É uma boa definição encontrada para o Natal pelo
Papa Francisco. Na verdade, na audiência geral do passado dia 19, na Sala Paulo
VI, em que sobressaiu a revanche da humildade
sobre a arrogância a marcar o evento natalício, o Pontífice assegurou que
celebrar o Natal é “acolher na terra as surpresas do Céu que
trouxe as suas novidades ao mundo” pois “o Natal inaugura uma nova era, onde a vida não se programa, mas se doa, onde se deixa de viver para si mesmo segundo os próprios
gostos, a fim de se viver para Deus e com Deus, porque Ele é Deus connosco”.
Nesta sua
catequese semanal, desta feita intitulada “Natal:
as surpresas que agradam a Deus”, o Santo Padre frisou que as árvores, as decorações
e as luzes em todos os lugares – com a máquina publicitária a convidar à troca
de novos presentes e a fazer cada vez mais surpresas ou as surpresas de sempre –
nos lembram que também este ano será uma festa.
Mas
Francisco interroga-se se “esta é a festa que agrada a Deus”, de que Natal ele
gostaria, de quais presentes e surpresas”.
Considerando
que o primeiro Natal da história nos pode levar a descobrir os gostos de Deus,
recorda que Aquele Natal foi cheio de surpresas.
Desde logo,
Maria está prometida em casamento a José, mas o anjo chega e muda a sua
vida; de virgem assumirá a maternidade. Por sua vez, José é chamado a ser pai
de um filho sem o gerar, um filho que chega no momento menos indicado, ou seja,
quando Maria e José eram noivos e, de acordo com a Lei, não podiam morar
juntos. Ora, face ao suposto escândalo,
o bom senso epocal induzia ao repúdio de Maria por José para salvar o seu nome,
mas ele surpreende: para não prejudicar Maria, pensa em deixá-la secretamente.
E surge nova surpresa: no sonho, Deus muda os planos de José, pedindo que
receba Maria como esposa. Porém, tendo nascido Jesus, quando os projetos para a
família estavam alicerçados, outra surpresa se levantou: em sonho foi disto a
José que fosse para o Egito com Maria e o menino. Enfim, “o Natal causa
mudanças inesperadas de vida”.
Mas, no bom
dizer do Papa, é na “noite de Natal que chega a maior surpresa: o Altíssimo é
um menino”. A Palavra divina é um infante, que literalmente significa “incapaz de falar”. E esse infante, que é
o Salvador, não é acolhido pelas autoridades da época; é acolhido por simples
pastores que, surpreendidos pelos anjos enquanto trabalhavam à noite, correm
sem demora a responder com alegria ao inédito e surpreendente. Na verdade, “Natal
é celebrar o inédito de Deus, ou melhor, um Deus inédito, que inverte as nossas
lógicas e nossas expectativas”.
Viver o
Natal, que inaugura uma nova era, a do acolhimento das surpresas do Céu para o
mundo, implica “deixar-se abalar pela sua surpreendente novidade”. Com efeito,
o Natal de Jesus não oferece o calor reconfortante da lareira, mas o arrepio
divino que sacode a história: “O
Natal é a revanche da humildade sobre a arrogância, da simplicidade sobre a
abundância, do silêncio sobre o tumulto, da oração sobre o “meu tempo”, de Deus
sobre o meu “eu” – garante o
Santo Padre.
Por isso, a celebração
do Natal postula fazer como Jesus que veio até nós. A isto, diz o Papa:
“É caminhar em direção de quem precisa de
nós. É fazer como Maria: confiar-se docilmente a Deus, mesmo sem entender o que
Ele fará. É fazer como José: levantar-se para realizar o que Deus quer, mesmo
que não esteja de acordo com os nossos planos. São José é surpreendente: ele
nunca fala no Evangelho e o Senhor fala com ele em silêncio, no sono. Natal é
preferir a voz silenciosa de Deus ao barulho do consumismo. Se soubermos ficar
em silêncio diante do presépio, o Natal será uma surpresa para nós, não algo já
visto.”.
