Um ano após a venda do NB (Novo Banco) ao fundo norte-americano Lone
Star, a instituição liderada por António Ramalho é notícia pela venda do BES Vénétie,
pela venda de 9.000 imóveis, pelos prejuízos que ainda contabiliza e pela venda
de crédito malparado. Porém, o ter-se desfeito duma grande parte do chamado
banco mau aquando da resolução é interessante.O NB concluiu, a 28 de dezembro,
a venda da posição de 87,5% que detinha no BES Vénétie à Pomontoria MMB, uma
empresa da Cerberus Capital Management, como anunciou a empresa num
comunicado enviado à CMVM (Comissão do Mercado de Valores Mobiliários). E a operação
melhora o rácio do banco em 30 pontos base.
O banco cumpriu assim um dos objetivos para este ano: vender o BES Vénétié, em França, uma operação cujo valor não foi revelado então pelo NB.
O banco cumpriu assim um dos objetivos para este ano: vender o BES Vénétié, em França, uma operação cujo valor não foi revelado então pelo NB.
A
operação já era conhecida desde o verão, quando foi anunciada a assinatura do
contrato de compra e venda. Mas só a 28 de dezembro é que a transação se
concretizou.
A venda do BES Vénétie terá, como se disse, um impacto positivo
estimado de 30 pontos base no rácio de capital” do banco liderado por António
Ramalho,
mas não vai ter efeitos na conta de exploração do NB. Segundo
revelou o Jornal de Negócios (acesso
pago) a 19 de junho,
o BES Vénétie terá custado cerca de 48 milhões de euros ao fundo francês
Cerberus. E o NB informa também que esta foi a última
operação de de-risking “prevista para 2018”.
Com
efeito, como consta dum comunicado enviado, em junho, à CMVM, “o Novo Banco celebrou com a
sociedade Promontoria MMB SAS, sociedade constituída em França e subsidiária da
Cerberus Capital Management, L.P., um contrato de compra e venda da
participação de 87,5% por si detida do capital social do Banque Espírito Santo et
de la Vénétie e ativos diretamente relacionados”.
No
comunicado, a instituição financeira não indicava qual o valor que encaixaria
com esta venda, referindo apenas que a conclusão da operação “terá um
impacto positivo no rácio de capital Common Equity Tier I do Novo Banco”.
E o
banco que foi vendido ao fundo norte-americano Lone Star em outubro de 2017 afirmava:
“Esta
transação representa mais um importante passo no processo de desinvestimento de
ativos não estratégicos do Novo Banco, prosseguindo este a sua estratégia de
foco no negócio bancário doméstico”.
Além desta operação, o banco quer ainda alienar o GNB Seguros Vida. Este processo está na fase final,
com a Global Bankers na frente da corrida para ficar com o ramo segurador do NB.
***
Como foi apontado, as notícias não se ficam por
aqui. O NB fechou, a 27 de dezembro, a venda de 2.150 milhões de euros de crédito
malparado.
Na verdade, o banco liderado por
António Ramalho celebrou com os fundos KKR e Lx Investment Partners a venda de
uma carteira de malparado composta por 102 mil contratos,
que foi avaliada em 2.150
milhões. O processo deverá estar concluído no 1.º semestre de 2019.
O negócio está oficialmente fechado, como revela o comunicado endereçado à
CMVM, que diz:
“O Novo Banco informa que, após a conclusão
de um processo de venda competitivo, o Novo Banco e o Best celebraram um
contrato de compra e venda de uma carteira de crédito não produtivo (non-performing loans, NPLs) e
ativos relacionados (Projeto Nata) com um consórcio de fundos geridos pela KKR
e com a LX Investment Partners. […] A carteira engloba aproximadamente
102 mil contratos com um valor total de 2.150 milhões de euros, sujeito a
ajustamentos de perímetro usuais nestas transações até à concretização da mesma.”.
