quarta-feira, 26 de dezembro de 2018

Do não bastar das contas certas até à pura fantasia

Numa reação, a meu ver, tardia à mensagem de Natal do Primeiro-Ministro, o PSD de Rui Rio veio hoje, dia 26 de dezembro, dizer que António Costa falou de “um conjunto de fantasias”, pedindo-lhe adesão à realidade.
Com efeito, André Coelho Lima, vogal da Comissão Política Nacional do partido, reagiu a partir do Porto, àquela mensagem em declarações transmitidas pela SIC Notícias, dizendo que o PSD não viu nada de positivo na mensagem de Natal do Primeiro-Ministro, que falou de “um conjunto de fantasias”.
O dirigente nacional socialdemocrata começou por defender que a mensagem de Natal devia ser “fática e objetiva” para depois elencar alguns pontos onde, segundo o PSD, isso não sucedeu.
Quanto ao alegado crescimento da economia, André Coelho Lima lembrou que o Primeiro-Ministro sustentou que a economia portuguesa cresceu mais do que a média europeia e acrescentou que Portugal tem “o quarto menor [crescimento] do PIB” na União Europeia. A isto o PSD diz que “é preciso [ter] adesão a realidade”.
A seguir, em relação ao equilíbrio das contas públicas, o vogal da Comissão Política do partido salientou o facto de, na mensagem de Costa, vir sublinhada a ideia do equilíbrio orçamental. E Coelho Lima discorre: “O Governo tem as contas certas e na legislatura a dívida pública aumentou cerca de 20 mil milhões de euros. Isto é ter contas certas?”.
Depois, sobre a carga fiscal, este membro da Comissão Política Nacional chamou a atenção para o facto de Portugal ter “a maior carga fiscal”, que vem a anular a propalada reversão dos rendimentos,
Por outro lado lamentou que o Primeiro-Ministro, ao mesmo tempo, tenha simplesmente afirmado que vai continuar a fazer um investimento de qualidade nos serviços públicos”, destacando a saúde e os serviços públicos. Ora, como o Serviço Nacional de Saúde se confronta com enormes dificuldades e s serviços públicos estão tremendamente degradados, este estado de quase destruição merecia, segundo o PSD, outro recato e outro cuidado da parte do Primeiro-Ministro.
Também Costa diz que o país deve aproveitar a oportunidade para aproximar o interior através da redução dos preços dos transportes públicos, quando apresenta uma solução de “transportes públicos mais baratos para as áreas metropolitanas de Lisboa e Porto”. Disto infere Coelho Lima que, o território, para o Primeiro-Ministro, se cinge apenas às duas principais cidades, descurando os municípios do interior.
Pelo que André Coelho Lima resume: “Viu-se um conjunto de fantasias”, pois “dizer-se que temos contas certas quando temos a dívida pública a aumentar não é um bom serviço à qualidade das democracia”.
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O PSD veio comentar a mensagem do Chefe do Governo já a destempo comparativamente com os demais partidos com assento parlamentar, não percebendo que o tempo da política é extremamente curto, quando toda a gente sabe que António Costa não ia desperdiçar esta oportunidade natalícia favorável ao discurso perante os portugueses. Por outro lado, quem conhece o Chefe do Governo sabe muito bem que este não se limitaria a desejar Boas Festas. Por isso, era necessário ter preparadas as línguas e as canetas para um comentário pertinente que não ficasse por simples desmentidos ou por expressões ocas como “conjunto de fantasias.
Não sei se a mensagem natalina daria o espaço para detalhes para cada um dos itens do balanço costista e da sua carta de intenções para o futuro ou se a mensagem alguma vez iria ultrapassar o teor de mera política, espraiando-se por caminhos estreitos da ciência práxis económica e pelos meandros da problemática social. Para se lhe fazer a devida justiça, deveria comparar-se com as congéneres dos outros Chefes de Governo que antecederam António Costa para vermos se eles também se tinham ficado só pelas fantasias natalinas e dado números fantasiosos.   
