segunda-feira, 3 de dezembro de 2018

“Dar Graças por Peregrinar em Igreja”


Configura uma dimensão de eclesialidade sublinhada pela Mensagem de Fátima e é o tema do novo Ano Pastoral do Santuário de Fátima iniciado neste domingo, 2 de dezembro, e inspirado nos cem anos da construção da Capela das Aparições.
A este respeito, o Reitor do Santuário, Padre Carlos Cabecinhas na jornada de apresentação do tema do ano, na tarde do passado dia 1, no Salão do Bom Pastor do Centro Pastoral Paulo VI, convidando os peregrinos a “Dar Graças por Peregrinar em Igreja”, frisou na sua alocução:
A mensagem de Fátima põe em destaque esta dimensão eclesial – a consciência de sermos povo de Deus –, que exprimimos com o tema ‘Dar graças por peregrinar em Igreja’. Esta dimensão eclesial da mensagem faz-se patente, de forma muito explícita, no chamado ‘Segredo’, na referência ao ‘Bispo vestido de branco’ e à Igreja peregrina e mártir.”.
O responsável direto pelo Santuário foi o primeiro a usar da palavra na sessão de apresentação do tema, presidida pelo Cardeal Dom António Marto, Bispo de Leiria-Fátima – que se iniciou com a inauguração da Exposição “Capela Mundi”: exposição temporária comemorativa do centenário da construção da Capelinha das Aparições – e observou que esta consciência de ser Igreja se experimenta de “muitos modos”, em Fátima, tais como: a participação nas celebrações sacramentais: a integração nas assembleias crentes que aqui se reúnem para a expressão comum da fé, para adorar a Deus, dar-Lhe graças e louvá-Lo; e na união e comunhão com o Papa e na oração por ele, tão caraterística de Fátima. Por outro lado, o tema pretende vincar que esta experiência de ser Igreja é dinâmica: “é uma peregrinação”. E garantiu que, “neste caminho da Igreja, as Aparições de Fátima são consolo que Deus oferece aos membros da sua Igreja peregrina; são auxílio para o caminho”. De facto, como explicitou, “no longo peregrinar dos seus filhos, Maria apresenta o seu Coração Imaculado como refúgio e caminho”.
Em conformidade com este desígnio, para o Padre Cabecinhas, “este ano pastoral permitir-nos-á refletir sobre o sentido da peregrinação e sobre os traços mais caraterísticos da peregrinação a Fátima” e levar-nos-á a “refletir sobre o Santuário como meta de peregrinação e lugar de forte experiência de Igreja, porque lugar de forte experiência do Deus que congrega a Igreja e reúne o seu povo”, na linha da Carta Apostólica em forma de “Motu Proprio! Sanctuarium in Ecclesia.
Por isso, inferiu o Reitor:
O presente Ano Pastoral, que agora se inicia, convida-nos a encarar a Mensagem de Fátima como meio para conseguir uma maior consciência eclesial e caminho eficaz para fortalecer o sentido de pertença eclesial, nomeadamente através da experiência comunitária da peregrinação”.
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Este novo Ano Pastoral é o segundo do triénio, que inicia o segundo século de Fátima e que está a ser vivido como um “Tempo de Graça e de Misericórdia”.
Por outro lado, 2019 é o ano em que o Santuário de Fátima viverá dois centenários relevantes: o centenário da construção da Capela das Aparições (nos meses primaveris de 1919) e o centenário da morte de São Francisco Marto (em 4 de abril de 1919). De resto, o centenário da construção da Capela, como já foi referido, é o acontecimento inspirador do tema deste ano, fazendo-se memória do relato da Aparição de 13 de outubro, em que a Senhora disse aos videntes: “Quero que façam aqui uma capela”. Essa capela, cujo núcleo central se mantém, foi o início do Santuário e constitui, ainda hoje, o seu “coração” – disse o Reitor, que frisou:
Em contexto cristão, o edifício da igreja – neste caso, a ‘capela’ – é sempre símbolo da Igreja de pedras vivas que aí se reúne para celebrar a presença de Jesus Cristo. São Pedro, na sua primeira epístola, exorta-nos a tomarmos consciência da nossa condição de ‘pedras vivas’ que entram na construção de um edifício espiritual, a Igreja, e conclui: ‘Sois agora o povo de Deus’ (1Pe 2,10). É esta consciência de sermos povo de Deus que desejamos aprofundar.”.
O Padre Cabecinhas destacou, também, a atenção especial que o Santuário destinará aos jovens, sobretudo a esse grande evento que será a Jornada Mundial da Juventude no Panamá, em janeiro de 2019, para onde se deslocará, a título excecional, a Imagem N.º 1 da Virgem Peregrina de Fátima, atendendo à importância do evento, mas também ao itinerário mariano proposto pelo Papa Francisco que escolheu Maria como tema central da caminhada de preparação para a Jornada Mundial da Juventude de 2019 – provavelmente tendo como subtexto a informação indevidamente propalada pela comunicação social, com base no indevidamente veiculado pelo site relioonline de que a Jornada Mundial da Juventude de 2022 seria em Portugal, segredo de muitos, mas supostamente guardado a sete chaves, porque é ao Papa que incumbe tal anúncio. A este respeito, refira-se que, segundo o JN, as autoridades eclesiásticas ficaram incomodadas e a Presidência da República estupefacta com tal fuga de informação.
Mas, voltando ao no Pastoral do Santuário de Fátima, fica assente que, para a vivência deste novo ciclo pastoral de três anos, e deste ano pastoral em concreto, o Santuário voltará a apostar no cartaz mensal que recordará, ao longo do ano, o tema que guia a vida do Santuário, em especial, uma catequese alusiva a São Francisco Marto nas alamedas do recinto de Oração e a oferta de um itinerário orante como proposta a todos os peregrinos. A nível da formação e da reflexão, a Escola do Santuário proporá várias iniciativas todos os meses, como adiante se faz referência, desde Itinerários de Espiritualidade a Oficinas Pastorais, uma novidade que começa em fevereiro e é dirigida a um público específico, mantendo-se o Simpósio Teológico-Pastoral anual e os Encontros na Basílica. A nível cultural, além dum programa musical diversificado, salienta-se a exposição “Capela Mundi”, visitável diariamente até 15 de outubro do próximo ano, no Convivium de Santo Agostinho, já referida.
O Reitor do Santuário aproveitou ainda a sessão para um balanço do ano pastoral findo, que “permitiu consolidar algumas práticas” iniciadas durante o centenário, mas agora aos “ritmos diários e habituais da vida do Santuário”. Alguns dos exemplos apontados pelo Padre Carlos Cabecinhas para evidenciar a dinâmica de vida do Santuário de Fátima neste segundo século foram: “o caminho feito a nível celebrativo, com o cuidado das celebrações”; a oferta de “propostas de reflexão e aprofundamento da Mensagem de Fátima”; e a oferta cultural, “com as suas linguagens próprias para falar de Fátima”.
Por outro lado, referiu que “a afluência de peregrinos, embora não atingindo os números excecionais de 2017, se manteve muito elevada, com crescimento significativo de grupos de proveniências até há pouco tempo incomuns”.
A jornada de apresentação do tema do novo Ano Pastoral, que pôde ser seguida em direto, através da página online do Santuário em www.fatima.pt., prosseguiu com uma conferência do diácono Rui Ruivo, seguida dum breve recital com o Coro do Santuário e a Schola Cantorum Pastorinhos de Fátima, que apresentou um repertório centrado nas músicas de Fátima.
A sessão terminou com uma intervenção do Cardeal Dom António Marto, Bispo da diocese de Leiria-Fátima.
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Por seu turno, o Bispo diocesano, no encerramento da jornada de apresentação do tema do novo Ano Pastoral “Dar graças por Peregrinar em Igreja”, disse que a Igreja deve prosseguir a sua peregrinação no Mundo e na História, apesar das “poeiras que caem sobre ela”, visto que a Igreja é “peregrina na História” que “ainda não chegou à plenitude”, em permanente conversão, renovação, e com esperança “que Deus dá como dom”, rumo a uma “meta definitiva”.

