É o tema da Semana Nacional da “Cáritas”
em Portugal, que está a decorrer de 26 de fevereiro até ao próximo dia 4 de
março.
Gosto de falar
desta iniciativa, quando sei que algumas “Cáritas” diocesanas estão com
problemas alegadamente por via da gestão de verbas (com o labéu
de gestão danosa), mas
sobretudo para dizer que não alinho na confusão entre a “Cáritas” de Lisboa e a
“Cáritas” Portuguesa, sendo que a “Cáritas” Portuguesa é uma entidade nacional
com personalidade e capacidade jurídicas próprias, bem como serviços e agentes próprios,
e que em cada diocese, mais ativa e operativa ou menos, existe a “Cáritas”
diocesana para garantir o serviço da ação pastoral da Igreja local junto de
quem mais precisa. E é bom que os agentes operativos prestem, sim, um serviço assistencial
sempre que a emergência o exige, mas que não se esqueçam de que o importante é
trabalhar pela autonomização das pessoas e grupos que hoje se sentem fragilizados
e dependentes, na linha de que nunca se deve dar por caridade o que é devido
por justiça, pois a caridade cristã deveria ser o selo de Evangelho que se apõe
à obra da promoção da justiça social, para garantir um rosto de humanidade em
todo quanto se faz de bem.
Não se pode
olvidar que a “Caritas” em Portugal é composta por mais de 1400
colaboradores profissionais, cerca de 100 dirigentes e conta com a colaboração regular
de cerca de 250 voluntários e mais de 4 mil voluntários ocasionais.
Por outro
lado, será de grande utilidade e de exercício de seriedade tentar conhecer todo
o bem que as “Cáritas” fazem, mesmo aquelas que eventualmente acusem problemas
de gestão. Com efeito é fácil – e a nossa comunicação social merece críticas
neste aspeto – propalar os aspetos negativos das diversas organizações,
sobretudo daquelas em que se evidencia o trabalho das Igrejas, mas torna-se bem
difícil expor Urbi et Orbi a ação benéfica
de quem trabalha pelas grandes causas, a não ser que seja útil fabricar mitos
para chapar com eles na face de quem não gostamos. Mas, como diz António Costa,
“é a vida”.
***
Ora, para lá dum conjunto de ações locais, nesta semana, a “Cáritas” quer
a participação de todos os portugueses Peditório Público Nacional, entre os
dias 1 e 4 de março.
Com efeito, são muitas as situações que levam os portugueses a procurar a ajuda da “Cáritas”. São elas os baixos
rendimentos, o desemprego, a falta de saúde e a ausência de habitação.
Assim, segundo
os dados oportunamente divulgados, no primeiro semestre de 2017, a rede
nacional “Cáritas” atendeu um total de 68 258 pessoas. E os atendimentos reportados pelas “Cáritas”
diocesanas relativamente ao primeiro semestre de 2017 registaram uma diminuição
face aos anos anteriores, mas não com uma diferença muito elevada, verificando-se
em relação ao ano de 2016 uma diminuição de 7%.
Eugénio Fonseca,
presidente da “Cáritas” Portuguesa (e sabemos que é um lídimo discípulo
de Dom Manuel Martins, que foi o 1.º Bispo de Setúbal) frisa:
“Este ano, a Cáritas olhar particularmente
para o mundo como ‘casa comum’ e é nessa perspetiva que desenvolve a sua missão
diária de resposta às emergências locais e nacionais. Acreditamos que o mundo
pode ser um lugar melhor se todos nos sentirmos parte de uma mesma família e é
esse o contributo que a Cáritas quer dar a Portugal e ao Mundo.”.
Dom Joaquim
Traquina, Bispo de Santarém e Presidente da Comissão Episcopal da Pastoral
Social e Mobilidade (sucessor, neste cargo, de Dom António Francisco dos
Santos, que foi Bispo do Porto), lembra
que nunca podem andar sozinhos as expressões “casa comum” e “família humana”,
sobretudo quando se pretende alcançar um desenvolvimento sustentável integral. Evocando
as palavras do Papa ao sublinhar que não existem duas crises separadas, uma
ambiental e outra social, mas uma e complexa crise socioambiental”, Dom José
entende dever encontrar-se “uma abordagem integral que permita combater a pobreza, devolver a dignidade aos
excluídos e, simultaneamente, cuidar da natureza”.
***
No sítio
Web da “Cáritas” Portuguesa, fica
plasmado o dinamismo de algumas das suas principais iniciativas e da sua ação
em geral.
