terça-feira, 18 de dezembro de 2018

Meros andaimes da Igreja sempre em construção


Foi assim que Dom Armando Esteves, Bispo Auxiliar da Diocese do Porto, designou os servidores de Deus no mundo através da Igreja, na referência que fez à sua família de sangue na alocução que proferiu no final da celebração da sua ordenação episcopal, a partir do pressuposto de que “uma ‘casa de família’ é, como a família, sempre inacabada”. Isto, porque a Igreja como instrumento de salvação e sacramento de Cristo é obra de Deus Pai, corpo de Cristo, animada e guiada pelo Espírito Santo.  
Com efeito, o novo Bispo Auxiliar do Porto foi ordenado, no passado dia 16 de dezembro, numa celebração presidida por Dom António Luciano, Bispo de Viseu, na Sé Catedral daquela cidade episcopal, tendo sido coordenantes Dom Manuel Linda, Bispo do Porto, e Dom Ilídio Leandro, Bispo emérito de Viseu, com a presença de muitos outros Bispos, com destaque para o Cardeal Dom António Marto, bispo de Leiria-Fátima, que foi Bispo de Viseu, o Arcebispo metropolita de Braga, muitos sacerdotes das dioceses de Viseu e do Porto e centenas de fiéis   
Em declarações à agência Ecclesia, o novo bispo considera que esta missão é um “novo apelo” para a doação à Igreja Católica, admitindo que houve “dias sem dormir” após a nomeação, mas confessando que sempre gostou muito de “estar no meio das pessoas e com as pessoas”. E manifesta confiança em Deus e nas pessoas que o vão acompanhar no futuro, destacando as “afinidades” que criou com a Diocese do Porto, onde se apresenta “livre, descontraído”, em atitude de “proximidade” com todos, como parte de uma “Igreja-mãe”.
Por seu turno, Dom Manuel Linda, Bispo do Porto, falando deste novo colaborador na ação pastoral, realçou a necessidade de colaboradores no “trabalho de missão” numa diocese “grande, ampla, promissora”, elogiando o “grande conhecimento da realidade pastoral” do novo bispo, que considera uma “fortíssima mais-valia”.
O Núncio Apostólico, Dom Rino Passigato, leu perante a assembleia reunida na Sé de Viseu o mandato apostólico de nomeação do bispo, com data de 27 de outubro, no qual se sublinhava a necessidade de ajudar os “pastores sobrecarregados com tanto trabalho”. Na verdade, acedendo a um pedido do Bispo do Porto, o Papa Francisco nomeou Dom Armando Esteves, de 61 anos, até agora vigário-geral da Diocese de Viseu, pedindo-lhe que seja “prudente em tudo”.
A Liturgia da Ordenação incluiu a apresentação do eleito, que promete fidelidade ao Papa; a sua prostração durante a Ladainha de Todos os Santos e a oração conclusiva; a imposição das mãos e a oração de ordenação; a unção da cabeça com o óleo do crisma; e a entrega do Livro dos Evangelhos e das insígnias: o anel, símbolo da fidelidade à Igreja, a mitra, que evoca o “esplendor da santidade” e o báculo, que significa a missão de “pastor”.
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Na homilia da celebração, Dom António Luciano destacou a “alegria” vivida pela diocese, com esta ordenação episcopal nas proximidades do Natal, falando num chamamento comum a todos os cristãos, “à vida, à vocação, à consagração, à missão e à santidade” e disse ao ordinando:
Ao sermos chamados ao Episcopado, tudo muda na nossa vida, as coisas agora passam a ser diferentes, como nos lembra o próprio Ritual”.
O prelado viseense falou desta ordenação como um “dom para a missão”, em particular na Diocese do Porto, onde o novo bispo vai ser auxiliar e exortou:
Identifica sempre a tua vida com Cristo Esposo e Pastor da sua Igreja e como Ele procura dar a vida pelo seu rebanho, vivendo com alegria, disponibilidade, humildade e paciência as tarefas que te destinar o teu bispo”.
O presidente da celebração sublinhou a “estima” que os paroquianos e amigos dedicam a Dom Armando Esteves, cuja presença considerou como uma “graça” e incitou a diocese de Viseu a ser “uma Igreja feliz e renovada, uma Igreja de portas abertas, em saída e dirigida às periferias”.
Dom António Luciano convidou o novo Bispo a que “envolvido neste mistério”, que a partir de hoje vai marcar toda a sua vida, se deixasse “conduzir por Cristo o Bom Pastor” que o chama.
E, recordando as palavras do Evangelho proclamado neste Domingo III do Advento, pediu-lhe:
Responde-Lhe [a Cristo] com amor e generosidade, faz o bem, reparte com os que não têm, não exijas dos outros senão a caridade e ajustiça que lhe devemos, não pratiques a violência, não sejas avarento, dá de graça o que recebeste de graça. […] Também aqui assenta a vocação do Bispo para viver e dar a vida pelo maior bem do seu rebanho.”.