Entretanto, Francisco chama a atenção para uma questão candente: a perda crescente e quase generalizada do
sentido profundo do Natal. Eis o que verifica:
“A festa do Natal está próxima; mas há o
perigo de errar a festa. É possível
confundir a festa e preferir as coisas usuais da terra às novidades do Céu. Se o Natal se
reduzir a uma bela festa tradicional, no centro da qual estamos nós e não o
Deus Menino, será uma ocasião perdida.”.
Assim, torna-se pertinente o apelo papal:
“Por
favor, não mundanizemos o Natal! Não ponhamos de
lado o Festejado, como sucedeu no primeiro Natal, quando Jesus ‘veio para o que
era Seu, e os Seus não O receberam’.”.
O Pontífice
argentino assegurou que será Natal se, como José, dermos espaço ao silêncio;
se, como Maria, dissermos a Deus “aqui
estou”, e, como Jesus, estivermos próximos dos que estão sozinhos; se, como
os pastores, deixarmos os nossos recintos para estar com Jesus. Será Natal, se
encontrarmos a luz na pobre gruta de Belém. Porém, “não será Natal se
procurarmos o brilho cintilante do mundo, se nos enchermos de presentes,
almoços e jantares, mas não ajudarmos ao menos um pobre, que se assemelha Deus,
pois no Natal Deus veio pobre ao mundo.
***
No dia
20, Francisco recebeu em audiência, na Sala do Consistório, um grupo de crianças
da Ação Católica Italiana e manifestou a alegria por as encontrar na
proximidade do Natal e a quem pediu que sejam canais generosos de bondade e
acolhimento com todos.
O Pontífice
mostrou-se convicto de que é uma graça de Deus ter adultos, sacerdotes e leigos,
que cuidam com amor da formação humana e cristã dessas crianças. E disse às
crianças:
“Vós
deveis rezar por eles a fim de que tenham sabedoria e paciência para realizar
bem esse serviço”.
Verificando que,
este ano, o caminho de formação destas crianças está centrado no encontro entre
Jesus e as duas irmãs Marta e Maria de Betânia, Francisco advertiu:
“Vós
e outras crianças das dioceses italianas estais a redescobrir o chamamento para
serdes amigos de Jesus, conhecê-lo melhor e encontrá-lo todos os dias na
oração, a fim de serdes seus missionários. É transmitir um anúncio bonito, uma
mensagem de salvação aos vossos coetâneos e também aos adultos. E qual é essa
mensagem? Que todos sejam amados pelo Senhor: essa é a verdadeira, grande e boa
notícia que Deus deu ao mundo com a vinda de seu Filho Jesus no meio de nós.”.
E revelou-se feliz porque, junto com o caminho de formação,
estas crianças “levam adiante sempre um gesto, uma iniciativa de caridade que,
este ano, pretende apoiar o direito à alimentação e dignidade das pessoas que
trabalham no campo”.
Em seguida, Francisco
agradeceu o presente que lhe foi dado pelas crianças e que reverterá para a
Esmolaria Apostólica, dizendo:
“Uma
coisa muito útil os produtos que serão usados para a higiene pessoal de muitas
pessoas pobres. Obrigado por terem pensado nisso.”.
Finalmente,
exortou:
“Mais uma vez é Natal.
Jesus quer nascer em vossos corações e doar-vos a verdadeira alegria. […]
Oferecei essa alegria às crianças que vivem situações de sofrimento, momentos
de dificuldades, que estão sozinhas e são maltratadas. Sede canais generosos de
bondade e acolhimento com todos a fim de construir um mundo mais fraterno, mais
solidário e mais cristão.”.
***
Mas o Natal ultrapassa
as fronteiras do catolicismo e do cristianismo.