Preferia que o maior partido no Parlamento fosse além da simples e tímida postura de oposição e cilindrasse Costa com números, se é que os tem e dissesse como faria se fosse governo nesta conjuntura. 
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Segundo os dados disponibilizados pelo Banco de Portugal a 3 de dezembro, a dívida pública aumentou 2,1 mil milhões de euros entre setembro e outubro, para totalizar 251,1 mil milhões, batendo assim o recorde histórico de 250,52 mil milhões de euros fixado em maio, tendo o aumento resultado das emissões de títulos de dívida em 1,9 mil milhões de euros.
De acordo com a instituição liderada por Carlos Costa, em outubro a dívida pública portuguesa na ótica de Maastricht, a que conta para Bruxelas usar no Procedimento dos Défices Excessivos, situou-se em 251,1 mil milhões de euros. Trata-se dum aumento de 2,1 mil milhões de euros face ao valor que se registava em setembro.
Em outubro, Portugal foi ao mercado por duas ocasiões. A 10 de outubro e a 17 de outubro. Na primeira, colocou 782 milhões de euros em obrigações do Tesouro a 10 anos, tendo regressado uma semana depois para emitir um valor global de 1,250 milhões de euros em bilhetes do Tesouro a 3 e 11 meses, ou seja, um total de 2.032 milhões de euros.
No mesmo sentido evoluiu a dívida pública líquida. Segundo adianta o Banco de Portugal, “os ativos em depósitos das administrações públicas aumentaram 1,3 mil milhões de euros, pelo que a dívida pública líquida de depósitos registou um acréscimo de 0,8 mil milhões de euros em relação ao mês anterior, totalizando 224,5 mil milhões de euros.
O novo máximo histórico registado pela dívida pública nacional acontece poucos dias depois de o Primeiro-Ministro ter anunciado que o país vai pagar a totalidade da dívida remanescente ao FMI (Fundo Monetário Internacional) até ao final do ano . O anúncio foi feito no dia 29 de novembro, no encerramento do debate do Orçamento do Estado para 2019, na Assembleia da República.
E, a 30 de novembro, segundo o ECO, porque o país paga dívida ao FMI, este elogia “poupança na fatura com juros”, explicando:
    “Estas operações são financeiramente vantajosas porque melhoram o perfil de maturidade da dívida pública e geram poupança na fatura com juros. Associado à política de manter fortes reservas cambiais, contribui para uma maior acumulação de defesas financeiras contra futuros eventos adversos. Assim que o pagamento anunciado ocorrer, Portugal irá sair do estatuto de Monitorização Pós-Programa.”.
Segundo o comunicado do FMI, “os reembolsos antecipados de Portugal, iniciados desde 2015, já reduziram acentuadamente a dívida pendente ao Fundo”. Com efeito, estes reembolsos “refletem as condições favoráveis de acesso ao mercado de Portugal e enviam um sinal positivo aos investidores e mercados”.
Este ano, Portugal já pagou 831 milhões de euros ao FMI, que se seguem aos 10 mil milhões de dívida que foi recomprada pelo Tesouro em 2017. A estratégia das Finanças de amortizar antecipadamente o empréstimo ao FMI tem levado a uma redução dos custos da dívida. Portugal paga uma taxa de juro de referência de cerca de 1,7% pelo empréstimo do FMI, a que se soma um spread (prémio de risco) superior a 100 pontos base, dado o elevado montante da dívida face à quota do país no fundo.
Assim, o juro pago por esta tranche da dívida, que chegou a ser superior a 4% e foi baixando com a política de reembolsos, situa-se próximo de 3%. Nos mercados, o país tem-se financiado com um juro abaixo de 2% ao longo de todo o ano. O Governo antecipa que os gastos com juros totalizem 6.968,1 milhões de euros em 2018, o que representa 3,5% do PIB português e uma diminuição de 6,3% face ao ano anterior. E o OE 2019 determina 6.867,2 milhões de euros, ou seja, 3,3% do PIB e menos 1,4% que em 2018, mas o Governo não explicou se esta quebra já prevê o pagamento da totalidade do empréstimo ao FMI.