A informação confirma a notícia avançada em meados de dezembro, que
apontava para o fecho da venda da maior carteira de malparado de sempre em
Portugal. No entanto, o valor real da carteira é superior aos 1.750 milhões
de euros inicialmente estimados, ou seja, mais 400 milhões de euros, tendo sido
alargado o perímetro de malparado em processo de venda.
Assim, tendo em conta o valor agora revelado pelo NB,
o nível de malparado do banco liderado por António Ramalho deverá descer para
cerca de 6.300 milhões de euros, ao invés
de 6.700 milhões, como se acreditava até agora.
Porém, a concretização da venda depende da “verificação de todas as
condições necessárias”, sendo que, para o NB, “esta transação representa mais
um importante passo no processo e desinvestimento de ativos não produtivos”, como
refere o banco na nota enviada à CMVM.
Em venda está também uma outra carteira de
malparado, mas em Espanha. Trata-se
de um portefólio de NPLs (non-performing loans) no valor estimado de 400 milhões de euros, numa
operação que se espera que aconteça até ao final do ano.
Além da venda do malparado, o NB também vendeu uma carteira de 9.000
imóveis aos americanos do Anchorage Capital Group por
716 milhões de euros, com a gestão deste portefólio a ficar a cargo das
sociedades de servicing Finsolutia e
Hipoges. E a venda deste conjunto de imóveis explicou, em grande medida, os
prejuízos de 420 milhões de euros que o banco registou no exercício entre
janeiro e setembro deste ano, tendo a venda de imóveis um impacto negativo de
quase 160 milhões de euros nas perdas que o NB registou naquele período.
Mas o banco tem almofada para perdas. Com efeito,
para proceder à limpeza do balanço,
conta com uma espécie de almofada de capital do Estado, que se comprometeu a
amparar os maus resultados aquando da alienação de 75% do capital ao fundo
americano Lone Star.
Uma vez que a venda de NPL e de imóveis geram imparidades, acabando por
debilitar financeiramente a instituição, sempre que os rácios de capital do NB baixem
da fasquia de 12,5%, é ativado o Mecanismo de Capital Contingente, pelo qual o
Estado garante, sempre que necessário, empréstimos para o Fundo de Resolução se
financiar, mas isto apenas se a erosão dos rácios for provocada pelas imparidades
resultantes da alienação de uma carteira de ativos que a Lone Star negociou
previamente com o Governo.
No cálculo do relatório e contas semestral, a instituição estimou em 726
milhões de euros as necessidades do mecanismo de capital contingente para 2019.
Já a 16 de dezembro, o ECO referia:
“Está vendida a maior carteira de malparado de sempre em Portugal. O
fundo KKR ganhou a corrida pelos 1.750 milhões em crédito problemático do Novo
Banco. NPL do banco caem para 6,8 mil milhões.”.
E, referindo que era a maior carteira de crédito
malparado alguma vez colocada à venda em Portugal, detalhava:
“Foi o fundo KKR quem ganhou a
corrida pelos 1.750 milhões de euros em NPL (Non Performing Loans) que
o Novo Banco pôs à venda em setembro. […] Tudo aponta
para que o contrato seja assinado no final desta semana. E assim António
Ramalho vai baixar o nível de malparado do banco para menos de 7.000 milhões de
euros ainda este ano.”.
E explicava estar em causa o projeto “Nata”, que consiste numa carteira de
empréstimos no valor de 1.750 milhões de euros e cuja cobrança pelo NB é
improvável e que eram três os candidatos que estavam na corrida para comprar
este portefólio: o fundo de private equity KKk, um consórcio formado pelo Deutsche Bank, a Arrow Global e a Carval, e a Cerberus Capital Management – sendo que estão ainda com o
KKR os servicers Hipoges, de António
Nogueira Leite, e LXPartners.
Não é o primeiro investimento da KKR em Portugal, considerando que recentemente
comprou as operadoras de telecomunicações Nowo e Oni à Apax e tem um investimento
na Outsystems.
