quarta-feira, 14 de março de 2018

Orações pelo Papa são parte integrante da mensagem de Fátima


A asserção é do Padre Carlos Cabecinhas, Reitor do Santuário de Fátima, e foram proferidas no 5.º aniversário do Pontificado do Papa Francisco, que o Santuário fez questão de evocar na celebração da missa na Basílica da Santíssima Trindade no quadro do programa da peregrinação mensal de março (dia 13), tendo-se feito anunciar dois grupos de peregrinos nos serviços do Santuário.
Sobre o 5.º aniversário da eleição de Francisco pelo conclave dos cardeais, o Padre Cabecinhas afirmou que é uma data que “não pode ser ignorada” e que nos desafia a rezar pelo Santo Padre, pois, como lembrou, “as orações pelo Papa são intenção permanente neste lugar, como parte integrante da mensagem de Fátima”.
O Reitor do Santuário, na homilia, falou do modo como o Evangelho proclamado (Jo 19, 25-27) apresenta Maria, “junto à cruz do seu Filho e esse extremo ato de amor de Jesus que nos confiou aos cuidados da Sua e nossa Mãe”. E fez a seguinte ilação: “é porque Jesus nos confiou aos cuidados de Nossa Senhora, que os cristãos recorrem confiantes à sua ajuda e proteção”; e isso é visível aqui em Fátima, onde se “manifesta esse cuidado materno de Maria por nós”.
O Padre Carlos Cabecinhas explicou que, nas Aparições de 1917, na Cova da Iria, Nossa Senhora “apresentou o seu Coração Imaculado como nosso refúgio, como lugar materno que nos acolhe nas tempestades da vida”. E reiterou:
É esse conforto materno que encontramos aqui em Fátima, junto dela. Por isso, lhe apresentamos as nossas súplicas e pedimos a sua ajuda para as nossas dificuldades.”.
O Presidente da celebração da Eucaristia esclareceu que “receber Maria na nossa vida significa imitá-la nas suas atitudes, acolher a sua mensagem e as suas exortações” e que receber Nossa Senhora é também “acolher o veemente apelo à conversão que ela aqui veio trazer-nos”. E, em consonância com a espiritualidade da Quaresma, que os crentes estão a celebrar, disse que “a exortação à conversão atravessa toda a mensagem de Fátima e está patente no pedido repetido para que os homens não ofendam mais a Deus e no apelo à oração e aos sacrifícios pelos pecadores, que marcam a mensagem de Fátima do primeiro ao último momento”.
Referindo que o pequeno Francisco – hoje São Francisco Marto – afirmava: “Gosto tanto de Deus! Mas Ele está tão triste, por causa de tantos pecados! Nós nunca havemos de fazer nenhum”, garantiu: “É isto a conversão!
Na oração dos fiéis, o Papa Francisco foi novamente lembrado, numa prece para que “Nossa Senhora o proteja na sua missão”. E também esteve presente nesta celebração a oração pela paz, para que “os que procuram a concórdia e a paz suspendam a guerra”.
***
Porém, o mês de março teve, em Fátima, outros momentos significativos.

Assim, o Santuário acolheu a primeira peregrinação nacional a de pessoas com doenças raras no dia 3 de março, primeiro sábado. E explicou:

A I Peregrinação Nacional de Pessoas com Doenças Raras é uma resposta a uma interpelação feita pela DRAVET, uma associação de doentes com esta síndrome, e que posteriormente foi sendo trabalhada com as duas federações: a FEDRA e a Aliança Portuguesa de Associações de Doenças Raras, para dinamizar este evento”.
Segundo aquele centro mariano, a peregrinação teve como tema “Únicos no olhar da Mãe de Jesus” e começou às 10,30 horas, com o acolhimento na Basílica da Santíssima Trindade, prosseguindo com a celebração da missa, meia hora mais tarde, no mesmo local.
Às 14 horas, realizou-se um encontro onde o tema da peregrinação esteve em reflexão, tendo-se seguindo-, uma hora depois, na Capelinha, a despedida e bênção dos doentes.
No Santuário de Fátima, esta peregrinação foi dinamizada pelo Departamento de Peregrinos e pela Pastoral da Fragilidade e do Cuidado que integra o Departamento de Pastoral da Mensagem de Fátima. Esta é uma linha de ação pastoral que o santuário quer desenvolver, como lugar materno de convergência de tanto sofrimentos, alguns muito novos.
***

Também no passado dia 11, domingo, realizou-se a XVI Peregrinação Nacional de Folclore na qual se inscreveram 146 grupos de todo as regiões, à exceção das Regiões Autónomas. E o Reitor disse que um dos grandes desafios da Quaresma é a conversão da imagem que temos de Deus e a confiança no Seu “grande amor” independentemente de cada fragilidade.

