Na
Solenidade da Imaculada Conceição, Francisco, antes da oração mariana do Angelus, com os fiéis e peregrinos
reunidos na Praça de São Pedro provenientes de todo o mundo, frisou:
“Estar com Deus não resolve magicamente os problemas, mas Maria confia
em Deus diante dos problemas”.
E exortou:
“Eis um comportamento sábio: não viver dependendo dos problemas – quando
termina um, apresenta-se outro! – mas confiando em Deus e confiando-se todos os
dias a Ele: Eis-me aqui! Peçamos à Imaculada a graça de viver assim.”.
Comentando a
passagem do Evangelho do dia, recordou que “Eis-me” é a palavra-chave da vida e marca
a passagem duma vida horizontal, centralizada em si mesmo e nas suas próprias
necessidades, a uma vida vertical lançada na direção de Deus. Explicou o
Pontífice:
“Eis-me é estar disponível ao Senhor,
é a cura para o egoísmo, o antídoto a uma vida insatisfeita, na qual sempre
falta alguma coisa. Eis-me é o remédio contra o envelhecimento do
pecado, é a terapia para ficar jovem por dentro. Eis-me é crer que Deus
conta mais do que o meu ‘eu’. É apostar tudo no Senhor, dócil às suas
surpresas. Por isso dizer-lhe ‘eis-me’ é o maior louvor que podemos
oferecer-Lhe. Porque não começar assim todos os nossos dias? Seria belo dizer-Lhe
todas as manhãs: ‘Eis-me, Senhor, hoje faça-se em mim segundo a tua vontade’.”.
Na verdade, “Eis-me
aqui: envia-me” (Is 6,8) é a
expressão da disponibilidade profética enunciada por Isaías, aplicável à
disponibilidade do Filho de Deus perante o Pai e que Maria assumiu para a cooperação
com o mistério da Salvação.
O Papa convidou
os crentes a tomarem Maria como exemplo:
“Maria não ama o Senhor de vez em quando,
com interrupções. Vive confiando em Deus em tudo e para tudo. Eis o segredo
da vida. Tudo pode quem confia em Deus para tudo. Porém o Senhor, caros
irmãos e irmãs, sofre quando Lhe respondemos como Adão: ‘tive medo e
escondi-me’. Deus é Pai, o mais dócil dos pais, e deseja a confiança dos
filhos. No entanto, quantas vezes suspeitamos d’Ele, pensamos que possa mandar-nos
alguma prova, privar-nos da liberdade, abandonar-nos. Mas esse é um grande
engano, é a tentação das origens, a tentação do diabo: insinuar a desconfiança
em Deus.”.
Maria – continuou
o Papa – vence esta primeira tentação com o seu “Eis-me”. E hoje olhamos para a
beleza da Senhora, nascida e vivida sem pecado, sempre dócil e transparente a
Deus.
“Isso não quer dizer que para Ela a vida
tenha sido fácil. Estar com Deus não resolve magicamente os problemas. A
conclusão do Evangelho de hoje recorda isso: ‘O Anjo afastou-se dela’.
Afastou-se: é um verbo forte. O anjo deixa a Virgem sozinha numa situação
difícil. Ela sabia o modo particular com o qual seria Mãe de Deus, mas o anjo
não tinha explicado aos outros. E os problemas logo começaram: pensemos na situação
irregular segundo a lei, na angústia de São José, nos planos de vida que acabaram,
no que diriam as pessoas…”.
Mas Maria –
finalizou o Papa – confia em Deus, diante dos seus problemas. Foi deixada pelo
anjo, mas acredita que Deus ficou com ela, nela. E confia. Está certa de que, mesmo
perante o inesperado e as suas piores vicissitudes, tudo vai dar certo com o
Senhor. Enfim, mostra-nos
que viver confiando em Deus em tudo,
eis o segredo da vida!
***
Depois da recitação do Angelus, o Pontífice falou da sua visita à Praça de Espanha para o
ato de homenagem à Imaculada e evocou a beatificação dos mártires da Argélia,
os 150 anos da Ação Católica Italiana e a tragédia que se abateu sobre a localidade de Corinaldo, Itália.
Sobre o ato
de homenagem e de oração à Virgem, disse solicitando a sintonia de todos:
“Hoje, à tarde, irei à Praça de Espanha para
renovar o tradicional ato de homenagem e de oração aos pés do monumento dedicado
à Imaculada. Peço a todos que se unam comigo espiritualmente neste gesto,
que exprime a devoção filial à nossa Mãe celeste.”.
Sobre a
beatificação dos mártires da Argélia, recordou que “hoje (dia 8), no Santuário de Notre-Dame de Santa Cruz em Oran,
na Argélia, são proclamados beatos o Bispo Pedro Claverie e dezoito
companheiros religiosos e religiosas, assassinados pelo ódio à fé, frisando:
“Estes mártires do nosso tempo foram fiéis
anunciadores do Evangelho, humildes construtores de paz e heroicas testemunhas
da caridade cristã. O seu corajoso testemunho é fonte de esperança para a
comunidade católica argelina e semente de diálogo para toda a sociedade. Que
esta beatificação seja para todos nós um estímulo a construirmos juntos um
mundo de fraternidade e de solidariedade. Façamos um aplauso aos novos
beatos!”
