Apesar dos eventuais
espirros verrinosos e de algumas críticas severas, vindas de dentro de setores
da própria, Igreja o pontificado de Francisco vai de vento em popa pelo bem do
homem através da Igreja, bem do homem que é a glória de Deus.
Assim,
apraz-me registar três episódios dados à estampa pela Vatican News, em véspera
do 5.º aniversário do conclave que elegeu Bergoglio como Papa Francisco e que
mostram a comunhão com o Romano Pontífice: uma carta do Papa emérito; a visita ‘ad limina’ dos bispos de rito latino das regiões árabes; e a
mensagem quaresmal dos Bispos da Conferência Episcopal do Senegal,
Guiné-Bissau, Cabo Verde e Mauritânia.
***
1. Bento
XVI quis contribuir para “unitaridade interior espiritual de dois
pontificados”: assim Mons. Viganò comentou a carta que lhe foi enviada pelo
Papa emérito. Com efeito, Bento XVI
escreveu uma carta ao Prefeito da Secretaria para a Comunicação da
Santa Sé, Mons. Dario Edoardo
Viganò, sobre a continuidade com o pontificado do Papa
Francisco.
A missiva
foi escrita por ocasião da apresentação da coletânea “A
Teologia do Papa Francisco”, da Livraria Editora Vaticana (LEV), hoje, 12 de março, na conferência de imprensa
realizada, em Roma, na Sala Marconi da Secretaria para a Comunicação. Escreve
Bento XVI:
“Aplaudo
esta iniciativa que se opõe e reage ao preconceito tolo segundo o qual o Papa
Francisco seria apenas um homem prático desprovido de uma particular formação
teológica ou filosófica, enquanto eu seria unicamente um teórico da teologia
que teria pouco entendido da vida concreta de um cristão hoje”.
O Papa
emérito agradece por ter recebido de presente os 11 livros escritos por
teólogos de fama internacional que formam a coletânea editada pelo presidente
da Associação Teológica Italiana, Pe.
Roberto Repole. Acrescenta Bento XVI:
“Os
pequenos volumes mostram com razão que o Papa Francisco é um homem de profunda
formação filosófica e teológica e ajudam a ver a continuidade interior entre os
dois pontificados, não obstante todas as diferenças de estilo e temperamento”.
Na referida
conferência de imprensa, o novo responsável editorial da LEV, Frei Giulio Cesareo,
OFM Conv., ressaltou estarem em andamento contactos com editores do mundo
inteiro. Até agora, foram assinados acordos para a distribuição da coletânea em inglês, espanhol, francês, português,
polonês e romeno.
Participaram
na conferência de imprensa o presidente emérito do Pontifício Conselho para a Promoção da Unidade dos Cristãos,
Cardeal Walter Kasper, o prefeito da Congregação
para a Doutrina da Fé, Dom Luis Francisco Ladaria Ferrer, e o presidente da
Associação Teológica Italiana, Pe.
Roberto Repole. E o evento foi moderado pela jornalista vaticanista Dra.
Elisabetta Lo Iacono, responsável pelo departamento de imprensa da Pontifícia Faculdade Teológica São
Boaventura de Roma.
Desde a sua primeira
apresentação pública na Praça São Pedro, na noite da sua eleição, ficou claro que o pontificado de Francisco se
apresentava com uma novidade de estilo: apresentar-se como
Bispo de Roma, pedir oração ao povo, no “silêncio ensurdecedor” duma praça
lotada, saudar com um simples “boa noite” os presentes – sinais eloquentes de estar
em andamento uma mudança na “maneira de colocar-se” e na “linguagem”.
O alcance
teológico do seu magistério foi examinado dentro da coletânea “A Teologia do Papa Francisco”, de 11
teólogos de renome internacional, que através de sua contribuição, mostram o ensinamento de Francisco, as suas
raízes, as novidades de seu pontificado, a continuidade com o magistério
precedente e as perspetivas que abre.
Os teólogos
são: Jurgen Werbick, Lucio Casula, Peter Hünermann, Roberto Repole, Carlos
Maria Galli, Santiago Madrigal Terrazas, Aristide Fumagalli, Juan Carlos
Scannone, Marinella Perroni, Piero Coda e Marko Ivan Rupnik.
***
2. Os bispos
de rito latino das regiões árabes exprimiram satisfação pela visita ‘ad limina’ ao Vaticano, pela
beatificação da religiosa italiana Sgorbati, martirizada em Mogadiscio, e
sobretudo pelas palavras de encorajamento do Papa.
A audiência com Francisco e a
peregrinação às Basílicas de São Pedro, Santa Maria Maior e São Paulo
fora-dos-muros – “onde rezámos pelo
fortalecimento da fé de nossos fiéis que vivem em situações difíceis, especialmente
na Síria, Iraque, Palestina, Somália e Iémen” – estiveram entre os momentos
mais importantes da Assembleia realizada em Roma de 5 a 10 de março, dos bispos
latinos das Regiões Árabes (Celra), que
coincidiu com a visita “ad limina”.
