quinta-feira, 27 de dezembro de 2018

“Não esqueçamos a hospitalidade”


É o tema do Encontro Europeu de Jovens, animado pela comunidade ecuménica de Taizé, que a cidade de Madrid vai acolher a partir de amanhã, dia 28 de dezembro, até ao dia 1 de janeiro de 2019, com a passagem de ano especial em clima de oração e festa.
Esta é a 41.ª edição da iniciativa, que já passou por Lisboa e acontece pela primeira vez na capital espanhola, reunindo milhares de participantes de vários países, incluindo Portugal.
O Papa Francisco enviou aos participantes uma mensagem em que recorda o Sínodo dos Bispos que decorreu em outubro, no Vaticano, sobre a relação entre a Igreja e as novas gerações, pedindo a todos que façam crescer a “cultura do encontro”, no respeito pelas diferenças.
Segundo a agência Ecclesia, o texto papal destaca a importância do tema escolhido, a hospitalidade, num mundo “ferido”, que convida a ir ao encontro “dos que são descartados, rejeitados ou excluídos, dos pequenos e dos pobres”. Com efeito, conforme assinala a mensagem pontifícia, divulgada pela comunidade de Taizé, “é possível viver uma hospitalidade generosa, aprender a ver nas diferenças alheias uma riqueza para si e fazer frutificar os próprios talentos, para ser construtores de pontes entre Igrejas, religiões e povos”.
Também o português António Guterres, secretário-geral das Nações Unidas, evoca, por seu turno, os encontros em que participou, na sua juventude, elogiando o “espírito ecuménico” destas iniciativas. E escreve a este respeito:
Reunis-vos num tempo de desafios e de incertezas, perante as alterações climáticas, os conflitos, as desigualdades crescentes e a intolerância que aumenta. Mas esta é também uma era de oportunidades.”.
O secretário-geral da ONU diz contar com os jovens para que o mundo avance nos “objetivos comuns da paz, do desenvolvimento sustentável e no respeito pelos direitos da pessoa”.
Por sua vez a Presidente da Câmara de Madrid, em sua mensagem, saúda cada um dos jovens que se vão encontrar nesta cidade “aberta, multicultural, tolerante, uma cidade segura e acolhedora”. Salienta o facto de o símbolo da cidade serem “dois braços que abraçam cada pessoa que nos visita” e encarece o facto de Madrid, neste período do ano, ser “ainda mais hospitaleira porque está totalmente imersa nas festas de Natal que enchem a cidade de luz e de cor”. Por isso, a líder da autarquia quer que todos se sintam verdadeiramente como em sua casa.
E diz expressamente querer oferecer, como Presidente da Câmara, a estes jovens “todo o apoio e a ajuda do Conselho Municipal e de todos os que fazem parte desta instituição”, augurando a todos “uma estada feliz e fecunda no seio desta grande família que é Madrid”.
Também fizeram chegar mensagens à comunidade de Taizé vários líderes cristãos, como o Patriarca Bartolomeu, da Igreja Ortodoxa, o Arcebispo John Sentamu, da Igreja Anglicana, Olav Fykse-Tveit, do Conselho Ecuménico das Igrejas, Elijah M. Brown, da Aliança Batista Mundial ou Martin Junge, da Federação Luterana Mundial.
Madrid vai ser a quarta cidade espanhola a receber o encontro europeu de cariz ecuménico, depois de Barcelona, Santiago de Compostela e Valência.
Um dos momentos marcantes é a passagem de ano, num programa que inclui um piquenique partilhado e distribuição de chá quente; a oração comunitária nas igrejas do centro da cidade;  e uma vigília de oração pela paz no mundo, seguida por uma “festa dos povos” na paróquia de acolhimento dos vários participantes. E o Cardeal Carlos Osoro Sierra, Arcebispo de Madrid, defendeu ontem, dia 26, que é necessário transmitir uma mensagem clara aos jovens sobre os casos de abuso sexual na Igreja, “encarando a questão com todas as consequências que ela possa ter”.
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A comunidade convida, pois, os jovens a participar no Encontro Europeu de Jovens em Madrid e rezar com cânticos e em silêncio; encontrar milhares de jovens de toda a Europa e até de mais longe para aprofundar juntos a compreensão da fé; fazer uma experiência de hospitalidade junto das famílias e partilhar com simplicidade a vida destas pessoas; e partilhar com pessoas que perante os desafios atuais são testemunhas do Evangelho e procuram dar um rosto solidário à Europa. Assim, o programa prevê:
Sexta-feira, dia 28 de dezembro – chegada a Madrid de manhã, para o acolhimento e primeiro encontro com a paróquia e família de acolhimento; jantar e, depois, oração comunitária num pavilhão da “Feria de Madrid” (IFEMA).
Sábado, dia 29 de dezembro – oração da manhã na paróquia de acolhimento, seguida de um tempo de partilha em grupos de reflexão ou de encontros com pessoas empenhadas na vida da comunidade local; no final deste encontro, piquenique partilhado; distribuição de chá quente e oração comunitária nas igrejas do centro da cidade; à tarde, em diferentes locais do centro da cidade: ateliês com temas variados; compromisso social, fé e vida interior, criação artística…; jantar e, depois, oração comunitária num pavilhão da IFEMA.
Domingo, dia 30 de dezembro – participação nas celebrações habituais das paróquias de acolhimento e, depois, piquenique partilhado; à tarde, ateliês no centro da cidade; jantar e, depois, oração comunitária num pavilhão da IFEMA.
