Configura uma dimensão de
eclesialidade sublinhada pela Mensagem de Fátima e é o tema do novo Ano Pastoral do Santuário de Fátima iniciado neste domingo, 2 de dezembro, e
inspirado nos cem anos da construção da Capela das Aparições.
A este respeito, o Reitor do Santuário, Padre Carlos Cabecinhas na
jornada de apresentação do tema do ano, na tarde do passado dia 1, no Salão do
Bom Pastor do Centro Pastoral Paulo VI, convidando os peregrinos a “Dar Graças
por Peregrinar em Igreja”, frisou na sua alocução:
“A mensagem de Fátima põe em destaque esta
dimensão eclesial – a consciência de sermos povo de Deus –, que exprimimos com
o tema ‘Dar graças por peregrinar em Igreja’. Esta dimensão eclesial da
mensagem faz-se patente, de forma muito explícita, no chamado ‘Segredo’, na
referência ao ‘Bispo vestido de branco’ e à Igreja peregrina e mártir.”.
O
responsável direto pelo Santuário foi o primeiro a usar da palavra na sessão de
apresentação do tema, presidida pelo Cardeal Dom António Marto, Bispo de
Leiria-Fátima – que se iniciou
com a inauguração da Exposição “Capela Mundi”: exposição temporária
comemorativa do centenário da construção da Capelinha das Aparições – e observou que esta consciência de ser Igreja se
experimenta de “muitos modos”, em Fátima, tais como: a participação nas
celebrações sacramentais: a integração nas assembleias crentes que aqui se
reúnem para a expressão comum da fé, para adorar a Deus, dar-Lhe graças e louvá-Lo;
e na união e comunhão com o Papa e na oração por ele, tão caraterística de
Fátima. Por outro lado, o tema pretende vincar que esta experiência de ser
Igreja é dinâmica: “é uma peregrinação”. E garantiu que, “neste caminho da
Igreja, as Aparições de Fátima são consolo que Deus oferece aos membros da sua
Igreja peregrina; são auxílio para o caminho”. De facto, como explicitou,
“no longo peregrinar dos seus filhos, Maria apresenta o seu Coração Imaculado
como refúgio e caminho”.
Em
conformidade com este desígnio, para o Padre Cabecinhas, “este ano pastoral
permitir-nos-á refletir sobre o sentido da peregrinação e sobre os traços mais
caraterísticos da peregrinação a Fátima” e levar-nos-á a “refletir sobre o
Santuário como meta de peregrinação e lugar de forte experiência de Igreja, porque
lugar de forte experiência do Deus que congrega a Igreja e reúne o seu povo”,
na linha da Carta Apostólica
em forma de “Motu Proprio! Sanctuarium
in Ecclesia.
Por isso,
inferiu o Reitor:
“O presente Ano Pastoral, que agora se inicia,
convida-nos a encarar a Mensagem de Fátima como meio para conseguir uma maior
consciência eclesial e caminho eficaz para fortalecer o sentido de pertença
eclesial, nomeadamente através da experiência comunitária da peregrinação”.
***
Este novo
Ano Pastoral é o segundo do triénio, que inicia o segundo século de Fátima e
que está a ser vivido como um “Tempo de Graça e de Misericórdia”.
Por outro
lado, 2019 é o ano em que o Santuário de Fátima viverá dois centenários relevantes:
o centenário da construção da Capela das Aparições (nos
meses primaveris de 1919) e o
centenário da morte de São Francisco Marto (em 4 de abril de 1919). De resto, o centenário da construção da Capela,
como já foi referido, é o acontecimento inspirador do tema deste ano, fazendo-se
memória do relato da Aparição de 13 de outubro, em que a Senhora disse aos
videntes: “Quero que façam aqui uma
capela”. Essa capela, cujo núcleo central se mantém, foi o início do
Santuário e constitui, ainda hoje, o seu “coração” – disse o Reitor, que frisou:
“Em contexto cristão, o edifício da igreja –
neste caso, a ‘capela’ – é sempre símbolo da Igreja de pedras vivas que aí se
reúne para celebrar a presença de Jesus Cristo. São Pedro, na sua primeira
epístola, exorta-nos a tomarmos consciência da nossa condição de ‘pedras vivas’
que entram na construção de um edifício espiritual, a Igreja, e conclui: ‘Sois
agora o povo de Deus’ (1Pe 2,10). É esta consciência de sermos povo de Deus que
desejamos aprofundar.”.
