A asserção é do Padre Carlos Cabecinhas, Reitor do Santuário de Fátima, e
foram proferidas no 5.º aniversário do Pontificado do Papa Francisco, que o
Santuário fez questão de evocar na celebração da missa na Basílica da Santíssima Trindade no quadro do programa da peregrinação
mensal de março (dia 13), tendo-se
feito anunciar dois grupos de peregrinos nos serviços do Santuário.
Sobre o 5.º aniversário
da eleição de Francisco pelo conclave dos cardeais, o Padre Cabecinhas afirmou
que é uma data que “não pode ser ignorada” e que nos desafia a rezar pelo Santo
Padre, pois, como lembrou, “as orações pelo Papa são intenção permanente neste
lugar, como parte integrante da mensagem de Fátima”.
O Reitor do
Santuário, na homilia, falou do modo como o Evangelho proclamado (Jo 19, 25-27) apresenta Maria, “junto à cruz do seu Filho e esse
extremo ato de amor de Jesus que nos confiou aos cuidados da Sua e nossa Mãe”.
E fez a seguinte ilação: “é porque Jesus nos confiou aos cuidados de Nossa
Senhora, que os cristãos recorrem confiantes à sua ajuda e proteção”; e isso é
visível aqui em Fátima, onde se “manifesta esse cuidado materno de Maria por
nós”.
O Padre
Carlos Cabecinhas explicou que, nas Aparições de 1917, na Cova da Iria, Nossa
Senhora “apresentou o seu Coração Imaculado como nosso refúgio, como lugar
materno que nos acolhe nas tempestades da vida”. E reiterou:
“É esse conforto materno que encontramos
aqui em Fátima, junto dela. Por isso, lhe apresentamos as nossas súplicas e
pedimos a sua ajuda para as nossas dificuldades.”.
O Presidente
da celebração da Eucaristia esclareceu que “receber Maria na nossa vida
significa imitá-la nas suas atitudes, acolher a sua mensagem e as suas
exortações” e que receber Nossa Senhora é também “acolher o veemente apelo à
conversão que ela aqui veio trazer-nos”. E, em consonância com a
espiritualidade da Quaresma, que os crentes estão a celebrar, disse que “a
exortação à conversão atravessa toda a mensagem de Fátima e está patente no
pedido repetido para que os homens não ofendam mais a Deus e no apelo à oração
e aos sacrifícios pelos pecadores, que marcam a mensagem de Fátima do primeiro
ao último momento”.
Referindo
que o pequeno Francisco – hoje São Francisco Marto – afirmava: “Gosto tanto de Deus! Mas Ele está tão
triste, por causa de tantos pecados! Nós nunca havemos de fazer nenhum”,
garantiu: “É isto a conversão!”
Na oração
dos fiéis, o Papa Francisco foi novamente lembrado, numa prece para que “Nossa
Senhora o proteja na sua missão”. E também esteve presente nesta celebração a
oração pela paz, para que “os que procuram a concórdia e a paz suspendam a
guerra”.
***
Porém, o
mês de março teve, em Fátima, outros momentos significativos.
Assim, o Santuário
acolheu a primeira peregrinação nacional a
de pessoas com doenças raras no dia 3 de março, primeiro sábado. E explicou:
“A I Peregrinação Nacional de Pessoas com
Doenças Raras é uma resposta a uma interpelação feita pela DRAVET, uma
associação de doentes com esta síndrome, e que posteriormente foi sendo trabalhada
com as duas federações: a FEDRA e a Aliança Portuguesa de Associações de
Doenças Raras, para dinamizar este evento”.
Segundo aquele centro mariano, a peregrinação teve como tema “Únicos no olhar da Mãe de Jesus” e
começou às 10,30 horas, com o acolhimento na Basílica da Santíssima Trindade,
prosseguindo com a celebração da missa, meia hora mais tarde, no mesmo local.
Às 14 horas, realizou-se um encontro onde o tema da
peregrinação esteve em reflexão, tendo-se seguindo-, uma hora depois, na
Capelinha, a despedida e bênção dos doentes.
No Santuário de Fátima, esta peregrinação foi dinamizada pelo
Departamento de Peregrinos e pela Pastoral da Fragilidade e do Cuidado que
integra o Departamento de Pastoral da Mensagem de Fátima. Esta é uma linha de
ação pastoral que o santuário quer desenvolver, como lugar materno de
convergência de tanto sofrimentos, alguns muito novos.
***
Também no passado dia 11, domingo,
realizou-se a XVI Peregrinação Nacional de Folclore na qual se
inscreveram 146 grupos de todo as regiões, à exceção das Regiões Autónomas. E o Reitor disse que um dos grandes desafios da Quaresma
é a conversão da imagem que temos de Deus e a confiança no Seu “grande amor” independentemente de cada fragilidade.
