terça-feira, 20 de março de 2018

José Sócrates vai à Universidade falar sobre a crise pré-troika

O antigo Primeiro-Ministro José Sócrates vai à Universidade de Coimbra, ao Auditório da Faculdade de Economia, no próximo dia 21 de março, pelas 14,15 horas, para falar sobre a crise económica que antecedeu e motivou a intervenção da troika em Portugal – uma conferência que terá o apoio da RTP e da Antena 1.
Os estudantes reconhecem que a escolha é controversa, mas lembram o papel incontornável do antigo chefe de Governo no conhecimento da origem e dos detalhes da crise, goste-se ou não da sua prestação governativa.
A conferência sobre “O projeto europeu depois da crise económica é organizada pelo núcleo de estudantes da Faculdade de Economia da Associação Académica da Universidade de Coimbra e conta com os apoios da própria Universidade, da sua Faculdade de Economia e ainda da RTP e da Antena 1.
O antigo Primeiro-Ministro será o único orador nessa conferência que se enquadra no ciclo de conferências que tem em vista somente “proporcionar aos estudantes participantes uma formação extracurricular para que estes sejam capazes de se desafiarem a si próprios e transcenderem as suas capacidades”.
Ao Expresso, Simão Carvalho, presidente daquele núcleo de estudantes que organiza o predito ciclo de conferências, justificou o convite com o facto de José Sócrates ter sido “primeiro-ministro nos anos da crise, na sequência da falência do Lehman Brothers”, com as consequências que daí advieram para o mundo, a Europa e para o nosso país.
Refere aquele responsável estudantil que acharam “interessante que pudesse fazer uma retrospectiva do que foi a sua ação e o seu pensamento nesse período”; e que é “ um tema atual, tendo em vista as atuais consequências da crise, desde a ascensão dos movimentos populistas, às diversas fragilidades da União Europeia, o Brexit, etc.”.
Mesmo reconhecendo que o ex-Primeiro-Ministro português e ex-Secretário-Geral do Partido Socialista é uma figura altamente controversa, Simão Carvalho argumenta que José Sócrates “é incontornável no panorama político português” e, como tal, faz sentido “ouvir o seu ponto de vista do que eram os seus projetos para uma solução para a crise”.
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O ciclo de conferências já vai na sua quarta conferência e visa, de acordo com o estudante, “transmitir conhecimentos aos estudantes”. E este é o quinto (eles dizem “quarto”) convidado pelo núcleo de estudantes da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra.
Este ciclo de conferências, denominado “Economia Hoje. Futuro Amanhã”, começou em fevereiro com a palestra de Pedro Passos Coelho, ex-Primeiro-Ministro e ex-Presidente do PSD, neste caso sobre o Orçamento do Estado para 2018.
Daí para cá, houve uma outra conferência sobre o Governo de António Costa, que contou com Jorge Coelho, antigo Ministro-Adjunto e, mais tarde, acumulando com o da Administração Interna, no XIII Governo Constitucional (de António Guterres) e antigo Ministro da Presidência e Ministro do Equipamento Social  (das Obras Públicas) e Ministro de Estado, no XIV Governo Constitucional (também de António Guterres); e Luís Marques Mendes, comentador político, antigo Ministro-Adjunto do XII Governo Constitucional (de Cavaco Silva) e Ministro dos Assuntos Parlamentares do XV Governo Constitucional (de Durão Barroso) e ex-Presidente do PSD. Fizeram um balanço do Governo de Costa, que tem o apoio dos partidos à esquerda do PS.
E houve uma outra palestra sobre a evolução do sistema bancário, que teve como oradora Teodora Cardoso, presidente do Conselho de Finanças Públicas.
Tal como as primeiras conferências, os estudantes estão à espera de “casa cheia”.
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No mesmo dia em que há manifestação de estudantes. Com efeito, enquanto o antigo Primeiro-Ministro socialista José Sócrates aborda o tema “O projeto europeu depois da crise económica” a partir do início da tarde no auditório da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra, vai decorrer uma manifestação dos estudantes universitários de Coimbra com todos os núcleos (26) e a direção-geral da Associação Académica de Coimbra contra o aumento das propinas e do regime fundacional, que parte da porta principal da Faculdade de Direito.
O presidente do Núcleo de Estudantes Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra, Simão Carvalho, reconhece que o facto de José Sócrates estar envolvido num caso judicial, denominado “Operação Marquês” suscita alguma controvérsia, mas nota que o antigo chefe do Governo “é uma figura incontornável do panorama político português” e tem “um vasto conhecimento sobre política europeia e política europeia”. 
“Tendo em conta o tema da conferência, era pertinente ouvirmos um antigo Primeiro-Ministro que estava no poder quando a crise rebentou”, argumenta Simão Carvalho, em declarações ao Público. De resto, considera que “a estratégia que ele desenvolveu para sair da crise deve ser transmitida aos estudantes” e acrescenta que o objetivo da conferência é “complementar a formação dos estudantes numa área que é pouco explorada pela licenciatura”.
Segundo a organização, este ciclo de conferências tem um único propósito: “Proporcionar aos estudantes participantes uma formação extracurricular para que estes sejam capazes de se desafiarem a si próprios e transcenderem as suas capacidades”.
O convite ao antigo primeiro-ministro, a quem são imputados 31 crimes, foi alvo de críticas nas redes sociais. Por exemplo, nem António Capucho, sucessor de Rui Rio como Secretário-Geral do PSD, quando Marcelo Rebelo de Sousa era líder do partido, nem o deputado Carlos Abreu Amorim deixaram de se pronunciar sobre a iniciativa.
O presidente de Núcleo de Estudantes de Economia diz que estava preparado para as críticas nas redes sociais, aduzindo que aconteceu o mesmo com Pedro Passos Coelho. E Simão Carvalho justifica dizendo que “Os nossos representados estão, efetivamente, felizes por terem a oportunidade de ouvir um antigo Primeiro-Ministro que enfrentou a crise na sequência da falência do Lehman Brothers.
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É óbvio que José Sócrates, envolvido pela “Operação Marquês, está indiciado de dezenas de crimes ocorridos no âmbito e fora do exercício de funções governativas. No entanto, embora condenado e recondenado na praça pública, não há ainda julgamento e muito menos veredicto final no quadro judicial (nem sabemos se haverá: basta que as legadas provas não tenham confirmação inequívoca). Acresce que o feroz animal político paira sobre os espectro público e anda por aí, deslocando-se a tudo quanto é sítio, ouvindo, conferenciando, intrometendo-se, esclarecendo, protestando…
Por outro lado, estas conferências não são programadas, muito menos impostas, pelo governo da Faculdade, mas resultam de quem tem competência para as organizar. E os organizadores mostram-se não acorrentados a este ou àquele quadrante político-partidário e conseguem uma prestação plural em prol do embagajamento académico dos alunos de licenciatura.
Antes isto que acorrentarem-se a um lado ou pagar-se a um catedrático convidado sem perfil de peso que possa indubitavelmente constituir-se em exceção pela positiva por forma a emparceirar, pela via da experiência profissional ou política, com aqueles e aquelas que percorrem a pulso os diversos patamares da carreira académica.  

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