Assinalando que “a peregrinação é uma caraterística da Igreja, que no Pentecostes saiu para anunciar a Boa Nova de Cristo”, o purpurado assegurou que hoje a Igreja é convidada a prosseguir a sua peregrinação no mundo, sendo peregrina na História, e que é chamada a crescer na fé e no testemunho, chamada a renovar-se pois sobre ela cai a poeira da história, como nos tempos em que que vivemos. E, lembrando que ninguém pode desanimar com a missão que, em Fátima e a partir de Fátima, é guiada por Nossa Senhora, que tem o importante papel de Peregrina e Discípula desta Boa Nova, Dom António Marto precisou:
Aqui em Fátima, Nossa Senhora pediu conversão para o mundo e para a Igreja e esta conversão tem de ser feita todos os dias”.
Aduzindo que Ela se apresentou “aos povos da Terra como símbolo da misericórdia e da ternura de Deus”, o prelado pôs em evidência alguns dos exemplos em que Maria Se revelou como peregrina desde a Visitação a Isabel, sua prima, passando pelas Bodas de Caná, onde falou da necessidade de vinho novo e, depois, pelo Calvário, onde acompanhou o filho até à Cruz. Assim, “Ela pôs-se a caminho como mulher e como mãe e hoje serve-nos de guia” – afirmou lembrando que Ela é o sinal de esperança da peregrinação cristã. E esclareceu:
Cristo não quer que caminhemos sem uma mãe. Ela encontra-se tão presente no coração dos crentes; é sinal de esperança e consolação para este povo peregrino e continua a dizer à Humanidade desolada e desalentada: por fim, o meu Coração Imaculado Coração triunfará.”.
Evocando um conceito mais concreto da peregrinação, inerente à condição humana, clarificou que “a peregrinação pode ser experiência bela e surpreendente de Deus”, “uma experiência de interioridade profunda” quando é “uma viagem com uma meta a alcançar”, o Cardeal Dom António Marto alertou para os perigos duma  “cultura da exterioridade” e para o “frenesim do tempo” e lembrou a necessidade de a “Palavra do Senhor” ser “uma bússola para o caminho”, de o pão ser partilhado, de “a oração e o pensamento” se virarem “para Deus” e de se fazer “uma verdadeira conversão interior com vista à transformação de cada um e do mundo”.
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A “CAPELA-MUNDI Exposição temporária comemorativa do centenário da construção da Capelinha das Aparições está patente ao público (entrada livre) de  1 de dezembro de 2018 a 15 de outubro de 2019, das 9 às 18 horas, no Convivium de Santo Agostinho, na Basílica da Santíssima Trindade.