Disse o Padre Carlos Cabecinhas, na sua homilia da missa a que presidiu na Basílica da Santíssima Trindade, que nos habituámos “a imaginar Deus como Alguém que nos exige isto e aquilo; Alguém que torna pesada a nossa vida com as Suas exigências, normas e mandamentos” e salientou que muitas vezes nos esquecemos de que Deus “não é aquele que nos pede, mas o que nos dá” e que exerce o “Seu poder para salvar e não para condenar, porque nos ama e quer dar-nos vida e vida em abundância”.
No comentário que fazia do trecho da Liturgia da Palavra tomado do capítulo 3 do Evangelho de São João, em que se relata o núcleo central da conversa de Jesus com Nicodemos, o Reitor frisou que, neste caminho quaresmal, talvez o que “precise mais urgentemente de conversão seja a nossa imagem de Deus”. E sublinhou:
É a consciência do amor de Deus por nós que torna possível este caminho de conversão, a que a Quaresma nos desafia. É este horizonte de misericórdia que dá sentido ao tempo litúrgico da Quaresma, como `tempo favorável´ para nos aproximarmos de Deus. […] É quando tomamos consciência do amor com que Deus nos ama, é quando confrontamos a nossa vida com o Seu amor, que nos damos conta do quanto precisamos de conversão.”.
E concluiu que a esperança “no grande amor” de Deus,  “rico em misericórdia” é o maior consolo que os cristãos podem experimentar, mesmo “nos tempos em que vivemos, com os seus dramas e dores”.
Aos milhares de peregrinos, na sua maioria participantes na Peregrinação Nacional de Folclore, deixou uma palavra no final da celebração para que continuem a ser a expressão da festa e da alegria cristãs que é “saber sempre que Deus nos ama”.
Segundo dados da Federação Portuguesa de Folclore, entidade que organizou esta peregrinação anual à Cova da Iria, inscreveram-se 146 grupos, dois deles da diáspora – Principado de Andorra e Suíça – que mobilizaram mais de 3 mil pessoas.
***
À tarde, o Santuário, mais propriamente a Basílica de Nossa Senhora do Rosário, acolheu ainda a segunda sessão dos “Encontros na Basílica”, às 15,30 horas, com uma conferência do Padre João Paulo Quelhas, capelão do Santuário, sobre “O reconhecimento eclesial das Aparições de Fátima”, seguida de recital com Eva Braga Simões, Hugo Sanchez e Carmina Repas Gonçalves.

O predito capelão investigou documentação inédita sobre o tempo que mediou entre a data das Aparições e a Carta pastoral sobre o culto de Nossa Senhora de Fátima. E, no segundo de cinco “Encontros na Basílica”, com a conferência referenciada, o Padre Quelhas acentuou que Fátima não foi uma invenção da Igreja, a qual, durante muito tempo, adotou uma atitude “passiva e expectante” em relação às Aparições.

Este sacerdote da diocese de Beja, doutor em Teologia Dogmática, que se encontra atualmente em Fátima, percorreu toda a cronologia e os documentos publicados no período que medeia as Aparições e a publicação da primeira Carta Pastoral, de 13 de outubro de 1930, sobre o culto de Nossa Senhora de Fátima, assinada por Dom José Alves Correia da Silva.
As Aparições tinham ocorrido três anos antes de o prelado entrar na Diocese como o primeiro bispo da Diocese restaurada. Os documentos existentes revelam que não se interessou de imediato pelo assunto, mas que foi aos poucos tomando algumas iniciativas, indiciadoras das suas convicções mais pessoais e íntimas.
Segundo o orador, a distância prudente usada da Igreja contrastou, num primeiro momento, com o fervor e a “teimosia da fé” de milhares de pessoas que anualmente peregrinavam à Cova da Iria, como foi noticiando a imprensa da época. Assim, o reconhecimento eclesial das Aparições “foi progressivo”  e manifestou-se por alguns atos como visitas, correspondência trocada entre prelados e até entre o Núncio Apostólico em Portugal e a Santa Sé, a nomeação duma comissão canónica para averiguação dos factos. E, só depois, se declarou que as Aparições são dignas de crédito, permitindo oficialmente o culto de Nossa Senhora de Fátima, centrado numa Mensagem que era cada vez mais reconhecida como dirigida ao mundo inteiro – uma mensagem que nos remete para o Amor e a Misericórdia de Deus.
E, para o orador, “a mensagem específica das aparições comprova que Deus, na sua misericórdia, através da mãe do seu filho, vai levantando os corações e avivando a sua fé, evitando que a sua ira se abata sobre o mundo”, porque a sua bondade “é maior” do que os pecados cometidos pelos homens.
Além da conferência, a mesma Basílica acolheu, como se disse, um recital com Eva Braga Simões, Hugo Sanches e Carmina Repas Gonçalves, centrado em Maria, figura importante no pensamento teológico ocidental.
Durante os séculos XVI e XVII, os hinos gregorianos de louvor a Maria serviram de base para uma miríade de elaborações polifónicas de enorme beleza e, neste recital, foram apresentados alguns dos mais importantes cantos marianos da liturgia como o “Ave Maris Stella” e “Stabat Mater”, trabalhados por quatro dos mais importantes polifonistas portugueses do Renascimento e Barroco: Pedro Escobar, Dom Pedro de Cristo, António Carreira e Duarte Lobo.
À voz de Eva Braga Simões juntou-se o alaúde de Hugo Sanches e a viola de gamba de Carmina Repas Gonçalves, num formato intimista que convidou ao recolhimento, introspeção e elevação espiritual, como referia a folha de sala.
O próximo “Encontro na Basílica” ocorrerá no dia 3 de junho com André Pereira, que proferirá a conferência “Graça e Misericórdia: as aparições de Pontevedra e Tuy”. E o recital será realizado pelo Grupo Coral Sol Nascente, com a direção de Vianey da Cruz.
***

