclui a preocupação de unir toda a família humana na busca de um desenvolvimento sustentável e integral, pois sabemos que as coisas podem mudar. O Criador não nos abandona, nunca recua no seu projeto de amor, nem Se arrepende de nos ter criado. A humanidade possui ainda a capacidade de colaborar na construção da nossa casa comum. Desejo agradecer, encorajar e manifestar apreço a quantos, nos mais variados setores da atividade humana, estão a trabalhar para garantir a proteção da casa que partilhamos. Uma especial gratidão é devida àqueles que lutam, com vigor, por resolver as dramáticas consequências da degradação ambiental na vida dos mais pobres do mundo. Os jovens exigem de nós uma mudança; interrogam-se como se pode pretender construir um futuro melhor, sem pensar na crise do meio ambiente e nos sofrimentos dos excluídos.” (n.13).
Crente de que “as coisas podem mudar” e convicto de que “a nossa casa comum” e “toda a família humana” estão na rota da procura de um “desenvolvimento sustentável e integral”, o prelado do Ribatejo reforça:
É esta a missão da Cáritas. É este o nosso compromisso na transformação do mundo em que vivemos para que seja, cada vez mais, uma terra de irmãos, um mundo de paz.”.
***
Depois, é justo não deixar de pôr em relevo o “Projeto +Próximo”. Com efeito, apostando na organização do pilar social da Igreja e na formação dos agentes pastorais, a Cáritas ambiciona fazer caminho na estruturação dum modelo nacional para a intervenção social de proximidade da Igreja em Portugal, reforçando a formação das pessoas, comunidades e instituições católicas locais no desenvolvimento espiritual e social, de forma sustentada e duradoura. É uma aposta que aponta para a construção dum modelo de formação nacional, baseado num sistema descentralizado de formação (por Diocese, utilizando formadores locais), utilizando materiais de base nacionais devidamente reconhecidos e aceites pela hierarquia da Igreja Portuguesa.
Visa reforçar competências, animar e promover a criação de grupos em todas as comunidades paroquiais e melhorar a cooperação entre os vários organismos e movimentos da ação social e caritativa que já existem. Trata-se duma opção estratégica assumida para os próximos anos. E, desta forma, o projeto vem ganhando relevo como instrumento de resposta à crise através do desenvolvimento de atividades transversais de sensibilização que envolvem todos os cristãos e as organizações da Igreja empenhadas na pastoral social de proximidade. A abordagem projetada apoia-se fundamentalmente no esforço de gerar consensos quanto à forma de organização e de cooperação entre os organismos sócio-pastorais; na construção de materiais formativos; e na formação de formadores Diocesanos e de agentes paroquiais de ação social.
Tudo isto, porque “o kérigma possui um conteúdo inevitavelmente social: no próprio coração do Evangelho, aparece a vida comunitária e o compromisso com os outros e o conteúdo do primeiro anúncio tem uma repercussão moral imediata, cujo centro é a caridade”.
Tudo isto, sim, porque,para a Igreja, a caridade não é uma espécie de atividade de assistência social que se poderia, mesmo, deixar aos outros, mas pertence à sua natureza, é expressão irrenunciável da sua própria essência”.
Tudo isto, para que “que os lugares onde a Igreja se manifesta, particularmente as nossas paróquias e as nossas comunidades, se tornem ilhas de misericórdia no meio do mar da indiferença!”. (vd “Quem Somos, visão, missão e valores, http://caritas.pt/quem-somos/missao-visao-e-valores/).
2018.03.02 – Louro de Carvalho

Sem comentários:

Enviar um comentário