O processo foi desencadeado em setembro, mas só agora conhece o desfecho
final. A operação deverá concretizar-se em duas tranches, conforme havia explicado a publicação Debtwire em setembro: a primeira totaliza um montante de 550 milhões
de euros com empréstimos de 54 grandes empresas, ao passo que a segunda, de 1,2
mil milhões de euros, se refere a malparado de mais de 62 mil empresas.
Detido em 75% pelo Lone Stare e em 25%
pelo Fundo de Resolução, o NB apresenta elevados níveis de
crédito malparado, mas comprometeu-se com o Banco de Portugal a reduzir, nos
próximos anos, a exposição a este tipo de ativos problemáticos, que tem
provocado prejuízos volumosos. De acordo com as suas últimas contas, o banco
detinha cerca de 8,5 mil milhões de euros em NPL no final de setembro deste
ano, menos 784 milhões de euros face ao final do ano passado. Este montante
correspondia a um rácio de crédito não produtivo de 27,7%.
Com a venda do projeto “Nata”, o nível de malparado do NB baixará assim
para cerca de 6.700 milhões de euros este ano. Mas poderá cair ainda mais (6.300
milhões de euros) tendo em
conta que se prepara para alienar em breve outra carteira de malparado,
desta vez em Espanha. É a venda do projeto “Albatros”, que inclui empréstimos
problemáticos no valor de 400 milhões de euros, transação que pode também ficar
fechada ainda este ano.
Nas contas até setembro, o NB explicava:
“O rácio de NPLs (non-performing loans)
situou-se nos 27,7% (-3,8 pontos percentuais face a setembro de 2017) devido à
continuada redução do crédito não produtivo, com o rácio de cobertura a atingir
os 63,5% (+11,6 p.p. face ao período homólogo). O rácio de NPLs líquido de
imparidades desceu de 18,1% em setembro de 2017 para 12,3%, uma redução de cerca
de 5,8 p.p.”.
Isto depois dos prejuízos de 1.395 milhões de
euros registados em 2017, um valor que
obrigou o Fundo de Resolução à injeção de cerca de 800 milhões no capital do
banco, com o Estado a emprestar cerca de 400 milhões ao Fundo de Resolução.
O banco conseguiu
chegar a acordo antes do final do ano, como era seu objetivo. Estima-se que
a concretização da transação se faça durante o 1.º trimestre de 2019, após
verificação de todas as condições necessárias à sua formalização. Ou seja, se
for contabilizada este ano, vai engordar os prejuízos do banco. Isto
porque o valor líquido do crédito malparado no balanço do NB, isto é, após
imparidades, pode ser superior ao montante pago pelo comprador, o que terá
implicações nos resultados – aliás, isso aconteceu já com a venda de imóveis
que teve lugar durante o 3.º trimestre. Nem o preço pago nem o valor
líquido registado no balanço são avançados no comunicado. Apenas se sabe o
valor contabilístico bruto da carteira: 2.150 milhões.
Com a
operação, o NB conclui uma das obrigações a que está comprometido pelo acordo
do Estado com a Comissão Europeia: a diminuição do crédito malparado. Esta é a
segunda grande transação levada a cabo pelo NB para se libertar da herança do
BES. A venda de imobiliário, com valor contabilístico bruto de 716,7 milhões de
euros, rendeu 388,9 milhões de euros. Só que, ainda assim, para se adequar ao
valor líquido dos imóveis, o NB teve de reconhecer perdas adicionais de
159 milhões de euros nos primeiros nove meses do ano.
***
Quando
é que o Novo Banco começará a restituir ao Estado o que lhe deve? Ou não vai
pagar? Será que o Estado estará também disposto a esperar tanto tempo que as
famílias paguem os seus impostos e dará dinheiro sempre que os seus trabalhadores
lho pedem? Haja moralidade!
2018.12.29 – Louro de
Carvalho
Sem comentários:
Enviar um comentário