O Padre
Cabecinhas destacou, também, a atenção especial que o Santuário destinará aos
jovens, sobretudo a esse grande evento que será a Jornada Mundial da Juventude no Panamá, em janeiro de 2019, para
onde se deslocará, a título excecional, a Imagem N.º 1 da Virgem Peregrina de
Fátima, atendendo à importância do evento, mas também ao itinerário mariano
proposto pelo Papa Francisco que escolheu Maria como tema central da caminhada
de preparação para a Jornada Mundial da Juventude de 2019 – provavelmente tendo
como subtexto a informação indevidamente propalada pela comunicação social, com
base no indevidamente veiculado pelo site relioonline
de que a Jornada Mundial da Juventude de 2022 seria em Portugal, segredo de
muitos, mas supostamente guardado a sete chaves, porque é ao Papa que incumbe
tal anúncio. A este respeito, refira-se que, segundo o JN, as autoridades eclesiásticas ficaram incomodadas e a
Presidência da República estupefacta com tal fuga de informação.
Mas,
voltando ao no Pastoral do Santuário de Fátima, fica assente que, para a
vivência deste novo ciclo pastoral de três anos, e deste ano pastoral em
concreto, o Santuário voltará a apostar no cartaz mensal que recordará, ao
longo do ano, o tema que guia a vida do Santuário, em especial, uma catequese
alusiva a São Francisco Marto nas alamedas do recinto de Oração e a oferta de
um itinerário orante como proposta a todos os peregrinos. A nível da formação e
da reflexão, a Escola do Santuário proporá
várias iniciativas todos os meses, como adiante se faz referência, desde Itinerários de Espiritualidade a Oficinas Pastorais, uma novidade que
começa em fevereiro e é dirigida a um público específico, mantendo-se o Simpósio Teológico-Pastoral anual e os Encontros na Basílica. A nível cultural,
além dum programa musical diversificado, salienta-se a exposição “Capela Mundi”, visitável diariamente até
15 de outubro do próximo ano, no Convivium
de Santo Agostinho, já referida.
O Reitor do
Santuário aproveitou ainda a sessão para um balanço do ano pastoral findo, que
“permitiu consolidar algumas práticas” iniciadas durante o centenário, mas
agora aos “ritmos diários e habituais da vida do Santuário”. Alguns dos
exemplos apontados pelo Padre Carlos Cabecinhas para evidenciar a dinâmica de
vida do Santuário de Fátima neste segundo século foram: “o caminho feito a
nível celebrativo, com o cuidado das celebrações”; a oferta de “propostas de
reflexão e aprofundamento da Mensagem de Fátima”; e a oferta cultural, “com as
suas linguagens próprias para falar de Fátima”.
Por outro
lado, referiu que “a afluência de peregrinos, embora não atingindo os números
excecionais de 2017, se manteve muito elevada, com crescimento significativo de
grupos de proveniências até há pouco tempo incomuns”.
A jornada de
apresentação do tema do novo Ano Pastoral, que pôde ser seguida em direto,
através da página online do Santuário em www.fatima.pt., prosseguiu com uma conferência do
diácono Rui Ruivo, seguida dum breve recital com o Coro do Santuário e a Schola Cantorum Pastorinhos de Fátima,
que apresentou um repertório centrado nas músicas de Fátima.
A sessão
terminou com uma intervenção do Cardeal Dom António Marto, Bispo da diocese de
Leiria-Fátima.
***
Por seu turno, o Bispo diocesano, no encerramento da jornada de
apresentação do tema do novo Ano Pastoral “Dar
graças por Peregrinar em Igreja”, disse que a Igreja deve prosseguir a sua peregrinação no Mundo e na História, apesar das “poeiras que caem sobre ela”, visto que a Igreja é “peregrina na História” que “ainda não
chegou à plenitude”, em permanente conversão, renovação, e com esperança “que
Deus dá como dom”, rumo a uma “meta definitiva”.
Assinalando
que “a peregrinação é uma caraterística
da Igreja, que no Pentecostes saiu para anunciar a Boa Nova de Cristo”, o
purpurado assegurou que hoje a Igreja é convidada a prosseguir a sua
peregrinação no mundo, sendo peregrina na História, e que é chamada a crescer
na fé e no testemunho, chamada a renovar-se pois sobre ela cai a poeira da
história, como nos tempos em que que vivemos. E, lembrando que ninguém pode
desanimar com a missão que, em Fátima e a partir de Fátima, é guiada por Nossa
Senhora, que tem o importante papel de Peregrina e Discípula desta Boa Nova,
Dom António Marto precisou:
“Aqui
em Fátima, Nossa Senhora pediu conversão para o mundo e para a Igreja e esta
conversão tem de ser feita todos os dias”.
