sexta-feira, 21 de dezembro de 2018

Celebrar o Natal é “acolher na terra as surpresas do Céu”


É uma boa definição encontrada para o Natal pelo Papa Francisco. Na verdade, na audiência geral do passado dia 19, na Sala Paulo VI, em que sobressaiu a revanche da humildade sobre a arrogância a marcar o evento natalício, o Pontífice assegurou que celebrar o Natal é “acolher na terra as surpresas do Céu que trouxe as suas novidades ao mundo” pois “o Natal inaugura uma nova era, onde a vida não se programa, mas se doa, onde se deixa de viver para si mesmo segundo os próprios gostos, a fim de se viver para Deus e com Deus, porque Ele é Deus connosco”.
Nesta sua catequese semanal, desta feita intitulada “Natal: as surpresas que agradam a Deus”, o Santo Padre frisou que as árvores, as decorações e as luzes em todos os lugares – com a máquina publicitária a convidar à troca de novos presentes e a fazer cada vez mais surpresas ou as surpresas de sempre – nos lembram que também este ano será uma festa.
Mas Francisco interroga-se se “esta é a festa que agrada a Deus”, de que Natal ele gostaria, de quais presentes e surpresas”.
Considerando que o primeiro Natal da história nos pode levar a descobrir os gostos de Deus, recorda que Aquele Natal foi cheio de surpresas.
Desde logo,  Maria está prometida em casamento a José, mas o anjo chega e muda a sua vida; de virgem assumirá a maternidade. Por sua vez, José é chamado a ser pai de um filho sem o gerar, um filho que chega no momento menos indicado, ou seja, quando Maria e José eram noivos e, de acordo com a Lei, não podiam morar juntos. Ora, face ao suposto escândalo, o bom senso epocal induzia ao repúdio de Maria por José para salvar o seu nome, mas ele surpreende: para não prejudicar Maria, pensa em deixá-la secretamente. E surge nova surpresa: no sonho, Deus muda os planos de José, pedindo que receba Maria como esposa. Porém, tendo nascido Jesus, quando os projetos para a família estavam alicerçados, outra surpresa se levantou: em sonho foi disto a José que fosse para o Egito com Maria e o menino. Enfim, “o Natal causa mudanças inesperadas de vida”.
Mas, no bom dizer do Papa, é na “noite de Natal que chega a maior surpresa: o Altíssimo é um menino”. A Palavra divina é um infante, que literalmente significa “incapaz de falar”. E esse infante, que é o Salvador, não é acolhido pelas autoridades da época; é acolhido por simples pastores que, surpreendidos pelos anjos enquanto trabalhavam à noite, correm sem demora a responder com alegria ao inédito e surpreendente. Na verdade, “Natal é celebrar o inédito de Deus, ou melhor, um Deus inédito, que inverte as nossas lógicas e nossas expectativas”.
Viver o Natal, que inaugura uma nova era, a do acolhimento das surpresas do Céu para o mundo, implica “deixar-se abalar pela sua surpreendente novidade”. Com efeito, o Natal de Jesus não oferece o calor reconfortante da lareira, mas o arrepio divino que sacode a história: O Natal é a revanche da humildade sobre a arrogância, da simplicidade sobre a abundância, do silêncio sobre o tumulto, da oração sobre o “meu tempo”, de Deus sobre o meu “eu” – garante o Santo Padre.
Por isso, a celebração do Natal postula fazer como Jesus que veio até nós. A isto, diz o Papa:
É caminhar em direção de quem precisa de nós. É fazer como Maria: confiar-se docilmente a Deus, mesmo sem entender o que Ele fará. É fazer como José: levantar-se para realizar o que Deus quer, mesmo que não esteja de acordo com os nossos planos. São José é surpreendente: ele nunca fala no Evangelho e o Senhor fala com ele em silêncio, no sono. Natal é preferir a voz silenciosa de Deus ao barulho do consumismo. Se soubermos ficar em silêncio diante do presépio, o Natal será uma surpresa para nós, não algo já visto.”.
Entretanto, Francisco chama a atenção para uma questão candente: a perda crescente e quase generalizada do sentido profundo do Natal. Eis o que verifica:
A festa do Natal está próxima; mas há o perigo de errar a festa. É possível confundir a festa e preferir as coisas usuais da terra às novidades do Céu. Se o Natal se reduzir a uma bela festa tradicional, no centro da qual estamos nós e não o Deus Menino, será uma ocasião perdida.”.
Assim, torna-se pertinente o apelo papal:
Por favor, não mundanizemos o Natal! Não ponhamos de lado o Festejado, como sucedeu no primeiro Natal, quando Jesus ‘veio para o que era Seu, e os Seus não O receberam’.”.
O Pontífice argentino assegurou que será Natal se, como José, dermos espaço ao silêncio; se, como Maria, dissermos a Deus “aqui estou”, e, como Jesus, estivermos próximos dos que estão sozinhos; se, como os pastores, deixarmos os nossos recintos para estar com Jesus. Será Natal, se encontrarmos a luz na pobre gruta de Belém. Porém, “não será Natal se procurarmos o brilho cintilante do mundo, se nos enchermos de presentes, almoços e jantares, mas não ajudarmos ao menos um pobre, que se assemelha Deus, pois no Natal Deus veio pobre ao mundo.
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No dia 20, Francisco recebeu em audiência, na Sala do Consistório, um grupo de crianças da Ação Católica Italiana e manifestou a alegria por as encontrar na proximidade do Natal e a quem pediu que sejam canais generosos de bondade e acolhimento com todos.
O Pontífice mostrou-se convicto de que é uma graça de Deus ter adultos, sacerdotes e leigos, que cuidam com amor da formação humana e cristã dessas crianças. E disse às crianças:
Vós deveis rezar por eles a fim de que tenham sabedoria e paciência para realizar bem esse serviço”.
Verificando que, este ano, o caminho de formação destas crianças está centrado no encontro entre Jesus e as duas irmãs Marta e Maria de Betânia, Francisco advertiu:
Vós e outras crianças das dioceses italianas estais a redescobrir o chamamento para serdes amigos de Jesus, conhecê-lo melhor e encontrá-lo todos os dias na oração, a fim de serdes seus missionários. É transmitir um anúncio bonito, uma mensagem de salvação aos vossos coetâneos e também aos adultos. E qual é essa mensagem? Que todos sejam amados pelo Senhor: essa é a verdadeira, grande e boa notícia que Deus deu ao mundo com a vinda de seu Filho Jesus no meio de nós.”.
E revelou-se feliz porque, junto com o caminho de formação, estas crianças “levam adiante sempre um gesto, uma iniciativa de caridade que, este ano, pretende apoiar o direito à alimentação e dignidade das pessoas que trabalham no campo”.
Em seguida, Francisco agradeceu o presente que lhe foi dado pelas crianças e que reverterá para a Esmolaria Apostólica, dizendo:
Uma coisa muito útil os produtos que serão usados para a higiene pessoal de muitas pessoas pobres. Obrigado por terem pensado nisso.”.
Finalmente, exortou:
Mais uma vez é Natal. Jesus quer nascer em vossos corações e doar-vos a verdadeira alegria. […] Oferecei essa alegria às crianças que vivem situações de sofrimento, momentos de dificuldades, que estão sozinhas e são maltratadas. Sede canais generosos de bondade e acolhimento com todos a fim de construir um mundo mais fraterno, mais solidário e mais cristão.”.
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Mas o Natal ultrapassa as fronteiras do catolicismo e do cristianismo.
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Assim, hoje, 21 de dezembro (o dia mais escuro do ano), com início às 18,30 horas, realiza-se uma oração ecuménica na antiga igreja em Jokkmokk, localizada ao norte do Círculo Ártico, para recordar Jesus como a Luz do mundo, além de repetir a “cerimónia das velas” que teve lugar  na Catedral de Lund em 2016, durante a visita apostólica do Santo Padre à Suécia na recordação dos 500 anos da reforma. Trata-se duma iniciativa dos padres  Björn Göransson e Gene Dyer, da paróquia católica de Luleå, juntamente com pastor Gotthard Nilsson e Elena Veraja, da paróquia Jokkmokk da Igreja Luterana sueca, onde estarão representados o Conselho Cristão da Suécia e as igrejas livres cristãs locais.
Jokkmokk é um lugar caraterizado pela cultura e língua Sami, e isto vale também para a antiga igreja de Jokkmokk. Assim, o Padre Gene Dyer proclamará o Evangelho em Sami.
Cinco velas serão acesas para recordar os cinco imperativos ecuménicos assinados pelo Papa Francisco e pelo bispo Munib Younan naquela ocasião. Através da oração ecuménica em Jokkmokk, esses imperativos alcançarão também  o círculo polar do Ártico.
No dia do ano em que os raios do sol não chegam ao Círculo Polar Ártico, pouco antes do retorno da luz, os participantes  lerão juntos o Credo Niceno-Constantinopolitano e confessarão que Jesus é Deus de Deus, Luz da Luz.