***
Assim, hoje,
21 de dezembro (o dia
mais escuro do ano), com
início às 18,30 horas, realiza-se uma oração ecuménica na antiga igreja em
Jokkmokk, localizada ao norte do Círculo Ártico, para recordar Jesus como a Luz
do mundo, além de repetir a “cerimónia das velas” que teve lugar na
Catedral de Lund em 2016, durante a visita apostólica do Santo Padre à Suécia
na recordação dos 500 anos da reforma. Trata-se duma iniciativa dos padres
Björn Göransson e Gene Dyer, da paróquia católica de Luleå, juntamente
com pastor Gotthard Nilsson e Elena Veraja, da paróquia Jokkmokk da Igreja Luterana
sueca, onde estarão representados o Conselho Cristão da Suécia e as igrejas
livres cristãs locais.
Jokkmokk é um
lugar caraterizado pela cultura e língua Sami, e isto vale também para a antiga
igreja de Jokkmokk. Assim, o Padre Gene Dyer proclamará o Evangelho em Sami.
Cinco velas serão acesas para recordar os cinco imperativos
ecuménicos assinados pelo Papa Francisco e pelo bispo Munib Younan naquela ocasião.
Através da oração ecuménica em Jokkmokk, esses imperativos alcançarão também
o círculo polar do Ártico.
No dia do ano em que os raios do sol não chegam ao Círculo
Polar Ártico, pouco antes do retorno da luz, os participantes lerão
juntos o Credo Niceno-Constantinopolitano e confessarão que Jesus
é Deus de Deus, Luz da Luz.
Em mensagem
enviada às comunidades xintoístas do Japão por ocasião do Ano Novo, festa
solene para todo o povo japonês, o Pontifício Conselho para o Diálogo
Inter-religioso destaca, entre outros aspetos, como as religiões podem ajudar
“a preparar cidadãos responsáveis e honestos e a influenciar o serviço
desinteressado à sociedade, apesar do movimento global que se afasta dos
valores morais”.
Começa por
dizer o texto:
“Nós saudamos este ano na esperança de refletirmos juntos sobre o
desafio de transmitir nossos respetivos valores morais aos nossos fiéis”.
Na convicção
de que o declínio da religião leva à falta de moralidade e compreensão comum do
intercâmbio social, o predito dicastério romano assegura, na mensagem, compartilhar
“a opinião de que o desenvolvimento moral e as atitudes religiosas andam de
mãos dadas com o compromisso com os deveres sociais e religiosos”.
Sobre a
contribuição dos feriados religiosos, o Pontifício Conselho para o Diálogo Inter-religioso
realça o contributo eficaz esses dias festivos “para criar e promover os
valores morais naqueles que participam delas” e o modo como as religiões podem
ajudar “a preparar cidadãos responsáveis e honestos e a influenciar o serviço
desinteressado à sociedade, apesar do movimento global que se afasta dos
valores morais”.
Na mensagem,
reafirma-se também que a autêntica vida religiosa “pode contribuir fortemente
para a formação de pessoas honestas, justas, amáveis e respeitosas”, embora a
observância da prática ritual não seja suficiente se não se concentrar nas
implicações morais que esses rituais antigos aportam. A este respeito cita as
palavras de Francisco no Angelus do dia 2 de setembro:
“Na verdade, um homem ou uma mulher que vive na vaidade, na ganância ou
na arrogância, ao mesmo tempo se mostra como religioso e chega até mesmo a condenar
os outros é um hipócrita”.
Por outro
lado, o predito dicastério convida os xintoístas a buscarem juntos com os
católicos, no início do novo ano, alcançar os fiéis “que vêm para celebrar
essas diferentes práticas religiosas e festivas, a fim de fortalecer a consciência de como os ensinamentos representados
nessas festas podem se tornar parte de sua vida quotidiana”. E, para conseguir
isso, a mensagem sublinha o testemunho vivido das nossas convicções, dando aos
nossos respetivos fiéis um verdadeiro campo de esperança para um mundo melhor”.
