terça-feira, 27 de março de 2018

Dom António dos Santos, Bispo emérito da Guarda


Soube do falecimento de Dom António dos Santos, pelo que, tal como qualquer um dos crentes na Ressurreição final e na convicção de que Deus o recompensa dos seus lavores apostólicos, dirijo a Deus a prece pela sua alma e a oração de ação de graças por tudo quanto Deus lhe deu a ele e sobretudo pelos benefícios que, por seu intermédio, concedeu às comunidades a cujo serviço foi chamado a colocar-se e às pessoas e grupos que tiveram a sorte de o ter em sua companhia e com elas na defesa dos valores evangélicos.
Porém, não posso deixar de vincar a sua simpatia pessoal que nele encontrei aquando da comum participação numas jornadas de reflexão teológico-pastorais que decorreram, por iniciativa do Grupo Promotor do Movimento por um Mundo Melhor, na Casa da Sagrada Família, na Praia de Mira, numa das semanas do mês de dezembro de 1975, tendo sido recentemente eleito Bispo Auxiliar de Aveiro, com o título de Bispo de Tábora. Ali se mostrou um homem piedoso, bem disposto, bom conversador e paciente. Tanto assim foi que um padre alentejano e eu, um de cada lado do leito de merecido repouso, lhe atribulámos, a pé firme, a paciência com anedotas contadas à vez durante a maior parte da noite na presença de outros jovens tão irreverentes como nós. E o recém-eleito Sucessor dos Apóstolos ria e aturava-nos.
É certo que poucas mais vezes o encontrei. No entanto, recordo-me de termos tomado um café em Moimenta da Beira, na Pastelaria Martins, num dos primeiros dias de março de 1980, em trânsito para Lamego para a celebração das exéquias do Bispo emérito Dom João da Silva Campos Neves. E, quando me apresentou a dois dignitários da diocese da Guarda, assenti dizendo que sabia porque é estava tudo tão certinho. Também conversei com ele na celebração do encerramento do último curso de professores do ensino primário da Escola do Magistério Primário da Guarda. E, irreverente como eu era, a partir da sacristia da Sé Catedral, apontei para a cadeira episcopal e disse-lhe: “Aquela cadeira há de ser minha”. E a resposta foi pronta: “É provável, mas não enquanto eu cá estiver”.
E a última vez que ouvi a sua palavra publicamente proferida foi na Covilhã, na celebração da Eucaristia da bênção das pastas dos finalistas da Universidade da Beira Interior, a 22 de maio de 2004.
***
Sobre o óbito do bispo emérito da Guarda, Dom António dos Santos – que morreu ontem dia 26 de março, pelas 19,30 horas, aos 85 anos, no Hospital Sousa Martins, onde estava internado – o Bispo diocesano Dom Manuel da Rocha Felício refere que o prelado emérito foi “um bispo amigo dos seus padres e próximo de todos”.
Em mensagem publicada na página da Internet da diocese, o Bispo da Guarda assegura que, neste momento, a diocese lhe expressa “profunda gratidão, sabendo nós que as suas últimas palavras também foram estas: ‘Gosto muito das pessoas da Guarda. Levo a Guarda no meu coração’.”. Com efeito, “depois dos tempos difíceis vividos pelo seu antecessor Dom Policarpo da Costa Vaz, as vocações e as ordenações sacerdotais nesta diocese da Guarda tiveram com Dom António dos Santos significativo crescimento”, a ponto de ter chegado a “ordenar só num ano cinco novos padres”.
Na nota, o prelado diocesano diz também que a Guarda lhe deve “a decisão de promover a ordenação de diáconos permanentes, importante serviço que hoje é uma realidade na diocese”.
Além disso, o Bispo emérito atraiu para a diocese da Guarda “a comunidade contemplativa das Irmãs Carmelitas, em meados dos anos 90 do século passado, e mandou construir para elas o Convento da Santíssima Trindade”.
De facto, como conclui Dom Manuel Felício, “a experiência pastoral de pároco e de vigário geral que trouxe da sua diocese de origem, a diocese de Aveiro, em muito ajudou o bom trabalho desenvolvido” na diocese da Guarda.
