Soube do
falecimento de Dom António dos Santos, pelo que, tal como qualquer um dos
crentes na Ressurreição final e na convicção de que Deus o recompensa dos seus
lavores apostólicos, dirijo a Deus a prece pela sua alma e a oração de ação de
graças por tudo quanto Deus lhe deu a ele e sobretudo pelos benefícios que, por
seu intermédio, concedeu às comunidades a cujo serviço foi chamado a colocar-se
e às pessoas e grupos que tiveram a sorte de o ter em sua companhia e com elas
na defesa dos valores evangélicos.
Porém,
não posso deixar de vincar a sua simpatia pessoal que nele encontrei aquando da
comum participação numas jornadas de reflexão teológico-pastorais que
decorreram, por iniciativa do Grupo Promotor do Movimento por um Mundo Melhor, na Casa da Sagrada Família, na Praia
de Mira, numa das semanas do mês de dezembro de 1975, tendo sido recentemente
eleito Bispo Auxiliar de Aveiro, com o título de
Bispo de Tábora. Ali se mostrou um homem piedoso, bem disposto, bom conversador
e paciente. Tanto assim foi que um padre alentejano e eu, um de cada lado do
leito de merecido repouso, lhe atribulámos, a pé firme, a paciência com
anedotas contadas à vez durante a maior parte da noite na presença de outros
jovens tão irreverentes como nós. E o recém-eleito Sucessor dos Apóstolos ria e
aturava-nos.
É certo
que poucas mais vezes o encontrei. No entanto, recordo-me de termos tomado um
café em Moimenta da Beira, na Pastelaria Martins, num dos primeiros dias de
março de 1980, em trânsito para Lamego para a celebração das exéquias do Bispo
emérito Dom João da Silva Campos Neves. E, quando me apresentou a dois
dignitários da diocese da Guarda, assenti dizendo que sabia porque é estava
tudo tão certinho. Também conversei com ele na celebração do encerramento do último
curso de professores do ensino primário da Escola do Magistério Primário da
Guarda. E, irreverente como eu era, a partir da sacristia da Sé Catedral,
apontei para a cadeira episcopal e disse-lhe: “Aquela cadeira há de ser minha”. E a resposta foi pronta: “É provável, mas não enquanto eu cá estiver”.
E a última
vez que ouvi a sua palavra publicamente proferida foi na Covilhã, na celebração
da Eucaristia da bênção das pastas dos finalistas da Universidade da Beira
Interior, a 22 de maio de 2004.
***
Sobre o
óbito do bispo emérito da Guarda, Dom António dos Santos – que morreu ontem dia
26 de março, pelas 19,30 horas, aos 85 anos, no Hospital Sousa Martins, onde
estava internado – o Bispo diocesano Dom Manuel da Rocha Felício refere que o
prelado emérito foi “um bispo amigo dos seus padres e próximo de todos”.
Em mensagem
publicada na página da Internet da diocese, o Bispo da Guarda assegura que,
neste momento, a diocese lhe expressa “profunda gratidão, sabendo nós que
as suas últimas palavras também foram estas: ‘Gosto muito das pessoas da Guarda. Levo a Guarda no meu coração’.”. Com efeito, “depois dos tempos difíceis vividos
pelo seu antecessor Dom Policarpo da Costa Vaz, as vocações e as ordenações
sacerdotais nesta diocese da Guarda tiveram com Dom António dos Santos
significativo crescimento”, a ponto de ter chegado a “ordenar só num ano cinco
novos padres”.
Na nota, o
prelado diocesano diz também que a Guarda lhe deve “a decisão de promover a
ordenação de diáconos permanentes, importante serviço que hoje é uma realidade
na diocese”.
Além disso,
o Bispo emérito atraiu para a diocese da Guarda “a comunidade contemplativa das
Irmãs Carmelitas, em meados dos anos 90 do século passado, e mandou construir
para elas o Convento da Santíssima Trindade”.
De facto,
como conclui Dom Manuel Felício, “a experiência pastoral de pároco e de vigário
geral que trouxe da sua diocese de origem, a diocese de Aveiro, em muito ajudou
o bom trabalho desenvolvido” na diocese da Guarda.