Disse o Padre
Carlos Cabecinhas, na sua homilia da missa a que presidiu na Basílica da
Santíssima Trindade, que nos habituámos “a
imaginar Deus como Alguém que nos exige isto e aquilo; Alguém que torna pesada
a nossa vida com as Suas exigências, normas e mandamentos” e salientou que
muitas vezes nos esquecemos de que Deus “não
é aquele que nos pede, mas o que nos dá” e que exerce o “Seu poder para salvar e não para condenar,
porque nos ama e quer dar-nos vida e vida em abundância”.
No comentário
que fazia do trecho da Liturgia da Palavra tomado do capítulo 3 do Evangelho de
São João, em que se relata o núcleo central da conversa de Jesus com Nicodemos,
o Reitor frisou que, neste caminho quaresmal, talvez o que “precise mais
urgentemente de conversão seja a nossa imagem de Deus”. E sublinhou:
“É
a consciência do amor de Deus por nós que torna possível este caminho de
conversão, a que a Quaresma nos desafia. É este horizonte de misericórdia que
dá sentido ao tempo litúrgico da Quaresma, como `tempo favorável´ para nos
aproximarmos de Deus. […] É quando tomamos consciência do amor com que Deus nos
ama, é quando confrontamos a nossa vida com o Seu amor, que nos damos conta do
quanto precisamos de conversão.”.
E concluiu
que a esperança “no grande amor” de Deus, “rico em misericórdia” é o
maior consolo que os cristãos podem experimentar, mesmo “nos tempos em que
vivemos, com os seus dramas e dores”.
Aos milhares
de peregrinos, na sua maioria participantes na Peregrinação Nacional de
Folclore, deixou uma palavra no final da celebração para que continuem a ser a
expressão da festa e da alegria cristãs que é “saber sempre que Deus nos ama”.
Segundo dados
da Federação Portuguesa de Folclore, entidade que organizou esta peregrinação
anual à Cova da Iria, inscreveram-se 146 grupos, dois deles da diáspora –
Principado de Andorra e Suíça – que mobilizaram mais de 3 mil pessoas.
***
À tarde, o Santuário,
mais propriamente a Basílica de Nossa Senhora do Rosário, acolheu ainda a
segunda sessão dos “Encontros na Basílica”, às 15,30 horas, com uma conferência
do Padre João Paulo Quelhas, capelão do Santuário, sobre “O reconhecimento eclesial das Aparições de Fátima”, seguida de
recital com Eva Braga Simões, Hugo Sanchez e Carmina Repas Gonçalves.
O predito capelão investigou documentação inédita sobre o
tempo que mediou entre a data das Aparições e a Carta pastoral sobre o culto de
Nossa Senhora de Fátima. E, no segundo de cinco
“Encontros na Basílica”, com a conferência referenciada, o Padre Quelhas
acentuou que Fátima não foi uma invenção da Igreja, a qual, durante muito tempo,
adotou uma atitude “passiva e expectante” em relação às Aparições.
Este sacerdote
da diocese de Beja, doutor em Teologia Dogmática, que se encontra atualmente em
Fátima, percorreu toda a cronologia e os documentos publicados no período que
medeia as Aparições e a publicação da primeira Carta Pastoral, de 13 de outubro
de 1930, sobre o culto de Nossa Senhora de Fátima, assinada por Dom José Alves
Correia da Silva.
As Aparições tinham
ocorrido três anos antes de o prelado entrar na Diocese como o primeiro bispo
da Diocese restaurada. Os documentos existentes revelam que não se interessou
de imediato pelo assunto, mas que foi aos poucos tomando algumas iniciativas,
indiciadoras das suas convicções mais pessoais e íntimas.
Segundo o
orador, a distância prudente usada da Igreja contrastou, num primeiro momento,
com o fervor e a “teimosia da fé” de milhares de pessoas que anualmente
peregrinavam à Cova da Iria, como foi noticiando a imprensa da época. Assim, o
reconhecimento eclesial das Aparições “foi progressivo” e manifestou-se
por alguns atos como visitas, correspondência trocada entre prelados e até
entre o Núncio Apostólico em Portugal e a Santa Sé, a nomeação duma comissão
canónica para averiguação dos factos. E, só depois, se declarou que as
Aparições são dignas de crédito, permitindo oficialmente o culto de Nossa
Senhora de Fátima, centrado numa Mensagem que era cada vez mais reconhecida
como dirigida ao mundo inteiro – uma mensagem que nos remete para o Amor e a
Misericórdia de Deus.
E, para o
orador, “a mensagem específica das aparições comprova que Deus, na sua
misericórdia, através da mãe do seu filho, vai levantando os corações
e avivando a sua fé, evitando que a sua ira se abata sobre o mundo”, porque a
sua bondade “é maior” do que os pecados cometidos pelos homens.
Além da
conferência, a mesma Basílica acolheu, como se disse, um recital com Eva Braga
Simões, Hugo Sanches e Carmina Repas Gonçalves, centrado em Maria, figura
importante no pensamento teológico ocidental.