Os prelados provenientes do Egito, Síria, Iraque, Líbano, Jordânia, Palestina, Chipre, Djibuti, Somália e Península Árabe sublinharam, no comunicado final, o grande encorajamento vindo da grande atenção com que o Pontífice acompanha o desenrolar dos acontecimentos no Oriente Médio, da sua oração e do incansável trabalho que realiza pela paz e a justiça e pelo diálogo ecuménico e inter-religioso”.
“A mesma proximidade”, segundo o comunicado, foi sentida na visita à Secretaria de Estado. No encontro com o cardeal Parolin, os bispos foram informados do estado dos acordos entre Santa Sé e Israel, negociações realizadas no arco de 24 anos, mas ainda não assinadas, devendo-se o atraso na assinatura, em parte, à última crise entre o Município e as Igrejas de Jerusalém por causa dos impostos.
Durante sua permanência em Roma, os
bispos da Celra encontraram-se com os prefeitos e secretários dos dicastérios
para as Igrejas Orientais, para a Evangelização dos Povos, para os Leigos, a Família e a Vida, o Desenvolvimento Humano Integral, o Culto Divino e Disciplina dos Sacramentos, a Doutrina
da Fé, o Clero, a Educação Católica e a Signatura Apostólica. E visitaram os
Pontifícios Conselhos para o Diálogo
Inter-religioso, a Promoção da
Unidade dos Cristãos, o dos Textos
Legislativos e o Secretário para as
Relações com os Estados, arcebispo Paul Richard Gallagher.
Os prelados da Celra afirmam:
“Todos
estes encontros, durante os quais falámos dos nossos desafios e fizemos
questionamentos, foram ocasião para um verdadeiro diálogo ‘na verdade e na
caridade’ entre a Igreja Universal e as nossas Igrejas particulares”.
Parte dos trabalhos dos bispos
latinos foi dedicada à Assembleia Geral ordinária do Sínodo dos Bispos sobre o
tema “Os jovens, a fé e o discernimento
vocacional”, que terá lugar em Roma em outubro próximo. Depois de terem
discutido o documento preparatório, os prelados escolheram o bispo delegado e
os dois jovens que representarão as dioceses na reunião pré-sinodal, de 19 a 24
de março, em Roma.
Os bispos receberam com satisfação a
notícia da beatificação, a 26 de maio, em Piacenza, da Irmã Leonella Sgorbatti,
missionária da Consolata, martirizada em Mogadíscio no ano de 2006. A este
respeito, declararam:
“Pensando
na vida desta irmã e aos milhares de mártires da fé, recordamos que o seu
sangue é fonte de encorajamento e de esperança em nosso compromisso em favor
dos pobres. Saudamos com respeito e afeto as Congregações religiosas, os
sacerdotes e os fiéis que trabalham em situações dramáticas, pensando em
particular nas Missionárias da Caridade, que continuam o seu serviço no Iémen”.
A próxima assembleia da Celra terá
lugar no Cairo, em fevereiro de 2019.
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3. Os Bispos
da Conferência Episcopal do Senegal, Guiné-Bissau, Cabo Verde e Mauritânia
convidam a refletir sobre o “Respeito
e a Promoção do Bem Comum”.
Sendo a Quaresma
um tempo de reflexão sobre o ser cristão, geralmente os bispos emitem mensagens
para ajudar os fiéis a meditar e a rezar sobre o que significa ser cristão.
Este ano, estes Bispos exortam a meditar sobre o “Respeito e a Promoção do Bem Comum”, meditação a fazer em
família, nas comunidades sacerdotais e religiosas, nas comunidades eclesiais de
base, nas paróquias, nas associações e nos movimentos, nas dioceses…
Na sua
mensagem, explicam o que se entende por Bem Comum, ilustram os obstáculos à sua
realização, dão indicações para o alcançar e lançam alguns apelos. Mas,
antes de tudo, frisam que “o respeito e a
promoção do Bem Comum fazem parte da caridade de Cristo (…). De facto,
trabalhar e responder às reais necessidades do próximo constituem um modo de
viver a caridade cristã” – escrevem, citando a encíclica Deus Caritas
Est, Deus é Caridade.
O que é o
Bem comum
Recordando que
o Bem comum é para todos os membros da comunidade social, os Bispos explicam que,
segundo os ensinamentos da Igreja, é “um
conjunto de condições sociais que permitem, tanto aos grupos como a cada um dos
seus membros alcançar a perfeição da maneira mais total e mais completa”.
Não se refere só aos bens, mas sobretudo à pessoa e a cada pessoa, ou seja: o
Bem comum pressupõe o respeito pela pessoa humana como tal, com direitos
fundamentais e inalienáveis ordenados para o seu desenvolvimento integral. Mas,
para que seja devidamente promovido e realizado, é preciso um conjunto de
condições.