***
Dom António
dos Santos nasceu a 14 de abril de 1932, na localidade de Quintã, do concelho
de Vagos, e foi ordenado presbítero em 1 de julho de 1956, em
Albergaria-a-Velha. Exerceu funções
na diocese de Aveiro, sendo coadjutor na paróquia da Branca, pároco em Oiã
e ílhavo e, depois, vigário geral da diocese. Em 6 de dezembro de 1975,
foi nomeado Bispo Auxiliar de Aveiro, com o título de Bispo de Tábora, e a
celebração da sua ordenação episcopal foi realizada em 7 de abril de 1976
no pavilhão municipal de Ílhavo.
Entre 1976 e
1979 exerceu as funções de bispo auxiliar na diocese de Aveiro e, em 17 de
novembro de 1979, foi nomeado bispo da Guarda, dando entrada solene na diocese
no dia 2 de fevereiro de 1980, mantendo-se em atividade até 1 de dezembro de
2005, altura em que foi aceite o seu pedido de resignação, por motivos de saúde, pelo Papa Bento XVI, tendo-lhe sucedido Dom Manuel da Rocha Felício, que
por ele fora recebido como Bispo Coadjutor em 16 de janeiro de 2005.
A diocese
assinalou os 60 anos de ordenação sacerdotal do bispo emérito da Guarda, no dia
1 de julho de 2016.
O corpo do
prelado emérito está a ser velado na igreja da Misericórdia e as exéquias
solenes serão realizadas na Sé da Guarda, na quarta-feira, dia 28, às 15 horas,
seguindo depois o cortejo fúnebre para a sua terra natal, na paróquia de Santo
António de Vagos, na diocese de Aveiro.
O bispo da
Guarda, Manuel Felício, enviou uma mensagem a todos os padres da diocese a quem
pediu que, no dia de hoje, toquem os sinos “de cada igreja paroquial para
assinalar o falecimento” do Bispo emérito.
***
A página da internet da diocese de Aveiro, cujo Bispo
diocesano, Dom António Manuel Moiteiro Ramos, é oriundo do clero da diocese da
Guarda, tem uma nota do prelado atual sob o título “Em memória de Dom António dos
Santos” e, na portada, a frase lapidar “O pastor seja o primeiro na ação, na contemplação, no silêncio e próximo
de todos pela compaixão”, tirada do livro Estímulo de Pastores, do Beato frei Bartolomeu dos
Mártires, o virtuoso Arcebispo de Braga e notável Padre do Concílio de Trento,
que “define, de uma forma muito expressiva, a vida, o sacerdócio e o episcopado
do Senhor Dom António dos Santos”.
Da sua extensa atividade apostólica, Dom António Moiteiro
destaca “o seu amor às vocações sacerdotais e de consagração, apelando
constantemente às comunidades cristãs a darem as mãos nesta causa de primeira
importância na Igreja”. E explica com algum pormenor e muita emoção:
“Os testemunhos que vou ouvindo do seu amor
pelas vocações nas várias paróquias onde exerceu o seu ministério sacerdotal e,
sobretudo, a sua ação na Diocese da Guarda – onde ordenou mais de quatro
dezenas de sacerdotes, dos quais eu sou um deles – manifestam o seu amor à
Igreja e a sua preocupação pelo futuro das comunidades cristãs. Ainda estou a
ouvi-lo pedir às paróquias o seu compromisso por esta causa e a cadeia de
orações que ele intensificou na Diocese.”.
E atrevia-se a afirmar, no momento das ordenações, que “os maiores benfeitores da Diocese eram as
famílias que davam o melhor que tinham, isto é, os seus filhos”.
Do seu modo de vida, escreve o Bispo de Aveiro;
“Viveu uma vida simples e austera, e para
aqueles que o conhecemos mais de perto fica a sua amizade, o seu zelo de pastor
e a espiritualidade profunda que transmitia a todos nós”.
E finaliza com um recado-prece em prol de Aveiro e Guarda, em
especial pelos seminários e sacerdotes:
“Senhor Dom António: Junto de Jesus, o
centro da sua vida, e de Maria, a quem tanto amava, interceda pelos seminários
e sacerdotes de Aveiro e da Guarda para que sejamos pastores segundo o coração
misericordioso de Deus”.
***
É, pois, com
sentido do dever e da amizade que lamento a morte do Bispo simpático e
dedicado, por ele também rezando, bem como para que, por seu rogo, a Igreja,
consagrada na Verdade, seja mais inserida, ativa e missionária e o mundo seja mais
justo e fraterno.
2018.03.27 –
Louro de Carvalho
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