Segunda-feira, dia 31 de dezembrooração da manhã na paróquia de acolhimento, seguida de um tempo de partilha em grupos de reflexão ou de encontros com pessoas empenhadas na vida da comunidade local; no final deste encontro, piquenique partilhado; depois, distribuição de chá quente e oração comunitária nas igrejas do centro da cidade; à tarde, encontros por países; jantar e, depois, oração comunitária num pavilhão da IFEMA.
E, às 23 horas, vigília de oração pela paz no mundo, seguida de uma “festa dos povos” na paróquia de acolhimento.
Terça-feira, dia 1 de janeiro – participação nas celebrações habituais das paróquias de acolhimento e, depois, almoço com as famílias.
Partida a partir das 17 horas.
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O alojamento será em casas de habitantes da cidade ou da região ou em alojamentos coletivos (salões paroquiais, salas de aula de escolas, ginásios...) Todos devem levar colchão e saco-cama para poderem dormir no chão. Os jovens deficientes que precisem de um alojamento especial deviam inscrever-se antes de dia 1 de novembro, para que se pudesse prever um alojamento adaptado.
Por outro lado, em espírito de peregrinação de confiança, todos são incentivados a ser acolhidos por pessoas que ainda não conhecem: habitantes da cidade e da região que abrem as portas de suas casas gratuitamente a quem chega como peregrino.
Caso alguém tenha, apesar disso, organizado o seu próprio alojamento, era indispensável que escrevesse com antecedência a comunicar o endereço e que passe também pelo acolhimento para se inscrever, receber o programa, senhas, etc., explicando que o seu alojamento já estava previsto. Os anfitriões devem também contactar a paróquia mais próxima de sua casa e explicar que o s jovens acolhidos vão participar lá nas atividades.
A contribuição nos custos do Encontro pedida a cada participante cobre as despesas de alimentação, transportes locais, o aluguer e o equipamento dos espaços necessários e diferentes despesas ligadas ao acolhimento. Não é idêntica para todos, variando com o país de origem.
A Comunidade informa que o irmão Alois vai falar aos jovens todos os dias do Encontro, no final da oração da noite.
Durante a oração da comunidade, são lidas todos os dias estas leituras breves, retiradas da Bíblia, sendo que a referência bíblica indica uma passagem um pouco mais longa:
Sexta-feira, 28 de dezembroSão Paulo escreve: “Tende um só amor, uma só alma e um só sentimento. Nada façais por ambição. Tende entre vós os mesmos sentimentos que estão em Cristo Jesus.” (Fil 2,1-11).
Sábado, 29 de dezembroJesus disse: “O Reino dos Céus é semelhante a um tesouro escondido num campo, que um homem encontra. Volta a escondê-lo e, cheio de alegria, vai vender tudo o que possui e compra o campo.” (Mt 13,44-46).
Domingo, 30 de dezembro – “Quando Maria e José encontraram o menino Jesus no Templo, ele disse-lhes: ‘Por que me procuráveis? Não sabíeis que devia estar em casa de meu Pai?’ E sua mãe guardava todas estas coisas no seu coração’.” (Lc 2,41-52)
Segunda-feira, 31 de dezembro – “O que há de fraco no mundo é que Deus escolheu para confundir o que é forte. E foi aquilo que o mundo despreza que Deus escolheu.” (1Cor 1,26-31).
Terça-feira, 1 de janeiro de 2019 – “Corro pelo caminho dos teus mandamentos, Senhor, porque deste largas ao meu coração”. (Sl 119,25-32).
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Por outro lado e em termos de justificação e de intencionalidade, a Comunidade refere que “os dois últimos Encontros Europeus foram realizados em cidades do norte da Europa”, mas que, “este ano será numa cidade do sul da Europa em que nunca tivemos um Encontro Europeu”. No entanto, recorda que “na Península Ibérica, já fomos calorosamente recebidos em várias ocasiões, em Barcelona, Lisboa e Valência”. E, “agora formos convidados a animar em Madrid o 41.º Encontro Europeu”.
Em consonância com o que referiu a Presidente da Câmara de Madrid, também a Comunidade Ecuménica de Taizé observa:
Madrid é uma cidade aberta e diversificada, os seus habitantes vêm de todas as regiões de Espanha e de outros países. Muitas famílias estarão disponíveis para abrir as suas casas num espírito de acolhimento aos peregrinos que virão de toda a Europa. Madrid já acolheu várias reuniões internacionais, acordos de paz e protocolos ecológicos. A nossa peregrinação de confiança será enriquecida pelos valores desta tradição de solidariedade.”.
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É de ter em conta que a Comunidade deixou várias indicações para a preparação deste encontro e reflexão posterior por parte de cada grupo. Referem aspetos considerados pertinentes para este Encontro e para situações de espiritualidade similar.
Segundo a sua página web, podia prever-se, por exemplo, um ou dois encontros por mês, animando cada encontro num local diferente, mas tendo o cuidado de escolher locais facilmente acessíveis a todos.
Assim, em outubro, teriam sido feitos os primeiros contactos; em novembro, uma vigília e de encontro e de oração; em dezembro, encontro de partilha bíblica, com informações práticas sobre a peregrinação e oração de envio; e, em janeiro, partilha das experiências do Encontro.
Nos encontros de outubro poderiam colher-se testemunhos vários e refletir sobre questões com estas: Quem se sentiria tocado se o convidássemos para esta peregrinação? Como podemos entrar em contacto com outros jovens, para lhes propormos que participem connosco no Encontro? Será possível convidar jovens que se afastaram da Igreja ou mesmo alguns que perderam a Fé?