Os
obstáculos
Isto
significa ter consciência dos obstáculos a tal realização e
ultrapassá-los. Então, depois de dizerem o que entendem por Bem Comum, os
Bispos enumeram e ilustram alguns dos obstáculos:
“Os desvios da solidariedade africana; a corrupção, a violação dos
Direitos Humanos; a mentalidade do açambarcamento e do desperdício; a má governação”.
No atinente
aos desvios da solidariedade africana, anotam que, em nome dessa solidariedade,
alguns pensam que os outros têm o dever de os sustentar e cai-se no
parasitismo; e permite-se desviar o dinheiro público ou os bens da Igreja para
si mesmo ou para benefício dos membros da família, do clã, da etnia e da
região. A corrupção, praticada a diversos níveis, é praga que favorece a
preguiça e o parasitismo, cria a pobreza, é a primeira causa de desvios de
dinheiro público, provoca degradação acelerada dos costumes, destrói a
sociedade. A violação dos direitos humanos é um sério obstáculo à realização do
Bem Comum. É, muitas vezes, gerada pela corrupção sob forma de violência nas
relações de dominação e exploração. Há, depois, a mentalidade do açambarcamento
e do desperdício de meios adquiridos de forma desonesta, ou seja, acumulação
egoísta das riquezas por indivíduos ou grupos em detrimento do Bem comum, a par
da tendência para o desperdício. E um outro obstáculo à realização do Bem Comum
é a má governação, que resulta da má conceção do poder político, entendido não
como condição para servir, mas para ser servido. Nesta mesma linha insere-se a
concentração em vez da separação dos poderes judicial, legislativo e executivo.
Indicações
para alcançar o Bem Comum
Ultrapassar
os obstáculos ao Bem Comum, no dizer dos Bispos, requer políticas que
privilegiem a pessoa humana e o seu pleno desenvolvimento. Para favorecê-las, é
preciso ter em conta as condições e os locais de realização. No contexto dos
seus territórios, consideram – na linha de Francisco – que tem de se respeitar
a Casa Comum, fazer com que as instituições do Estado funcionem adequadamente,
educar para cidadania e civismo, rever a conceção da solidariedade africana e
do poder político. Por outro lado, também o clima é um bem comum que temos o dever
de cuidar. E falar em desenvolvimento sustentável requer solidariedade entre
gerações. Não se pode, portanto, ser indiferente à Terra.
O
funcionamento correto das instituições é outro requisito para a realização do
Bem Comum. E aqui os Bispos recordam que se trata de servir e não de ser
servido ou de se servir. A separação dos poderes é mais uma vez evocada para
dizer que a independência e a integridade do sistema judicial contribuirão em muito
para promoção do Bem Comum, pois, “enquanto
houver impunidade, será difícil, ou mesmo impossível, trabalhar pelo Bem Comum”.
É também
preciso educar para responsabilidade e para a cidadania se se quer promover o
Bem Comum. Há que fazer nascer e crescer nas mentes e nos corações das
crianças, jovens, adultos, valores e comportamentos como a dignidade,
autoconfiança, amor ao país, etc.
Face a isto,
os Bispos declaram:
“Nós, cristãos, não nos contentamos em esperar, criticar ou ficar para
trás, mas empenhamo-nos resolutamente nas instâncias e estruturas onde o futuro
do país e suas comunidades são decididos e construídos”.
Há também
que rever a conceção e a prática da solidariedade africana, encorajando todos a
participarem ativamente no desenvolvimento da comunidade. O respeito e a
promoção do Bem Comum exigem a contribuição de todos e de cada um. E a família,
a comunidade, a escola, são lugares onde a educação para o Bem comum deve
acontecer num espírito de intercolaboração – insistem os Bispos, que passam a
lançar alguns apelos: aos pais, aos fiéis leigos, aos agentes pastorais –
bispos, sacerdotes e consagrados – aos dirigentes e militantes políticos, aos
parlamentares, aos juízes.
Conteúdo dos
apelos
A cada uma
destas categorias pedem para assumir as próprias responsabilidades em prol do
bem comum, da paz, do desenvolvimento durável e integral. E concluem com estas
palavras:
“Queremos todos juntos nos comprometer no caminho das mudanças de
mentalidades e comportamento que, reclamam o respeito e a promoção do Bem
Comum, condição vital para o desenvolvimento dos nossos países. Tais mudanças
estão em sintonia com a nossa Quaresma cristã, tempo forte de conversão que nos
conduz à vitória da Páscoa.”.
Tudo passa
pela correta conceção do poder político, pelo respeito pela separação dos
poderes, pela educação, pela boa governação, pelo cuidado com a Casa Comum (terra, mar,
ar, clima..), pela
atitude solidária, pelo exercício da cidadania e pelo civismo, bem como pela
boa relação com Deus, consigo mesmo e com o próximo, nomeadamente com os mais
débeis.
Três bons
motivos de comunhão eclesial em prol do ser cristão e do ser Igreja e agir como
tal.
2018.03.12 – Louro de Carvalho
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