Durante os
séculos XVI e XVII, os hinos gregorianos de louvor a Maria serviram de base
para uma miríade de elaborações polifónicas de enorme beleza e, neste recital,
foram apresentados alguns dos mais importantes cantos marianos da liturgia como
o “Ave Maris Stella” e “Stabat Mater”, trabalhados por quatro
dos mais importantes polifonistas portugueses do Renascimento e Barroco: Pedro
Escobar, Dom Pedro de Cristo, António Carreira e Duarte Lobo.
À voz de Eva
Braga Simões juntou-se o alaúde de Hugo Sanches e a viola de gamba de Carmina
Repas Gonçalves, num formato intimista que convidou ao recolhimento,
introspeção e elevação espiritual, como referia a folha de sala.
O próximo “Encontro na Basílica” ocorrerá no dia 3
de junho com André Pereira, que proferirá a conferência “Graça e Misericórdia: as aparições de Pontevedra e Tuy”. E o
recital será realizado pelo Grupo Coral Sol Nascente, com a direção de Vianey
da Cruz.
***
Também se iniciou, no dia 12, o 1.º turno dos Encontros de Espiritualidade para
Aposentados, da Escola do Santuário, uma proposta de descoberta da Mensagem
de Fátima pela reflexão e experiência, direcionada para o público sénior.
O itinerário
arrancou ao final da manhã com um momento de acolhimento, onde os
participantes partilharam as suas expectativas para os quatro dias que se
seguiram. Luís Portugal, um dos participantes neste primeiro turno, disse à
Sala de Imprensa do Santuário:
“Esta
proposta para aposentados pareceu-me muito boa porque pode acrescentar valor.
Como tenho tempo livre, aproveitei para aprofundar o meu conhecimento sobre a
Mensagem de Fátima.”.
Na tarde do primeiro
dia, decorreu a visita à casas dos Videntes, em Aljustrel, à Loca do
Cabeço, nos Valinhos, e à Igreja Matriz de Fátima – que pretendeu fornecer
uma propedêutica do acontecimento. O Padre Francisco Pereira, orientador dos
participantes na visita, explicou:
“O
que se pretende é fazer perceber que os acontecimentos têm um determinado
contexto. Para tal, fomos dar a conhecer o início da vida dos Pastorinhos:
primeiro, na casa dos Videntes, com a experiência de vida em família; depois,
na Loca do Cabeço, no primeiro momento em que eles foram preparados, pelo Anjo,
para as Aparições de Nossa Senhora; e, num terceiro momento, na igreja
paroquial, para, a partir da pia batismal, termos a referência da dimensão
eclesial e comunitária dos Pastorinhos.”
A ponte com a
visita ao contexto familiar e comunitário dos Videntes fez-se à noite, num
momento de reflexão partilhada. E o referido sacerdote adiantou:
“A
partir desta experiência, vamos refletir, em grupo, sobre a origem de cada um
dos que aqui está, para percebermos o caminho para onde vamos, à luz do
acontecimento de Fátima”.
No regresso
ao Santuário, os aposentados participaram num momento formativo que relacionou
o acontecimento Fátima com a “História da Salvação”. Antes do jantar, foi celebrada
a Missa. O dia terminou com a recitação do Rosário.
No dia
seguinte, fez-se um percurso por diferentes espaços do Santuário que refletem o
impacto histórico do acontecimento Fátima. Após o almoço, decorreu a visita aos
túmulos dos Videntes, e à Via Mariae,
uma proposta de lectio divina a partir dos vitrais da
Basílica de Nossa Senhora do Rosário, que passa pelas cinco estações ali
apresentadas.
A partir do
tema “Aqui está o meu caminho”,
inspirado no escrito “Como vejo a
Mensagem através dos tempos e dos acontecimentos”, da Irmã Lúcia, os
Encontros de Espiritualidade para Aposentados propõem uma releitura do século
passado, suas memórias e dramas, apresentando um olhar de esperança realista
sobre o século XXI.
Esta proposta
de crescimento espiritual apresenta-se, assim, como uma oportunidade para
amadurecer a reflexão sobre o sentido da vida e aprofundar a experiência de
Deus, a partir de Fátima, que é uma Mensagem sobre o Coração de Deus e o
coração do homem na imagem terna do Coração da Senhora do Rosário.
Está prevista
a realização de um segundo turno, já na próxima semana, entre 19 e 22 de março,
para o qual estão abertas inscrições.
***
E, sim. Que seja sempre um Santuário que nunca para. Muitas
ações evangelizadoras, cultuais e culturais e de disponibilidade acolhedora e solidária
para com todos, em especial para com os mais fragilizados e com aqueles que têm
dificuldade em centrar-se na vida e vida em plenitude!
2018.03.14
– Louro de Carvalho
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