Por isso, garante, “vamos celebrar nesse período festivo a alegria do nosso
compromisso como líderes religiosos para oferecer mais formação sobre valores
de integridade moral através de nossas crenças, contribuindo assim para o bem
maior do mundo”.
***
Como nota cultural e afetiva, é de relevar o Concerto
no Vaticano pelos 200 anos da canção “Noite Feliz”. Com efeito, na tarde do passado dia 18, foram
celebrados, na Praça São Pedro do Vaticano, os 200 anos da canção natalina “Noite Feliz” executada pela associação
folclórica “Schützen Tiroler”.
As notas da “Noite
Feliz” (Stille Nacht) ressoaram entre as colunas de Bernini e a Praça
São Pedro durante o concerto dos tiroleses da Schützen Tiroler. A canção,
conhecida entre nós como “Noite Feliz” completou 200 anos. A letra foi composta
pelo padre Joseph Mohr (1792-1848) – era um
poema que ele havia escrito dois anos antes –, e a música, pelo professor e
organista austríaco Franz Xaver Gruber (1797-1863). Foi ouvida, pela primeira vez, na Igreja de São
Nicolau, em Oberndorf, na Áustria, na missa da noite do Natal de 1818.
Traduzida para centenas de línguas, “Noite
Feliz” foi declarada em 2011 pela UNESCO Património Cultural Imaterial da
Humanidade.
A versão em
língua portuguesa é de 1912 e deve-se ao frade franciscano Pedro Sinzig, que,
tendo nascido na Alemanha, foi para o Brasil em 1898, aos 22 anos, onde foi
ordenado padre e trabalhou por toda a vida.
É uma canção que chega ao coração de todos e onde fica a marinar.
O Papa
Francisco recordou várias vezes a importância da música. A 10 de novembro deste
ano, ao encontrar um grupo da associação “Alunos
do Céu”, frisou que a música e o canto são linguagens para “testemunhar o
Evangelho” e para “chegar ao coração de todos, inclusive dos que estão
afastados da Igreja ou da fé”. E, a 4 de março de 2017, dirigindo-se aos
participantes no Congresso Internacional de Música Sacra, apontou em particular
uma prioridade:
“É necessário fazer com que a música sacra e o canto litúrgico sejam
plenamente ‘inculturados’ nas linguagens artísticas e musicais da atualidade,
ou que saibam encarnar e traduzir a Palavra de Deus em cânticos, sons e
harmonias que façam vibrar o coração dos nossos contemporâneos”.
Eis a letra da canção para meditar, trautear e cantar ou tocar:
Noite
feliz, noite feliz
Ó senhor, Deus de amor Pobrezinho nasceu em Belém Eis na lapa, Jesus nosso bem Dorme em paz, ó Jesus Dorme em paz, ó Jesus. |
Noite
feliz, noite feliz
Eis que no ar vem cantar Aos pastores os anjos dos céus Anunciando a chegada de Deus De Jesus, Salvador! De Jesus, Salvador! |
Noite feliz, Noite feliz
Ó Jesus, Deus
da luzQuão afável é o teu coração Que quiseste nascer nosso irmão E a nós todos salvar E a nós todos salvar |
Noite de paz! Noite de amor!
Tudo dorme em redor Entre os astros que espargem a luz Indicando o Menino Jesus Brilha a estrela da paz
Brilha a estrela da paz.
|
Noite de paz! Noite de amor!
Nas campinas ao pastor Lindos anjos mandados por Deus Anunciam a nova dos céus: Nasce o bom Salvador!
Nasce o bom Salvador
|
Noite de paz! Noite de amor!
Oh, que belo resplendor Ilumina a o Menino Jesus! No presépio, do mundo eis a luz, Sol de eterno fulgor!
Sol de eterno fulgor!
|
2018.12.21 –
Louro de Carvalho
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