É verdade. George H.W. Bush, o republicano que foi o 41.º Presidente
dos Estados Unidos,
entre 1989 e 1993, faleceu no passado dia 30 de
novembro, com 94 anos de idade, 8 meses após a morte de sua esposa Barbara Bush.
Segundo o DN, o JN e o Observador, foi o
porta-voz da família, Jim McGrath, quem deu a notícia de que Bush morreu pouco depois
das 10 horas da noite (4 horas em Lisboa) de
sexta-feira. Porém, os seus últimos minutos foram contados pelo velho amigo e
ex-secretário de Estado, James A. Baker, ao The New
York Times, que estava no quarto dele no instante em que morreu.
Tinha ido
visitar Bush, a sua casa em Houston, na manhã daquele dia. Ao longo dos últimos
dias, tinha vindo a ficar cada vez mais
fraco: não saía da cama, parou de comer e praticamente só dormia. E,
por isso, Baker decidiu visitá-lo. Mas, quando chegou, George pareceu recuperar
e começou a comer novamente. Em 5 minutos, comeu 3 ovos cozidos. Depois, comeu
uma tigela de iogurte e dois batidos de frutas. “Toda a gente achou que este
seria um grande dia e que ele estava de volta”, referiu. Baker
acabou por ir embora mas voltou à noite, com a mulher. Tinha um jantar com
amigos e, a caminho, parou na casa de Bush. “Ele estava sentado na cama a conversar com as pessoas”, recorda
Baker que acabaria por ir embora novamente. Mas a caminho de casa, depois
do jantar, recebeu uma chamada a
pedir que voltassem à casa de Bush.
O casal
chegou por volta das 20,15 horas. Ao entrar no quarto, George abriu
ligeiramente os olhos e perguntou: “Aonde vamos, Baker?”. “Vamos para o céu”, respondeu o velho
amigo, ao que George respondeu: “É para aí que eu quero ir!”.
Além dos
médicos e enfermeiros e do casal Baker, no quarto estavam o filho Neil Bush e a
mulher Maria e o filho Pierce; outra neta do antigo
presidente, Marshall Bush; Jean Becker, antigo chefe de gabinete do
ex-presidente e o padre Russell Jones Levenson Jr. O tenor irlandês,
Ronan Tynan, que tinha ligado no mesmo dia para saber se podia visitar o
ex-presidente, tinha acabado de chegar. Como tantas vezes fizera – quando Bush fez 80 anos, por exemplo –,
Tynan voltou a cantar. Cantou duas músicas: a primeira foi “Silent Night”; e a segunda foi uma
música celta. Baker segurou a mão de Bush e esfregou-lhe os pés. Rezaram. Às
22,10 horas, o antigo presidente dos Estados Unidos morreu. “Foi uma
passagem tão gentil quanto poderia esperar. E ele estava pronto”, disse Baker.
No final da
noite do dia 30, George W. Bush falou ao telefone com o pai para se poder
despedir. Disse-lhe que tinha sido
um “ótimo pai” e que o amava. “Também te amo”, respondeu-lhe o
pai. Foram estas as últimas palavras do antigo líder dos EUA para o filho.
George W. Bush, o 43.º presidente norte-americano
(hoje um ex-presidente)
declarou que o pai era um homem de elevado caráter e um ótimo pai. Assim
escreveu no Twitter:
“Jeb, Neil, Marvin, Doro e eu
estamos tristes a anunciar que, depois de 94 anos extraordinários, o nosso
querido pai morreu. George H. W. Bush era um homem do mais alto caráter e o
melhor pai que um filho ou filha poderia pedir. A família Bush está
profundamente grata pela vida e amor do 41.º (presidente), pela compaixão
daqueles que se preocuparam e oraram pelo pai e pelas condolências de nossos
amigos e concidadãos.”.
***
Trump, Obama e Clinton recordam o antigo
Presidente.
Donald
Trump, saudou a “liderança inabalável”
de George Bush. Em comunicado divulgado a partir de Buenos Aires, onde
participa na cimeira do G20, declarou:
“Através de sua autenticidade, do seu
espírito e compromisso inabalável com a fé, a família e o seu país, o
Presidente Bush inspirou gerações de cidadãos norte-americanos”.
Também o
anterior Presidente dos EUA, Barack Obama, se referiu à morte do seu
antecessor George Bush considerando que “a América perdeu um patriota e um
humilde servidor”. As palavras de Obama sublinharam a contribuição de Bush
para “reduzir o flagelo das armas
nucleares e para formar uma ampla coligação internacional para expulsar um
ditador do Kuwait”. Obama disse que a diplomacia de George Bush ajudou
a “terminar com a Guerra Fria sem se
disparar um tiro”. E, sobre a vida do antigo presidente, ora falecido,
declarou:
“A sua vida é um testemunho da noção de que
o serviço público é uma vocação nobre e feliz. Deixa um legado inigualável.”