Em mensagem enviada às comunidades xintoístas do Japão por ocasião do Ano Novo, festa solene para todo o povo japonês, o Pontifício Conselho para o Diálogo Inter-religioso destaca, entre outros aspetos, como as religiões podem ajudar “a preparar cidadãos responsáveis e honestos e a influenciar o serviço desinteressado à sociedade, apesar do movimento global que se afasta dos valores morais”.
Começa por dizer o texto:
Nós saudamos este ano na esperança de refletirmos juntos sobre o desafio de transmitir nossos respetivos valores morais aos nossos fiéis”.
Na convicção de que o declínio da religião leva à falta de moralidade e compreensão comum do intercâmbio social, o predito dicastério romano assegura, na mensagem, compartilhar “a opinião de que o desenvolvimento moral e as atitudes religiosas andam de mãos dadas com o compromisso com os deveres sociais e religiosos”.
Sobre a contribuição dos feriados religiosos, o Pontifício Conselho para o Diálogo Inter-religioso realça o contributo eficaz esses dias festivos “para criar e promover os valores morais naqueles que participam delas” e o modo como as religiões podem ajudar “a preparar cidadãos responsáveis e honestos e a influenciar o serviço desinteressado à sociedade, apesar do movimento global que se afasta dos valores morais”.
Na mensagem, reafirma-se também que a autêntica vida religiosa “pode ​​contribuir fortemente para a formação de pessoas honestas, justas, amáveis ​​e respeitosas”, embora a observância da prática ritual não seja suficiente se não se concentrar nas implicações morais que esses rituais antigos aportam. A este respeito cita as palavras de Francisco no Angelus do dia 2 de setembro:
Na verdade, um homem ou uma mulher que vive na vaidade, na ganância ou na arrogância, ao mesmo tempo se mostra como religioso e chega até mesmo a condenar os outros é um hipócrita”.
Por outro lado, o predito dicastério convida os xintoístas a buscarem juntos com os católicos, no início do novo ano, alcançar os fiéis “que vêm para celebrar essas diferentes práticas religiosas e festivas, a fim de fortalecer a consciência de como os ensinamentos representados nessas festas podem se tornar parte de sua vida quotidiana”. E, para conseguir isso, a mensagem sublinha o testemunho vivido das nossas convicções, dando aos nossos respetivos fiéis um verdadeiro campo de esperança para um mundo melhor”. Por isso, garante, “vamos celebrar nesse período festivo a alegria do nosso compromisso como líderes religiosos para oferecer mais formação sobre valores de integridade moral através de nossas crenças, contribuindo assim para o bem maior do mundo”.
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Como nota cultural e afetiva, é de relevar o Concerto no Vaticano pelos 200 anos da canção “Noite Feliz”. Com efeito, na tarde do passado dia 18, foram celebrados, na Praça São Pedro do Vaticano, os 200 anos da canção natalina “Noite Feliz” executada pela associação folclórica “Schützen Tiroler”.
As notas da “Noite Feliz” (Stille Nacht) ressoaram entre as colunas de Bernini e a Praça São Pedro durante o concerto dos tiroleses da Schützen Tiroler. A canção, conhecida entre nós como “Noite Feliz” completou 200 anos. A letra foi composta pelo padre Joseph Mohr (1792-1848) – era um poema que ele havia escrito dois anos antes –, e a música, pelo professor e organista austríaco Franz Xaver Gruber (1797-1863). Foi ouvida, pela primeira vez, na Igreja de São Nicolau, em Oberndorf, na Áustria, na missa da noite do Natal de 1818. Traduzida para centenas de línguas, “Noite Feliz” foi declarada em 2011 pela UNESCO Património Cultural Imaterial da Humanidade.
A versão em língua portuguesa é de 1912 e deve-se ao frade franciscano Pedro Sinzig, que, tendo nascido na Alemanha, foi para o Brasil em 1898, aos 22 anos, onde foi ordenado padre e trabalhou por toda a vida.
É uma canção que chega ao coração de todos e onde fica a marinar.
O Papa Francisco recordou várias vezes a importância da música. A 10 de novembro deste ano, ao encontrar um grupo da associação “Alunos do Céu”, frisou que a música e o canto são linguagens para “testemunhar o Evangelho” e para “chegar ao coração de todos, inclusive dos que estão afastados da Igreja ou da fé”. E, a 4 de março de 2017, dirigindo-se aos participantes no Congresso Internacional de Música Sacra, apontou em particular uma prioridade:
É necessário fazer com que a música sacra e o canto litúrgico sejam plenamente ‘inculturados’ nas linguagens artísticas e musicais da atualidade, ou que saibam encarnar e traduzir a Palavra de Deus em cânticos, sons e harmonias que façam vibrar o coração dos nossos contemporâneos”.
Eis a letra da canção para meditar, trautear e cantar ou tocar:

Noite feliz, noite feliz
Ó senhor, Deus de amor
Pobrezinho nasceu em Belém
Eis na lapa, Jesus nosso bem
Dorme em paz, ó Jesus
Dorme em paz, ó Jesus.
Noite feliz, noite feliz
Eis que no ar vem cantar
Aos pastores os anjos dos céus
Anunciando a chegada de Deus
De Jesus, Salvador!
De Jesus, Salvador!
Noite feliz, Noite feliz
Ó Jesus, Deus da luz
Quão afável é o teu coração
Que quiseste nascer nosso irmão
E a nós todos salvar

E a nós todos salvar


Noite de paz! Noite de amor!
Tudo dorme em redor
Entre os astros que espargem a luz
Indicando o Menino Jesus
Brilha a estrela da paz
Brilha a estrela da paz.

Noite de paz! Noite de amor!
Nas campinas ao pastor
Lindos anjos mandados por Deus
Anunciam a nova dos céus:
Nasce o bom Salvador!
Nasce o bom Salvador

Noite de paz! Noite de amor!
Oh, que belo resplendor
Ilumina a o Menino Jesus!
No presépio, do mundo eis a luz,
Sol de eterno fulgor!
Sol de eterno fulgor!

2018.12.21 – Louro de Carvalho

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