Também se iniciou, no dia 12, o 1.º turno dos Encontros de Espiritualidade para Aposentados, da Escola do Santuário, uma proposta de descoberta da Mensagem de Fátima pela reflexão e experiência, direcionada para o público sénior.

O itinerário arrancou ao final da manhã com um momento de acolhimento, onde os participantes partilharam as suas expectativas para os quatro dias que se seguiram. Luís Portugal, um dos participantes neste primeiro turno, disse à Sala de Imprensa do Santuário:
Esta proposta para aposentados pareceu-me muito boa porque pode acrescentar valor. Como tenho tempo livre, aproveitei para aprofundar o meu conhecimento sobre a Mensagem de Fátima.”.
Na tarde do primeiro dia, decorreu a visita à casas dos Videntes, em Aljustrel, à Loca do Cabeço, nos Valinhos, e à Igreja Matriz de Fátima – que pretendeu fornecer uma propedêutica do acontecimento. O Padre Francisco Pereira, orientador dos participantes na visita, explicou:
O que se pretende é fazer perceber que os acontecimentos têm um determinado contexto. Para tal, fomos dar a conhecer o início da vida dos Pastorinhos: primeiro, na casa dos Videntes, com a experiência de vida em família; depois, na Loca do Cabeço, no primeiro momento em que eles foram preparados, pelo Anjo, para as Aparições de Nossa Senhora; e, num terceiro momento, na igreja paroquial, para, a partir da pia batismal, termos a referência da dimensão eclesial e comunitária dos Pastorinhos.
A ponte com a visita ao contexto familiar e comunitário dos Videntes fez-se à noite, num momento de reflexão partilhada. E o referido sacerdote adiantou:
A partir desta experiência, vamos refletir, em grupo, sobre a origem de cada um dos que aqui está, para percebermos o caminho para onde vamos, à luz do acontecimento de Fátima”.
No regresso ao Santuário, os aposentados participaram num momento formativo que relacionou o acontecimento Fátima com a “História da Salvação”. Antes do jantar, foi celebrada a Missa. O dia terminou com a recitação do Rosário.
No dia seguinte, fez-se um percurso por diferentes espaços do Santuário que refletem o impacto histórico do acontecimento Fátima. Após o almoço, decorreu a visita aos túmulos dos Videntes, e à Via Mariae, uma proposta de lectio divina a partir dos vitrais da Basílica de Nossa Senhora do Rosário, que passa pelas cinco estações ali apresentadas.
A partir do tema “Aqui está o meu caminho”, inspirado no escrito “Como vejo a Mensagem através dos tempos e dos acontecimentos”, da Irmã Lúcia, os Encontros de Espiritualidade para Aposentados propõem uma releitura do século passado, suas memórias e dramas, apresentando um olhar de esperança realista sobre o século XXI.
Esta proposta de crescimento espiritual apresenta-se, assim, como uma oportunidade para amadurecer a reflexão sobre o sentido da vida e aprofundar a experiência de Deus, a partir de Fátima, que é uma Mensagem sobre o Coração de Deus e o coração do homem na imagem terna do Coração da Senhora do Rosário.
Está prevista a realização de um segundo turno, já na próxima semana, entre 19 e 22 de março, para o qual estão abertas inscrições.
***
E, sim. Que seja sempre um Santuário que nunca para. Muitas ações evangelizadoras, cultuais e culturais e de disponibilidade acolhedora e solidária para com todos, em especial para com os mais fragilizados e com aqueles que têm dificuldade em centrar-se na vida e vida em plenitude!
2018.03.14 – Louro de Carvalho

Sem comentários:

Enviar um comentário