(vd Público, de 2/12).
E Bill
Clinton declarou:
“Serei profundamente agradecido pela sua
amizade. Desde o momento em que o conheci, fiquei rendido à sua bondade.”
(vd Público, de 2/12).
É de
recordar que, na carta que lhe escreveu na passagem de testemunho, Bush dizia:
“Caro Bill, (…) vai passar por tempos muito
difíceis, agravados por críticas que vai pensar que são injustas. Não deixe que
as críticas o desencorajem ou que o afastem do seu rumo.” (vd Público, de
2/12)
***
George H.W. Bush sofria de Parkinson,
doença que há muitos anos o impedia de caminhar. Mesmo em cadeira de rodas,
continuou a ter diversas aparições públicas, mas a saúde foi-se tornando cada
vez mais frágil. Em novembro de 2012, foi internado e passou quase durante dois
meses hospitalizado por causa duma bronquite, chegando a passar o Natal no
hospital. Em dezembro de 2014, voltou a ter problemas respiratórios e retornou
ao Houston Methodist Hospital. E, em julho de 2015, foi tratado num hospital do
Maine por ter quebrado um osso no pescoço como consequência duma queda e, em
2017, teve duas internações por pneumonia, uma em janeiro e outra em abril.
Este ano, tinha
sido internado no hospital com uma infeção no sangue em 23 de abril, um dia
após o funeral da ex-primeira dama, tendo lá permanecido 13 dias. Voltou a ser hospitalizado
em maio, por acusar baixa tensão arterial e fadiga, uma semana depois de chegar
ao Maine para passar o verão. Acabou por ter alta alguns dias depois e
comemorou o seu aniversário em 12 de junho – fazendo história, ao tornar-se o
primeiro ex-Presidente a atingir a idade de 94 anos.
***
George Herbert Walker Bush foi um político estadunidense,
tendo sido o 41.º Presidente dos Estados Unidos, entre 1989 e 1993.
Filiado no Partido Republicano, já havia anteriormente sido o 43.º
Vice-presidente dos Estados Unidos (de
Ronald Reagan, durante 8 anos), membro do Congresso, embaixador, diretor da CIA; e
atualmente era o mais velho ex-presidente vivo antigo Presidente
dos Estados Unidos. Foi durante
a sua presidência que caiu o Muro de Berlim e terminou a União Soviética.
Era o
patriarca de uma dinastia política que inclui o filho George W. Bush, que foi
também Presidente, outro como governador, John Ellis Bush (que chegou a
ser candidato nas primárias republicanas à presidência dos EUA) e um neto, que atualmente ocupa um cargo estadual no
Texas.
Oito anos
depois de deixar a presidência, assistiu à tomada de posse do seu filho George
W. Bush, que se tornou o 43.º Presidente.
Era um
republicano moderado, que privilegiava a diplomacia pessoal, não acreditava em
ideologias e defendia a necessidade de ouvir os outros. Foi eleito Presidente
dos Estados Unidos em 1988 depois de ter servido dois mandatos como vice-presidente
de Ronald Reagan. Pôde assim presidir ao fim da Guerra Fria em parceria como Mikhail Sergeevitch Gorbatchov (o político e estadista russo da Glasnost e da Perestroika) – o Muro de
Berlim caiu em novembro de 1989 e a União Soviética acabou em Agosto de 1991 –
e iniciar o que então se designou como uma “nova ordem mundial”, idealmente
multilateral, mas em que os Estados Unidos emergiam como única e incontestada
superpotência.
A forma como
liderou, com mão firme, prudência e habilidade diplomática esse complexo
período de transição granjeou-lhe o respeito da comunidade internacional. Dele
disse agora Mikhail Gorbatchov:
“Trabalhamos juntos em anos de grandes
mudanças. Era um companheiro genuíno.” (vd Público, de 2/12).
Bush pai,
como muitas vezes era referido para o distinguir do 43.º Presidente, viu a sua
popularidade aumentar no período da Guerra do Golfo no início de 1991, um
capital que se esvaiu num período de recessão breve, mas profunda. O
republicano foi derrotado pelo democrata Bill Clinton, quando procurava
assegurar um segundo mandato numa eleição em que um terceiro candidato, o
populista Ross Perot, baralhou as contas no colégio eleitoral.
Bush também
foi um herói da II Guerra Mundial, congressista do Texas, diretor da CIA e
vice-presidente de Ronald Reagan. Apenas um outro Presidente norte-americano,
John Adams, teve um filho que também se tornou presidente.