***
Dom António dos Santos nasceu a 14 de abril de 1932, na localidade de Quintã, do concelho de Vagos, e foi ordenado presbítero em 1 de julho de 1956, em Albergaria-a-Velha. Exerceu funções na diocese de Aveiro, sendo coadjutor na paróquia da Branca, pároco em Oiã e ílhavo e, depois, vigário geral da diocese. Em 6 de dezembro de 1975, foi nomeado Bispo Auxiliar de Aveiro, com o título de Bispo de Tábora, e a celebração da sua ordenação episcopal foi realizada em 7 de abril de 1976 no pavilhão municipal de Ílhavo.
Entre 1976 e 1979 exerceu as funções de bispo auxiliar na diocese de Aveiro e, em 17 de novembro de 1979, foi nomeado bispo da Guarda, dando entrada solene na diocese no dia 2 de fevereiro de 1980, mantendo-se em atividade até 1 de dezembro de 2005, altura em que foi aceite o seu pedido de resignação, por motivos de saúde, pelo Papa Bento XVI, tendo-lhe sucedido Dom Manuel da Rocha Felício, que por ele fora recebido como Bispo Coadjutor em 16 de janeiro de 2005.
A diocese assinalou os 60 anos de ordenação sacerdotal do bispo emérito da Guarda, no dia 1 de julho de 2016.
O corpo do prelado emérito está a ser velado na igreja da Misericórdia e as exéquias solenes serão realizadas na Sé da Guarda, na quarta-feira, dia 28, às 15 horas, seguindo depois o cortejo fúnebre para a sua terra natal, na paróquia de Santo António de Vagos, na diocese de Aveiro.
O bispo da Guarda, Manuel Felício, enviou uma mensagem a todos os padres da diocese a quem pediu que, no dia de hoje, toquem os sinos “de cada igreja paroquial para assinalar o falecimento” do Bispo emérito.
***
A página da internet da diocese de Aveiro, cujo Bispo diocesano, Dom António Manuel Moiteiro Ramos, é oriundo do clero da diocese da Guarda, tem uma nota do prelado atual sob o título “Em memória de Dom António dos Santos” e, na portada, a frase lapidar “O pastor seja o primeiro na ação, na contemplação, no silêncio e próximo de todos pela compaixão”, tirada do livro Estímulo de Pastores, do Beato frei Bartolomeu dos Mártires, o virtuoso Arcebispo de Braga e notável Padre do Concílio de Trento, que “define, de uma forma muito expressiva, a vida, o sacerdócio e o episcopado do Senhor Dom António dos Santos”.
Da sua extensa atividade apostólica, Dom António Moiteiro destaca “o seu amor às vocações sacerdotais e de consagração, apelando constantemente às comunidades cristãs a darem as mãos nesta causa de primeira importância na Igreja”. E explica com algum pormenor e muita emoção:
Os testemunhos que vou ouvindo do seu amor pelas vocações nas várias paróquias onde exerceu o seu ministério sacerdotal e, sobretudo, a sua ação na Diocese da Guarda – onde ordenou mais de quatro dezenas de sacerdotes, dos quais eu sou um deles – manifestam o seu amor à Igreja e a sua preocupação pelo futuro das comunidades cristãs. Ainda estou a ouvi-lo pedir às paróquias o seu compromisso por esta causa e a cadeia de orações que ele intensificou na Diocese.”.
E atrevia-se a afirmar, no momento das ordenações, que “os maiores benfeitores da Diocese eram as famílias que davam o melhor que tinham, isto é, os seus filhos”.
Do seu modo de vida, escreve o Bispo de Aveiro;
Viveu uma vida simples e austera, e para aqueles que o conhecemos mais de perto fica a sua amizade, o seu zelo de pastor e a espiritualidade profunda que transmitia a todos nós”.
E finaliza com um recado-prece em prol de Aveiro e Guarda, em especial pelos seminários e sacerdotes:
Senhor Dom António: Junto de Jesus, o centro da sua vida, e de Maria, a quem tanto amava, interceda pelos seminários e sacerdotes de Aveiro e da Guarda para que sejamos pastores segundo o coração misericordioso de Deus”.
***
É, pois, com sentido do dever e da amizade que lamento a morte do Bispo simpático e dedicado, por ele também rezando, bem como para que, por seu rogo, a Igreja, consagrada na Verdade, seja mais inserida, ativa e missionária e o mundo seja mais justo e fraterno.
2018.03.27 – Louro de Carvalho

Sem comentários:

Enviar um comentário