A Semana
Nacional Cáritas é uma iniciativa da rede “Cáritas” em Portugal que acontece
todos os anos na semana que antecede o Dia
Nacional Cáritas, que se assinala no 3.º domingo da Quaresma (este ano, 4
de março). É uma semana em que, por todo o
país, se multiplicam atividades de ação social, atividades de animação pastoral
e também iniciativas de angariação de fundos, como é o caso do peditório
público nacional, que reverte para o apoio da missão da “Cáritas” a nível
nacional.
Persegue os
seguintes objetivos: divulgação as atividades de apoio social desenvolvidas
pela rede “Cáritas”; promoção da reflexão sobre temas relevantes conexos com
essas atividades; realização de atividades locais para dar a conhecer a “Cáritas”
e o seu trabalho; e angariação de fundos (de 1 a 4 de março)
Em 2018, em
torno do tema “Uma Só Família Humana, Cuidar da casa Comum”, pretende-se
promover a reflexão na sociedade sobre a “ecologia integral” que é, para a “Cáritas”,
estabelecer uma relação única com Deus, com o outro e com o planeta.
Apesar de existirem,
na sociedade portuguesa, sinais de melhoria das condições de vida, as famílias
chegam à “Cáritas” com problemas sociais graves, sobretudo em matéria de trabalho
e sobre-endividamento, quer devido à insuficiência de recursos para fazer face
às despesas correntes, quer devido a piores condições laborais. Esta
realidade é ainda mais preocupante nos jovens, do que se deu conta no recente
relatório conjunto da “Cáritas” Portuguesa e da “Cáritas” Europa “Os jovens na
Europa precisam de um futuro!”.
Como se
disse, no primeiro semestre de 2017, a rede nacional “Cáritas” respondeu a mais
de 68 mil pessoas. A resposta às situações de emergência é missão da “Cáritas”.
E, assim, em junho e outubro de 2017, esteve com as vítimas dos incêndios prestando
apoio direto à população. As duas campanhas de recolha de fundos que se
realizaram angariaram cerca de 2 milhões e 100 mil euros. Perto de metade
destes recursos adveio dos ofertórios das comunidades cristãs, decidido pelos
Bispos portugueses. Com esta verba, assumiu-se a construção de 51 habitações em
Coimbra e Portalegre-Castelo Branco (28 concluídas e as restantes em
curso), foram apoiados produtores de
animais em Viseu e Guarda e muitas famílias nos complementos dos seus meios de
vida. O trabalho foi feito em rede com as “Cáritas” diocesanas, as comunidades
paroquiais, as autoridades públicas nacionais e locais e inúmeros parceiros.
O peditório público, que vai decorrer até
4 de março, reverte para o apoio de projetos sociais nas 20 dioceses do país. A
conclusão do peditório coincide com o fim da Semana Nacional Cáritas, que este
ano tem como tema ‘Uma Só Família Humana,
Cuidar da Casa Comum’.
Em 2017 esta atividade permitiu angariar
“um total de 194 510,41 euros que foram aplicados nos diferentes projetos
diocesanos de apoio à população fragilizada”.
Na dimensão
internacional, a “Cáritas” apoiou com alimentos, agasalhos, apoio social e
alojamento mais de 3200 refugiados na Turquia, na Sérvia e na Grécia,
mantendo-se ativa na resposta a esta crise humanitária. Esteve com as vítimas
das cheias na Albânia e contribuiu com medicamentos para muitas famílias da
Venezuela. Foi um trabalho realizado, através da rede mundial, com as “Cáritas”
destes países.
A campanha
da Caritas Internationalis “Partilhar
a Viagem”, lançada em setembro, pelo Papa, pretende promover a “cultura do encontro” encorajando as
pessoas a refletir, aproximando migrantes, refugiados e comunidades com o
escopo de mudar corações e mentalidades. Além de se associar ao lançamento
mundial, a “Cáritas” Portuguesa assinalou, com este tema, o 1.º Dia Mundial dos
Pobres.
A Semana Nacional Cáritas – uma iniciativa que
quer dinamizar na sociedade a reflexão à volta de uma “ecologia integral” que
privilegia e defende “a relação única com Deus, com o outro e com o planeta”
– encerra no próximo domingo, na Sé de Santarém,
com uma celebração eucarística presidida por Dom José Traquina, bispo desta
diocese e presidente da Comissão Episcopal da Pastoral Social e Mobilidade
Humana.