O Papa
Francisco referiu que, nesta festa da Imaculada, nas paróquias italianas se
renova a adesão à Ação Católica, uma associação que há 150 anos é um dom e
uma riqueza para o caminho da Igreja na Itália. E disse “encorajar as suas articulações diocesanas e
paroquiais a comprometerem-se para a formação de leigos capazes de testemunhar
o Evangelho, tornando-os fermento de uma sociedade mais justa e solidária”.
Depois,
exprimiu a sua dor pela tragédia que ocorreu nesta noite numa discoteca da
localidade de Corinaldo, Itália. O Papa exprimiu os seus pêsames pelos mortos e
pelos numerosos feridos:
“Asseguro a recordação na minha oração pelos
jovens e pela mãe que morreram nesta noite numa discoteca em Corinaldo, perto
de Ancona, bem como pelos numerosos feridos. Peço para todos a intercessão de
Nossa Senhora.”.
Com efeito,
pelo menos 5 adolescentes e a mãe de um deles morreram e dezenas de pessoas
ficaram feridas na madrugada deste sábado, dia 8, em consequência duma confusão
na discoteca “Lanterna Azzurra”, na cidade de Corinaldo, na província de
Ancona. Algumas testemunhas disseram que começaram a correr em virtude de se
assustarem após sentirem um cheiro ácido, mas as portas de emergência estavam
fechadas.
***
O
Santo Padre pede a Maria que fique perto das famílias necessitadas. Na
verdade, antes do ato de
veneração à Imaculada na Praça de Espanha, Francisco prestou homenagem à Salus Populi Romani, na Basílica de
Santa Maria Maior. E, na sua oração, pediu que ninguém se resignasse ante dos
problemas da cidade e que torne Roma mais bonita o cuidado de cada um.
Na
solenidade da Imaculada Conceição (dogma definido pelo Papa Pio IX a 8
de dezembro de 1854, depois da caminhada sentida do Povo de Deus), também neste ano Francisco prestou homenagem à
Virgem no coração de Roma, levando consigo a vida e os sofrimentos dos habitantes
da cidade – um ato de veneração dos Papas à Imaculada, com uma longa história.
Francisco
foi recebido pelo cardeal vigário Angelo De Donatis e pelas autoridades civis.
Aos pés do grande monumento onde está a estátua, foi deposta a homenagem
floral. Os primeiros a depor a coroa de flores nos braços da Virgem, nesta
manhã, como tradição, foram os bombeiros.
Em silêncio,
ao redor do Papa, estava postada uma multidão de fiéis. Na oração, o pensamento
papal vai especialmente para os doentes e para quem sofre por várias circunstâncias
para ir adiante e para “aquela graça ordinária” que a Virgem faz aos que vivem
em Roma: “enfrentar com paciência as dificuldades do dia a dia”.
Eis na
íntegra a Oração do Papa Francisco a Maria
Imaculada:
Mãe
Imaculada,
No dia da
tua festa, tão amada pelo povo cristão,
Venho
homenagear-Te no coração de Roma.
Trago na
minha alma os fiéis desta Igreja
e todos os
que vivem nesta cidade, especialmente os doentes
e os que
sofrem por várias circunstâncias para ir adiante.
Antes de
tudo quero agradecer-Te
pela bondade
materna com a qual acompanhas o nosso caminho:
várias vezes
ouvimos narrações com lágrimas nos olhos
dos que
receberam a tua intercessão,
as graças
que pedes para nós ao teu Filho Jesus!
Penso também
uma graça ordinária que recebem os que vivem em Roma:
a de
enfrentar com paciência as dificuldades do dia a dia.
Mas por isso
Te pedimos a força de não nos resignarmos, ao contrário,
de fazer com
que todos façam diariamente a própria parte para melhorar a situação,
para que o
cuidado de cada um torne Roma mais bela e habitável para todos;
para que o
dever bem feito por cada um, garanta os direitos de todos.
E pensando
ao bem comum desta cidade,
Te pedimos
pelos que têm maiores responsabilidades:
obtém para
eles sabedoria, clarividência, espírito de serviço e de colaboração.
Virgem
Santa,
Desejo
confiar-Te de modo particular os sacerdotes desta Diocese:
os párocos,
os vice-párocos, os padres idosos que com o coração de pastores
continuam a
trabalhar ao serviço do povo de Deus,
aos muitos
sacerdotes estudantes de todas as partes do mundo que colaboram nas paróquias.
Para todos
eles Te peço a doce alegria de evangelizar
E o dom de
serem pais, próximos do povo, misericordiosos.