***
Segundo o G1, George Herbert Walker Bush nasceu em Milton, Massachusetts, em
12 de junho de 1924. Pouco depois, a família, que era muito rica, mudou-se para
o subúrbio de Nova York, onde foi criado. Estudou em escolas privadas, foi
líder estudantil e, depois de concluir o ensino médio, alistou-se para servir
na II Guerra Mundial.
Aos 18 anos, tornou-se um dos mais
jovens pilotos da história do país e serviu em 58 missões. Numa delas, o avião
em que estava foi derrubado por japoneses, pelo que teve de ser resgatado das
águas do Pacífico por um submarino americano. Chegou ao posto de tenente antes
de ser libertado com o fim da guerra.
Em
1945, casou com Barbara Pierce. O casal teve seis filhos: George, Robin (que morreu ainda
criança), John (conhecido como
Jeb), Neil, Marvin
e Dorothy. Ficaram casados durante 73 anos até à morte da ex-primeira dama,
a 17 de abril de 2018.
Cursou economia na Universidade Yale,
formando-se com louvor em 1948. No
mesmo ano, transferiu-se para o Texas e começou a trabalhar na indústria do
petróleo do Estado, criando uma carreira lucrativa: fundou uma empresa
exploradora em 1951 e, na década de 1960, já presidente de outra companhia,
tornou-se milionário.
Filho do senador Prescott Bush (eleito por Connecticut, em 1952), Bush filiou-se no Partido
Republicano, de perfil mais conservador e economicamente liberal.
Em 1967, tornou-se deputado pelo
Texas e ficou no cargo, durante dois mandatos, até 1970. Entre 1971 e 1974,
serviu como embaixador na ONU e passou 14 meses como representante na China.
Entre 1976 e 1977, foi diretor da CIA, o serviço de inteligência
norte-americano.
Em 1980, tentou candidatar-se à
presidência, mas perdeu e foi escolhido como vice-presidente do republicano
Ronald Reagan. No seu mandato como vice-vice-presidente, de 1981 a 1989, era
responsável por programas antidrogas e fez visitas diplomáticas a dezenas de
países.
Em 1988, foi nomeado candidato à
presidência pelo Partido Republicano. Numa campanha pesada, com ataques
pessoais dos dois lados, Bush derrotou o democrata Michael Dukakis. O
republicano George Herbert Walker Bush teve 54% dos votos populares e 426 dos
537 dos votos do colégio eleitoral.
Presidente dos EUA durante o fim da
Guerra Fria, o seu mandato foi marcado profundas mudanças na geopolítica, como
o desmantelamento da União Soviética, em 1991, prenunciado pela queda do muro
de Berlim em 1989.
A política externa teve papel central
no seu mandato. Em dezembro de 1989, Bush autorizou o envio de tropas ao Panamá
para depor o general Manuel Noriega. Entre 1990 e 1991, o país enviou tropas
com apoio da ONU para remover soldados de Saddam Hussein que invadiram o
Kuwait, durante a primeira guerra do Golfo. Quando os soldados foram retirados,
optou pelo fim da operação militar e não perseguiu Hussein.
Na sua política interna, Bush
ostentava a promessa de não aumentar impostos, mas chegou a aprovar esta medida
na tentativa de reduzir o défice do país.
Bush foi alvo de muita atenção da media quando, em 1992, vomitou e, em
seguida, desmaiou durante um jantar diplomático no Japão, com a presença de
mais de 100 diplomatas. A cena foi filmada e repercutiu-se internacionalmente.
Após deixar a presidência, aposentou-se
da vida política, mas participou em campanhas de angariação de fundos para
vítimas de calamidade pública, como o Furacão Katrina em 2005, e o Furacão
Harvey, em 2017. Neste último caso, participou na iniciativa One America Appeal, ao lado de outros 4
ex-presidentes dos EUA: Jimmy Carter, Bill Clinton, seu filho George W. Bush e
Barack Obama. E, em 2011, recebeu de Barack Obama a Medalha da Liberdade, a maior
honraria que pode ser concedida a um civil no país.
(cf https://g1.globo.com/mundo/noticia/2018/12/01/morre-aos-94-anos-o-ex-presidente-dos-eua-george-hw-bush.ghtml).
***
Um homem a quem alguns (muitos até) não reconheciam especiais
qualidades de liderança revelou-se pragmático e influenciou a mudança
geopolítica e geoestratégica (Angela Merkel diz que ele reconheceu e percebeu a vontade de Kohl
reunificar a Alemanha)
para uma nova era de contradições, mas de enormes desafios que só não são
enfrentados porque o mundo atual parece não dispor de líderes à altura e
aqueles que olham para o mundo com olhos de ver como o Papa Francisco só têm o
poder da palavra, que muitos aplaudem, mas que lhes soa com o sino que tine.
2018.12.02 – Louro de Carvalho
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