Em novembro, a questão pertinente terá sido: Porque nos juntamos para rezar?

Para nos ajudarmos uns aos outros a aprofundar a fé. Para tornar visível a realidade de uma Igreja acolhedora e calorosa, simples e aberta a todos, sinal de comunhão entre pessoas diferentes: habitantes de diferentes zonas de uma cidade, de diferentes terras de uma região, de diferentes comunidades culturais, igrejas ou paróquias, pessoas que já estiveram em Taizé e pessoas que nunca estiveram, pessoas empenhadas na sociedade e na Igreja e pessoas que procuram comprometer-se ou mesmo pessoas mais afastadas. Para encorajar jovens a começar ou continuar um caminho de fé na sociedade.
Podiam convidar-se muitas pessoas a participar neste tipo de vigílias comunitárias meditativas, que têm lugar numa igreja, com cânticos de Taizé, textos curtos, um momento de silêncio e um breve tempo de partilha. Os jovens podiam empenhar-se especialmente na sua preparação e animação. Seria bom convidar também aqueles que não costumam ir à igreja...
E que gestos de solidariedade se poderiam inventar em atenção àqueles que não vão ao Encontro Europeu? Levar as suas intenções de oração, dar testemunho da nossa experiência no regresso, ficar com as moradas das pessoas sós da paróquia ou do bairro para lhes enviar uma mensagem de esperança de Madrid em nome dos jovens reunidos pela paz...

Em dezembro, no encontro de partilha bíblica sobre o tema “Atenção a Deus, respeito pelo homem”, era de reservar algum tempo para que cada um se apresente ao pequeno grupo que lhe foi atribuído (grupos de 7 a 10 pessoas) e refletir:

Qual a minha ligação e o meu empenho com a Igreja? O que espero do Encontro Europeu? Como pode o Encontro Europeu ajudar-nos a aprofundar a relação entre a vida de fé e um compromisso pelos outros?

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A “festa dos povos”. No dia 31 de dezembro à noite, depois da vigília de oração, terá lugar em cada paróquia uma festa durante a qual cada país apresentará qualquer coisa da sua cultura. O que poderemos apresentar do nosso país? (canções populares, danças, testemunhos...).

Em janeiro: partilha das experiências do Encontro. Para lá dos que vão participar no Encontro Europeu, que outras pessoas podemos convidar para este encontro de partilha? Seria bom fixar a data deste encontro (que poderia ter lugar no final de janeiro ou início de fevereiro) antes do Encontro Europeu e recordá-la na viagem de regresso.

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Que seja uma boa oportunidade para a construção do diálogo ecuménico e inter-religioso e uma pedrada no charco em favor da paz.

2018.12.27 – Louro de Carvalho


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