sábado, 1 de dezembro de 2018

Não podemos viver de esperas, mas devemos viver na espera


É o Papa Francisco quem no-lo diz neste dia 1 de dezembro, a varanda para o Advento de 2018.
Com efeito, na manhã deste sábado, 1.º de dezembro, o Bispo de Roma recebeu os peregrinos das Dioceses de Ugento e de Molfetta, situadas na Itália central, que o vieram visitar em agradecimento pela visita que lhes fez em abril passado em homenagem a Dom Tonino Bello.
Iniciou o encontro com estes peregrinos do interior da Itália reiterando a premente atualidade da mensagem de Dom Tonino ao exortar:
Por favor, não fiqueis tristes por nenhuma amargura de casa. Não entristeçais as vossas vidas. Quem acredita em Jesus não pode ficar triste; porque o contrário de um povo cristão é um povo triste. Sigamos o pensamento de Dom Tonino.”.
E, reiterou a exortação, justificando:
Não fiquemos tristes: se fizermos isso, levaremos o tesouro da alegria de Deus à pobreza do homem de hoje. De facto, quem se entristece fica sozinho e só vê problemas; ao contrário, quem coloca o Senhor antes dos seus problemas encontra a alegria. Por isso, vamos deixar de nos lamentar e ao invés de nos entristecermos, comecemos a fazer o contrário: consolar e ajudar.”.
Neste encontro com os peregrinos, o Papa fez-lhes a seguinte advertência:
Uma vida ‘privada’ sem riscos e cheia de medos, em que se salvaguarda a si mesmo não é uma vida cristã. Não somos feitos para sonos tranquilos, mas para sonhos audaciosos.”. 
Ao falar do Advento que inicia neste domingo, afirmou que o novo ano litúrgico traz uma novidade do nosso Deus. que é o Deus de todas as consolações. Se olharmos para dentro de nós mesmos, vemos que todas as novidades que chegam não bastam para saciar as nossas expectativas. A este respeito, escrevia Dom Tonino: “Queremos coisas novas porque nascemos para coisas grandes’ e, é verdade, nascemos para estar com o Senhor; quando Ele entra em nós, chega a verdadeira novidade, Ele renova e surpreende sempre”. Mas o Papa adverte:
Não devemos viver de esperas, que talvez não se realizem, mas devemos viver na espera, ou seja, desejar o Senhor que sempre traz novidade. É importante saber esperar, e esperar sempre ativos no amor.”.
Como dizia Dom Tonino, quando não se espera mais nada, irrompe a verdadeira tristeza e nós, cristãos, somos chamados a proteger e a espalhar a alegria da espera recíproca: esperamos Deus que nos ama infinitamente e, ao mesmo tempo, somos esperados por Ele, o que parece um namoro. De facto, não estamos sozinhos: Deus visita-nos e espera estar connosco sempre.
Francisco recordou também aos peregrinos algumas palavras de Dom Tonino, pronunciadas há 30 anos, mas que parecem ter sido escritas hoje:
A vida é cheia de medos, medo do próprio semelhante, do vizinho de casa… medo do outro… medo da violência… medo de não conseguir, medo de não ser aceite… medo de que seja inútil esforçar-se… medo de que o mundo não mude… medo de não achar emprego”.
 E, nesse sentido, prosseguiu o Papa:
O Advento responde com o ‘Evangelho anti-medo’, porque quem tem medo e está abatido é reanimado pelo Senhor com a sua palavra, que o faz com dois verbos anti-medo, os dois verbos do Advento: reanimai-vos e levantai as vossas cabeças.”.
Na verdade, o Senhor pede que nos reanimemos quando o medo no deixa desolados; e, se as negatividades nos levam a olhar para baixo, Jesus convida-nos a olhar para o céu, donde Ele virá. Efetivamente, nós não somos filhos do medo, mas filhos de Deus, pelo que nós, dominando-nos a nós mesmos tendo Jesus ao lado, faremos com que o medo fique derrotado.
Em seguida, o Sumo Pontífice convidou todos os peregrinos a alargarem os seus horizontes e pensarem no sentido da vida, dizendo-lhes:
Não se pode ficar sempre no porto seguro, somos chamados a partir. O Senhor chama cada um de nós a entrar em mar aberto. Não nos quer ancorados no porto ou guardiões de faróis, mas navegantes confiantes e corajosos, que seguem rotas inéditas do Senhor, jogando as redes da vida sobre a sua Palavra.”.