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Quanto ao défice, segundo o Observador, de 29 de novembro, as contas da Administração Pública fecharam outubro com um saldo positivo de 259 milhões de euros até outubro, excluindo os encargos com o Novo Banco e os lesados do antigo BES (792 milhões de euros). Este valor, segundo comunicado do Ministério das Finanças, representa uma melhoria de 2.072 milhões de euros, face ao mesmo período do ano passado, atribuindo-se este resultado a um crescimento da receita, de 5,4%, que é mais do dobro percentual do acréscimo de receita verificado nos primeiros 10 meses do ano e que foi de 2,1%.
E, a 21 de dezembro, o mesmo jornal referia que Portugal registava excedente orçamental de 0,7% até setembro, detalhando:
O saldo situou-se em 1.111,2 milhões de euros no conjunto dos três primeiros trimestres de 2018 (0,7% do PIB), quando, no mesmo período de 2017, o défice era de 3,2%. “No conjunto dos três primeiros trimestres de 2018, o saldo global das Administrações Públicas fixou-se em 1.111,2 milhões de euros, representando 0,7% do PIB (-3,2% em igual período do ano anterior)”, segundo o INE (Instituto Nacional de Estatística).
Em outubro, a UTAO (Unidade Técnica de Apoio Orçamental) alertava para pressões no cumprimento da meta, avisando que o objetivo só será alcançado se se registar um excedente orçamental de 0,4% do PIB na 2.ª metade do ano. O défice registado na 1.ª metade excedeu o objetivo para 2018 definido no PE/2018-22 [Programa de Estabilidade], colocando pressão em torno dos resultados para a 2.ª metade de modo a alcançar aquela meta. O saldo no 3.º trimestre fixou-se nos 3.082,2 milhões de euros (6,0% do PIB trimestral), aumentando face ao período homólogo anterior (2,3% do PIB). Em termos homólogos, a receita total cresceu 9,5%, enquanto a despesa total aumentou 1,0%. De acordo com o INE, no ano terminado no 3.º trimestre de 2018, o saldo das Administrações Públicas atingiu valor ligeiramente positivo (correspondente a 0,0% do PIB) e que compara com -1,0% no trimestre anterior – variação que, entre outros efeitos, refletiu um conjunto de fatores especiais que afetaram as finanças públicas no 2.º e 3.º trimestres.
Em causa está o aumento de 5,5% na despesa do 2.º trimestre, influenciado sobretudo por outra despesa de capital, “nomeadamente o aumento de capital no Novo Banco efetuado pelo Fundo de Resolução (792 milhões de euros) e o empréstimo da Direção Geral de Tesouro e Finanças ao Fundo de Recuperação de Créditos FRC-INQ-Papel Comercial ESI Rio Forte (FRC)” no montante de 121,4 milhões de euros.
Por outro lado, a melhoria do saldo entre os dois trimestres referidos “é também acentuada pela desaceleração da despesa, que passou de um crescimento homólogo de 5,5% para apenas 1,0%”.
Em outubro, o Conselho das Finanças Públicas confirmou a sua projeção de 0,5% de défice do PIB para o conjunto do ano, abaixo da meta traçada pelo Governo, de 0,7%.
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Enfim, a questão não é as contas estarem certas ou não, mas a obsessão pelo défice e pela dívida pública (com ao acusa o BE), que de pública tem pouco, apenas o ter sido transferida das empresas, nomeadamente da banca, para a responsabilidade do Estado, porque o FMI, a Europa e o BCE não confiavam na capacidade bancária e empresarial portuguesa. Mas através do Estado endividado podiam impor um programa de austeridade severo, de que PSD e CDS dizem que tivemos uma saída limpa.
E, se a saída foi tão limpa, como se justifica o medo de que venha aí outra entrada feia?
2018.12.26 – Louro de Carvalho

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