A Ti, Mulher
toda consagrada a Deus, confio as mulheres consagradas na vida religiosa e na
secular,
Que, graças
a Deus, em Roma são muitas, mais do que em outra cidade do mundo,
formando um
maravilhoso mosaico de nacionalidades e culturas.
Para elas Te
peço a alegria de serem como Tu, esposas e mães,
fecundas na
oração, na caridade, na compaixão.
Ó Mãe de
Jesus,
Peço ainda,
por último, neste tempo de Advento
Pensando nos
dias em que Tu e José estavam ansiosos
pelo
iminente nascimento do seu menino,
preocupados
porque havia o censo e vós deveríeis deixar a vossa cidade, Nazaré, para irdes
a Belém…
Tu sabes o
que quer dizer ter uma vida no ventre
e sentir ao
redor a indiferença, a rejeição, às vezes o desprezo.
Por isso Te
peço para estares próxima das famílias que hoje
em Roma, na
Itália, no mundo inteiro sofrem semelhantes situações,
para que não
sejam abandonadas a si mesmas. Mas tuteladas em seus direitos,
direitos
humanos que são prioridades antes de qualquer legítima exigência.
Ó Maria
Imaculada,
autora de
esperança no horizonte da humanidade,
vigia sobre
esta cidade,
sobre as
casas, as escolas, os escritórios, as lojas,
as fábricas,
os hospitais, as prisões
que em
nenhum lugar falte o que Roma tem de mais precioso,
e que
conserva para o mundo inteiro, o testamento de Jesus:
“Amai-vos
uns aos outros, como eu vos amei” (cf. Jo 13, 34). Amen.
***
No final da
oração, o Papa fez uma breve parada na sede do jornal romano “Il Messaggero”, na via del Tritone, para
saudar os dirigentes e funcionários. O jornal festeja 140 anos de vida.
***
Segundo o Papa, mártires
beatificados na Argélia, sinal de grande fraternidade foram e são “fiéis
ao lado de fiéis.
Pela
primeira vez num país muçulmano, ocorre a beatificação de 19 mártires cristãos.
Assassinato
por ódio à fé, por terem testemunhado o amor de Cristo e terem escolhido
permanecer na Argélia entre os habitantes locais, nos anos sombrios do
terrorismo, foi o destino comum dos 19 religiosos que, neste sábado, dia 8 de dezembro
e Solenidade da Imaculada Conceição da Virgem Santa Maria, foram beatificados
no Santuário de Notre-Dame de Santa Cruz, em Oran, na Argélia, na presença de
muitos muçulmanos, que Dom Desfarges, Arcebispo de Argel, declarou quererem eles
“enfatizar que não foi o islamismo a
matar, mas uma ideologia que desfigura essa religião”.
Entre 1994 e
1996, de facto, perderam as suas vidas também 99 Imãs e com eles muitos
jornalistas, escritores e intelectuais, que se recusaram a justificar a
violência em nome de Deus. É a primeira vez que mártires cristãos são
proclamados beatos num país muçulmano, um sinal importante, explica o
Arcebispo, demonstrando que “as
autoridades entenderam o verdadeiro sentido que queremos dar a esta celebração:
dar testemunho de que é possível viver juntos, caminhar juntos, fiéis ao lado
de fiéis”.
A este
respeito, no final da missa, presidida pelo Cardeal Angelo Becciu, Prefeito da
Congregação para as Causas dos Santos e enviado especial do Papa, foi lida a
mensagem especial do Santo Padre aos católicos da Argélia, de “fraterno encorajamento para que” a
celebração “possa ajudar a curar as
feridas do passado e criar uma nova dinâmica de encontro e de convivência como
resultado dos novos beatos”.
“Num momento
em que todos os povos buscam promover a sua aspiração a Viver juntos em paz”,
Francisco exprime gratidão e garante intenções de oração também a “todos os filhos e filhas da Argélia que
foram vítimas da mesma violência por terem vivido, com fidelidade e respeito
uns pelos outros, os seus deveres de fiéis e cidadãos nesta terra abençoada”.
Para o Papa,
com a beatificação destes irmãos e irmãs destes, “a Igreja quer demonstrar o
seu desejo de continuar a trabalhar pelo diálogo, a harmonia e a amizade”, na
firme convicção de que este evento, sem precedentes na história da Argélia, “atrairá
um grande sinal de fraternidade no céu argelino para o mundo inteiro”. E
Francisco vincou:
“A Igreja Católica na Argélia sabe que é a herdeira, junto com toda a
nação argelina, da grande mensagem de amor oferecida por um dos muitos mestres
espirituais de sua terra, Santo Agostinho de Hipona”.
***
Enfim, disponibilidade
para Deus e para os irmãos há de continuar a ser o ditame evangélico para os
seguidores de Cristo, seja no testemunho diário, seja na entrega pelo martírio
no sangue pela causa da Fé e do Evangelho.
2018.12.08 – Louro de Carvalho
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