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O Bispo
de Santarém, por ocasião da Semana Nacional
Cáritas deixou aos portugueses uma mensagem em que, além das afirmações que lhe
foram atribuídas supra, refere que “o mundo é a nossa casa”, o que nos foi dado
perceber desde a infância em qualquer lugar que tenhamos vivido e crescido ou
no convívio com as que pessoas cujo contacto a vida nos proporciona e o que nos
é todos os dias feito sentir pela comunicação social. Se o mundo é a nossa
casa, o conjunto de quantos os habitam constituem a nossa família. Sendo assim,
a nossa responsabilidade, começando no nosso núcleo familiar mais próximo,
estende-se a todo o mundo, particularmente aos que nele vivem em jeito de
fragilização, opressão, marginalização ou descarte.
É nestes
termos que o prelado escalabitano nos propõe a releitura atenta da encíclica Laudato Si’, do Papa Francisco, e destaca, a propósito, o segmento
da introdução que diz:
“O urgente desafio de proteger a nossa casa comum inclui a preocupação
de unir toda a família humana na busca de um desenvolvimento sustentável e
integral, pois sabemos que as coisas podem mudar. O Criador não nos abandona,
nunca recua no seu projeto de amor, nem Se arrepende de nos ter criado. A
humanidade possui ainda a capacidade de colaborar na construção da nossa casa
comum. Desejo agradecer, encorajar e manifestar apreço a quantos, nos mais variados
setores da atividade humana, estão a trabalhar para garantir a proteção da casa
que partilhamos. Uma especial gratidão é devida àqueles que lutam, com vigor,
por resolver as dramáticas consequências da degradação ambiental na vida dos
mais pobres do mundo. Os jovens exigem de nós uma mudança; interrogam-se como
se pode pretender construir um futuro melhor, sem pensar na crise do meio
ambiente e nos sofrimentos dos excluídos.” (n.13).
Crente de
que “as coisas podem mudar” e convicto de que “a nossa casa comum” e “toda a
família humana” estão na rota da procura de um “desenvolvimento sustentável e
integral”, o prelado do Ribatejo reforça:
“É esta a missão da Cáritas. É este o nosso compromisso na transformação
do mundo em que vivemos para que seja, cada vez mais, uma terra de irmãos, um
mundo de paz.”.
***
Depois,
é justo não deixar de pôr em relevo o “Projeto +Próximo”. Com efeito, apostando
na organização do pilar social da
Igreja e na formação dos agentes pastorais, a Cáritas ambiciona fazer caminho
na estruturação dum modelo nacional para a intervenção social de proximidade da
Igreja em Portugal, reforçando a formação das pessoas, comunidades e
instituições católicas locais no desenvolvimento espiritual e social, de forma
sustentada e duradoura. É uma aposta que aponta para a construção dum modelo de
formação nacional, baseado num sistema descentralizado de formação (por Diocese,
utilizando formadores locais),
utilizando materiais de base nacionais devidamente reconhecidos e aceites pela
hierarquia da Igreja Portuguesa.
Visa reforçar
competências, animar e promover a criação de grupos em todas as comunidades
paroquiais e melhorar a cooperação entre os vários organismos e movimentos da ação
social e caritativa que já existem. Trata-se duma opção estratégica assumida para
os próximos anos. E, desta forma, o projeto vem ganhando relevo como instrumento
de resposta à crise através do desenvolvimento de atividades transversais de
sensibilização que envolvem todos os cristãos e as organizações da Igreja empenhadas
na pastoral social de proximidade. A abordagem projetada apoia-se
fundamentalmente no esforço de gerar consensos quanto à forma de organização e
de cooperação entre os organismos sócio-pastorais; na construção de materiais
formativos; e na formação de formadores Diocesanos e de agentes paroquiais de
ação social.
Tudo isto,
porque “o kérigma possui um conteúdo inevitavelmente social:
no próprio coração do Evangelho, aparece a vida comunitária e o compromisso com
os outros e o conteúdo do primeiro anúncio tem uma repercussão moral imediata,
cujo centro é a caridade”.
Tudo isto, sim,
porque, “para a Igreja, a caridade não
é uma espécie de atividade de assistência social que se poderia, mesmo, deixar
aos outros, mas pertence à sua natureza, é expressão irrenunciável da sua
própria essência”.
Tudo isto,
para que “que os lugares onde a Igreja se manifesta, particularmente as nossas paróquias
e as nossas comunidades, se tornem ilhas de misericórdia no meio do mar da
indiferença!”. (vd “Quem Somos, visão, missão e valores, http://caritas.pt/quem-somos/missao-visao-e-valores/).
2018.03.02 – Louro de Carvalho
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