Dirigindo-se à numerosa assembleia, que preenchia também o claustro da Sé e a Igreja da Misericórdia, o Bispo de Viseu afirmou que esta celebração nos convida “a um estilo de vida próprio, que é um antídoto positivo para a indiferença cristã e para a globalização de uma sociedade líquida, que dilui os valores humanos e cristãos em meros interesses oportunistas e mesquinhos”. Citando o Papa Francisco, proclamou:
Anunciar Cristo significa mostrar e crer que crer Nele e segui-Lo não é algo apenas verdadeiro e justo, mas também belo, capaz de cumular a vida de um novo esplendor e de uma alegria profunda, mesmo no meio das provações” (EG 167).
E acentuou que “o dom da Ordenação Episcopal que o novo bispo acolhe para que a sua vida se torne para todos nós um convite e um incentivo a vivermos com alegria e fidelidade a nossa condição humana e cristã” é sinal de dádiva gratuita”. Por isso, lembrando as palavras do Ritual da Ordenação, exortou;
Com amor paterno e fraterno, ama a todos quantos Deus confia ao teu cuidado pastoral, sobretudo os presbíteros e os diáconos, que têm parte contigo no ministério de Cristo; e ainda os pobres, os débeis, os imigrantes, os deslocados e todos os que viajam”.
Recordou a Dom Armando, que “a cruz, o calvário, o sofrimento, as dores e as dificuldades da vida e da missão apostólica transformar-se-ão em bênção e oportunidade” para viver verdadeiramente o Mistério Pascal”, mas “Cristo Ressuscitado brilhará verdadeiramente” na sua “vida de Pastor, de pai e de irmão”.
Evocando o contexto do Ano Missionário, declarou:
Neste Ano Missionário, enviamos-te como Bispo para a Diocese do Porto. Procura dar a vida pelo seu rebanho, vivendo com alegria, disponibilidade, humildade e paciência as tarefas que te destinar o teu Bispo. […] A partir de hoje, serás unicamente de Cristo para servires a Igreja e a humanidade. […] Conta com a minha oração, gratidão e estima pessoal.”.
E, a terminar a homilia, Dom António Luciano lembrou:
Só uma Igreja empenhada numa pastoral de verdadeiro acolhimento das pessoas, cheia de ternura, impregnada de amor salvífico, repassada de compaixão e misericórdia de Deus, será uma possível chave de leitura para percebermos melhor as encruzilhadas e dificuldades que atravessamos e transversalmente tocam estas primeiras décadas do século XXI. Resta-nos servir e amar o Senhor com alegria e na paz. Fazer da nossa vida a gruta de Belém, onde Jesus quer nascer e, através de cada um de nós, brilhar como luz para salvar a humanidade.”.
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No final da Missa, o novo Bispo saudou os presentes, da sua terra natal à nova diocese que vai servir, evocou todos os bispos do Porto, lembrou Dom António Ferreira Gomes, “marco inquestionável da história recente da Igreja em Portugal”, e pediu “a proteção especial lá do céu” a Dom Manuel Martins e Dom António Francisco dos Santos. A este respeito, disse:
Lembro Dom António Ferreira Gomes, marco inquestionável da história recente da Igreja em Portugal. A dois deles peço a proteção especial lá do céu: a Dom Manuel Martins que se estará a divertir ao ver-me aqui, agora! Conhecemo-nos em 1982, privámos várias vezes e falámos muitas…. Ensinou-me que o Reino se constrói com pequenos gestos, sinais de uma Igreja fraterna, amiga e solidária. O outro é Dom António Francisco, amigos já desde as atividades na área social, ele em Lamego e eu em Viseu, alguém fidelíssimo a Deus e aos homens. Conhecidos uma vez, nunca mais nos esquecia, porque nos guardava no coração, condimentando a relação com o afeto! Sinal, para mim, de uma Igreja mãe, onde a ternura e o amor têm lugar!”.
Deixou claro que os “destinatários prioritários” da sua “missão de anunciador do Evangelho” serão “os clérigos e consagrados, os pobres, os deslocados e as ovelhas perdidas. Incluo os doentes a quem saúdo especialmente”.
