O antigo Primeiro-Ministro José Sócrates vai à Universidade de Coimbra, ao Auditório
da Faculdade de Economia, no próximo dia 21 de março, pelas 14,15 horas, para falar
sobre a crise económica que antecedeu e motivou a intervenção da troika em
Portugal – uma conferência que terá o apoio da RTP e da Antena 1.
Os estudantes reconhecem que a escolha é controversa, mas lembram o papel incontornável
do antigo chefe de Governo no conhecimento da origem e dos detalhes da crise,
goste-se ou não da sua prestação governativa.
A conferência sobre “O projeto europeu depois da crise económica” é organizada pelo núcleo de estudantes
da Faculdade de Economia da Associação Académica da Universidade de Coimbra e conta
com os apoios da própria Universidade, da sua Faculdade de Economia e ainda da
RTP e da Antena 1.
O antigo Primeiro-Ministro será o único
orador nessa conferência que se enquadra no ciclo de conferências que tem
em vista somente “proporcionar aos estudantes participantes uma formação
extracurricular para que estes sejam capazes de se desafiarem a si próprios e
transcenderem as suas capacidades”.
Ao Expresso, Simão Carvalho,
presidente daquele núcleo de estudantes que organiza o predito ciclo de conferências,
justificou o convite com o facto de José Sócrates ter sido “primeiro-ministro
nos anos da crise, na sequência da falência do Lehman Brothers”, com as
consequências que daí advieram para o mundo, a Europa e para o nosso país.
Refere aquele responsável estudantil que acharam “interessante que pudesse
fazer uma retrospectiva do que foi a sua ação e o seu pensamento nesse período”;
e que é “ um tema atual, tendo em vista as atuais consequências da crise, desde
a ascensão dos movimentos populistas, às diversas fragilidades da União
Europeia, o Brexit, etc.”.
Mesmo reconhecendo que o ex-Primeiro-Ministro português e
ex-Secretário-Geral do Partido Socialista é uma figura altamente controversa,
Simão Carvalho argumenta que José Sócrates “é incontornável no panorama
político português” e, como tal, faz sentido “ouvir o seu ponto de vista do que
eram os seus projetos para uma solução para a crise”.
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O ciclo de conferências já vai na sua quarta conferência e visa, de
acordo com o estudante, “transmitir conhecimentos aos estudantes”. E este é o quinto (eles dizem “quarto”) convidado pelo núcleo
de estudantes da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra.
Este ciclo de conferências, denominado “Economia
Hoje. Futuro Amanhã”, começou em fevereiro com a palestra de Pedro Passos Coelho,
ex-Primeiro-Ministro
e ex-Presidente do PSD, neste caso sobre o Orçamento
do Estado para 2018.
Daí para cá, houve uma outra conferência sobre o Governo de António Costa, que contou com Jorge
Coelho, antigo
Ministro-Adjunto e, mais tarde, acumulando com o da Administração Interna, no
XIII Governo Constitucional (de António Guterres) e antigo Ministro da Presidência e
Ministro do Equipamento Social (das Obras Públicas) e Ministro de Estado,
no XIV Governo Constitucional (também de António Guterres); e Luís Marques Mendes, comentador
político, antigo Ministro-Adjunto do XII Governo Constitucional (de Cavaco Silva) e Ministro dos Assuntos
Parlamentares do XV Governo Constitucional (de Durão Barroso) e ex-Presidente do PSD. Fizeram um
balanço do Governo de Costa, que tem o apoio dos partidos à esquerda do PS.
E houve uma outra palestra sobre a evolução do sistema bancário, que teve como oradora Teodora
Cardoso, presidente do Conselho de Finanças Públicas.
Tal como as primeiras conferências, os estudantes estão à espera
de “casa cheia”.
***
No mesmo dia em que há manifestação de
estudantes. Com efeito, enquanto o antigo Primeiro-Ministro socialista José
Sócrates aborda o tema “O projeto
europeu depois da crise económica” a partir do início
da tarde no auditório da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra, vai
decorrer uma manifestação dos estudantes universitários de Coimbra com todos os
núcleos (26) e a direção-geral da Associação Académica de Coimbra contra o
aumento das
propinas e do regime fundacional, que parte
da porta principal da Faculdade de Direito.
O
presidente do Núcleo de Estudantes Faculdade de Economia da Universidade de
Coimbra, Simão Carvalho, reconhece que o facto de José Sócrates estar envolvido
num caso judicial, denominado “Operação Marquês” suscita alguma controvérsia,
mas nota que o antigo chefe do Governo “é uma figura incontornável do panorama
político português” e tem “um vasto conhecimento sobre política europeia e
política europeia”.
“Tendo em conta o tema da conferência, era pertinente
ouvirmos um antigo Primeiro-Ministro que estava no poder quando a crise
rebentou”, argumenta Simão Carvalho, em declarações ao Público. De resto, considera que “a
estratégia que ele desenvolveu para sair da crise deve ser transmitida aos estudantes”
e acrescenta que o objetivo da conferência é “complementar a formação dos
estudantes numa área que é pouco explorada pela licenciatura”.
Segundo a organização, este ciclo de
conferências tem um único propósito: “Proporcionar
aos estudantes participantes uma formação extracurricular para que estes sejam
capazes de se desafiarem a si próprios e transcenderem as suas capacidades”.
O
convite ao antigo primeiro-ministro, a quem são imputados 31 crimes, foi alvo
de críticas nas redes sociais. Por exemplo, nem António Capucho, sucessor de
Rui Rio como Secretário-Geral do PSD, quando Marcelo Rebelo de Sousa era líder
do partido, nem o deputado Carlos Abreu Amorim deixaram de se pronunciar sobre
a iniciativa.
O presidente de Núcleo de Estudantes de
Economia diz que estava preparado para as críticas nas redes sociais, aduzindo
que aconteceu o mesmo com Pedro Passos Coelho. E Simão Carvalho justifica
dizendo que “Os nossos representados estão, efetivamente, felizes por terem a oportunidade
de ouvir um antigo Primeiro-Ministro que enfrentou a crise na sequência da
falência do Lehman Brothers.
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É óbvio que José Sócrates, envolvido pela “Operação
Marquês, está indiciado de dezenas de crimes ocorridos no âmbito e fora do
exercício de funções governativas. No entanto, embora condenado e recondenado
na praça pública, não há ainda julgamento e muito menos veredicto final no
quadro judicial (nem sabemos se haverá: basta que as legadas provas não tenham confirmação
inequívoca).
Acresce que o feroz animal político paira sobre os espectro público e anda por
aí, deslocando-se a tudo quanto é sítio, ouvindo, conferenciando, intrometendo-se,
esclarecendo, protestando…
Por
outro lado, estas conferências não são programadas, muito menos impostas, pelo
governo da Faculdade, mas resultam de quem tem competência para as organizar. E
os organizadores mostram-se não acorrentados a este ou àquele quadrante
político-partidário e conseguem uma prestação plural em prol do embagajamento
académico dos alunos de licenciatura.
Antes
isto que acorrentarem-se a um lado ou pagar-se a um catedrático convidado sem perfil
de peso que possa indubitavelmente constituir-se em exceção pela positiva por
forma a emparceirar, pela via da experiência profissional ou política, com
aqueles e aquelas que percorrem a pulso os diversos patamares da carreira académica.
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