 (cf Jane Nogara, Vatican News, 1 de dezembro)
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Um flagelo que fustiga a vida humana e perturba a concretização do desígnio cristão da vida foi abordado pelo Papa no Vaticano. Com efeito, Francisco também recebeu, neste dia 1 de dezembro, os participantes da Conferência “Droga e vícios: obstáculos ao desenvolvimento humano integral”, a quem advertiu para os riscos do ‘espaço virtual’ que pode capturar os jovens e arrastá-los no túnel das drogas.
Por conseguinte, propôs a integração e o apoio às pessoas que conseguiram sair do túnel das drogas e dos vícios, porque precisam da ajuda e do acompanhamento de todos. Só assim elas, por sua vez, poderão aliviar os sofrimentos de irmãos e irmãs com dificuldades.
O Papa reconhece que, na raiz desta ferida na sociedade, está “o clima cultural secularizado marcado pelo capitalismo de consumo, a autossuficiência, a perda de valores, o vazio existencial e a precariedade dos relacionamentos”. E aponta:
Um âmbito cada vez mais arriscado é o espaço virtual: em alguns sites na Internet, os jovens, e não só eles, são abordados e arrastados para uma escravidão da qual é difícil libertarem-se e que os fazem perder o sentido da vida e, por vezes, a própria vida”.
Depois, indica o papel da Igreja neste cenário: promover a instauração, no mundo de hoje, de um humanismo que tenha como centro a pessoa humana e como fundamento o “Evangelho da Misericórdia para aliviar, curar e cicatrizar os sofrimentos relacionados ao vício”. Na verdade, na sociedade do descarte, Deus rema contra a corrente, Deus não descarta ninguém, porque, para Ele, ninguém é irrecuperável!
Por isso, para concretizar a predita instauração humanista, o Bispo de Roma, pediu uma maior sinergia entre as instituições, as agências e a Igreja na prevenção e difusão das drogas e para restituir a dignidade àqueles que ficaram marcados pelas drogas. E agradeceu a todos pela atuação e compromisso, encorajando-os a prosseguir nesta missão, em seus diferentes âmbitos.
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Entretanto, o Vatican News, nesta varanda para o Advento, propõe expressamente uma reflexão específica sobre esta quadra que inicia o novo ano litúrgico, socorrendo-se de ensinamentos do Papa Francisco, de que se desatacam alguns tópicos:
O Advento “indica-nos o essencial da vida: encontrar Cristo nos irmãos”, para o que temos de apurar os ouvidos para escutar a Palavra e abrir os olhos para ver onde e como estão os irmãos.
Por outras palavras, o Advento é o tempo que nos foi oferecido para acolhermos o Senhor que vem ao nosso encontro para O reconhecermos nos irmãos e para aprendermos a amar.
Como foi dito, inicia-se, neste domingo, o Ano Litúrgico e o Tempo do Advento. O advento terá o seu ápice no Natal. Ora, aquando da recitação do Angelus a de 3 de dezembro do ano passado, Francisco explicou que devemos estar vigilantes e na espera:
O Advento é o tempo que nos é concedido para acolher o Senhor que vem ao nosso encontro, também para verificar o nosso desejo de Deus, para olhar em frente e nos preparar para o regresso de Cristo. Ele voltará a nós na festa do Natal, quando fizermos memória da sua vinda histórica na humildade da condição humana; mas vem a dentro de nós todas as vezes que estamos dispostos a recebê-Lo, e virá de novo no fim dos tempos para ‘julgar os vivos e os mortos’. Por isso, devemos estar vigilantes e esperar o Senhor com a expectativa de o encontrar.
(cf http://w2.vatican.va/content/francesco/pt/angelus/2017/documents/papa-francesco_angelus_20171203.html.)
A estarmos atentos e vigilantes para acolher as ocasiões para amar é o convite de Jesus no Tempo do Advento, não desperdiçando as ocasiões de amor que nos doa. Diz o Papa:
A pessoa atenta é a que, mesmo no meio ao barulho do mundo, não se deixa tomar pela distração ou pela superficialidade, mas vive de maneira plena e consciente, com uma preocupação voltada antes de tudo para os outros. Com esta atitude percebemos as lágrimas e as necessidades do próximo e podemos dar-nos conta também das suas capacidades e qualidades humanas e espirituais.” (id et ib).