Composta por 9 núcleos, assenta numa aturada pesquisa histórica que procura ler a Capelinha como um dos mais importantes ícones do Santuário de Fátima. Por haver sido construída a partir dum desejo que os Pastorinhos asseguram ter sido transmitido pela Virgem Maria, este pequeno templo, de traça vernacular, é considerado o coração do Santuário e é ao seu redor que são acolhidas as mais íntimas manifestações de fé dos peregrinos da Cova da Iria.
Temáticas como a construção física, os protagonistas a ela ligados, a dinamitação de 1922 e a simbólica a ela associada são tratadas através da linguagem da museologia, recorrendo a peças de valor histórico e artístico, não só do espólio do Museu do Santuário de Fátima, como de outras instituições museológicas, incluindo museus, bibliotecas e palácios do Estado e de museus e arquivos da Igreja. Também diferentes organismos eclesiais (paróquias, congregações religiosas, confrarias e dioceses do País e de Espanha) cederam peças para a exposição, o que proporcionará uma experiência de formação e de fruição estética. 
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A Escola do Santuário tem por missão aprofundar e descobrir a espiritualidade da Mensagem de Fátima, através da sua leitura em relação com experiências significativas da contemporaneidade, e do reconhecimento da sua eclesialidade e relevância pastoral.
Este ano, a Escola tem três propostas formativas com modelos e formatos diferentes: os Itinerários de Espiritualidade (com a experiência de retiro, em vários momentos do ano, para aprofundamento da Mensagem de Fátima), um Curso sobre a Mensagem de Fátima (com conteúdos da Mensagem de Fátima em relação com as grandes questões contemporâneas) e as Oficinas Pastorais (modalidades de formação de caráter operativo destinadas a agentes pastorais das diversas áreas, com vista ao aprofundamento da Mensagem de Fátima). A novidade para o ano pastoral de 2018-2019 é, precisamente, a oferta de três oficinas pastorais, desenvolvidas a partir dos santos Francisco e Jacinta Marto e assentes na infância, numa proposta destinada sobretudo a agentes de pastoral ligados à infância, congregações religiosas e missionários.
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Enfim, um Santuário vivo e ativo em termos da manifestação da fé, da interiorização de vida, da formação e da cultura – ao serviço dos crentes e de todas as demais pessoas de boa vontade!
2018.12.03 – Louro de Carvalho

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