Aduzindo que Ela
se apresentou “aos povos da Terra como símbolo da misericórdia e da ternura de
Deus”, o prelado pôs em evidência alguns dos exemplos em que Maria Se revelou
como peregrina desde a Visitação a Isabel, sua prima, passando pelas Bodas de Caná,
onde falou da necessidade de vinho novo e, depois, pelo Calvário, onde
acompanhou o filho até à Cruz. Assim, “Ela pôs-se a caminho como mulher e como
mãe e hoje serve-nos de guia” – afirmou lembrando que Ela é o sinal de
esperança da peregrinação cristã. E esclareceu:
“Cristo
não quer que caminhemos sem uma mãe. Ela encontra-se tão presente no coração
dos crentes; é sinal de esperança e consolação para este povo peregrino e continua
a dizer à Humanidade desolada e desalentada: por fim, o meu Coração Imaculado
Coração triunfará.”.
Evocando um
conceito mais concreto da peregrinação, inerente à condição humana, clarificou
que “a peregrinação pode ser experiência
bela e surpreendente de Deus”, “uma experiência de interioridade profunda”
quando é “uma viagem com uma meta a alcançar”, o Cardeal Dom António Marto
alertou para os perigos duma “cultura da exterioridade” e para o
“frenesim do tempo” e lembrou a necessidade de a “Palavra do Senhor” ser “uma
bússola para o caminho”, de o pão ser partilhado, de “a oração e o pensamento”
se virarem “para Deus” e de se fazer “uma
verdadeira conversão interior com vista à transformação de cada um e do mundo”.
***
A “CAPELA-MUNDI” Exposição temporária comemorativa do
centenário da construção da Capelinha das Aparições está patente ao público (entrada livre) de 1 de dezembro de 2018 a
15 de outubro de 2019, das 9 às 18 horas, no Convivium de
Santo Agostinho, na Basílica da Santíssima Trindade.
Composta por
9 núcleos, assenta numa aturada pesquisa histórica que procura ler a Capelinha
como um dos mais importantes ícones do Santuário de Fátima. Por haver sido
construída a partir dum desejo que os Pastorinhos asseguram ter sido transmitido
pela Virgem Maria, este pequeno templo, de traça vernacular, é considerado o
coração do Santuário e é ao seu redor que são acolhidas as mais íntimas
manifestações de fé dos peregrinos da Cova da Iria.
Temáticas
como a construção física, os protagonistas a ela ligados, a dinamitação de 1922
e a simbólica a ela associada são tratadas através da linguagem da museologia,
recorrendo a peças de valor histórico e artístico, não só do espólio do Museu
do Santuário de Fátima, como de outras instituições museológicas, incluindo
museus, bibliotecas e palácios do Estado e de museus e arquivos da Igreja.
Também diferentes organismos eclesiais (paróquias, congregações religiosas, confrarias e dioceses do
País e de Espanha)
cederam peças para a exposição, o que proporcionará uma experiência de formação
e de fruição estética.
***
A Escola do Santuário tem por missão aprofundar e
descobrir a espiritualidade da Mensagem de Fátima, através da sua leitura em
relação com experiências significativas da contemporaneidade, e do
reconhecimento da sua eclesialidade e relevância pastoral.
Este ano, a Escola tem três propostas formativas com modelos
e formatos diferentes: os Itinerários
de Espiritualidade (com a experiência de retiro, em vários momentos do
ano, para aprofundamento da Mensagem de Fátima), um Curso sobre a Mensagem de Fátima (com conteúdos da Mensagem de Fátima
em relação com as grandes questões contemporâneas) e as Oficinas Pastorais (modalidades de formação de caráter operativo destinadas a
agentes pastorais das diversas áreas, com vista ao aprofundamento
da Mensagem de Fátima). A novidade para o ano pastoral de 2018-2019 é,
precisamente, a oferta de três oficinas pastorais, desenvolvidas a partir
dos santos Francisco e Jacinta Marto e assentes na infância, numa proposta destinada sobretudo
a agentes de pastoral ligados à infância, congregações religiosas e
missionários.
***
Enfim, um Santuário vivo e ativo em termos da manifestação da
fé, da interiorização de vida, da formação e da cultura – ao serviço dos crentes
e de todas as demais pessoas de boa vontade!
2018.12.03
– Louro de Carvalho
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