Depois, nós temos de saber que estamos no mundo, mas não somos do mundo. De facto, o Advento faz-nos estar com os pés na terra, mas a olhar para o céu:
A pessoa atenta também se preocupa com o mundo, procurando contrastar a indiferença e a crueldade presentes nele, e alegrando-se pelos tesouros de beleza que, todavia, existem e devem ser preservados. Trata-se de ter um olhar de compreensão para reconhecer quer as misérias e as pobrezas dos indivíduos e da sociedade, quer a riqueza escondida nas pequenas coisas de cada dia, precisamente ali onde nos colocou o Senhor. A pessoa vigilante é a que aceita o convite a vigiar, ou seja, a não se deixar dominar pelo sono do desencorajamento, da falta de esperança, da desilusão; e, ao mesmo tempo, rejeita a solicitação de tantas vaidades de que o mundo está cheio e atrás das quais, por vezes, se sacrificam tempo e serenidade pessoal e familiar.”.
E conclui o Papa:
Estar atentos e ser vigilantes são os pressupostos para não continuar a ‘desviar para longe dos caminhos do Senhor’, perdidos nos nossos pecados e nas nossas infidelidades; estar atentos e ser vigilantes são as condições para permitir que Deus irrompa na nossa existência, para lhe restituir significado e valor com a sua presença cheia de bondade e ternura (id et ib).
No Angelus de 27 de novembro de 2016, pôs em evidência as três visitas do Senhor à humanidade:
A primeira visita foi a Encarnação, o nascimento de Jesus na gruta de Belém; a segunda acontece no presente: o Senhor visita-nos continuamente, todos os dias, caminha ao nosso lado e é uma presença de consolação; por fim, teremos a terceira, a última visita”, o encontro com Cristo no Juízo Final, que o Papa recorda citando o capítulo 25 do Evangelho de Mateus: ‘Tive fome e me destes de comer; tive sede e me destes de beber; era peregrino e me acolhestes; nu e me vestistes; enfermo e me visitastes; estava na prisão e viestes a mim’. Na noite da vida seremos julgados no amor.”. (cf http://w2.vatican.va/content/francesco/pt/angelus/2016/documents/papa-francesco_angelus_20161127.html).
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Com o tempo do Advento recomeça o nosso caminho para o Senhor, um caminho feito de alegria e de dores, de luz e de escuridão. Este caminho, que se torna um combate, é a boa batalha da fé. E o Pontífice Papa Francisco sublinha:
Deus é mais poderoso e mais forte que tudo. Esta convicção dá ao crente serenidade, a coragem e a força de perseverar no bem frente às piores adversidades. Mesmo quando se desencadeiam as forças do mal, os cristãos devem responder ao apelo, de cabeça erguida, prontos a resistir nesta batalha em que Deus terá a última palavra. E será uma palavra de amor e de paz.”. (cf Homilia do I Domingo do Advento na Catedral de Bangui, 29 de novembro de 2015 – in http://w2.vatican.va/content/francesco/pt/homilies/2015/documents/papa-francesco_20151129_repcentrafricana-omelia-cattedrale-bangui.html).
Ora, a coisa mais importante é o encontro com o Senhor. Com efeito, o Advento indica-nos o essencial da vida:
 A relação com o Deus que vem visitar-nos confere a cada gesto, a todas as coisas uma luz diversa, uma importância, um valor simbólico. […] Desta perspetiva vem também um convite à sobriedade, a não sermos dominados pelas coisas deste mundo, pelas realidades materiais, mas antes a governá-las. Se, ao contrário, nos deixarmos condicionar e dominar por elas, não podemos perceber que há algo muito mais importante: o nosso encontro final com o Senhor: e isto é importante. Aquele, aquele encontro. E as coisas de todos os dias devem ter este horizonte, devem ser orientadas para aquele horizonte. Este encontro com o Senhor que vem por nós.”. (cf Angelus, 27 de novembro de 2016 – vd supra).
E é Maria que nos conduz pela mão de Jesus, pelo que o Papa confia a humanidade a Ela:
Nossa Senhora, Virgem do Advento, nos ajude a não nos considerarmos proprietários da nossa vida, a não opormos resistência quando o Senhor vem para a mudar, mas a estar preparados para nos deixarmos visitar por Ele, hóspede esperado e agradável mesmo se transtorna os nossos planos”. (Angelus, 27 de novembro de 2016, vd supra).
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Podemos confiar à intercessão de Maria o nosso esforço de acolhimento a Cristo neste Advento, Porque o Senhor veio historicamente nascendo em Belém, há dois mil anos, como prometido a Abraão, lembrado pelos profetas, esperado pelo Povo:
Porque o Senhor vem agora e continua a vir, na Igreja, nos corações – pela Palavra, pela Eucaristia e pela caridade fraterna;
Porque o Senhor virá, no fim dos tempos e nós O aguardamos na esperança e no trabalho.
2018.12.01 – Louro de Carvalho

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