Depois de formular agradecimentos a um vasto conjunto de personalidades, grupos e instituições, evocou os pais, que tiveram 11 filhos (dois já falecidos), pelo exemplo de “honra, respeito, disciplina e fé sem explicações”. E, em saudação à numerosa “família de sangue” (incluindo “os conterrâneos de Oleiros” e os paroquianos das paróquias por onde passou), confessou:
Sou já Bispo; não por privilégio ou mérito, mas por dom de Deus! […] É com muita confiança que aceito esta missão. […] Não estou só! É um convite a ir até ao fim, dando a vida, se preciso for, pela unidade com o Papa Francisco, por este corpo de Apóstolos e por todo o Povo de Deus. […] O Ministério Episcopal a que fui chamado é maior que as minhas forças. Mas este meu ‘SIM’ a Deus para servir Cristo nos irmãos é também de todos vós, caros amigos e amigas, crianças e jovens que encontrei ao longo destes anos e que me ajudaram a ser melhor padre.”.
Recordando o dia da ordenação sacerdote, na mesma Catedral, a 3 de Janeiro de 1982, lembrou que “a Igreja é uma família onde o contrário do ‘eu’ não é o ‘tu’, mas o ‘nós’” e como precisamos de uma certa ‘mística do nós’ “para evitar que alguém caminhe só (caminhe fora), alimente cisões desnecessárias, nos vejam como funcionários”, pois somos um pouco uns dos outros por nascimento”.
Após passar em revista algumas passagens do seu percurso de vida (pessoal, profissional e pastoral), o novo Bispo Auxiliar do Porto disse que esta nomeação não é um “privilégio ou mérito”, mas um “dom de Deus”. Tendo escolhido como lema “Eis a tua Mãe”, palavras de Jesus ao apóstolo São João, fez questão de entregar o seu Ministério Episcopal nas mãos da grande “especialista do Espírito Santo que falou com Ele em Nazaré e que reuniu e uniu o Colégio dos Apóstolos no dia de Pentecostes: Maria, a Mãe de Deus, a Mãe da Igreja, a Mãe da unidade, a minha mãe e Mãe de toda humanidade”, acreditando que o Espírito Santo, com Jesus e Maria, o ensinará aquilo que ele não sabe e o “fortalecerá para, em cada momento” da missão episcopal, “mostrar e dizer a todos: ‘Eis a tua Mãe’!”. Por isso, pede que “seja Ela a fazer-nos caminhar por sendas de esperança e por horizontes de nova humanidade, realizando a ‘civilização do amor’!”.
Reconhece que jovens e adultos, não católicos ou com a fé adormecida, o fizeram “refletir sobre a Igreja que somos ou mostramos ser…”. Com efeito, “a imagem também é importante, que o digam os jornalistas, comunicadores”, cujas duras críticas o faziam pensar e a quem agradece “pelas dúvidas e até revolta que, no diálogo”, o fizeram “crescer” e o “purificaram”. E garantiu que, também sobre eles, “o Espírito Santo lança sementes de amor e bem”.
Revelando que não escolhera brasão, mas apenas o lema “Eis a tua mãe” (Jo 19,26), contou que Dina Figueiredo, artista amiga, a quem agrade, fez uma proposta de símbolo, que agradece:
Representa o Calvário, onde o BOM PASTOR nos conduz a todos e que, ali, dá a vida pelos seus, abrindo-lhes o Paraíso e guiando-os até ao Pai. E olha João, um bispo, a quem mostra o caminho seguro a percorrer: dizer a toda a humanidade: ‘Eis a tua mãe’! O símbolo aparecerá no anel, na cruz e no báculo.”.
E, sobre a escuta do Espírito Santo, confessou:
Porque eu necessito de O escutar, tanto quanto necessito de oxigénio, leio o texto final do livro que tendes em mão, escrito em 1968 (Patriarca greco-ortodoxo de Antioquia, Ignatius IV Hazim, 1968) e que outros atribuem ao Patriarca Atenágoras: Sem o Espírito Santo, Deus está longe, Cristo permanece no passado, o Evangelho é letra morta, a Igreja é uma simples organização, a autoridade é uma dominação, a missão é uma propaganda, a culto é uma evocação e a agir humano uma obra de escravos. Mas, no Espírito Santo, o cosmos é enobrecido e geme pela geração do Reino, Cristo ressuscitado torna-se presente, o Evangelho torna-se força da vida, a Igreja significa comunhão trinitária, a autoridade transforma-se em serviço que liberta, a missão é um Pentecostes, a liturgia é memorial e antecipação, a agir humano é divinizado. Invoco o Espírito Santo e os seus dons para que me ilumine.”.
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No próximo domingo, dia 23, a Diocese do Porto promoverá uma cerimónia de ação de graças, já concelebrada por Dom Armando Esteves, pela vida de Dom António Maria Bessa Taipa, antigo administrador diocesano e Bispo Auxiliar que resignou do cargo por ter atingido o limite de idade determinado pelo Direito Canónico.
Agora, o Porto é a vinha em que Dom Armando trabalha, a porção do rebanho em cujo cuidado participa com a sua sabedoria, capacidade de escuta, palavra, força e tenacidade. Prosit!
2018.12.18 – Louro de Carvalho

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